Lua acordou na manhã seguinte do seu aniversário sem estar muito animada, seu pai havia esquecido de comemorar e ela quase não lembrou também. Desde que sua mãe faleceu, seu aniversário tornou - se um dia triste, mas não ontem, mesmo sem saber Sol quebrou a pequena maldição do mundo de Lua, conseguiu fazer ela sorrir, coisa que há tempos não fazia; mas o Sr. Lúcio não queria entender, não fazia questão de saber o que se passava com ela, apenas brigava com ela quando se atrasava e dizia que não ligava para o que acontecia lá fora, assistia TV apenas como forma de não se sentir sozinho e Luana ficava cada vez mais triste ao ver a situação em que os dois se encontravam, sua mãe não iria gostar nada do que estava acontecendo.

Verônica era uma mulher encantadora, adorava estar sempre sorrindo mesmo nas situações ruins, Lu pensara que seria igual a mãe, sempre reluzindo uma luz que só elas conseguiam entender, nunca imaginou que seria assim que reagiria a perda. Na noite que descobriram o câncer, sua mãe a mostrou tudo o que precisaria saber sobre a vida, sentou ela em seu colo e com muito carinho disse: "Minha Lua, não chore, você é minha força, tudo o que fiz nessa minha pequena vida foi para o seu melhor. Não quero nunca que você se desespere, as coisas fluem melhor quando se está sorrindo. Vá a praia, monte seu negócio, incentive seu pai a ser um homem melhor mesmo que ele não mostre ser muito bom, no fundo todas as pessoas são boas, você só precisa enxergar isso. Eu acredito em você e não quero nunca que chore, não que chorar mostre sua fraqueza, mas quando você chora, as lágrimas apagam o brilho do seu sorriso e as pessoas merecem ver o brilho que vem de você! Eu te amo minha lindinha, não sinta minha falta eu sempre estarei do seu lado!" -Mas quando Lua se lembrava dessas palavras não conseguia fazer outra coisa além de sentir a falta dela.

Depois da morte da sua mãe, voltou a morar com o pai. Sr. Lúcio, um homem difícil, sempre brigou com a mãe de Lu pelos motivos mais desnecessários; eles se conheceram num bar onde ela se apresentava, mas quando foram morar juntos quis proibir ela de cantar para outros homens, para ela cantar era uma dádiva divina e enquanto pudesse não iria parar, foi por este motivo que o casamento deles acabou, Verônica escolheu sua felicidade e de sua filha do que viver num relacionamento abusivo que não trazia mais felicidade.

Por estes e outros motivos, Luana sempre ficava fora de casa, sua relação com seu pai não era agradável e só piorou depois daquele dia.

Quando levantou da cama de manhã do dia 19, se arrumou rápido e desceu para tomar café antes de ir encontrar Sol na praia, mas seu pai não permitiu o que fez Lu ficar ainda mais desanimada:

–Luana Martins, feche esta porta, não fui claro ontem? Você não vai sair até começar as aulas, use esse tempo para algo mais útil que ficar sentada olhando pro nada garota! - Gritou Sr. Lúcio.

–Mas pai, eu preciso sair hoje... Mamãe não iria aceitar que o senhor me mantenha presa em casa...

–Sua mãe está morta Luana - Interrompeu o pai - Sua mãe não manda mais em mim, não manda mais em você. Você só tem 14 anos, eu que dou as ordens por aqui!

–Tudo bem pai - Luana fechou a porta e foi em direção a escada - Mas só pra constar, eu tenho 15 anos, obrigada por lembrar do meu aniversário ontem!

O pai de Luana ficou sem reação ao ver a filha subir para o quarto, havia mesmo esquecido o aniversário, mas a esta hora já não adiantava mais pedir desculpas.

Os dois ficaram dias sem se falar, Luana só pensara em Sol e no quanto ela devia estar confusa por não ter lhe encontrado mais, as aulas iriam começar na segunda e ela não havia aproveitado nada de suas férias, pelo menos não com sua nova amiga. Lua então lembrou de pedir para ir comprar os materiais escolares, assim teria uma desculpa para sair de casa, seu pai não fez perguntas, deu o dinheiro e disse para ela se distrair um pouco, logo que saiu pegou um ônibus e foi para a sua praia preferida, achou melhor não ir de "bike" para poupar tempo. Chegando lá encontrou um garoto loiro, alto e magro, sentado em seu lugar, então andou até ele e puxou assunto na intenção de saber sobre Sol:

–Olá, você está aqui há muito tempo? -disse Lua.

–Não muito, acabei de chegar. Prazer sou o Tavi.

–Meu nome é Luana. Percebi, que todos tem apelidos engraçados por aqui - Lu sorriu.

–Meu nome é Gustavo, mas me chamam de Tavi desde a pré-escola então se acha engraçado reclame com meus amigos- deu uma pequena pausa e continuou- Espera um pouquinho, você é a Lua? Nossa cara, a Sol estava louca pra te ver, por que sumiu assim moça?

–Problemas na família, você sabe onde ela está? - Perguntou Lua cheia de expectativas.

–Ela se mudou pra São Paulo ontem, o pai dela levou ela embora. Tentei ir ver ela hoje, mas não cheguei a tempo... Sinto muito !

Lua ficou muito abalada e com muita raiva de seu pai por não ter deixado ela sair de casa, conversou pouco com Tavi e voltou para seu bairro, comprou os materiais e então ficou o dia todo lendo trancada em seu quarto. O final de semana passou mais rápido do que de costume e então chegara o primeiro dia de aula.

Mas nada prendia atenção de Lu, tudo o que conseguia pensar era em como Sol estava, porque tivera que ir embora e também porque esperara tanto tempo para falar com ela. Todas perguntas sem respostas, voltou a pensar em tudo de forma negativa, talvez sentir felicidade não tivera ajudado em nada. Passou os dias apenas pensando em todas as coisas que a incomodavam e então decidiu tomar uma atitude.

–Pai precisamos conversar, agora.- Luana intimou seu pai.

–Fale, mas espero que seja algo útil.

–Precisamos de umas mudanças nessa casa. Não aguento mais esse luto, mamãe sabia que isso poderia acontecer então me disse para incentiva - lo, vamos fazer algo produtivo pai, daqui a pouco vai ser difícil viver só da sua aposentadoria e eu preciso de algo para me manter ocupada, porque eu e o senhor não abrimos um quiosque na praia?

O pai de Lu ouviu tudo sem dar muita atenção, disse que iria pensar, mas que não era pra ela criar muita esperança.

Nessa noite ao invés de escrever em seu diário ficou observando as estrelas, sabia que em algum lugar Sol poderia estar fazendo o mesmo, com isso percebeu que algo havia mudado, nunca tivera esses sentimentos por alguém sem ser sua mãe, nunca tivera nem sentido isso por algum garoto, Solange conseguiu avivar algo que Lua pensou que nunca sentiria, mas com isso também veio o medo, medo de ser algo errado, querer estar com outra pessoa sempre foi a ultima coisa que Lua pensava, na verdade desde a separação de seus pais, pensar em namorar era meio que proibido para ela, e agora se viu pensando em outra garota:

"Será que estou maluca? Como posso me apaixonar por outra garota? Uma garota que nem conheço? O que ela tem que me deixou desse jeito?"

Ao todo se passaram 90 dias desde a primeira e última vez que vira Solange. Resolveu então pegar sua "bike" e foi até a casa de Sol que ficava muito próxima à praia delas. Lá encontrou um cenário que não havia imaginado, parecia mais um "lixão" do que uma casa na praia. Para a surpresa de Lua a mãe de Sol, Augusta, estava lá preparando as mercadorias para ir até o centro e começar mais um dia de vendas. Foi então que conversando com ela descobriu o quão difícil era a vida de Sol.