Lua e Sol

Lua Minguante


–Oi, você é a mãe da Solange ? - Perguntou Lua, tentando entender o porque de tanta bagunça.

Augusta estava terminando de arrumar as peças no suporte para prender na bicicleta, o Centro da cidade era um pouco longe, mas precisava de dinheiro então era a melhor opção.

–Olá, você deve ser a " olhos de diamantes". Acertei? - Disse Augusta

–É assim que me chamam por aqui? - Disse Lua ao ajudar com as cordas.

–Esse suporte é pesado, mas acho que essas cordas seguram - Augusta encarou Luana - Está procurando minha filha?

–Sim, eu fiquei presa em casa quando nós deveríamos nos encontrar e quando consegui sair ela já tinha se mudado.

Então Augusta começou a chorar. Sem saber o que fazer Luana a abraçou, ficou preocupada pois a situação do quintal estava um horror e parecia que a mãe de sua amiga não dormia há dias.

–Se quiser desabafar, pode falar comigo- disse Lua.

–É uma longa história mocinha. -Falou Augusta tentando se recompor.

–Por favor, eu preciso entender, passei esses três meses sem saber o que tinha acontecido...

–Vamos entrar, eu vou te contar.

As duas entraram pela cozinha e pelo menos a casa não estava bagunçada, parecia que alguém queria estragar o quintal com um monte de lixo e porcarias. Augusta resumiu a história triste de sua família e fez Luana chorar, pois ela não imaginava que Sol já sofrera tanto. Isso fez com que percebesse que Sol não tivera sido honesta por medo de julgamentos precipitados e que era realmente uma garota diferente de todas que Lua já vira.

–Eu posso te ajudar com o quintal. Posso vir depois de ajudar meu pai em casa e nós duas arrumamos tudo. Posso pedir também pro meu pai ir comigo buscar ela, não suporto saber que ela está lá todo esse tempo com ele. - Disse Lu com certa empolgação que fez seus olhos brilharem ainda mais.

–Eu adoraria, mas sem um advogado poderíamos sair de lá presas... Mas quanto ao quintal, adoraria sua ajuda... Depois que Ricardo veio aqui e bagunçou tudo, toda vez que tento arrumar, fico pensando na minha Sol e não consigo fazer nada...

– Vamos dar um jeito nisso. Não posso deixar isso acontecer Sol me ajudou muito, mesmo sem saber, eu preciso ajudar ela também.

O pai de Luana, já fora advogado um dia, se aposentou e não trabalha mais com isso, mas sabia quem poderia ajudar a mãe de Sol sem cobrar nada. Porém levaria um tempo até que eles conseguissem autorização da justiça, mediante as denúncias sem provas, para tirar Solange da casa do Pai.

Durante esses três meses que ficaram separadas, Sol passou por muitos problemas. Depois de descobrir que seu pai já havia tentando abusar dela quando criança, a raiva de ter sido arrancada a " força " da casa de sua mãe, se tornou em medo e todos os dias foram terríveis. Sua mãe não conseguira retornar sua mensagem e depois que seu pai descobriu o telefonema, a proibiu de usar celular ou qualquer aparelho que a ajudasse a se comunicar com sua mãe ou amigos, por este motivo não sabia que sua mãe ouvira a mensagem, muito menos que Lua ainda pensava nela e que todos estavam preocupados depois que seu pai havia destruído o quintal de sua antiga casa.Passara os três meses trancada no apartamento de seu pai, ele não a deixava nem dar umas voltas pelo próprio prédio, a desculpa que usava era de que precisava voltar a confiar nela para deixar que ela saísse.

As aulas voltariam em poucos dias, então Ricardo achou que seria justo deixar que Sol fosse a escola para não perder mais do que havia perdido do ano letivo, mas ela não estava afim de ir para outra escola, sentia falta dos amigos de Ubatuba:

–Sol... Por que a porta está trancada? - Perguntou Ricardo com uma voz medonha.

–Já vou dormir- Gritou Sol com medo.

–Abre a porta, preciso te contar uma coisa.

Então Sol abriu a porta, mas ficou alerta, qualquer aproximação estranha ela estaria preparada. Ricardo estava com uma feição complicada de se entender, Solange não sabia se sentia medo ou baixava a guarda, então apenas deixou que ele continuasse falando:

–Seu cabelo está tão bonito, está usando os produtos que comprei pra você? - Sol acenou que sim com a cabeça- Que bom, fico feliz que tenha decidido abrir os presentes... Filha, te matriculei na escola que havia falado, comprei alguns materiais que pode precisar, se quiser mais coisas depois podemos comprar juntos. Só quero me redimir por tudo que acabei causando na vida de vocês. - Disse Ricardo se aproximando e sentando na cama de Sol.

–Quando começam as aulas? - Sol começou a se afastar, pois percebeu que seu pai se aproximava mais e mais.

– Segunda - feira querida eu a levarei pela manhã. Gostaria muito de te abraçar filha.- Ricardo começou a ficar ainda mais estranho e então agarrou Sol com um abraço malicioso. Solange o afastou gritando que não queria mais nada dele. Seu pai ficou nervoso e disse que ela não sairia do quarto até que ele decidisse, saiu e trancou a porta por fora.

–VOCÊ VAI ME PAGAR AINDA MENINA, ESCREVA O QUE ESTOU DIZENDO! -exclamou Ricardo alto o suficiente para fazer Solange chorar por horas, ele sentiu raiva por notar que Sol poderia ter descoberto sobre seu passado e isso estragaria todos os seus planos.

No dia seguinte, Sol percebera que toda sua alegria majestosa havia se escondido e que cada dia mais que passava dentro daquele apartamento, se esquecia de como sua vida na praia era ótima, mesmo sem todo aquele luxo, era o melhor lugar do mundo.

Seu pai a deixou sair do quarto para comer e tomar banho; durante o banho Sol lembrou de Luana, tentou imaginar como ela estaria e se ainda estariam ligadas de alguma forma. Voltou para o quarto e olhou para o céu pela janela, já estava anoitecendo e a lua começara a surgir, então Sol chorou até pegar no sono.

Enquanto isso em Ubatuba, Lua e Augusta planejavam tudo para finalmente buscar Solange, as duas estavam cada dia mais próximas e o diário de Lua estava cada dia mais colorido.

Quando a segunda-feira chegou, Sol acordou com uma sensação agradável, talvez indo a escola ficaria mais fácil lidar com aquela situação.

–Solange, não quer se atrasar no primeiro dia.. -Disse Ricardo.

Sol pegou a mochila e também o diário de sua mãe, durante todo o caminho até a escola ficou quieta apenas pensando no que teria acontecido se ela não soubesse de nada.

–Tenha uma boa aula, minha queridinha, não faça nenhuma bobeira, venho te buscar, não pense que vai fugir de mim. -Disse Ricardo enquanto Sol descia do carro. Ela apenas fingiu um sorriso e foi em direção a escola.

O primeiro dia de aula para ela seria o retorno das aulas para todo o resto dos alunos, aquela sensação agradável passou, tudo o que ela mais queria era que seu melhor amigo estivesse ali, para tornar o dia mais fácil, estava com tanta saudade dele, das brincadeiras que ele fazia Acabou andando meio distraída, até que trombou com um garoto :

–Oi, loirinha, você é a aluna nova não é? Ouvi a Diretora dizendo que teríamos alguém novo hoje e eu nunca vi você. - Disse Marcos enquanto pegava em sua mão.

–Meu nome é Solange, quem é você?

–Eu sou Marcos, presidente do grêmio estudantil. Seja bem - vinda!

–Obrigado. -Disse Sol sem dar muita atenção.

–Você deve ser mais legal do que parece. Se quiser pode se juntar ao grêmio assim fará amigos.

–Vou pensar nisso...- Então Sol teve uma ideia - Ei Marcos,você pode me fazer um pequeno favor?

–Sim, o que deseja?

–Me empresta um telefone?

Sol foi até a secretaria e telefonou para a casa de sua mãe, dessa vez ela atendeu, as duas conversaram por alguns minutos, enquanto Sol chorava ao contar sobre o que estava sentindo, Marcos a observava, sentiu um pouco de pena e até quis abraçá - la, mas não fez, pois achou que ela não aceitaria muito bem um estranho a abraçando. Em poucos minutos pôde notar o quanto Sol era bonita e desejou a conhecer melhor.

Marcos, era um rapaz baixo, de pele morena e cabelos escuros, usava óculos e tinha uma personalidade simples, com certeza nada que fizesse Sol esquecer sua encantadora Lua, mas ele não sabia disso.

–Nossa Solange, você quer alguma coisa? Posso falar pra Diretora deixar você voltar pra casa. -Disse Marcos com um certo desespero no olhar ao ver uma menina chorar tanto como Sol estava.

–Não quero voltar pra casa. Quero voltar pra minha mãe em Ubatuba. Preciso voltar...

–Mas o que sua mãe disse?

–Disse que está tentando vir me buscar com ordem do Juiz, mas terei que esperar um tempo ainda. Talvez mais um mês ou dois. É muito tempo, preciso sair daqui - disse Sol secando as lágrimas na manga da blusa.

–Mas você acabou de chegar, deixe que eu cuido de certas coisas, podemos conversar com a orientadora, ela pode conversar com seu pai e...

–Não - interrompeu Sol- meu pai não pode saber de nada. Minha mãe e Lua virão me buscar e tudo vai se resolver, só preciso ser forte mais um pouquinho.

–Você é bem interessante pra ser tão nova. Mas como assim Lua? - Perguntou Marcos olhando fixamente para Sol.

–Lua é a garota mais linda do mundo, minha inspiração, o segundo motivo para eu não desistir. - explicou Sol olhando em direção ao céu, imaginado os olhos de Lua.

Marcos percebeu que se quisesse ficar com ela teria que ser paciente, embora fosse cedo demais para pensar em tal coisa.


Luana estava se dando muito bem com os amigos de Sol, começara a ajudar Augusta a vender os artesanatos e seu pai o Sr.Lucio entendeu que era importante para Lua se enturmar. Aos poucos ele foi percebendo que não tinha mais ninguém a não ser a filha e até começou a pensar na possibilidade de abrir um quiosque na praia como Luana tinha sugerido, já estava um pouco velho, mas administrar não seria muito difícil. Diferente de Sol, Lua estava cada vez mais empolgada, pois se sentira como uma futura heroína indo em busca da liberdade de seu grande amor, que em tão pouco tempo, mudara para sempre sua vida.