Lua e Sol

Desculpa pai eu não sou daqui.


Augusta saiu de manhã para caminhar um pouco, Sol ainda dormia, o clima estava fresco com causa da chuva no dia anterior era o dia perfeito para espairecer e ela realmente precisava. Sua vida inteira foi para servir e ajudar as pessoas, nunca viveu para si; não teve muito amor de sua família, apenas a avó materna se importou com ela desde sempre, mas mesmo assim não se deixou levar pelas dificuldades e cresceu sendo uma pessoa exemplar. Enquanto caminhava se lembrou que quando criança, sua avó lhe contou uma história, de uma garotinha sobrevivente de um naufrágio que passou toda sua adolescência em uma ilha deserta e quando conseguiu voltar para a cidade, resolveu voltar e viver o resto de sua vida na ilha; muitos a criticaram :" Ela é ingrata, demos ajuda e ela foge de volta?" , mas o que poucos entendiam era que ao longo dos anos ela aprendeu a se virar sozinha, a comer do que a natureza lhe dava, a apreciar as pequenas coisas, não se encaixava mais na cidade, onde as pessoas trabalham para ter uma vida melhor, mas esquecem de viver; ela se tornara um ser humano independente e a natureza era o seu lar. Augusta sempre se imaginou como essa garotinha, não se encaixava no mundo comum, seu lugar era ali no meio das árvores, sentindo o mar, apreciando as flores e as estrelas.

Quando engravidou de Sol, pensou que seria o fim de sua vida, assustada ela não acreditou que era o momento certo para aquilo, ela não se imaginava casada ou com uma família, porque não tivera um exemplo quando menor, mas sua avó sempre lhe deu forças, até o dia em que partiu, porém Augusta via a sabedoria dela em muitos lugares. Naquele dia seu coração estava apertado, durante toda a semana ela notara algo diferente em Vinícius, mas com todo o sofrimento que passara por conta do ex marido, não se imaginava confiando em outro homem.

–Ah vozinha, como queria um conselho seu agora... Eu não sei o que fazer? Sol está crescida, até namora, mas eu... Eu não sei como seguir minha vida... Não tenho mais coragem de encarar os meus medos... Queria tanto... Tanto a senhora aqui... - Desabafou aos ventos, sentada na areia. A praia estava vazia, apenas alguns pescadores passavam ali, foi assim que conseguiu sentir o conforto que precisava. Uma brisa suave lhe envolveu como um abraço, um ar quente e frio percorria por todo seu corpo, seus olhos lacrimejaram e ela sentiu que era a hora de uma nova vida ser iniciada, Sol iria entender, ela precisava ser feliz, precisaria de um tempo, mas estava decidida que falaria com o rapaz e lhe daria uma chance, uma chance para a felicidade dela também.

Naquele mesmo momento, Luana acordou e ligou para Sol que não atendeu,pois já estava a caminho, seguiu então até o quintal de casa para colher as amoras e lá de cima pôde ver sua amada chegando. Estava com saudade daquela loirinha, há dias que não ficavam juntas; desceu da árvore rápido e correu para a porta, antes que Sol tocasse a campainha a porta se abriu e Lua pulou no colo dela.

–Eita, que isso?? - Disse Sol rindo
–Eu te amo! Apenas isso!! - Luana respondeu enquanto corava ao sentir o perfume aveludado da namorada.
–Agradeça seu pai por me chamar!! Eu te amo muito!! Ai vem aquiii !! - Sol a agarrou pela cintura e entrando na sala lhe deu um beijo quente e macio, abraçando - a intensamente como se fizesse meses que não a via. Sr. Lucio estava no banho então elas aproveitaram aquele momento para matar a saudade, subiram para o quarto e se beijaram por longos minutos; o tempo parecia não passar, elas apenas pensavam em como se amavam e que não precisariam estar em outro lugar se não ali. Quando o clima esquentou, o momento foi interrompido pelo barulho da porta do banheiro, elas se recomporam e desceram devagar antes que o pai de Lua desconfiasse. Mas elas não pararam de rir e Lucio logo percebeu o quanto estavam felizes por se encontrarem. Era difícil para um senhor, pai, ver sua única filha namorando uma outra garota, mas não queria pensar no que os outros achavam, ela estando feliz era o que importava.

–Bom dia senhorita Solange.
–Bom dia Sr. Lucio! Como vai o coração?
–Feliz!!
–Isso ai! - Sol lhe abraçou como uma filha abraça um pai e Sr. Lucio se alegrou mais ainda.
Lua já havia preparado o café, sendo assim eles apenas sentaram e se serviram.
–Mas me diga Sol,quais são seus planos para o futuro? - Indagou Lucio.
–Olha tenho pensado muito nisso, mas ainda não cheguei em uma conclusão... - Tomou um gole de café com leite e continuou -Mas eu pretendo fazer faculdade de biologia e me tornar uma bióloga marinha um dia. E nas horas vagas surfar!
–Olha que interessante !! Disse Lucio olhando para Lua. - Luana e você o que pretende?

Lua não havia pensado nisso, os anos que passaram foram tão entediantes que tinha perdido toda sua imaginação para o futuro.

–Ah... Pai... Eu quero... Não sei ainda - Disse Lua abaixando a cabeça, os dois a encararam surpresos.
–Amor, relaxa depois você pensa nisso! -Disse Sol fazendo carinho no cabelo dela.
–É filha tem tempo ainda, mas não muito, ano que vem já é o último ano da escola, você precisa decidir. Mas por enquanto deixo isso em aberto.

No fundo ela sabia o que queria, mas depois de tantas surpresas, era difícil acreditar que algo seria do jeito que ela sonhou.

–Pai já sei o que eu quero!!- Sr. Lucio se espantou e esperou Lua prosseguir- Quero viajar !! - Respondeu tentando desviar o assunto.

Os dois ficaram surpresos com o que ela disse e então todos riram, viajar era algo que não faziam há anos, mas não seria uma má ideia, Sr. Lucio pensou.

Durante a tarde Sr. Lucio caminhou pelo bairro com a vizinha, senhora Mariza e as garotas foram visitar Augusta que já estava no quiosque, para lhe entregar o quadro. Luana contou a Sol a história do quadro e era certo que Augusta se encantaria com a história também. Ao chegarem de mãos dadas, um senhor olhou para elas com feição de desagrado.

–Que pouca vergonha! Duas mocinhas se agarrando assim. É o fim dos tempos mesmo!!!
Sol se controlou para não responder, mas Vinícius ouviu a reclamação e foi defender as amigas.
–Meu senhor... É o fim do mundo um homem como o senhor, cuidar da vida de pessoas que não conhece, elas tem parentes que as amam independente de qualquer escolha delas e não precisam de alguém para julgar o amor delas! E quando eu digo amor é amor de verdade!! Aproveite seu dia e deixe elas aproveitarem o delas, afinal que mal elas fizeram ao senhor?! -O homem ficou sem fala, apenas virou as costas pegou seus pertences e se afastou dali. Sol se espantou com a ação de Vinícius, mas o agradeceu, se tivesse falado algo iria se estressar e não queria isso.

Elas pegaram um suco e ficaram conversando enquanto Augusta preparava uma porção de batatas para um cliente.

–Pra onde você quer viajar? -Perguntou Sol.
–Ah sei lá, conhecer uma fazenda! - Respondeu Lua rindo.
–"To" falando sério, pra onde? -Disse Sol pegando na mão da namorada.
–Eu também estou falando sério!! Meu sonho é andar a cavalo, ordenhar uma vaca, tomar chá olhando para o campo, essas coisas!
- Vamos falar com seu pai, posso ver com a mãe se ela deixa eu ir com vocês!
– Você iria??? Isso seria demais!! Minha Tia Rosa, mora em Santa Catarina, ela deve conhecer alguma fazenda que possamos passar um tempo...
– Do que estão falando hein lindinhas ?! - Perguntou Augusta interrompendo elas com uma porção de peixe.
– Sobre viajarmos para uma fazenda! - Respondeu Sol com a boca cheia.
– Filha não fale de boca cheia !!! - Repreendeu Augusta - Como assim fazenda?
– É, estou querendo convencer meu pai de irmos para o sul numa fazenda, meu sonho é passar uns dias no campo, sair um pouco do litoral sabe?! E a Sol iria comigo!! - Disse Luana decidida.
–Olhaa se ela vai eu também quero!!! Podemos pegar numa semana mais tranquila e irmos, não fará mal o quiosque não abrir uns dias. Mas seu pai vai aceitar isso??
– Espero que sim!! Vamos almoçar juntos amanhã e conversamos?? - Augusta acenou com a cabeça que sim enquanto mastigava e então viu a sacola no chão.
–E esse quadro?
– Ah quase esqueci de novo !! - Disse Lua. - É pra pendurar aqui, minha mãe que pintou e por um acaso eu comprei no shopping!!!
–Nossa que lindo!!! Me explica direitinho como assim comprou por acaso? Sua mãe que fez?!

Lua então contou a ela os detalhes que seu pai lhe contara, enquanto Sol comia e observava que Vinícius não parava de olhar para sua mãe; ela via respeito no olhar dele, mas não lhe impediu de se irritar com aquilo. Elas passaram o restante da tarde de sábado conversando e se divertindo, Sol chegou a perguntar para sua mãe se ela queria algo com o barman, mas essa conversa seria em outro lugar, Augusta respondeu a ela. Quando Lua voltou para casa quase a noite ,perguntou ao pai se poderiam mesmo viajar, mas durante todo o jantar ele fez um suspense, até que foi para sala, deixando ela meio desanimada a organizar a cozinha, depois de alguns minutos ele voltou dizendo:

– Que tal fazermos as malas hoje??