Lua de Mudança - Um Novo Mundo

Intro - como a mudança aconteceu


\"I want to change the world, kaze wo kakenukete, nanimo osorezu ni...\"

Podia sentir todos na rua olhando-me, um tanto surpresos, enquanto eu cantava em alto e bom som a música que tocava no meu Ipod à caminho de casa. E eu não dava a mínima. Uma garota não pode ser feliz? Ou pelo menos, no meu caso, tentar ser feliz? Moo. Desliguei o aparelho, sentindo-me meio estranha, agora que não havia música martelando no último volume em meus ouvidos. Dizem que isso é ruim, que só faz prejudicar a audição. Eu discordo; e quanto ao prazer de ouvir sua música preferida sem os barulhinhos irritantes do mundo à volta para atrapalhar? Para onde ele vai?

\"Oh, Ikikuto-san, já voltou?\" A senhora que morava na casa ao lado me cumprimentou, como sempre gentil.

\"Uhm, hoje saí mais cedo do trabalho.\" Acenei para seu filho pequeno, que se escondia atrás da mãe, tímido, virei-me e entrei no prédio de três andares. Mesmo depois de quase dois anos, ele ainda não havia se acostumado com minha presença... Bom, fazer o quê.

Abri a porta tranquilamente, sem pressa. Larguei minha mochila sobre a mesa, olhando por um momento pela janela do terceiro andar. Ah, a cidade. Sempre tão cinza, tão monótona. Formar-se, passar a viver sozinha e ter de trabalhar para poder se sustentar... A única coisa que me falta nessa vida de cidade grande é construir minha própria família. E como lá eu pretendo fazer isso com o salário que ganho? Só se fosse alguém bem rico mesmo. Talvez, Himura-san... Ahh, por que estou pensando nisso?! Sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, e voltei-me para o que tinha de fazer. Que, aliás, não era muita coisa.

Para ser sincera, eu não tinha o que fazer.

Liguei a TV para ouvi-la enquanto trocava de roupa. Sempre as mesmas notícias. Tragédias, cotação do dólar, do euro, novas descobertas, uma aquisição importante nos esportes...

Mais e mais eu percebia o quanto estava começando a me irritar com a rotina. Eu simplesmente não consigo viver assim. Ter horários a seguir todos os dias, sem tempo para nada mais... Há quanto tempo não saía com minhas amigas? Há quanto tempo não ia a uma festa, não conhecia gente nova, não me apaixonava, não vivia intensas aventuras? Droga de vida adulta, viu.

Fui para o pequeno lugar de meu já pequeno apartamento onde se encontrava a cozinha. Vamos ver, o que tem na geladeira? Não estou com fome para comidas pesadas... Ah, então vai ser torrada francesa!

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Hmm, não há nada de legal na TV. O que será que o jornal dirá hoje?

Página 1...

Página 2...

Página 3...

Página 5...

Página 12...

Página 17...

Página 27... Ehh?!

Um anúncio...

\"Cansado da rotina da cidade grande?\"

Totalmente!

\"Que tal tentar algo novo?\"

O que, o quê?

\"Uma vida revigorante na fazenda! Um campo fértil, pronto para ser plantado, acomodações em perfeito estado para futuros animais, uma casa para você e uma cidade próxima. Um mundo inteiro à sua espera!\"

Ehh!

É isso!

Essa é a minha solução!

Uma vida na fazenda, algo totalmente diferente daquilo que conheço! Um mundo novo... Apenas à minha espera!

Onde está meu celular quando eu mais preciso dele? Vamos ver... disca, disca, disca... tuuuu, tuuuu, tuuuu...

\"Ah, olá, hm, eu liguei para saber sobre a fazenda do anúncio... Meu nome? Ikikuto Kahoko...\"

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Hmm, chega de japonês. Hora de um pouco de inglês, só para variar.

\"...rain in your heart - the tears of snow-white sorrow...\"

O som dos meus dedos tamborilando na madeira enchia todo o vagão - era apenas eu e mais ninguém indo para Mineral City. Com música novamente martelando nos meus ouvidos, eu via a paisagem mudar de urbana para rural; observava enormes edifícios cinzas e monótonos darem lugar a campos verdejantes e cheios de vida. Como é que eu nunca havia pensado nisso?

Uma vida na fazenda... Algo inimaginável para uma garota da cidade como eu, e ainda assim era tudo em que eu pensava. Ninguém acreditou em mim, verdade; achavam que era uma desculpa para tirar férias, e que depois eu voltaria chorando e implorando pelo emprego de novo. Moo! Eles vão ver, todos eles. Serei a fazendeira mais próspera da região, mais rica e mais influente do que qualquer outro arrumadinho de escritório!

...Ne?

--

...

Muito bem.

Isto não está sendo como eu sonhei. Ah, não está mesmo.

Onde está esse maldito MT Realtor para me receber, dar-me as chaves e me desejar boa sorte? Aliás, onde estão as chaves? Tudo bem, este lugar é muito bonito, e mesmo que eu não entenda nada de fazenda posso afirmar que é um ótimo lugar nesse aspecto. Mesmo assim, por que toda essa bagunça?...

\"Olá. Você é uma turista?\"

Ehh?

Virei-me rapidamente, assustada. Aquela voz me tirara de devaneios profuuundos. O baixinho gorducho com cabelo e bigodes estranhos me olhava com uma expressão curiosa por detrás de seus oclinhos.

Apenas sacudi a cabeça, um tanto surpresa com sua figura...

\"MT Realtor lhe disse que poderia viver uma vida renovadora na fazenda? Você é a nova fazendeira?\" Como ele sabe? Bom, não deve ser muito difícil de adivinhar, já que não sou turista e estou vestindo um macacão azul... Concordei com a cabeça, prestes a lhe perguntar onde diabos estava MT Realtor...

\"Ha ha ha ha ha! Você foi enganada!\" Esse gorducho está rindo de mim...? \"Essa fazenda costumava ser linda, mas não mais desde que seu dono passou desta para a melhor. Como pode ver, ninguém toma conta dela.\" EHH?! \"Não são muitas as pessoas que querem trabalhar na fazenda hoje em dia. Então eles decidiram fazer o anúncio parecer mais atraente. De vez em quando, pessoas que o viram vêm aqui. Exatamente como você. Mas assim que eles veem a fazenda, decepcionam-se e vão embora. Simples assim. Entretanto já faz algum tempo desde o último...\"

O que é isso...?

\"Entendo. Você acreditou naquele anúncio tentador. Ha ha ha ha ha!\"

Pára... de... rir... de mim! Num impulso, antes que pudesse pensar, estava batendo no pobre gorducho de roupas mal combinadas.

\"Ai ai ai! Ok, ok, desculpe! Por favor pare de bater em mim!\" Depois de muito considerar, saio de cima do coitado e explico minha situação. Baixinho irritante. \"Entendo. Você se demitiu e saiu de seu apartamento... Isso é péssimo...\"

Não me diga!

Meu sonho de poder finalmente viver alegremente, protagonizar inúmeras aventuras, sair da monótona rotina da cidade grande... Maldito dia em que vi o anúncio! Maldito MT Realtor! Maldita rotin--

\"Ei, por que você não tenta tomar conta da fazenda? Pode-se viver na casa; para ser franco ela é ótima. Se você trabalhar duro, acredito que poderá ser feliz aqui. Como o prefeito desta cidade, ajudarei no que puder!\"

Ehh! Como, baixinho impulsivo?!

Mas...

Eu já cheguei até aqui, não é?

Quer dizer... Com que cara eu voltaria para meu chefe? Acabaria fazendo exatamente o que ele espera: implorar pelo emprego. Não! Eu não quero isso! Não quero voltar àquela droga de cidade! Não quero...

\"... Sim!\" Minha voz sai mais animada do que eu esperava. O prefeito Thomas acena com a cabeça e vai embora, deixando-me com meus próprios pensamentos.

Ahh, minha fazenda, minha própria fazenda!

\"Certo! Vou fazer desta a melhor fazenda no mundo!\" Meus pensamentos saem em voz alta, assustando o pequeno cachorro que viera com Thomas. Eu rumo direto para a cama, minha cabeça cheia demais para fazer qualquer outra coisa.

Esse é o início de uma nova vida.

Minha nova vida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.