Lua Negra

O mel mais delicioso é repugnante por sua própria

delícia, confundindo com seu sabor o paladar mais ávido.

Romeu e Julieta, Ato II, Cena VI

Prólogo

... Bella merecia uma vida.

Estava perdendo o equilíbrio. Sem conseguir segurar o peso do corpo, apoiei no chão a mão que estava pendurada. Os dedos cavados na pele sensível da palma não machucavam. Quisera ser humano e eu estaria sangrando por tamanha força. Senti a textura do gramado sob minha pele endurecida. Os filamentos da grama escaparam entre os dedos quando fechei a mão em punho.

Era destinado a perder tudo, a deixar tudo escapar.

Eu era como um monte de areia. Fracionado em grãos invisíveis. Os restos espalhados entre outros grãos. Parecia uma analogia patética, mas era assim que me sentia. Já não era o mesmo desde Bella Swan. Estava rasgado, despedaçado, e as lembranças que ela deixou em mim, se misturavam, nos unindo. Mesmo que eu tentasse, seria impossível separar grão por grão.

Respirei pausada e profundamente.