Lua e Sol

Hora do óbito... NÃO!! Parte 1


Alguns dias antes...

– Sol!!! Amor, não demora para trazer os sucos, por favor!! – Gritou Luana terminando de montar os pratos de porções do quiosque.
– Calma chefinha, estou indo!! – Gritou Solange de volta, enquanto levava os dois copos de suco de abacaxi recém batidos – Pronto minha linda!
– Amém!! Você sabe a loucura que está hoje, não podemos demorar muito pra atender os clientes. Meu pai está chegando, se ele ver esse bagunça aqui vai me estrangular!
– Meu Deus, pare de ser dramática! Minha mãe volta depois de amanhã.
– Eu sei, mas ela vai chegar cansada de tanto amor, precisamos deixar tudo em ordem!!
– CANSADA DE TANTO AMOR?!! Luana, não me faça imaginar coisas que eu não quero imaginar!!!

Luana revirou os olhos e serviu as porções, Sol era muito brincalhona e não levava a sério a correria que era o quiosque. Sr. Lucio, desde o Ano Novo, estava escondendo de todos as dores que vinha sentindo; enquanto Lua acreditava que ele estava em casa cuidando dos assuntos financeiros do quiosque, ele estava em casa passando mal, tentando melhorar pra ninguém perceber, afinal ainda era orgulhoso demais para aceitar ajuda dos amigos.

Augusta e Vinicius, estavam aproveitando seus últimos dias de lua de mel, apesar de estarem relativamente perto de casa, o hotel era perfeito, perto da praia, quartos grandes, piscina maravilhosa e café da manhã super romântico incluso no pacote; quase não saíram do quarto, afinal eram cinco dias de pura intimidade e eles queriam aproveitar o máximo que podiam, antes de voltar a rotina maluca que estavam vivendo. Como os hotéis para lua de mel ficavam super caros na primeira semana do ano, eles decidiram se hospedar uma semana depois.

– Vi, você quer dar uma volta na praia? – Perguntou Augusta beijando seu novo marido.
– Mor, nós moramos na praia... vamos ficar aqui juntinhos, temos comida, uma banheira linda e o mais importante, um ao outro. Precisamos mesmo sair daqui? – Explicou Vinicius. Augusta o beijou de novo e os dois começaram a se amar. A felicidade havia realmente entrado na vida deles e do jeito que estava, não iria sair tão cedo.

Quando Sr. Lucio finalmente decidiu seguir para o quiosque, encontrou com uma antiga amiga dele, que o convenceu a contar para Lua, sobre seu problema, afinal ele precisaria da ajuda dela, mas ele tinha medo, medo de magoar sua filha, medo de ver ela sofrendo por causa dele, depois de tudo o que ela já sofrera pela mãe. Assim que ele chegou no quiosque, o movimento aumentou muito e ele ficou no caixa, para ajudar as meninas.

– Ai pai, ainda bem que você chegou, estou ficando louca já. Não sirvo pra isso, não!!
– Oh minha filha, não foi ideia sua abrir o quiosque? – Perguntou Lucio rindo com dificuldade.
– O senhor “tá” bem pai? Parece meio cansado... – Disse Lua preocupada. Por uns segundos Lucio pensou em contar que não estava bem e pedir para ir ao médico, mas Solange chegou, fazendo o pensamento se esvair.
– Sogrinho... E ai ?! Graças a Deus o senhor chegou, Luana está me irritando! SÉRIO!!
– Que tal fecharmos um pouco mais cedo, assim vocês descansam... – Disse Lucio.
– Por mim tudo bem !! Vou desligar as coisas – Respondeu Sol aliviada, correndo para os fundos do quiosque.
– Mas pai, precisamos de dinheiro... Augusta vai voltar e achar que não trabalhamos...
– Lua... trabalhamos ontem, antes de ontem e hoje, está ótimo! Ela vai saber que você se esforçou.

Mesmo relutando, Lua ajudou a fechar o quiosque e foram para casa, Sol quis ir para a casa dela, porque precisava arrumar tudo antes de sua mãe chegar, em menos de uma semana ela já bagunçara a casa inteira.

– Amor, você acha que meu pai está estranho? – Perguntou Lua para Sol por telefone.
– Não reparei amor... por que você acha que ele está estranho?
– Ai sei lá, desde a viagem ele está se cansando rápido demais... E aquelas conversas estranhas com sua mãe e minha tia... acho que ele está me escondendo algo...
– Para de ser paranóica meu amor, seu pai está bem... Se ele não estivesse você acha que ele esconderia da própria filha?
– Acho sim... ele já escondeu muitas coisas de mim e da minha mãe... ele pode ter mudado muito, mas ainda é meu pai.
– Pergunta pra ele... Bom, vou lavar a louça, já que vim mais cedo, vai dar tempo de limpar o banheiro também!
– Vou perguntar... Você está preparada para morar com seu padrasto amorzinho?
– Não começa!!!!
– Te amo, boa noite !!
–Te amo minha Lua !!

Durante o fim de tarde e começo de noite, Luana observou seu pai e percebeu que ele não parecia muito bem, porém preferiu acreditar no que Sol havia lhe dito, era melhor não se preocupar tanto, porque isso poderia fazer mal a ela.

–Pai vamos jantar? Terminei de limpar tudo..
– Nossa filha, você trabalhou muito hoje !! Amanhã você vai descansar, ouviu?!
–Mas pai, estou gostando de trabalhar no quiosque, mamãe iria adorar me ver assim tão ativa.
–Eu sei... Sua mãe estaria orgulhosa de você. – Disse Lucio abraçando sua filha.
–Pai... de você também, agora vamos jantar!! Preciso dormir logo.

Eles jantaram como de costume e cada um foi para seu quarto. Lua ficou acordada escrevendo em seu diário tudo o que estava acontecendo, criando teorias para o possível problema de seu pai, que para ela poderia ser até financeiro, já que dinheiro era uma das maiores preocupações de seu pai. Porém ela nem poderia imaginar o que estava por vir...
Antes de finalmente pegar no sono, ela sentiu de ir conversar com ele, mas ele já estava dormindo.

– Pai... – sussurrou Lua – O senhor está me ouvindo? – ele não respondeu – Bom... eu estou preocupada; o senhor não parece bem... Só queria dizer que te amo e estou aqui para qualquer coisa que precisar... Boa noite...- Deu um beijo na bochecha dele e seguiu para seu quarto. Se ela acreditasse mais em pressentimentos, talvez teria evitado muita coisa em sua vida, mas ela nunca dava ouvidos às suas intuições...

No dia seguinte, Lua resolveu fazer uma surpresa para Sol e foi até a casa dela de manhã, já que naquele dia não iriam trabalhar, que outro jeito de aproveitar a tarde senão com sua namorada? Quando chegou, Sol estava tomando café.

– Vamos nadar hoje?! Estou precisando distrair. – Disse Lua, servindo – se junto a mesa.
– Vamos, estou louca pra pegar umas ondas, vi na TV que hoje o mar “ta” ótimo pra surfar!!
– Não amor, vamos só nadar, eu e você na nossa praia. Estou precisando de você, assim bem pertinho de mim...- Disse Lua com uma carinha de bebê pedindo colo.
– Ain... ta bom, vamos! Posso fazer topless? – Lua percebendo a brincadeira, começou a agarrar Sol, irritando ela. Depois que se arrumaram, seguiram para a praia onde passaram a tarde inteira.

– Eu posso dizer uma coisa? – Disse Sol.
– Pode amor – Respondeu Lua deitada com a barriga pra baixo para pegar uma corzinha.
– Você promete nunca me esquecer? Mesmo que eu seja muito chata daqui há uns anos? Ou que eu não arrume um emprego?
– Ei!! Vou te amar pra vida toda, para de inventar besteira.
– Não é besteira, é só medo de te perder e minha vida mudar demais a ponto de eu não saber lidar...
– Solange... meu amor.. eu sempre vou estar com você de um jeito ou de outro... Porque eu te amo muito pra conseguir te esquecer! – Ela sentou e continuou olhando nos olhos de Sol – Estamos juntas há quase um ano e eu não quero nunca ficar sem você! Mesmo que um dia você termine comigo, eu nunca vou te deixar!
– Eu não vou terminar com você, eu prometo!!
– Então me beija e esquece essa besteira de medo!!

Ficaram ali, se amando na praia, sozinhas, apenas com todo o amor do mundo... Posso dizer que quando me lembro disso, sinto uma tristeza, afinal ninguém sabe quanto tempo tem com a pessoa, se elas soubessem, talvez tudo seria diferente.

Lua foi para casa exatamente as dezoito horas da tarde, ao chegar, encontrou Augusta e Vinicius na sala conversando com seu pai, eles não aguentaram ficar no hotel e quiseram voltar antes, mas primeiro passaram para ver Lucio, para depois irem para casa. Sol resolveu dormir, afinal já tinha arrumado a casa e não sabia que sua mãe havia voltado. Eles conversaram por alguns minutos tomando café, até que Sr. Lucio começou a passar mal.

–Mas vocês hein, se eu estivesse num lugar daquele não... voltaria... mais... – Disse Lucio pausando, com dificuldade para respirar.
Aquilo preocupou os três, e logo Lua pegou o remédio que a médica tinha receitado para pressão alta. Mas mesmo com a medicação, Sr. Lucio não melhorou, ele era teimoso e não estava tomando a medicação corretamente e nem seguindo os conselhos da médica dele.

– Luana vamos levar seu pai para o hospital... Lá eu te explico melhor, pegue os documentos dele – Disse Augusta desesperada, tentando manter a calma.
– Amor o que falamos pra ela? – Perguntou Vinicius.
– Por enquanto nada, vamos cuidar do Lucio agora, ok?!

Vinicius ligou o carro e eles foram para o hospital, antes mesmo de ser atendido, Sr. Lucio sofreu uma parada cardíaca, logo que o coração voltou a bater a equipe medica o levou para a sala de cirurgia, não sabiam exatamente o motivo da primeira cirurgia não ter dado certo; Luana estava aflita, porém não conseguia esboçar nenhuma reação, estava em choque. Um dos médicos responsável por seu pai, chegou para explicar o que estava acontecendo.

– Seu pai estava tomando a medicação corretamente, seguindo a dieta e evitando esforço físico? – Perguntou o médico para Luana.
– Ele esquecia de tomar, eu sempre o lembrava, mas as vezes não estava perto para ajudar; fizemos uma viagem para o Sul há uns meses, mas ele disse que a médica havia liberado...
– Bom, pelo o que você me falou... seu pai fez tudo o que não poderia ter feito e por isso
acabou desenvolvendo insuficiência cardíaca, para você entender melhor, o coração do seu pai estava fraco na primeira cirurgia, mas conseguimos deixar que ele ficasse
bem, porém era preciso repousar, seguir a dieta de alimentação leve e saudável e o mais importante, tomar a medicação corretamente; a médica que cuidou do seu pai, pode não ter alertado ele da forma que deveria... Estamos fazendo tudo o que podemos, mas corremos risco de não conseguir salvá-lo ou teremos que realizar um transplante...- Aquelas palavras assustaram Lua; Augusta sabia do problema e se sentiu culpada por não ter feito nada para ajudar.

Antes do médico voltar para a sala de cirurgia, Sr. Lucio sofrera uma parada cardiorrespiratória, que foi tratada em segundos, porém na segunda parada... o coração de Sr. Lucio, infelizmente, não resistiu...

A cirurgiã chefe do hospital, responsável por liderar a cirurgia vinha andando em direção a Luana e Augusta, com uma feição que Lua não conseguiu decifrar, porém um arrepio frio percorreu por sua coluna e ela sentiu que não era bom.

“ Hora do óbito 20:14 do dia 15 de janeiro de 2009”.

Luana não queria aceitar, Augusta lhe contou que sabia do problema de seu pai, chorando muito ela tirou da carteira, a carta que Sr. Lucio escrevera para Luana; as palavras da médica e de sua sogra, entravam, mas não eram absorvidas, não pegou a carta, pois não conseguia se mexer, ela não conseguia acreditar que perdera seu pai, não agora, não esse ano... Ela o amava, ela voltara a amar,depois de tantas provações, agora que ele estava bem, e ela o perdera, sem nem poder dizer o quanto precisava dele, se ela soubesse... ela o teria ajudado, teria evitado a viagem, teria feito algo para que ele tomasse direito os remédios...

“ Seis meses de repouso, se eu soubesse.. Ai pai... por que fez isso comigo?”, essa frase era a única que Lua conseguira pensar, depois de toda a explicação de doutora, ouvir :” Fizemos tudo o que podíamos”, feriu de uma forma imensa o coração de Lua...

– Não... você não fez!!! Você podia ter me chamado para a consulta, sabendo que meu pai era teimoso, você podia ter me alertado Augusta, vocês não fizeram nada do que podiam, vocês só ajudaram para que meu pai morresse e não, eu não vou ouvir nenhuma palavra mais!!

– Lua.. eu sinto muito... Por favor Lua, não fuja assim!! LUAA!!! – Gritou Augusta, mas Lua não ouviu.
Ela correu, o mais rápido que pode, Vinicius que estava no estacionamento esperando, não entendeu o porque e entrou para ver Augusta que estava desesperada.
Correr o mais rápido que ela pode a levou até a casa de Sol, havia começado a chover e mesmo molhada ela não parou.

– Lua, o que faz aqui essa hora amor? -Perguntou Sol sonolenta, pois havia acordado apenas por causa das batidas da porta.
Luana no entanto estava transtornada, não explicou o motivo e mesmo molhada começou a beijar Solange, mas não um beijo comum de amor, algo que Sol nunca havia sentido, sem dar brechas para perguntas, Lua começou a se despir, não carinhosamente, mas sim, vulgar. Sol ficou cheia de desejo, mesmo confusa, ela queria Lua de qualquer maneira. Lua se despiu totalmente e jogou Sol na cama de casal de Augusta, tirou o pijama de Sol com tanta força que acabou rasgando uma das mangas da camiseta.

–Calma amor, não vou fugir!
– Cala a boca! – Respondeu Lua começando a beijar e lamber o corpo de Sol por inteiro, até chegar em suas partes.
– Nossa amor, você nunca fez desse jeito... – Comentou Solange com desejo.
– Já disse pra calar a boca – Resmungou Lua, transtornada. Uma força exagera foi colocada sobre os dedos de Lua enquanto ela satisfazia Sol, mesmo Sol reclamando de dor ela não parou até que ela chegou ao ápice. Mesmo relaxada e dolorida, Sol cheia de desejo, foi retribuir, beijando Lua carinhosamente pelo corpo todo, mas como ela não estava entendendo nada, fez do jeito que sempre fazia,porém Lua não gostou.

– Não estamos fazendo amor, eu quero força nisso ai!! – Gritou Luana..
– NÃO cara.. – Respondeu Solange saindo de cima de Lua indignada. – Você está estranha e eu não vou fazer nada antes de você me explicar o que está acontecendo...
– Eu quero sexo, não entendeu ?
– Não Luana você não é assim!!! Nós não somos assim... Me explica que merda é essa que você ta fazendo, porque eu... – Antes que Sol terminasse de falar, o telefone tocou, era Augusta; assim que sua mãe lhe contou a noticia e ela avisou que Lua estava lá, as duas começaram a chorar muito. Mas Sol sentiu algo que nunca imaginara sentir... Lua a usou de uma forma horrível, ela tinha o direito de saber da morte do sogro assim que aconteceu, por que não lembraram dela?! Por que Lua fez isso com ela?! Sr. Lucio estava morto e Luana queria transar?! Ao ver sua namorada chorando, Sol não parava de pensar em coisas horríveis para dizer.

– Que merda Luana!! Como pôde fazer isso comigo? Como pôde me usar desse jeito?! Como pôde usar a coisa mais intima e linda que podemos ter como forma de se sentir vingada pela morte do seu pai...
– Não, não foi isso!! Para de dizer isso!!- Interrompeu Lua.
– Então o que foi Luana?! Eu nunca me senti tão mal quanto agora... Como você me esconde uma coisa dessas!? Que horas ia me contar?...
– Eu ia contar assim que me acalmasse. Para de gritar comigo, por favor.... – Disse Luana chorando muito.
– Não Luana, você não está bem... você não tinha o direito de vir até a minha casa, abusar de mim e não me contar que seu pai está MORTO.... Caralho Luana seu pai morreu e a primeira coisa que você pensa é...
– PARA!! PARA DE DIZER ISSO!! PARAAA! – Lua se cobriu com o cobertor e saiu correndo para o quintal em baixo da chuva, Sol foi atrás dela e impediu ela de fugir...

Era possível ouvir o choro, a quilômetros dali. Um grito que rasgou o coração de Sol, que por mais que estivesse com raiva, sabia que Lua precisava dela.

Continua...