Acordei com fachos de luz atravessando as cortinas.

– Bom dia, Bruno. – eu disse, levantando a mão para trás de mim e acariciando seu pescoço, depois seu cabelo.

Ele acariciou meu cabelo, e depois apertou minha cintura.

– Bom dia, meu amor. – ele disse.

Me virei para ele e ele estava sorrindo.

Seu sorriso seria muito maior se eu tivesse deixado tudo rolar e não ser covarde.

– Me desculpe por ontem à noite...

– Todo mundo tem ciúmes amor! Você nem é daquelas psicopatas, pelo o que eu sei, - ele riu – e todos temos um pouco de ciúmes, vai, não pede desculpas...

– Não, não é isso. Fui covarde em desistir de tudo ontem à noite, de não ter dito sim pra você de não...

– Você não foi covarde, você foi sincera. Não estava pronta, eu entendo.

– Mas não quero que seja assim! Não quero que se canse de mim, que me traia, ou seja lá o que você quiser fazer... Aliás, nem estamos juntos, eu sou uma idiota! – disse, sentindo vontade de ser um avestruz, cavar um buraco e enterrar minha cabeça lá dentro.

– Ei! – ele disse, rindo. – Não temos nada oficial, é verdade, mas isso não significa que não quero você, muito menos que não vou te esper... – o celular dele começou a vibrar.

Ele pegou e atendeu. Deixou no viva-voz. Era Anne.

– Alô?

– Alô, Bruno? É a Anne.

– Eu sei... Oi Anne, tudo bem?

– Tudo ótimo. Bruno, o que acha de eu dar uma passadinha aí para almoçarmos juntos?

– Eu tô com companhia Anne, desculpa.

– Hum... – ela disse, obviamente desconfiada. Soltei um rugido baixo. Droga, acho que ela ouviu.Ok, e quando vamos repetir a dose? Aquela noite foi maravilhosa e...

– Que noite?! – Bruno quase gritou.

Ela riu.

– Bruno, só porque está com uma vadiazinha a mais ou a menos não precisa esconder seus relacionamentos anteriores. Lo, sim, sim, ele já dormiu comigo, já ficamos juntos. – ela soltou risinhos.

Olhei para Bruno, esperando uma resposta como “Mentira, ela só tava fazendo isso pra te irritar! Para Anne!”. Mas não, recebi apenas um “Desculpa” na voz falha e rouca de Bruno.

Eu me levantei e tomei o celular das mãos de Bruno:

– E vadiazinha é a tua mãe! – disse, jogando-o na cama.

Peguei minha bolsa e saí do quarto, descendo as escadas furiosamente.

– Lo, Lo! –ele saiu gritando atrás de mim e fechando a porta do quarto.

Ao chegar na sala todos estavam jogados no sofá, alguns no colchão inflável na piscina, dormindo, parecendo realmente acabados.

– Wow. – eu disse, vacilando por um momento ao deixar de correr.

Bruno pegou meu braço.

–Espera! – ele disse ofegante.

– Pra quê? – eu sussurrei, tentando não acordar os outros.

Ele me arrastou até o jardim, que milagrosamente, estava vazio.

– Olha, eu não gosto dela, era uma diversão, eu escolhi você! – ele disse.

– E por que mentiu pra mim?

– Eu não menti! Você sequer perguntou se ela tinha namorado comigo, ué.

Meu sangue ferveu.

– Se afasta de mim, Bruno! – eu disse, marchando até a saída da casa.

Olhei para trás somente por um minuto e vi Bruno ajoelhado na grama, parecendo chorar e me olhar ir embora.

Minhas pernas travaram.

Tentei controlar o impulso de correr até ele e consolá-lo, mas não consegui. Eu o amo, não sou tão forte, ou insensível, chame do que quiser, até o ponto de deixá-lo ali, sofrendo.

Lágrimas escorreram pela minha face.

– Não me deixe, por favor. – ele disse, me abraçando.

– Nem se eu quisesse Bruno, nem se eu quisesse. – disse, chorando junto com ele.

Ouvi passos atrás de mim.

– Mas que romântico. – ouvi junto com as palmas. Anne.

– Vai embora. – disse, me levantando, pronta para dar um tapa na cara dela.

– Querida, quando vocês se encontraram, uma noite antes, ele dormiu comigo, não com você! – ela disse, sorrindo maleficamente.

Olhei para Bruno, buscando apoio. Ele se levantou e apertou minha cintura contra seu corpo.

– Se fosse tão boa assim estava com ele agora, não eu. – eu disse, sentindo minha mão coçar, querendo socar seu rosto.

– Você é muito novinha, aposto que nunca ficou com ninguém, se é que me entende. Vai ficar dando uma de difícil e adivinha quem ele vai procurar até você tomar coragem? – ela soltou uns risinhos. – Ele pode te amar, te querer, mas...

– Na verdade, minha mão está querendo agora... Querendo socar a tua cara, vadia! – eu disse, estapeando-a, puxando seus cabelos. Ela tentava me acertar, mas eu era mais rápida. Bruno nos afastou.

Seu cabelo estava todo bagunçado, os cílios postiços caídos, as roupas esticadas e a cara, vermelha.

– Olha quem você comeu durante alguns dias, Bruno. – eu disse.

– Olha o linguajar de quem você está namorando, Bruno. – ela disse, tentando se ajeitar.

– Com pessoas como você se usa qualquer linguajar, vadia. – eu disse, arrumando meu cabelo.

Olhei para Bruno e me desvencilhei de seus braços.

– Por favor, se afastem de mim vocês dois! – eu disse.

Não! Não queria que Bruno se afastasse de mim. Mas era necessário.

Cheguei em casa, tomei um banho e me deitei na cama.

Meu celular vibrou.

Era Sam.

– Mas que raios aconteceu?! Você tem uma peça pra encenar semana que vem, hello? – ela disse, toda aflita.

– Sam, não estou num dia muito bom, por favor, a gente se fala depois.

– O que aconteceu amiga?

– Nada Sammie, depois falo contigo, tchaaaaaaaau. – eu disse, desligando o telefone.

Queria Bruno do meu lado... Perto de mim.

Outra ligação.

– Sam, eu já disse, para de me encher o saco, depois falo contigo garota! – eu disse já irritada.

– Ok amiga. – ouvi Ryan rir.

– Ah, oi Ryan. Desculpa. – eu disse, me envergonhando.

– Soube sobre você, o Bruno e a Anne. Ele nem gosta dela, acho sacanagem você deixar isso abalar vocês dois e...

– Ah, por favor, Ryan... Não quero falar sobre isso... Desculpa mesmo. – eu disse.

– Tudo bem... Quer almoçar comigo?

Sabia que era errado, que Bruno sentiria ciúmes, então...

– Amaria, Ryan.

Dane-se.