Lullaby

Capítulo único


Eu me lembro de ter perdido a voz enquanto corria pelo estacionamento naquela noite, eu gritei demais, até que não podia ouvir mais a minha própria voz. Eu senti um medo absurdo, que me tomou inteira e então abaixei perto de uma caminhonete quando eu não ouvia mais os passos dele e rezei a Deus, baixinho, para que eu saísse viva daquele lugar, mas eu não imaginaria que aquela seria a pior noite da minha vida. Uma brutalidade que jamais irei esquecer.

Eu só ia tomar um sorvete naquele dia, mas ele me perseguiu, os olhares dele me queimavam, muitas propostas foram feitas e eu só soube apressar os passos. Até que em certo momento me vi caída ao chão de um estacionamento próximo dali, depois de muito correr e eu o implorei para que me soltasse, mas ele já estava agarrado a mim, com suas garras afiadas. Doía demais. E eu ainda carrego os roxos que deixou pelo meu corpo e eu sinto o ódio me tomar às vezes, eu nunca senti isso antes, por Deus, eu sou só uma garotinha e ele não teve pena, mas às vezes eu penso que tudo bem ter ódio e talvez eu devesse ceder e acabar com ele pelo que fez comigo e com outras incontáveis meninas inocentes que caminhavam por ali à noite.

Você é mesmo muito mau, muito mau, muito mau.

E foi então que hoje, com muitas coisas em mente durante todo esse tempo, depois de muito procurar pelo Sr. W, eu bati na porta de sua casa, sua esposa estava viajando. E com medo estampado na face, ele abriu a porta pra mim. Não deveria ter feito aquilo.

E você sabe Sr. W, como eles sempre disseram-nos quando crianças, meninos maus não sobem aos céus. Vamos apressar a sua ida, pra onde quer que seja.

— Eu preparei algo especial essa noite, eu vou abrir as pernas pra você, sem espernear dessa vez, devagarzinho, mas antes beba esse leite com os biscoitos que eu fiz pra você com muito cuidado para que nada saísse fora do planejado.

Nada fora do planejado, nada fora do planejado.

— Fique tranquilo, não precisa fazer essa cara, esse leite desce queimando mesmo. Vai arder um pouco, talvez até sangre. Só continue bebendo.

1, 2, o sofrimento acaba essa noite. Ele vai pagar pelo que fez.

— O que foi, você não me quer essa noite, querido? Não está se sentindo bem? A sua esposa não sabe de nós? Ou melhor, de todas nós?

O seu rosto muda de cor e apertando a própria garganta ele se lança aos meus pés, como quem suplica.

É tarde demais pra se desculpar.

— Eu vou lhe contar um segredo, mas isso morre com a gente, ok?! Talvez eu não seja mesmo como as outras meninas boazinhas, você as fez calar a boca e se sentirem sujas e impuras, mas sabe, acho que não sou como elas, eu voltei para acertar as coisas. Quem está no comando agora Sr. W? - Eu abaixo e aliso seus cabelos- Olha pra mim, eu quero gravar na memória o seu rostinho de desespero, sabe esse medo que sente agora? Essa sensação de que você daria tudo para estar são e salvo? Eu conheci essa aflição e creio que as outras meninas também. Uma delas até se enforcou no banheiro de casa na semana passada, mas ninguém sabe que era tudo porque ela não conseguia dormir sem ter pesadelos com você. Pobrezinha. Dê um 'oi' a ela por mim.

E quase que desfalecendo ele se agarra a mim, lacrimejando

Repouse sua cabeça aqui; eu vou te pôr pra dormir e te cantar uma canção que conta a história de um lobo mau, ele fez coisas erradas com menininhas indefesas e agora ele vai dormir e não vai mais acordar... Não vai mais... Nunca mais vai machucar ninguém.

Ele fecha os olhos e a respiração se esvai.

—Boa noite, Sr. W

Espero que tenha bons sonhos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.