Capítulo 22

POV BELLA

Eu estava com o queixo apoiado no ombro de Edward, meus braços poderiam estar o sufocando, mas eu precisava saber que ele realmente estava ali.

– Eu descobri tudo Edward, tudo, eu sei exatamente o que ele quer.

Senti o corpo de Edward se enrijecer contra o meu, como se fosse possível eu o apertei mais ainda. Eu estava amedrontada, era como se fantasmas me perseguissem e eu poderia fazer qualquer coisa, porque nada poderia me salvar. Apesar de tudo eu tinha Edward, eu sabia que ele estava comigo e sempre estaria.

Não, eu não estava sentindo raiva de Edward pelo fato ocorrido anteriormente. Por algum motivo eu senti a verdade em suas palavras quando ele tentou se explicar e quando cantou para mim. E eu tive a certeza de que ele não era como os outros caras. Pela primeira vez eu entendi que “homem não é todo igual”.

- Bella, eu preciso saber. – Edward disse contra os meus cabelos.

Retire-me do seu colo e sentei-me de frente para ele, não seria uma tarefa fácil e eu não tinha ideia de qual seria suas reações. Tudo o que eu pedi no momento era para que eu não chorasse no meio das palavras como uma retardada e o assustasse ainda mais, porque ele já estava assustado o bastante e qualquer um poderia perceber isso.

- Edward, depois daquilo – foi difícil pronunciar sem a voz tremer – Eu fui ao orfanato visitar Anne, eu disse para ela que iria.

- Bella, você sabe que aquilo...

- Eu confio em você Edward, eu confio – Soltei abruptamente e fechei os olhos, eu só queria esquecer aquela imagem que fez questão de voltar à minha mente. Mesmo sem ter visão de Edward agora eu podia sentir que ele havia relaxado com minhas palavras, elas foram totalmente sinceras.

- E então eu entrei no orfanato sem falar com ninguém, eu fui direto para a sala de visitas. – Eu estava escolhendo as melhores palavras, sem me atropelar ou esquecer-me de algum detalhe importante, eu estava me esforçando. – Eu escutei a voz de Irina, ela estava chamando alguém de idiota, e esse alguém era ele. – Edward sabia que ele era James.

Abri os olhos novamente e Edward estava com os olhos fixos em mim, seu corpo estava totalmente rígido e sua face era um misto de ansiedade e irritação.

- Eu me escondi atrás do primeiro armário que eu vi e eles entraram na sala, eles não me viram e eu também não podia vê-los, mas eu escutei tudo, eu podia escutar tudo perfeitamente. – Senti o nó se formando na minha garganta e o ignorei completamente – Ele queria comprar Irina para depor a favor dele, ele disse que os pais de Anne eram ricos e quem ter a guarda dela vai ter acesso à fortuna. O pai dele também é rico e está quase falecendo, ele disse à Irina que o pai dele não vai deixar a fortuna para ele... – Eu ri sem vontade – E ele desconfia que o pai deixe tudo para Anne, porque ela é a única da família dele em vida além do James.

Eu tentei e não consegui continuar, só de relembrar o tratamento de James com Anne minha vontade era vomitar tudo o que eu havia comido. Minha cabeça pulsou acusando que logo mais eu teria dores.

Edward passou as duas mãos pela cabeça praticamente arrancando o cabelo dourado dali, ele estava furioso e ainda assim se controlando.

- Continue – Edward ordenou num sussurro.

Dei leves suspiros antes de retomar o que tanto me atormentava.

- Irina disse que não sabia se iria depor ou não, que ela não poderia perder o emprego dela e o James a mandou buscar Anne, mas antes ele disse que poderia vender ela para o tráfico de crianças apenas por diversão – A lembrança fora demais, naquele momento eu chorava e falava tudo ao mesmo tempo – Quando a Anne chegou ele mandou Irina sair e eles ficaram a sós.

- Bella, o que ele fez? – Me assustei novamente com o tom de Edward, ele havia gritado, não comigo, mas sim em relação a toda a situação. Ele se pôs prontamente de pé e ficou imóvel ao lado da cama.

- Quando eles ficaram a sós o James disse para ela que na sexta seria a audiência... E depois ele começou a falar “não chora” – Minha voz saiu falha – E continuou dizendo que ela iria dar um depoimento, e que nesse depoimento era para ela dizer que não queria vir com nós, que ela queria ir com ele. Ela começou a chorar e ele foi tão grosso com ela Edward – Eu estava aos prantos nesse ponto.

Apertei os olhos e as lágrimas desciam pelo meu rosto sem piedade. Levei um susto quando ouvi um estalo contra a parede e quando percebi o iPhone de Edward estava jogado no chão praticamente destruído.

- Continue – Ele ordenou mais uma vez e eu tentei controlar o choro.

- Ele disse que se ela contasse sobre isso eu não iria mais querer ela, porque ela era de uma família suja... E que se eu soubesse de alguma coisa ele me mataria, e mataria você também. Ela pediu que ele não fizesse isso, mas tudo o que ele fez foi praticamente enxota-la daquela sala e quando eu tentei sair dali ele me viu, e eu corri e foi o que aconteceu.

Houve silêncio e eu juro que vi o corpo inteiro de Edward tremer involuntariamente. Ele começou a caminhar desorientado pelo quarto com as mãos na cabeça puxando os frios com grosseria.

Edward pegou o abajur que ficava em cima do criado mudo e de primeiro eu não entendi o que ele pretendia, até que assim como iPhone ele desceu espedaçado pela parede, eu gritei e levei a mão a boca por puro reflexo.

Sim, Edward estava descontrolado e aquilo estava me assustando, eu nunca tinha o visto daquele jeito. Ele se sentou na ponta da cama passando as mãos freneticamente pelos cabelos e aquilo estava me irritando. Porra, eu estou aqui.

- Edward... – Minha voz estava estupidamente chorosa.

- Bella, olhe para você! – Ele praticamente gritou novamente se levantando da cama e ficando de frente para mim – Você está toda machucada e não é a primeira vez que ele faz isso, e se eu não tivesse chegado a tempo? Bella... Eu não aguento isso, eu não aguento! Eu não consigo acreditar no que esse maldito fez com você ou o que ele quase fez... E está prestes a fazer com a Anne, porra, ela é só uma criança! Ela está sofrendo, ela não merece isso. Eu não consigo aceitar. – Ao falar isso Edward contornou a cama umas três vezes.

- Edward eu estou com medo. – Que diabos estava acontecendo com a minha voz? Ela só falhava.

Edward me olhou nos olhos caindo em si, ele veio até mim e passou a mão delicadamente pela minha bochecha, fechei os olhos com o toque cheio de carinho e proteção, mais lágrimas caíram sobre meu rosto.

- Me desculpe, por favor, me desculpe, eu não queria te assustar – Ele colou a testa na minha e segurou minha mão – Eu não consigo aceitar ninguém tentando separar a minha família, tentando destruir a minha família.

Meu choro voltou, mas dessa fez foi por alegria. Edward nunca havia usado o termo “família” se dirigindo a mim e a Anne com tanta certeza e determinação em sua voz. Nesse momento eu percebi que nós já éramos uma família, uma família complicada e imperfeita, mas não mudava o fato, família.

Peguei seu rosto quadrado entre minhas mãos e não disse nada, apenas aspirei o cheiro que emanava de Edward, aquilo me acalmava. Recebi beijos leves nos lábios e senti a preocupação, proteção e carinho ali.

Sim, eu poderia enfrentar tudo. O que eu achei que tivesse sido tirado de mim ainda estava ali, com força total.