–Vamos Eduardo, minha filha está dormindo, temos que vender a mercadoria antes que seja tarde. - falou Ricardo entrando no carro dos traficantes.

Sol estava trancada no quarto e não fazia ideia do que estava acontecendo, sabia apenas que seu pai poderia estar encrencado. Era pouco mais de nove da noite e só se ouvia os barulhos da cidade, até que um barulho alto interrompeu o silêncio do apartamento.

–Solange abre a porta!! Sol viemos buscar você!!- Gritou Luana.

Lua batia desesperadamente na porta, enquanto seu pai ficou de guarda no fim do corredor; Augusta chorava e Marcos ligava para Polícia, todos agoniados por Sol não responder.

–Por favor filha!!- Implorou Augusta.

Sol não acreditou naquilo, mas mesmo se fosse verdade ,como ela sairia do quarto, pensou. Sentiu que poderia ser mesmo sua mãe e Lua, então decidiu forçar a porta, chutou com tanta força que a porta abriu, correu então até a entrada de casa e quando abriu a porta, lá estava sua salvação.

–Mamãe! Luana!!! Ai meus Deuses vocês estão aqui!! - disse Sol chorando e soluçando - Não acreditei quando ouvi o primeiro grito, pensei que era mais uma de minhas ilusões.

Naquele momento Lua pode sentir o quanto amava Sol, não pôde conter as lágrimas ao abraçá - la finalmente. Augusta sentiu tanto medo de perder a filha que não queria soltar o abraço. Para elas o tempo parou, era como se todas as dores sentidas nos últimos 4 meses tivessem passado. Era elas contra o mundo agora, nada mais poderia amedrontá - las!!

Marcos conseguiu informar a polícia que sabia do paradeiro de um traficante e passou o endereço do apartamento, Ricardo já estava sendo procurado e não imaginava que aquela seria sua última noite.

Eles tinham pouco tempo para fugir antes que alguém os achassem, o tempo ainda parecia lento demais e o mau pressentimento de Sol acabara voltando. Por alguns instantes era preciso deixar a felicidade de lado e sair logo dali Solange pegou sua mochila e algumas coisas mais importantes, inclusive o diário de sua mãe.

A polícia chegou no prédio, quando entraram no apartamento logo foram procurando provas do envolvimento de Ricardo com os traficantes internacionais. Parecia que ele era realmente muito esperto, até que encontraram um cofre disfarçado no quarto do pai de Sol; dentro dele havia um revólver com numeração raspada, drogas, muito dinheiro e uma agenda. Nessa agenda continha muitas informações sobre os fornecedores e compradores das drogas, ao que tudo indicava, Ricardo trabalhava com isso há muitos anos, ser empresário do ramo automobilístico era apenas um disfarce. Augusta sentiu um frio na espinha por pensar que fazendo aquilo estaria colocando em risco sua vida e a vida de Sol e agora de todos seus amigos que sabiam daquilo. Depois de retirarem as provas do apartamento, a polícia seguiu para a delegacia, enquanto os policiais da força tática perseguiam o carro dos traficantes na zona norte de São Paulo, eles seguiam até o Aeroporto Internacional de Guarulhos para vender uma grande quantidade de drogas a um comprador Carioca, eram tantos crimes que Solange mal podia acreditar que aquele era seu pai, apesar do que ele já havia feito, ele era o pai dela.
O clima pesou, todos estavam no carro a caminho da delegacia, o pai de Lua dirigindo, Augusta no banco do carona chorando muito e Sol, Luana e Marcos sentados atrás.

–Você não sabe o quanto sonhei com isso!! - sussurrou Solange no ouvido de Lua que estava no banco da janela direita do carro. Lua sorriu e deitou em seu ombro. Apesar de toda a tensão, o coração das duas batiam intensamente de paixão. Os olhos de Luana encheram -se de lágrimas, uma mistura de sentimentos tomara conta de todos no carro, o sentimento de amizade crescera e o desejo de que aquela noite acabasse logo também.

Marcos estava no banco da janela esquerda e mesmo sabendo o quanto tinha ajudado, sabia que Sol não ficaria com ele, apesar disso sentira que sua missão era ajudar aquelas pessoas e quem sabe teria novos amigos.

A perseguição policial terminou com tiroteio. Ricardo permaneceu no carro, enquanto os bandidos armados foram enfrentar a policia. Um dos tiros atingiu Eduardo, o bandido que dirigia o carro, quando ele caiu no chão, Sérgio foi atingido em cheio no peito. Antes que a policia percebesse, uma caminhonete preta avançou para cima deles atingindo o carro onde Ricardo estava, um bandido desceu, puxou Ricardo do carro e o levou para longe dali, alguns policiais estavam feridos, mas conseguiram apreender a droga dentro do veículo.

–O que você fez seu imprestável!??- Gritou o senhor barbudo que estava sentado no banco do carona da caminhonete.
–Eu pensei ter despistado os investigadores, mas acredito que meu celular estava grampeado, eu sinto muito. Podemos recomeçar...
–Recomeçar??? - interrompeu o senhor - sinto muito não vai pagar os prejuízos. Sua filha sabe de algo?
–Não senhor, sempre fui muito discreto.- respondeu Ricardo com a voz muito tremula.
–Assim espero, não quero ter que matar mais ninguém essa noite!!

O senhor estava muito nervoso e possivelmente alterado, encarou Ricardo com um olhar maligno enquanto o seu comparsa ria ao ultrapassar um caminhão.

–Como assim mais ninguém?!-Ricardo sentiu seu corpo todo tremer.

E fim. Três tiros o tiraram deste mundo. Pararam o carro e jogaram o corpo de Ricardo já sem vida em um terreno cheio de mato bem longe da cena do tiroteio, voltaram para o carro sem chamar atenção e seguiram para o seu destino.
Sem saber de nada, Solange pode sentir uma grande aflição e então era como se o ar tivesse ficado mais leve. Quando chegaram na delegacia, os policiais pediram depoimentos de todos eles e garantiram que nenhuma testemunha seria divulgada para que não corressem riscos, afinal Ricardo era só a ponta do Iceberg.
Ao saber da morte de seu pai, Solange entendeu o que havia sentido minutos antes. Augusta sentiu pena de Ricardo, era boa de mais para odiar alguém. E tudo parecia estar bem. E estava.

Passaram algumas horas na delegacia, conseguiram resolver muitas coisas em menos tempo do que imaginaram e depois de assinar vários papéis e falar com o advogado, Augusta finalmente se viu livre daquele seu pesadelo. Sr. Lucio ajudou em relação as audiências que deveriam ser marcadas para terminar de resolver muitos outros assuntos, mas o grande problema estava acabado. Era triste pensar que a morte de alguém traria tanto alívio para eles, porém não havia outra forma.

Marcos conversou com sua mãe e todos puderam se hospedar por algumas horas em sua casa, pelo menos até todos estarem bem para voltar a Ubatuba. Sr. Lucio e o pai de Marcos, preparavam lanches para todos ,enquanto Augusta e a mãe de Marcos, Betânia, arrumavam as camas para todos poderem cochilar confortavelmente. Lua estava exausta sentou - se no sofá e acabou cochilando ali mesmo. Sol ficou observando - a e pode sentir que tudo o que sonhara estava ali bem na sua frente, até que:

–Ei Solange, acho que precisamos conversar . -Disse Marcos chamando Sol para a varanda. - deixe ela dormir e os velhos conversarem.
Solange assentiu e andou até ele bem devagar.
–Só tenho que te agradecer por tudo o que você fez. Ainda estou tentado entender e assimilar tudo, mas sei que poderia ter acontecido coisas piores se não fosse por você. -disse Sol.
–Aos poucos eu te explico tudo. Só queria dizer que gostei muito de conhecer você e sua mãe. Depois de tudo isso imagino que você deve estar precisando de um abraço.

Sol abraçou Marcos. E para ele aquele abraço bastou para sentir que realmente tinha se apaixonado, então a beijou, Sol não parou o beijo e Lua acordou com a voz alta do pai de Marcos e acabou vendo aquela cena, sentiu uma certa decepção,mas preferiu não pensar nisso.

–Por que não parou o beijo? -perguntou Marcos um pouco confuso depois daquilo.
–Pensei que você merecia depois de tudo o que fez... -deu uma pausa e então pegou em suas mãos e continuou - eu vou embora amanhã, talvez volte apenas para desfazer a matrícula e eu amo ela. Sinto muito não ter sido como você pensou.

Ele não respondeu, apenas abaixou o olhar e balançou a cabeça em um sinal positivo, aquele beijo com certeza foi mais do que ele imaginou.

Sol decidiu voltar para a sala e sentou do lado de Lua. Falou para ela que se ela tivesse visto o beijo era pra pensar naquilo como uma forma de agradecimento, nada demais. A ligação entre as duas era tão forte que Lua não se importou, afinal Sol poderia ter mentido ou não ter contado nada para ela como havia feito no primeiro encontro delas, mas escolheu ser honesta dessa vez e ela admirou essa atitude.

Todos comeram e se deitaram, não podiam contar muitos detalhes aos pais de Marcos, mas o que disseram foi o suficiente para decidirem ajudar em qualquer coisa se fosse preciso e se quisessem passar mais alguns dias eles não se importariam.Tudo estava começando a melhorar. Antes de dormir, Sol agradeceu ao Universo por recuperar sua alegria, agora poderia voltar a ser quem realmente era e sem perceber ainda acabara mudando muitas coisas.

Sr. Lucio fez amigos, saiu de casa e pode sentir que a vida era mais do que fingir assistir televisão. Augusta se libertou de seus medos e resgatou seu tesouro, Lua finalmente sentia que poderia ser feliz e Sol, voltou a brilhar.
A alegria estava reconstruída e esse era só o começo da história.