Lucie
Sofrendo
Ele sorriu para mim, apertando minha mão.
– Desculpe a demora... – ele disse.
– Nem percebi. Ah, o dia foi tão bom. – eu suspirei. – John é um amor.
Ele franziu o cenho.
Rá, agora vou fazer uma brincadeira com ele – tirá-lo do sério.
– Bruno... Temos que conversar. – eu disse tirando a chave da ignição e me divertindo muito com aquilo.
– O que é? – perguntou ele arqueando uma sobrancelha (ou pelo menos tentando arqueá-la).
– Aconteceu uma coisa... Hoje. Entre mim e John. – eu disse.
Ele bufou.
– O que? – perguntou com raiva.
– Ele estava carente... Chorando... Eu fui consolá-lo... Acabamos nos beijando e... Ocorreu uma coisa a mais. – eu disse. – Nós... Ficamos. Se é que me entende.
Ele ficou vermelho.
– E por que está me contando isso? – gritou.
Ele apertava o volante violentamente.
– Vou acabar com ele. E entre você e eu...
Eu comecei a rir, interrompendo-o.
– Do que tá rindo?! – ele disse estridente.
Eu disse, esbaforida:
– Ai... – levei a mão à barriga. – Era uma brincadeira seu bobo. – suspirei. – Acha mesmo que eu te trairia? Idiota.
Ele deu um grito baixo.
– Mas que... – e soltou um palavrão.
– Calma, amor. – eu disse afagando suas costas.
Ele regularizou a respiração.
– Sua idiota. – ele disse socando meu ombro de leve.
Eu sorri e coloquei o cinto. Depois lhe entreguei a chave.
– Hm, eu trouxe um presente para você. – ele disse sorrindo e me entregou uma caixa grande. Bem grande.
– O que é? – eu disse. Meus olhos devem ter faiscado.
Eu amo presentes, é verdade.
– Quanto custou? Não quero que gaste comigo! – eu disse, apavorada. Ele não pode gastar tanto comigo.
– Ah, sem essa. Você não vai devolver. – ele disse sorrindo.
Eu suspirei.
– Só vou deixar essa vez. – eu disse fazendo bico.
– Você vai amar, tenho certeza. – ele me deu um beijo demorado.
Chegando em casa abri o presente. Era um vestido preto cintilante, longo, um sapato branco também cintilante e brincos que pareciam... diamantes. Alguns apetrechos para o cabelo no tom branco também estavam lá.
– Isso aqui... – eu engoli em seco. – Diamantes?!
– Lindos, né?
– Você tá louco? – eu disse com a respiração entrecortada. Eles eram lindos. – Bruno, isso deve ter sido uma fortuna. – senti meu coração palpitar.
– Calma, amor, tenho muito para gastar com você. – senti meu coração falhar só de pensar. – Agora vai se arrumar.
– Para onde vamos? – perguntei.
– Surpresa. – ele sorriu.
Subi – forçadamente, diga-se de passagem – as escadas e me troquei. Eu estava deslumbrante... Não reconhecia a mulher refletida no espelho.
O cabelo arrumado para o lado.
Não usei muita maquiagem – não gosto de tanta maquiagem –, apenas um gloss, uma sombra bege clara e estava pronta.
Não precisei de blush. Eu estava corada o bastante para não ser necessário.
– Wow. – disse Bruno lá embaixo ao me ver. – Você já é linda... Vestida assim. Ai meu coração. – ele levou a mão ao peito teatralmente.
– Não sou linda. – eu disse.
– Como é? – ele perguntou, parecendo irritado.
– Nada. – sorri maliciosamente.
Ele piscou para mim.
Estava em um terno preto, com gravata e camiseta branca.
– Tá ok, pra onde vamos? Você tá bonito, então deve ser um lugar muito importante.
– Você tá bonito? Eu sou bonito. – ele disse me mostrando a língua.
Eu ri.
Chegamos a uma mansão, com ares diferentes. O dinheiro deles não era o importante – o dinheiro das pessoas nunca me interessou, algo do tipo dane-se o dinheiro se estou perto de você é porque gosto de você, tanto faz se você é rico ou se é um mendigo.
Eu pigarreei involuntariamente, me acordando de meus devaneios.
– Ok. Aonde a gente tá? – perguntei deslumbrada com a visão da mansão. Ela era perfeita, parecia ter saído de um conto de fadas.
– Hm, é um segredo... ainda. – ele disse sorrindo e piscando para mim.
Eu simplesmente sentia que não saberia me comportar em um lugar tão... chique.
– Caipira. – eu murmurei para mim mesma e sorri.
Me senti da mesma maneira quando, pela primeira vez, fui à casa de Bruno e tudo parecia tão... fantástico.
Uma nostalgia tomou conta de mim. O nosso primeiro beijo. Tudo tão perfeito.
Eu sorri involuntariamente.
– Hm... Qual a graça? – perguntou Bruno, os olhos ansiosos.
– Eu sou uma idiota. – eu disse e beijei sua bochecha.
Era uma festa. Mas para comemorar o quê?
– Essa festa é para...?
Ele suspirou, triste.
Eu já sabia a resposta. Mas eu queria me enganar. Eu queria estar enganada.
Senti vontade de vomitar e corri para o banheiro, me desvencilhando dos braços de Bruno.
Prendi meus cabelos em minha mão e vomitei, meu estômago se revirando – acho que algo que comi deve ter me feito passar tão mal assim.
Bruno veio me ajudar.
– O que foi? O que eu fiz de errado? – ele perguntou aflito.
– Não... Eu me senti mal. Você não fez nada. – eu disse, limpando minha boca. Procurei qualquer pasta de dente e peguei uma escova descartável para higienizá-la.
Ele gemeu.
– Quer ir para casa? – perguntou triste.
– Não. Não quero ir para casa. – eu disse. Enxugando minha boca.
– Tem algo estranho...
– Eu sei que você vai me deixar, Bruno. – eu disse, chorando. – Talvez... – eu não sabia o que dizer.
– Talvez?
– Talvez... Eu... Eu não sei. – eu disse chorando mais.
Ele me beijou.
– Lo... Você vai comigo. – ele disse sorrindo.
– E a minha peça? – eu perguntei para ele. Ele congelou.
– Você não me disse nada sobre nenhuma peça. – ele parecia querer chorar.
– Nem eu mesma me lembrava. – eu sussurrei.
Ele levou as mãos à cabeça e riu ironicamente.
– Bruno! Nós vamos resolver tudo, está bem? Não importa como, não importa onde. Nós vamos resolver tudo. – tentei parecer segura de mim, mas eu estava tão zonza quanto Bruno.
Ele sorriu.
– Ok... Mas você vai. – ele disse enlaçando minha cintura.
– Como eu poderia te deixar, ãh? Nunca, nunquinha, você é a minha vida e meu coração...
Ele sorriu de novo.
– Você é minha vida, coração, alma, meu tudo... Eles te pertencem. Cuide bem deles, tá? Eu te amo. – ele deixou fugir uma lágrima.
Chorei um pouco também, abraçada com Bruno num banheiro de uma linda mansão em uma festa de despedida. Meu coração doía. Muito.
– Nós vamos ficar juntos. Nós sempre vamos.
– Promete? – perguntei indecisa.
– Com a minha vida. – ele sorriu.
E de repente eu não me senti desprotegida nem insegura. Eu sentia que podia confiar nele e que nada mais importava, somente nós dois. Dane-se o que vai ficar para trás. Dane-se é a palavra do momento.
Eu estava com ele e nunca vou deixá-lo. Porque só então percebi que ele era minha vida, minha alma, meu coração e meu tudo. Havia como deixar você mesmo em um lugar distante? É impossível, não é? Ele me pertencia e eu pertencia a ele. Ninguém nunca vai mudar isso. Nunca.
E como eu poderia deixá-lo se eu era ele e ele era eu? Nós éramos um só, pude perceber. Eu amava Bruno. Eu era Bruno.
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