Capítulo 13

O tique-taque do relógio de parede da cozinha não combinava com o compasso acelerado do coração de Rin. Sentada à mesa de madeira, ela apertava de forma nervosa as mãos, erguidas cerradas frente ao rosto. O suor acumulado nas palmas fazia com que os dedos polegares escorregassem facilmente de baixo para cima, em um movimento que poderia simular uma massagem – poderia, se não estivesse sendo feito de forma tão nervosa, e se os dedos não estivessem trêmulos. Ela tentava acalmar-se ora com uma oração, pedindo sabedoria, ora com palavras positivas, que soavam muito vazias em sua mente. O nervosismo criava um bolo no topo da sua garganta que fazia um movimento de vai e vem no esôfago, e que se transformava em enjoo. A verdade era que ela estava prestes a desmaiar, tamanho mal estar. Mas pedia, repetidas vezes, que fosse forte.

O motivo daquela inquietação era um só: em breve, Sesshoumaru e Melissa entrariam por aquela porta. O pai foi buscar a menina na escola, e a levaria até a casa de Rin, para que os três tivessem aquela conversa. Ela chegou a ir trabalhar naquele dia, apesar de toda a confusão com Kohako mais cedo, mas deixou o trabalho na fazenda ainda antes do almoço, pois não estava conseguindo se concentrar em nada. Só pensava em como contaria tudo que aconteceu para a filha – ou ainda não tudo, só a parte que uma criança de quase 6 anos poderia saber. Tentou ensaiar um começo de diferentes formas, mas não sabia por onde começar. Não sabia como organizar em fatos toda a bagunça dos últimos meses, tampouco fazer isso de forma palatável para uma criança. Se ela mesmo estava tentando entender e controlar o que sentia por Sesshoumaru, não sabia como traduziria tudo aquilo para a filha. No fundo do coração, esperava que ele fosse melhor do que ela naquela difícil tarefa, mas tinha consciência de que foi ela quem criou Melissa nos últimos anos, e que não podia se acovardar.

Assim que o polegar da mão direita escorregou pela palma esquerda pela última vez, ela ouviu a porta da sala se abrindo. O coração, que já batia de forma acelerada, perdeu ainda mais o ritmo. As pernas passaram a tremular por baixo da mesa, e Rin escondeu as mãos também trêmulas sobre o colo, tentando respirar fundo para se acalmar. Logo Lissy apareceu na porta, sendo seguida por Sesshoumaru. A menina andou até a mãe em passos curtos e a abraçou, murmurando um tímido “oi, mamãe”. Ela afagou os cabelos castanho-claro, só então olhando para Sesshoumaru. Ele segurava a mochila lilás da filha com uma das mãos, e apoiava o outro antebraço no batente da porta, olhando Rin diretamente. Não precisou avaliá-la por mais meio segundo para saber que ela continuava se sentindo mal.

Lissy separou-se do abraço e se sentou na cadeira da mesa ao lado esquerdo da mãe. Sesshoumaru aproximou-se e tomou o assento do outro lado de Rin, de frente para a filha. Rin colocou as mãos espalmadas em paralelo, recolhidas junto ao peito, sobre a mesa – talvez em uma tentativa de conter o tremor dos dedos. Olhava Lissy fixamente, embora os próprios olhos também estivessem tremulando. Os olhos cor de mel retribuíam o olhar fixo, mas estavam confusos e receosos. Rin avançou a mão esquerda sobre a mesa, tomando a mão pequena entre os dedos.

— Nós precisamos conversar. – Ela anunciou. Naquele momento, buscou os olhos de Sesshoumaru. Ele tentava parecer calmo, tentava demonstrar confiança acenando discretamente para ela, mas havia também nervosismo naquele infinito dourado.

— ‘Tá tudo bem, mamãe? - Lissy perguntou, apertando a mão da mãe de volta.

— Sim, meu anjo. – Rin olhou de volta para a filha e se esforçou para sorrir, mas o bolo que passeava pela boca do seu estômago subiu até o fundo da garganta, o que fez com que ela engolisse seco, perdendo a força da voz no fim da frase.

Sesshoumaru buscou a mão direita de Rin, que estava ainda espalmada contra a mesa, e entrelaçou os dedos com firmeza. – Está tudo bem, Melissa. – Ele repetiu, fazendo com que os olhinhos cor de mel buscassem o rosto do pai, que acenou outra vez.

— Você... Você sabe o quanto eu te amo, não sabe? O quanto nós te amamos... – Rin olhou Sesshoumaru brevemente. Melissa acenou lentamente em positivo, tentando acompanhar o rumo da conversa. – É por isso que nós queremos que você entenda... que você saiba de uma coisa muito importante. – Rin tentava procurar as palavras certas, e lutava contra o sentimento que começava a deixar sua voz embargada. Ela respirou fundo, o que fez com que Lissy torcesse as sobrancelhas.

— Mamãe, você ‘tá doente? - Os olhos cor de mel ficaram rasos de lágrimas. – Igual a quando o vovô ficou doente?

— Não, não, não, não. – Rin balançou a cabeça repetidas vezes, sentindo o coração se apertar. – Ninguém está doente, eu te prometo.

— Lissy. – Sesshoumaru chamou, fazendo com que as duas o olhassem. Ele estendeu a mão livre para a filha, sentindo os dedinhos escalarem a palma e os dedos longos dele. – O que temos para conversar hoje é sério, mas não é algo triste. Ouça com atenção.

Ela acenou repetidas vezes, limpando as lágrimas ainda presas nos olhos com os ombros, usando o tecido azul marinho da blusa de lã que vestia.

— Você se lembra de quando você me perguntava como eu havia conhecido seu pai, e como foi que ficamos juntos antes de você nascer? -- Rin perguntou e Lissy acenou outra vez.

— Você falava que papai te deu o maiooor presente do mundo. – A menina finalmente esboçou um sorriso, parecendo amenizar a confusão dos olhos.

— O melhor que eu poderia ter: você. – Rin sorriu também, apertando os olhos castanhos.

Sesshoumaru não evitou um sorriso diante da cena. Mesmo sentindo raiva do que ele fez, Rin nunca permitiu que a mágoa contaminasse o coração da filha, o que provavelmente contribuiu para que Melissa tivesse aceitado o pai tão bem, logo de cara. A cada dia admirava mais aquela mulher sentada ao seu lado, e a cada dia tinha mais certeza que queria tê-la ao seu lado para sempre.

— Um bem tão precioso quanto você só poderia vir de um amor muuuito grande. – Rin prolongou as palavras, assim como a filha fazia, o que fez com que a menina risse. – E eu quero que você saiba que, apesar de eu estar chorando, eu estou muito feliz, Lissy.

— Eu sei, mamãe. – Ela concordou, voltando a olhar atentamente os olhos da mãe.

Rin engoliu seco. Agora era a parte mais importante, mas as palavras fugiram da sua mente. Ela apertou a mão de Lissy, vendo a menina torcer as sobrancelhas, confusa pelo silêncio.

— Melissa. – Sesshoumaru chamou, fazendo com que as duas o olhassem outra vez. – Eu passei bastante tempo longe de você... de você e da sua mãe. – Ele reuniu as próprias mãos, que seguravam a mão direita de Rin e a esquerda da filha. – Mas desde que eu voltei eu percebi que vocês duas são o meu mundo.

Rin sentiu o coração perder o ritmo outra vez, olhando-o fixamente. Só então Lissy afastou o rosto para observar o olhar entre os pais. Os olhos cor de mel foram ficando cada vez menos confusos.

— Eu e sua mãe queremos ficar juntos. – Ele finalmente disse, fazendo com que Rin sentisse como se uma descarga elétrica tivesse passado por seu corpo. Ela buscou os olhos da filha, e encontrou uma expressão de choque.

— Juntos... como namorados? -- Melissa balbuciou, tentando assimilar.

— Isso. – Sesshoumaru acenou, observando atentamente cada linha do rosto da filha. – Mas queremos saber como você se sente em relação a...

— E o tio Kohako? -- Ela inquiriu, buscando o olhar da mãe.

Rin apertou os olhos, sentindo a garganta arder. Umedeceu os lábios com a língua rapidamente, tentando recompor os pensamentos em sua mente. – O seu padrinho vai ser sempre seu padrinho, não importa o que aconteça.

— Então é por isso que ele brigou com o papai? -- Melissa torceu as sobrancelhas, parecendo com raiva. – É por isso que ele não vem mais me ver?

— Melissa. – Sesshoumaru chamou. A voz ainda era serena, mas tinha firmeza. – Eu sou muito grato por seu padrinho ter cuidado de você e de sua mãe. Eu sei o quanto você gosta dele. – Aquelas palavras eram sinceras, mas doíam até mesmo para serem ditas. Sim, Sesshoumaru era grato a Kohako – e talvez por isso tivesse feito o que fez na noite anterior, embora não quisesse admitir aquilo a si mesmo. Mas era duro perceber o quanto a filha dava importância ao sentimento de Kohako naquele momento. – Nunca foi nossa intenção afastá-lo de você.

— Mas papai, ele gostava da mamãe. – Lissy argumentou, soltando tanto a mão de Rin quanto a de Sesshoumaru. Ela cruzou os braços na altura do peito. – Ele ainda gosta da mamãe, ele me disse!

O gosto amargo que subiu ao céu da boca de Rin veio acompanhado do bolo que preenchia a sua garganta. Sem conseguir conter aquilo, ela levantou-se da mesa de uma vez, correndo até o pequeno banheiro que ficava entre a cozinha e a sala. Fechou a porta de uma vez, causando um estrondo, e despejou tudo – ou o completo nada, já que não havia se alimentado naquele dia – na pia, sem conseguir alcançar a privada. O estômago dela se contorceu outra vez e ela tossiu, em um reflexo para tentar esvaziar a garganta. Mas dessa vez nada veio, apenas lágrimas para seus olhos.

Sesshoumaru sentiu o peito arder. Não sabia o que fazer – não sabia se amparava a filha, ressentida e confusa pela reação da mãe, ou se ia atrás de Rin, para saber se estava tudo bem. Já havia se preparado para uma má reação de Melissa, pois sabia que existia uma boa chance de a menina associar a distância de Kohako ao que foi dito. Mas não esperava aquilo.

— A mamãe ‘tá doente? -- A menina começou a chorar, levando as mãos ao rosto.

Ele levantou-se, sentando-se ao lado da cadeira dela. – Ela não está doente, Lissy. – Girou as pernas no assento, aproximando-se ainda mais da filha. – Sua mãe não quer te ver triste. E eu também não.

— Então por que as coisas não podem ser como eram antes? -- A menina choramingou, apertando as próprias mãos de forma nervosa. – Eu queria poder ter todo mundo comigo.

— Eu sei. – Ele estendeu os braços para a filha, que venceu a relutância inicial e cedeu à vontade de aninhar-se no colo do pai. – Nada do que está acontecendo é culpa sua. Nada é culpa da sua mãe também. – Sesshoumaru suspirou, afagando os cabelos dela.

— Então é de quem? -- Ela fez a pergunta que ele temia ouvir. Sua mente respondia em alto bom som: a culpa era de Sesshoumaru. Ele quem tomou a estúpida decisão de ir embora, de abandonar Rin e a filha, de negar o amor delas. E foi ele quem voltou e requisitou tudo aquilo de volta, como se tivesse direito a fazer isso.

— Ninguém pode ser culpado por querer ser feliz, Lissy. – Rin disse, apoiada no batente da cozinha. Nem Sesshoumaru e nem a menina tinham percebido que ela estava ali. Aparentemente recomposta do mal estar, ela aproximou-se. Afastou a cadeira onde Melissa estava sentada antes e agachou-se, tomando as duas mãos da filha entre os próprios dedos frios. – Eu amo seu padrinho, você sabe que nós nos conhecemos desde crianças, quando éramos mais novos do que você. Mas eu amo seu pai de uma forma diferente. E quando nós amamos alguém dessa forma, só conseguimos ser felizes ao lado dessa pessoa. – Ela explicou, vendo Lissy suspirar profundamente. – Eu também estou triste por seu padrinho ter se afastado, e te prometo que vou fazer tudo que for possível para que tudo fique bem entre vocês dois.

A menina acenou positivamente, mas sem conseguir mudar a expressão consternada que tinha. Rin entreabriu os lábios para continuar, mas Sesshoumaru sinalizou para que ela parasse. Era necessário que Melissa absorvesse tudo que foi dito, e continuar aquela conversa só aumentaria o nó na cabeça da menina. No final das contas, o tempo que Rin pediu era, sim, necessário – mas para Melissa. Ela estava certa ao pedir cautela para contar tudo para a filha, no final das contas.

Conversando naquela manhã, Rin e Sesshoumaru decidiram que não seria possível postergar mais aquele assunto, ainda mais após o pedido de casamento. Se Melissa sentisse que os pais estavam omitindo algo – ou pior, que estavam mentindo sobre algo – a reação dela seria pior ainda, embora fosse difícil imaginar algo pior do que aquilo. A reatividade e o ressentimento não tinham nada a ver com o comportamento comum de Lissy, o que fazia ele pensar que a menina já estava lidando com aquela confusão em sua mente há um tempo. O melhor era esperar, e ajudá-la a lidar com aqueles sentimentos novos.

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O caminho da casa de Rin até a confeitaria foi feito em completo silêncio. Sesshoumaru olhava vez ou outra pelo retrovisor da caminhonete, percebendo que Lissy tinha o olhar perdido na paisagem do lado de fora. A menina estava agarrada com o ursinho que costumava acompanhá-la somente durante o sono, mas que agora estava preso aos braços dela. Rin tinha o cotovelo apoiado na divisa entre a estrutura metálica da porta do passageiro e o vidro. Os dedos cobriam os olhos, e tentavam amparar a cabeça, que voltou a latejar e doer. Apesar de o mal estar só ter piorado, ela precisava voltar a trabalhar na fazenda.

— Tem certeza que não quer ir comigo para a fazenda? Você pode me ajudar com algumas tarefas. – Rin convidou, virando-se para Melissa.

— Prefiro ficar com tia Sango. Ela vai me ajudar com o dever de casa. – A menina respondeu, sem tirar os olhos da paisagem.

Rin respirou fundo, voltando a cobrir os olhos. Sesshoumaru sentiu o peito arder outra vez, lidando com a própria confusão de sentimentos. Ele estendeu a mão para Rin, tomando os dedos dela entre os seus e apoiando as mãos juntas sobre a própria coxa direita. Lissy tirou os olhos da estrada para acompanhar movimento de mãos dadas dos pais. Continuou em silêncio, suspirando fundo.

Chegaram à confeitaria, encontrando o carro de Miroku parado à porta. Lissy tomou a própria mochila nas mãos e desceu, sendo acompanhada por Rin. Sesshoumaru desceu em seguida, acionando o alarme da caminhonete. Assim que Lissy passou pela sineta, Rin parou, virando-se para ele, que começava a subir pelas pedras.

— O que faremos agora? - Ela inquiriu, sentindo os olhos ficando rasos de lágrimas.

— Vamos dar tempo a ela. – Ele respirou fundo, esfregando o rosto brevemente.

— Ai, Deus... – Rin cobriu os olhos com as mãos estendidas. – Eu não achava que seria tão difícil.

— Rin. – Sesshoumaru chamou, segurando os braços dela acima do cotovelo. Acariciou a pele suavemente. – Melissa vai ficar bem. Mudanças são difíceis.

— E se ela não aceitar essa mudança? E se essa tristeza não passar? - A aflição dela se traduzia em um movimento constante de troca de peso entre as pernas, fazendo com que a pedra úmida pelo sereno da noite balançasse de um lado ao outro, acima da terra do caminho de entrada.

— Não pense nisso. – Ele a puxou para o próprio peito, abraçando-a. Afagou o cabelo volumoso entre os dedos, sentindo o coração se apaziguar por um instante. – Você vai procurar um médico hoje, certo?

— Eu tenho tanta coisa para resolver na fazenda. – Rin torceu o lábio inferior. – Não sei se vou ter tempo...

— Rin. – Sesshoumaru chamou, separando-se do abraço para olhá-la diretamente. – Não é normal se sentir assim por tanto tempo. Você precisa ir a um médico.

— Tenho certeza que é só o nervosismo. Não tenho conseguido me alimentar bem, o que piora tudo. – Ela suspirou, desviando os olhos dos firmes orbes dourados. – Ainda preciso falar com Sango sobre o que aconteceu. Essa conversa não pode esperar também. – A tentativa de mudar de assunto não passou despercebida por Sesshoumaru, mas ele preferiu não insistir, talvez porque o segundo tema era muito espinhoso. Ele acenou uma única vez e beijou a testa dela. Seguiram juntos para dentro da confeitaria, ouvindo o som da sineta tinindo.

Encontraram Sango e Miroku conversando de forma amena com Lissy – ou pelo menos tentando, já que a menina estava em silêncio. Rin sentiu o peito apertar assim que viu Sango, que parecia muito contente. Sabia que ela ficaria arrasada quando soubesse o que estava acontecendo – de novo – com o irmão. Sentia-se culpada por dar um fim a aquela felicidade.

Só então Rin pensou como os sentimentos entre ela e Sesshoumaru estavam ferindo tanta gente, direta ou indiretamente. Primeiro havia sido Kohako, cuja mágoa respingaria em Lissy e em Sango. O velho Kenichi vivia dizendo que o problema de histórias mal resolvidas é que elas tinham um curso tortuoso até achar o bom caminho – isso quando elas estavam predestinadas a encontrar. Era difícil perceber como a história dos dois, repleta de feridas, ainda causaria outras tantas antes de chegar ao ponto em que tudo ficaria tudo bem. E naquele dia ruim, Rin começava a perder a crença de que o ‘tudo bem’ estava próximo, ou sequer que esse momento de paz chegaria algum dia.

Aproveitou um momento de distração de Lissy com Miroku e explicou brevemente para Sango que ela e Sesshoumaru haviam contado a verdade para a filha, e que a menina havia agido mal. Como sempre, Sango a confortou, dizendo que aquela havia sido uma decisão acertada, e que logo tudo ficaria bem. Rin não conseguiu contar para a amiga o que havia acontecido com Kohako naquele momento, e decidiu deixar isso para mais tarde. Pediu, apenas, que Sango a esperasse na casa dela já no meio da noite, quando ela estaria voltando da fazenda. A outra morena pressentiu que algo ruim havia acontecido, mas preferiu não insistir, principalmente porque havia percebido que Rin não estava bem, e não era de hoje.

Rin partiu em direção à fazenda, e Sesshoumaru e Miroku ainda ficaram por mais alguns minutos na companhia de Sango e Lissy, mas logo seguiram para uma reunião com uma cooperativa de produtores de arroz, em uma cidade próxima. A menina, calada e apática, passou a tarde na companhia de Sango e dos livros da escola. Nem mesmo o Pequeno Príncipe, o livro que Lissy lia pela segunda vez – dessa vez sozinha, sem a companhia do pai – era capaz de atrair a atenção da menina. Ela fez a lição de casa demoradamente, sem sequer tocar no assunto da conversa de mais cedo, enquanto Sango preparava alguns pães e rosquinhas na bancada de pedra da cozinha. A tarde, que se tornou cinzenta, representava perfeitamente o sentimento abrigado no peito de Melissa.

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Já eram quase oito horas da noite quando Rin chegou à casa de Sango. Encontrou a varanda acesa, assim como a sala, cuja luz também era vista por uma enorme janela de madeira na parte da frente da casa. Depois daquele dia exaustivo, Rin começava a dar razão para Sesshoumaru – talvez ela precisasse de um médico. O mal estar havia se transformado em uma dor de estômago excruciante, que já irradiava pelo alto das costas e pelos ombros. Sentia que seu esôfago havia sido queimado pelo líquido do estômago -- que, aliás, havia passado o resto do dia ainda completamente vazio, já que ela não conseguia pensar em se alimentar. Subiu os curtos degraus até a porta e tocou a campainha. Poucos instantes depois, Sango abriu a porta branca de madeira, carregando um enorme sorriso no rosto. De novo, Rin sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.

— Vem, entra. – Sango chamou, dando espaço para que ela passasse.

Lissy estava sentada sobre o tapete claro da sala, e parecia menos apática. A pequena mesa de centro, em frente ao sofá, tinha peças de dominó espalhadas – algumas com a face para cima, outras escondiam para baixo os pontinhos que determinavam os seus números. Rin lembrou das noites em que o seu pai passava ensinando Melissa a jogar dominó, embora a menina, com quatro anos à época, ainda estivesse aprendendo a lidar com a lógica numérica. Mas ainda que não soubesse bem como jogar, Lissy insistia para que o avô continuasse a ensiná-la, até o dia em que ela passou a vencê-lo sem esforço.

— Mamãe, eu estou ganhando! – Ela exclamou, batendo duas peças de pedra uma contra a outra.

— Essa danadinha aprendeu a contar as peças, acredita? -- Sango riu, afagando os cabelos da menina.

— Seu avô te ensinou todos os truques, não foi? -- Rin abriu um meio sorriso, sentindo a aflição em seu peito aliviar por um instante.

Lissy mordeu a ponta da língua e sorriu de forma travessa. O semblante dela era bem mais leve do que mais cedo, e Rin agradeceu mentalmente ao esforço de Sango para ajudá-la na difícil missão de amenizar a mágoa da menina.

— Por que você não toma um banho, para jantarmos juntas, nós três? -- Sango olhou a menina, batendo uma rápida palma. Lissy acenou positivamente, levantando-se do tapete. – Você sabe onde tem uma troca de roupa, não sabe? -- A menina acenou outra vez, seguindo em direção do corredor que levava à escada. No meio do caminho, ela hesitou por um instante e voltou até a porta, abraçando a cintura de Rin com força. Aquele tímido pedido de desculpa, ou breve sinal de paz, acendeu uma centelha de esperança no coração de Rin.

Assim que Lissy subiu pela escada, a aflição voltou ao peito da morena. Era chegada a hora de ter a segunda conversa difícil daquele dia, e a aquele ponto Rin se questionava se teria força para tal.

— Está acontecendo alguma coisa, não está? -- Sango começou, após um breve silêncio. – Você não parece bem...

— Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, está difícil lidar com tudo de uma só vez. – Ela suspirou, sentando-se no sofá largo apoiado no canto da sala.

— Venha, vamos para a cozinha. Vou esquentar o caldo para jantarmos. – A outra morena chamou, caminhando até o espaço conjugado à sala, onde havia uma grande ilha de bancada branca, armários de madeira em um tom acinzentado e eletrodomésticos em inox. Uma panela grande estava sobre o fogão, que teve a chama acesa outra vez. Assim que Sango abriu a tampa da panela, e o cheiro do caldo de ervilha alcançou as narinas de Rin, ela sentiu como se o estômago tivesse dado uma pirueta. Não conseguia pensar em ter apetite em uma hora como aquela. Ela congelou no mesmo lugar, mantendo-se afastada da cozinha.

— Você está escondendo algo de mim... – A fala de Sango não parecia uma pergunta, e nem se tivesse soado como um questionamento Rin conseguiria responder. Ela mexeu a panela outra vez, ainda de costas. – Tem algo sério acontecendo e você não quer me contar.

Ela engoliu seco, lembrando de todo sofrimento de quando Kohako esteve no fundo do poço, em razão da bebida. Lembrava-se do quanto Sango insistiu para que o irmão não tivesse o mesmo destino do pai: as brigas para que ele fosse à terapia, para que aceitasse que o que ele tinha era uma doença, e para convencê-lo que aquela fase ruim não passaria se ele não buscasse ajuda. Toda a raiva e mágoa se desfazia assim que ele voltava a ficar sóbrio e a ser o homem gentil de sempre, mas voltava com força após as inúmeras recaídas que Kohako teve ao longo do caminho. A de hoje era só mais uma delas.

— Sango, eu não sei como te dizer... – Ela gaguejou, apertando as mãos de forma nervosa.

— Você está grávida, não está? -- Sango virou-se de uma vez e colocou uma das mãos na cintura, encarando Rin diretamente.

O rosto da morena perdeu a cor imediatamente, e qualquer expressão de aflição que antes estava ali foi lavada por uma total aparência de choque. As narinas inflaram e ela tentou respirar, começando a ficar ofegante.

— Existe alguma chance de você estar grávida? -- Sango insistiu.

— Grávida? Não, eu não estou. – Rin gaguejou. Ela cambaleou, apoiando-se na pedra fria da ilha da cozinha. – Eu não posso estar.

— Rin? -- A outra morena se aproximou, segurando as mãos dela, que estavam mais frias do que o próprio mármore, como se tivessem sido mergulhadas na água gelada.

— Não pode ser, eu não... – A fala tornava-se cada vez mais perdida e confusa, como se Rin tivesse entrado em um transe. – Isso não pode acontecer.

— Senta aqui. – Sango a conduziu até uma das banquetas altas à beira da ilha, antes que Rin perdesse a força nas pernas. Os olhos trêmulos e confusos de Rin estavam fixos em um ponto do chão e ela tinha a mão na altura dos lábios, que também tremulavam tanto quanto os dedos. – Você não tinha desconfiado? A falta de apetite, os enjoos, a dor de cabeça. Foi assim quando...

— Não! – Rin exclamou, levantando-se de uma vez. – Eu não estou grávida. Isso tudo é só um mal estar por causa de todas as mudanças e por causa do trabalho na fazenda, logo eu vou melhorar.

— Não existe nenhuma possibilidade? -- Sango torceu as sobrancelhas, em uma expressão de pena.

Rin começou a fazer contas mentalmente, mas sua cabeça estava tão atormentada que não conseguia concluir o raciocínio – logo ela, que era tão boa com números. Uma semana, duas semanas, dia 15, dia 20... em qual dia estavam, mesmo? Qual tinha sido a última vez em que sua menstruação havia vindo? Ela se esforçava para lembrar, mas nada vinha à mente. Fazia tempo demais. A sua mente deu mais uma volta, atordoando-a. Tinha que haver uma resposta melhor do que aquela.

— Não pode ser. – Ela sussurrou, fechando os olhos. Pensa, Rin. Existia alguma chance de aquilo ter acontecido? Sua memória começou a resgatar todas as últimas vezes em que ela e Sesshoumaru haviam ficado juntos, e... sim, existiam muitas possibilidades. Setembro, outubro... Outro mês já havia começado? Pensa, Rin. Três semanas, cinco semanas.

A verdade era que o período estava muito atrasado.

— Você precisa se acalmar. – Sango a conduziu para a banqueta de madeira outra vez -- Está tudo bem. – Ela segurava os ombros da outra morena com firmeza, olhando-a fixamente. – Vai ficar tudo bem.

— Isso não pode estar acontecendo de novo. – Os olhos rasos de lágrimas já começavam a tomar uma coloração avermelhada, assim como o rosto de Rin. – Isso não é verdade.

— Nós não sabemos, foi só um palpite. – Agora quem se atrapalhava com as palavras era a outra morena. Sango não esperava uma reação tão confusa de Rin, o que só confirmava o sentimento de que ela estava certa quanto à hipótese levantada. Afagou os cabelos da amiga, respirando fundo.

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Durante o jantar, a mente de Rin não parou por um instante. Ela remexia a colher prateada no bowl de porcelana pintada à mão, mas não conseguia levar o líquido esverdeado à boca. Seu estômago rejeitava até mesmo a ideia de se alimentar naquele momento. Lissy e Sango conversavam animadamente sobre as fases da lua, e sobre como o terreno acidentado do pequeno astro formava a figura de São Jorge, com seu imponente dragão. Rin tentava prestar atenção na conversa, mas logo sua mente voltava para os cálculos, que teimavam em convencê-la que Sango estava certa, embora sua mente lutasse com todas as forças contra aquela possibilidade.

Em meio aos cálculos, ela tinha flashes dos momentos com Sesshoumaru. A boca dele pela pele dela, as mãos firmes envoltas na curva do quadril dela... Rin sentiu um calafrio percorrer o corpo e apoiou o rosto com as mãos, sentindo que o pescoço perderia a capacidade de manter a cabeça no lugar. O gosto amargo voltou à boca e Rin temeu despejar todo o nada que estava no seu estômago à mesa. Outras lembranças de seis anos atrás, quando ela descobriu que esperava Lissy, também voltavam à sua mente. A surpresa, o medo, a decepção... tudo aquilo formava uma lembrança dolorosa e bastante viva em sua mente.

Assim que as duas terminaram de jantar, e assim que Rin fingiu que terminou de comer algo, ela levou os pratos à pia.

— Pode deixar, eu cuido disso. – Sango disse, segurando os pulsos dela gentilmente. – Você quer que eu fique com Lissy hoje?

— Não. – Rin negou, acenando com a cabeça. Passou o dorso da mão pela borda do nariz, tentando controlar as lágrimas. – Está tudo bem. Nós duas só precisamos descansar.

A outra morena torceu o lábio inferior, sentindo o peso do remorso sobre os ombros. Tinha, realmente, escolhido um péssimo dia para colocar aquele assunto na mesa, principalmente porque sua desconfiança não havia surgido naquele momento. Depois de cogitar aquela hipótese por dias, ela poderia ter esperado as coisas se acalmarem para questionar Rin. Além do mais, parecia que Rin queria falar sobre outra coisa que a estava perturbando, mas Sango não quis abrir mais uma caixa de pandora naquela noite.

(Trilha sonora: Save Yourself – KALEO)

It weighs heavier on one's heart

Despediram-se e Rin partiu, na caminhonete vermelha. Lissy parecia sonolenta, provavelmente por causa do horário. Já passava de dez da noite, e uma fina neblina caía pela cidade, deixando a noite ainda mais fria. A mente de Rin não deu trégua nem por um único instante no curto caminho entre a casa de Sango e a sua própria casa. Os flashes de seis anos atrás estavam se tornando cada vez mais presentes, conforme os eventos se remontavam cronologicamente em sua mente. Quase podia sentir a brisa amena daquela tarde ensolarada de primavera, quando ela e Sesshoumaru se encontraram pela última vez.

I could tell right from the start that sweeter ones are hard to come across

O vento soprava, balançando a grama baixa e amenizando a sensação quente sobre a terra vermelha da estrada. Sesshoumaru suava, embora estivesse perfeitamente protegido pelo ar frio que saía do painel luxuoso do carro. Suas mãos tintilavam contra o volante, e o som da bagagem mexendo-se no porta-malas, conforme as pedras da estrada eram vencidas pelos pneus do Volvo, eram o único som que podia ser ouvido na cabine. Mesmo com os óculos escuros, a claridade do sol e o reflexo que ela fazia sobre a água do rio que cortava a propriedade dos Ozawa, já na linha do horizonte, feriam os olhos dourados dele.

Well… there is more than meets the eye

O coração estava fora de compasso, embora ele estivesse tentando com todas as forças controlar as próprias emoções. Apesar de a pedra que Sesshoumaru estava obrigando-se a colocar sobre seu coração ter sufocado qualquer voz do campo emocional, havia uma inquietude no seu peito que ele não conseguia controlar. Travou os dentes, irritado por não ter controle sobre aquilo.

Estacionou o carro próximo à entrada, percebendo que as máquinas trabalhavam no campo. Revistou as plantações baixas de trigo do alto e encontrou somente homens trabalhando sob o sol – nem sinal da figura esguia de Rin por ali.

Ele já deveria ter começado a andar até seu destino, mas suas pernas pareciam não responder a seus comandos, como se tivessem poder de fazê-lo desistir do que precisava fazer ali. A inquietude aumentou quando a racionalidade puxou as rédeas de volta, fazendo com que o peito de Sesshoumaru se rasgasse ao meio e as pernas começassem a caminhar até a entrada da casa de madeira. Olhou por dentro da porta mosqueteiro, ainda sem conseguir ver Rin. Os olhos dourados examinaram a varanda, em busca de qualquer sinal de campainha, ou qualquer coisa que pudesse anunciar sua presença ali. Encontrou um sino acobreado, pendurado em um suporte retalhado de madeira, que parecia ter sido feito a mão. Travou os dentes, sentindo-se ridículo só de pensar em tocar aquilo.

Antes que ele tivesse que se obrigar a tocar o sino, ele ouviu a porta mosqueteiro batendo. Olhou para trás e encontrou Rin. Ela não o sorriu assim que o viu, o que fez com que ele pensasse que ela já sabia o motivo de ele estar ali.

Heart like yours is rare to find

— Precisamos conversar. – Ele anunciou, com o rosto igualmente isento de qualquer emoção.

Ela concordou com um aceno, engolindo seco.

Encararam-se firmemente por um longo instante, até que Sesshoumaru tomou a iniciativa de sentar-se em um pequeno sofá de madeira, no canto da extensa varanda. Ele sentou-se na ponta do estofado, dobrando as longas pernas para que os pés alcançassem o assoalho baixo. Acomodou-se no extremo da ponta, tomando a maior distância física possível. Rin sentou-se sobre o braço de madeira do móvel, na outra ponta, apoiando um dos pés sobre a quina do assento e o outro manteve-se apoiado no assoalho de madeira. Parecia que ela também queria tomar uma distância segura.

— Eu decidi voltar para Nova York. – Sesshoumaru falou de uma única vez. A voz suave não demonstrava nenhum tipo de emoção, embora os sentimentos tivessem fervilhado em sua mente durante todos os últimos dias.

Someone else's gain will be my loss

Rin manteve-se em silêncio, encarando fixamente o chão. As mãos juntas sobre o colo iniciaram um tímido tremor, que ela visivelmente tentava controlar a todo custo.

— Eu preciso retomar minha carreira, ou todo meu esforço de todos os anos será em vão. – Ele continuou, mesmo sem ter planejado dizer aquilo. Sua ideia era dar a notícia, e esperava ver algum tipo de surpresa ou de raiva no rosto de Rin, mas nada daquilo aconteceu. Será que ela estava compreendendo? Sesshoumaru sentiu, então, que precisava explicar o que dizia. – Decidi que vou me casar com Rebeca, e esquecer o que aconteceu aqui. Foi um erro, e não vai acontecer...

Woah, woah, oh oh...

— Eu estou grávida. – Ela anunciou, finalmente olhando-o. Os olhos castanhos estavam rasos de lágrimas, mas ainda não demonstravam raiva. Os olhos de Sesshoumaru, por outro lado, abriram-se em surpresa, sem que ele pudesse evitar.

— Como? -- Ele questionou, perdendo a força na voz.

— Achei que você devesse saber. – Ela levantou-se finalmente, contornando os cantos dos lábios com o dedo indicador e polegar da mão esquerda.

— Você tem certeza? -- Sesshoumaru levantou os olhos para acompanhar os movimentos dela.

Rin virou-se, e o olhar dela dizia tudo. Era claro que ela tinha certeza, ou jamais diria aquilo, ainda mais em um momento como aquele. Não era o tipo dela.

— Por que não me disse antes? - Ele cobrou, tentando retornar à impassividade de antes.

— Não faz diferença. – Ela rebateu. A voz entre os dentes finalmente mostrava algum indício de mágoa. – Eu já sabia que você tinha decidido voltar. Depois de você ter sumido nos últimos dias, sua decisão ficou bastante óbvia para mim.

— Eu precisava pensar com clareza. – Sesshoumaru apoiou as mãos fechadas nos joelhos e levantou-se, voltando a evidenciar a diferença de altura entre os dois. – O que pensa em fazer agora?

— Eu? -- Rin apontou o polegar para si mesma, deixando que um riso de sarcasmo saísse do fundo da garganta. – Eu pretendo seguir a minha vida, e esquecer o que aconteceu aqui. – Ela repetiu as palavras dele, fazendo com que a irritação cegasse a visão de Sesshoumaru por um instante.

— Você vai ter a criança? -- Ele aumentou a voz em um tom, interrompendo-a.

— Isso não é da sua conta. – Ela apontou o dedo indicador para ele, dando as costas.

— Não se comporte feito uma menina mimada. – Sesshoumaru avançou um longo passo e a virou contra si, voltando a encarar os olhos castanhos. – Eu estou falando sério.

Rin recuou, desvencilhando-se das mãos dele. Os olhos permaneceram fixos nos dele. – Você já me comunicou a sua decisão, o que me desobriga de te comunicar a minha decisão.

— Eu preciso saber. – Ele exigiu, travando os dentes. Os músculos da face se enrijeceram, de forma a marcar as linhas da mandíbula.

Little things that make you smile

— É óbvio que eu vou ter a criança. – Ela vociferou, aproximando-se em um passo largo dele. – E é óbvio que isso não tem mais nada a ver com você, de agora em diante.

— Isso muda tudo. – Sesshoumaru murmurou, talvez mais para si mesmo do que para ela.

— Isso não muda nada. Você e eu somos pessoas completamente diferentes, com valores opostos. O que você valoriza não tem valor algum para mim. – Uma única e fina lágrima teimou em escapar dos olhos dela, e ela rapidamente esfregou o rosto, em um reflexo instintivo de tentar não permitir que ele visse qualquer sinal de fragilidade. – Ainda que você não tivesse escolhido o que escolheu, pra mim está claro que não há nenhuma razão para você continuar aqui.

Dancing barefoot in the dark

— Eu tinha o direito de saber disso antes de tomar uma decisão. – Ele tombou o rosto, sentindo a raiva tomar conta de si. O ressentimento que ela demonstrava indicava que Rin já sabia da gravidez há algum tempo, e tinha tido tempo suficiente para digerir aquela situação – coisa que ele, Sesshoumaru, não teve.

— A sua decisão já está tomada, Sesshoumaru. – Rin o interrompeu, cruzando os braços na altura do peito. – E nada mudaria se você soubesse antes sobre a gravidez. – Ainda que aquela não tivesse sido uma pergunta, ele não tinha uma resposta para ela. Nem mesmo na sinceridade dos próprios pensamentos Sesshoumaru sabia se aquela notícia o teria feito mudar de ideia, embora saber que Rin esperava um filho dele tivesse bagunçado a ordem que ele estabeleceu a muito custo na própria mente.

If only I had strength to change your mind…

— Tudo que eu construí está a 2 mil quilômetros daqui. Eu não tenho nada nesse lugar. -- Ele estreitou os olhos dourados, tentando sufocar o lado que implorava para que ele ao menos reconsiderasse e pensasse por mais uma noite, ao invés de adotar o plano original e tomar o próximo voo para Chicago.

Oh, for what you need you will not seek

— Já eu tenho tudo aqui. Meu pai, minha família, meus amigos. E isso é tudo que preciso. – Os dedos finos enumeraram cada uma daquelas coisas para ele. Amigos, pensou Sesshoumaru. Era óbvio que Rin falava também daquele homem que foi criado junto com ela, e que obviamente tinha sentimentos de longa data por Rin. – Você tem seu emprego, seu dinheiro, sua noiva. Seja feliz com o que escolheu. – Ela deu as costas para ele e levou a mão à maçaneta da porta mosqueteiro, abrindo-a com um puxão.

Sesshoumaru avançou um longo passo, segurando-a pelo antebraço. Virou-a para si, mantendo os rostos perigosamente próximos. – O que você espera de mim, Rin?

Choose your words before you speak

— Eu esperava que você fosse ser capaz de me fazer feliz, mas você não é. – Ela encarou os dedos dele presos à própria pele, abaixo da camiseta branca de algodão que vestia. Levantou os olhos, encontrando os dois sóis dourados olhando fixamente para ela. – Sendo assim, é melhor você seguir o seu caminho, e eu o meu.

Can't you see that all you've got is time?

Sesshoumaru afrouxou os dedos do braço dela, sentindo o coração batendo na base da garganta. Deu um passo para trás, adotando a mesma expressão dura e fria de antes. Rin deu as costas finalmente e bateu a porta com força, fazendo com que toda a estrutura de madeira da varanda balançasse. Com o chacoalhão, o sino de cobre avançou, executando o som que Sesshoumaru evitou alguns minutos antes. O tinir estridente pareceu despertá-lo e ele deu as costas, caminhando até o carro estacionado na grama. Entrou, mergulhando uma perna de cada vez no espaço entre o banco do motorista. Sesshoumaru olhou para aquela casa pela vez que ele julgou que seria a última, e partiu.

Woah, now... save yourself

— Mamãe? - Melissa chamou, aumentando o tom de voz. Rin mergulhou o pé no freio da caminhonete, parando poucos centímetros antes de um cruzamento, onde passava um pequeno caminhão. O corpo dela e de Lissy avançaram com o movimento da freada, mas foram contidos pelo cinto de segurança. O coração acelerado e o zunido do som da buzina do caminhão atordoavam Rin, que deixou o carro morrer.

Oh, won't you save yourself?

— Está tudo bem? -- Rin perguntou, olhando para o banco de trás para se certificar que a filha não tinha se machucado. A menina apenas acenou, com os olhos cor de mel completamente arregalados.

Oh darling, save yourself for someone else

Rin respirou fundo, tentando fazer com que a adrenalina que corria pelo corpo se acalmasse. Ligou o carro outra vez, colocando as duas mãos trêmulas sobre o volante. Dirigiu devagar pelos dois quarteirões que restavam até a casa de fachada branca. Ela desceu, abrindo a porta para que Lissy também saísse. A menina parecia ainda assustada pelo episódio, e buscou rapidamente a mão de Rin, mesmo que o caminho até dentro de casa fosse de apenas alguns passos.

Entraram pela casa, e Rin logo subiu para colocar Melissa para dormir. Ela ficou por um tempo sentada à beira da cama da menina, esperando que Lissy caísse no sono – o que não demorou muito a acontecer, depois que a adrenalina abaixou.

Don't give in to that feeling

Já Rin não conseguia aliviar a sensação de choque percorrendo o próprio corpo. Levantou-se e apagou a luz, deixando aceso apenas um pequeno abajur de luz azul clara, no canto do quarto. Deixou a porta meio-aberta e seguiu até o próprio quarto. Despiu-se, sentindo os músculos enrijecidos das costas e do pescoço arderem. Caminhou até a banheira e ligou a torneira, esperando que a água quente enchesse a peça de cerâmica.

Don't give in darkness and faith

Olhou-se no espelho de chão, posicionado no canto do banheiro, encarando a própria silhueta. Flashes de si mesma, seis anos mais nova e com uma barriga saltada, vieram à mente e ela cambaleou, sentando-se na borda da banheira. Levou a mão esquerda aos olhos, entregando-se finalmente ao doloroso e profundo choro.

You should be safe, yeah, with someone else

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Sesshoumaru encarava a tela do celular, que marcava 4 minutos para 11 horas da noite. Abriu o aplicativo de mensagens e digitou, rapidamente: ‘me atenda, por favor’. Fechou a tela em um deslizar do dedo e abriu o menu de ligações, discando o número de Rin. Assim como nas últimas vezes, o som ritmado da ligação em chamada preencheu os ouvidos de Sesshoumaru, até que o anúncio da caixa postal soasse. Ele desligou, segurando o aparelho entre os dedos. Apoiou o metal frio do iPhone contra o queixo, sentindo a aflição no peito crescer.

Não tinha conseguido falar com Rin desde o meio da tarde, e os horários do aplicativo de mensagem indicavam que ela não havia conferido o celular desde então. A preocupação só crescia a cada minuto, embora seu lado racional estivesse tentando argumentar que ele já teria sabido se algo grave tivesse acontecido. Mas não era possível ter paz, ainda mais sabendo que Rin já não vinha se sentindo bem.

Deixou de lado um contrato que estava revisando, apagou a luz do abajur de mesa, tomou o celular, a carteira e as chaves do carro nas mãos e saiu como um relâmpago do quarto de hotel. Dirigiu até a casa de Rin, encontrando a caminhonete vermelha estacionada sobre a grama, o que indicava que ela estava em casa. Ele estacionou na calçada, logo atrás da caminhonete, e encarou a fachada da casa, percebendo que havia alguma luz acesa no quarto de Rin, embora fosse uma luminosidade distante e parcialmente escondida pela cortina. Se ela estava em casa e acordada, então por que não o atendia?

Tell your secrets to the night

Parou frente à porta e bateu suavemente três vezes, esperando alguma resposta. O mais completo silêncio, quebrado apenas pelo som dos grilos do jardim, foi a resposta. Sesshoumaru tentou mais duas vezes, antes de cair na tentação de girar a maçaneta, percebendo que a porta estava aberta – por sorte. Sentia-se estranho em entrar na casa de Rin daquela forma, apesar de tudo que aconteceu, mas sua preocupação falou mais alto. Ele fechou a porta suavemente e entrou pela sala, envolta na completa penumbra. Olhou em volta, percebendo que o andar de baixo estava completamente vazio.

You do yours and I do mine

Subiu, então, as escadas, parando primeiro no quarto de Lissy. Olhou pela porta entreaberta, encontrando a menina dormindo tranquilamente, abraçada ao seu fiel urso. Fechou a porta com cuidado para que não fizesse barulho e seguiu, então, pelo corredor até o fim, encontrando a porta do quarto de Rin também entreaberta. Bateu contra a madeira com a articulação central do dedo indicador e médio, esperando alguma resposta antes de entrar. De novo, nada. O coração dele começava a ficar mais aflito, temendo que Rin pudesse ter se sentido mal. Entrou pelo quarto e encontrou um rastro de roupas pelo chão, que seguiam até o banheiro. Caminhou até o cômodo – o único que estava iluminado – e encontrou Rin imersa em uma água translúcida, tão translúcida quanto as lágrimas que antes preenchiam os olhos castanhos, que estavam fechados.

So we won't have to keep them all inside

— Rin? -- Ele chamou quase em um sussurro.

O corpo dela saltou, provando que ela não dormia, como ele imaginou. Ela levou uma mão ao peito, provando que também não tinha percebido que ele entrara ali.

Oh, for one so pure can't be sold

— Você está bem? -- Ele aproximou-se da banheira para avaliá-la melhor. A vermelhidão do rosto provava que ela havia chorado, e bastante.

— Estou. – Ela ajeitou a postura na banheira e esfregou os pulsos contra os olhos, tentando esconder as lágrimas. – O que faz aqui?

— Desculpe por entrar dessa forma. – Ele apoiou-se contra a pia, examinando o rosto dela minuciosamente. – Tentei te ligar muitas vezes, e fiquei preocupado.

Ela fechou os olhos e levou uma das mãos à testa, como se lembrasse de algo. – Acho que deixei o celular na fazenda. Nem sequer percebi, desculpe.

Don't let your feelings take control

Sesshoumaru continuou a observá-la, e Rin sabia muito bem o que ele estava fazendo. Os olhos dourados tentavam decifrar o motivo das aflições que ela claramente demonstrava, embora Rin tivesse certeza que nem sequer passava pela cabeça dele o motivo daquele sofrimento. Ele tirou o casaco preto, revelando uma camisa cinza-claro por baixo. Desabotoou cada um dos botões e puxou o tecido. Em seguida, despiu-se de todas as peças de baixo, sob o olhar atento de Rin, e seguiu até a banheira. Ela moveu-se para a borda, recolhendo as pernas junto ao próprio tórax. Sesshoumaru colocou uma perna de cada vez na água quente e mergulhou o corpo na água, olhando-a fixamente. Girou as pernas de lugar e apoiou-se na mesma borda em que as costas de Rin estavam apoiadas, ficando lado a lado com ela. Os ombros se tocavam gentilmente, parte embaixo e parte por fora da água, e ela conseguia sentir como a pele dele era quente, apesar do frio que fazia lá fora.

— O que aconteceu? -- Perguntou, em um murmúrio.

Hold on to the one thing he's begging for

— Nada. – Ela negou com a cabeça, fixando os olhos no ralo da banheira, posicionado no extremo oposto dos dois.

— Você contou sobre Kohako para Sango? -- Ele insistiu. Sabia que havia algum motivo para aquela aflição dela, e não apenas o mal estar dos últimos dias.

— Não, Lissy estava por perto. – Aquela era uma meia-verdade, e logo ficou evidente para Sesshoumaru que alguma coisa não estava certa.

— O que aconteceu, Rin? -- Ele repetiu a pergunta, puxando suavemente o queixo dela para que os olhares se encontrassem. – Você não está se sentindo bem?

— Está tudo bem. – Ela mexeu o queixo, desvencilhando-se do toque gentil dele. Voltou a encarar o fundo da banheira, sem conseguir encarar aquela imensidão dourada.

Sesshoumaru se mexeu, fazendo com que a água criasse pequenas ondas na banheira. Ele posicionou-se frente a ela, apoiando o peitoral contra os joelhos retraídos de Rin. Estava em silêncio, mas ainda olhando-a fixamente.

— Eu só estou cansada. Bastante cansada. – Ela fechou os olhos, mordendo o lábio inferior. Sabia que estava indo terrivelmente mal na tarefa de omitir os seus pensamentos recentes, mas esperava que Sesshoumaru fosse desistir.

— Fale comigo, Rin. – A voz gentil pediu, e os olhos dela não evitaram o contato com os dele. Ela respirou fundo, sentindo a cabeça girar outra vez.

Ele esperava que ela dissesse algo, mas Rin não fazia a menor ideia do que dizer. Ficaram em silêncio por um longo período, apenas olhando-se. O eco do som da respiração ofegante dela era o único som que preenchia o banheiro.

Save yourself...

Sesshoumaru supôs que aquela chateação poderia ser em razão, ainda, da reação de Melissa à notícia de mais cedo, mas se esse fosse o caso, Rin teria dito logo de cara. Havia algo acontecendo, e não saber o que era aborrecia Sesshoumaru, ainda que ele estivesse aprendendo que nem tudo estaria sob seu controle daqui pra frente -- principalmente quando o assunto era Rin.

Ela levantou-se, deixando que a água escorresse pelo corpo. Pegou a toalha, pendurada na parede ao lado da banheira, e enrolou-se, deixando-o para trás. Sesshoumaru ficou por mais alguns instantes submerso, mas logo levantou-se, pegando a toalha bege dobrada na bancada ao lado da banheira. Enrolou o tecido felpudo na cintura e foi em direção ao quarto, encontrando Rin deitada na cama, com as mãos unidas abaixo do rosto e os joelhos dobrados. O corpo de lado estava de costas para ele.

Oh, won't you save yourself?

— Podemos conversar amanhã? -- Ela murmurou, puxando o tecido da toalha para que ele ficasse envolto de forma firme no corpo.

— Você espera que eu dê as costas e volte para o hotel? -- Ele estreitou os olhos, segurando o nó da toalha bege na lateral do quadril, próximo à curva do músculo definido do fim da barriga. A voz suave e fria era um alerta de que a situação o estava incomodando.

— Eu só preciso de um tempo pra organizar as coisas na minha cabeça. – Rin esfregou os olhos, virando-se de costas para a cama.

— O que está acontecendo, Rin? -- Sesshoumaru abriu os braços, na altura do quadril. – Você está reconsiderando algo entre nós?

So, go on and save yourself for someone else

— Claro que não. – Ela balançou a cabeça negativamente.

— Então o que é? Você sabe que pode contar comigo, não importa o que seja. – Ele aproximou-se dela e se sentou na beira da cama, parecendo ceder. Sabia que as coisas estavam bastante atribuladas, mas aquele comportamento de Rin era diferente. Ela estava insegura, retraída, distante. Não era um comportamento raivoso ou puramente aflito, como ele já havia visto antes.

Rin sentou-se na cama, segurando a toalha na altura do meio dos seios. Tentava formular algo na garganta, mas as palavras faltavam. Não sabia exatamente como começar, principalmente porque antes que sua mente fosse capaz de formular qualquer coisa, as memórias de seis anos voltavam, rasgando seu peito no meio. Ela engoliu seco, sentindo os olhos ficando rasos de lágrimas.

— Sango acha que... – A voz rouca falhou, e ela precisou limpar a garganta antes de continuar. – É possível que... – Ela respirou fundo, aumentando a aflição no peito de Sesshoumaru. – Eu acho que estou grávida.

Woah, are you gonna break?

As emoções desapareceram do rosto dele por um instante, e Rin sentiu um choque ao ver a cena se repetindo, como tanto temia. Ela abraçou os joelhos junto ao peito e entregou-se ao choro, sentindo que a frustração e ressentimento estavam sendo finalmente fluindo no seu coração.

O coração de Sesshoumaru parou por um instante, e ele teve a impressão de que o tempo também havia parado. As mesmas memórias de seis anos atrás também invadiram a mente dele, e vieram como um soco no estômago. Conseguia lembrar perfeitamente do choque ao saber que Rin estava grávida de Melissa. Aquele sentimento indesejável inverteu toda a lógica perfeitamente construída por Sesshoumaru durante dias – a lógica que o levou de volta para Nova York.

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À época, a reação fria de Rin o desarmou de qualquer argumento racional, principalmente diante da surpresa. Sesshoumaru chegou ao ponto de perguntar para ela o que ele deveria fazer. Sabia que a culpa de ter partido era exclusivamente dele, mas se ela tivesse pedido que ele ficasse, era possível que ele tivesse cedido – mesmo sendo aquele velho Sesshoumaru, que ainda acreditava haver felicidade em uma vida vazia. Mas o que aconteceu depois foi a rejeição e o pedido dela para que ele seguisse o próprio caminho. A verdade era que a reação de Rin pisoteou o orgulho de Sesshoumaru. Ele precisava admitir que aquele sentimento de desprezo, que remetia às memórias ruins da própria infância, despertou a mágoa em seu peito, e o incentivou a entrar naquele carro e pegar o voo que já estava programado.

Yeah, are you gonna break?

Ele inclinou-se na cama e a abraçou com força, separando os joelhos que antes estavam unidos frente ao peito. Puxou-a para o próprio colo e eliminou qualquer distância física entre os dois corpos, mergulhando a outra mão entre os cabelos úmidos da nuca dela. Sentiu os ombros de Rin balançando no mesmo ritmo do choro contínuo que havia tomado conta dela.

A reação dela de hoje era muito diferente daquela de seis anos atrás. Havia muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, era verdade, mas Rin parecia muito mais assustada. Era como se as situações estivessem invertidas: como se ela fosse, agora, a garota de 23 anos que estava grávida de um rapaz que estava de partida para Nova York, e não a mulher de 29 anos que aceitou o pedido de casamento dele na noite anterior. Por que, então, ela estava reagindo daquela forma? Era medo de ficar só?

— Eu estou aqui. – Ele murmurou, encostando o queixo na pele do ombro dela. – Vai ficar tudo bem.

Rin apertou os braços em volta do tórax dele, escalando os dedos pelos ombros largos de Sesshoumaru. Depois do medo do completo desconhecido – já que não fazia ideia de como ele reagiria – veio um alívio temporário. Ele estava dizendo exatamente o que ela quis ouvir seis anos atrás: que ficaria ali, que não a deixaria só. Apesar de sentir-se aliviada por perceber, mais uma vez, que Sesshoumaru havia mudado, o mal estar não havia passado. E se ela estivesse mesmo grávida?

Melissa mal havia descoberto que os pais estavam juntos; como ela reagiria à notícia de um bebê? E como ficaria o trabalho de Rin na fazenda? E o novo trabalho de Sesshoumaru no escritório? Ela agora não tinha mais ao pai para ajudá-la. E Sango provavelmente ficaria dedicada aos cuidados com Kohako. Como ela passaria por tudo aquilo de novo? Só de pensar em todo sofrimento, o bolo na garganta de Rin se expandiu, fazendo com que ela sentisse falta de ar. E se ela não quisesse estar grávida?

— Vai ficar tudo bem, Rin. – Sesshoumaru repetiu.

— Não. – Ela o afastou, recuando para a cabeceira da cama. – E se eu não quiser... – Ela respirou fundo com dificuldade, tentando recuperar a voz. – Eu não quero passar por tudo de novo. Eu não vou. – Rin determinou, deixando-o surpreso.

Are you gonna break?