“Devo dizer que a senhora é muito corajosa por caminhar nas ruas de Londres nesse esse horário”. Eles estavam se aproximando do centro, onde Booth já podia avistar seu cocheiro ”A maioria das mulheres não ousa sair sozinha em plena luz do dia”.

“Eu posso cuidar de mim mesma” ela assegurou, apertando o casaco dele contra seu corpo. Estava bastante frio e Temperance não sabia como ele ainda não havia congelado. Muito gentil da parte dele, pensou.

Seeley riu, e a guiou pelo caminho.

“A dama não me parece os vasos de porcelanas que costumo conhecer”.

“Eu não entendo” ela disse, o encarando confusa. ”Isso é algum tipo de metáfora, porque sinto em lhe dizer que não sou boa com elas.”

“Posso perceber”.

Quando chegaram a sua carruagem, Booth fez sinal para que ela subisse, oferecendo sua mão, mas teve seu pedido negado.

“Você não irá encontrar algum cocheiro confiável há essa hora, senhora” ele disse sério “Pode confiar em mim, á levarei em segurança para seu lar”.

“Como posso saber que não vai me estuprar e me matar?”

O cocheiro olhou para seu chefe, e gargalhou.

“Eu trabalho para a família Booth há anos, senhorita” o senhor tinha um olhar divertido “Posso lhe garantir que encontrou o cavalheiro certo”.

“Se você fizer qualquer movimento, eu chuto seu traseiro”.

...

A viagem transcorria de vagar. As estradas comprometidas pela neve dificultavam a passagem de carruagens e deixavam os animais lentos.

“Eu já escutei sobre seu pai, alguns dizem que é um ótimo advogado.”

Ela concordou.

Explicou onde morava para Harrowd, o cocheiro, assim eles a levariam em segurança.

Ela esperava.

“Ele é, pode apostar” ela respondeu com um olhar distante “Senhor Booth”.

Ele sorriu.

“Não acredito que seja tão velho assim, senhorita. Pode me chamar de Seeley”.

“E você pode continuar a me chamar de senhorita Brennan.”

“Hmmmn, mulher difícil” continuou “Então... O que você faz para viver, senhorita Brennan? Não acredito que seja do tipo que permanece em casa, cuidando dos afazeres domésticos”.

Temperance o encarou. Ele era curioso, sempre fazendo perguntas. E muito bonito, era obrigada a admitir. Possuía uma estrutura máscula, e belos olhos e cabelos castanhos.

Ela gostava dele, só não queria admitir tão cedo.

“Sou uma enfermeira” respondeu, alisando as mãos uma na outra em busca de se aquecer “Se os homens não fossem tão idiotas, seria a melhor médica que conheceria”.

“Concordo com você, senhorita” ele observou o movimento frenético dela em busca de calor “Homens são idiotas, por isso prefiro as mulheres”.

Ela sorriu.

Um sorriso simples e genuíno. Seus olhos azuis brilhavam contrastando com os lábios levemente avermelhados do frio.

Ela era linda, ele pensou.

Linda e perspicaz.

Em um movimento ágil, Booth embalou as mãos dela entre as suas, transmitindo o calor de seu corpo.

“Não vai chutar meu traseiro, Senhorita Brennan?”

Ele era quente, sempre fora. Independente do frio absurdo.

“Você pode me chamar de Temperance, Seeley” ela disse baixinho.

“Certo, Temperance. Quantos anos você tem?”

“Vinte e dois e você?”

“Vinte e nove” respondeu “Você não é um pouco nova para ser enfermeira? Pensava que a maioria terminava o curso com mais de vinte e cinco”.

“Eu sou inteligente. Acima da média, e por isso comecei mais cedo”.

Ela estava mais confortável agora, Booth podia afirmar. Respondia suas perguntas sem evitar, e ele estava encantado.

Ele apenas a conhecia há poucas horas e ela fora uma das poucas mulheres que realmente atrairá sua atenção. Não somente pela beleza – a mais pura e desejável de todas – mas também por sua inteligência.

Temperance Brennan não era apenas mais um rostinho bonito, ela era mais.

...

Algumas horas depois, ela cochilava com o rosto na janela – as mãos ainda entrelaçadas – quando a carruagem parou em frente a uma residência.

Seeley percebeu que era uma casa modesta, localizada em uma vizinhança comum.

Ele a acordou, maravilhado com a beleza dela e a ajudou a descer.

Suas mãos seguraram a cintura fina, queimando onde tocavam, enquanto a colocava no chão.

“Acho que meus pais estão dormindo” ela disse, aproximando-se do local, olhando ao redor “É muito cedo. Você tem horas, Seeley?”.

Ele percebeu que gostava do som de seu nome nos lábios dela.

“Não, mas imagino que seja algo aproximado das seis”.

Algum tempo depois de baterem na porta, uma senhora enrolada em mantas apareceu, muito chocada para dizer algo.

“Apenas avise a mamãe e papai que estou em casa” e completou “E bem”.

Ela retirou o casaco entregando-o a Booth, analisando o estrago em seu vestido.

Seu colo estava um pouco exposto, sabia que não era adequado estar desse jeito na frente de um homem, mas no momento era a ultima coisa que ela se importava.

“idiotas, estragaram meu vestido favorito.” resmungou “Está totalmente destruído”.

“Era um vestido bonito” ele concordou “Porém há coisas mais belas”.

Temperance o observou tentando perceber se isso foi um elogio.

Ela acabara de chama-la de bela?

Seus pensamentos foram interrompidos pela entrada apressada de seus pais na sala.

“Oh, meu Deus, minha filha. O que houve?” ela observou a roupa da filha “E o que você esta fazendo aqui há essa hora? Pensei que só voltaria amanhã da casa da senhorita Montenegro”.

“Eu, hmmn” ela gaguejou, sem saber explicar.

“Senhorita Brennan estava em apuros nas ruas perigosas de Londres, e felizmente eu estava caminhando pelas redondezas e pude ajudá-la” Booth interrompeu “Nada chegou a acontecer, graças ao bom Deus”.

A mulher de intensos olhos azuis – provavelmente mãe de Temperance – começou a murmurar perguntas para filha, enquanto um homem de cabelos grisalhos se aproximava.

“Eu queria agradecer pelo o que fez para a minha filha, senhor...”.

“Booth” completou rápido.

“Certo, senhor Booth” ele repetiu o nome “Não tenho palavras para agradecer seu gesto de compaixão para com a minha filha e sua honra”.

“Apenas fiz o que qualquer cavalheiro faria senhor Brennan” observou a moça, com olhar cansado “Fico feliz que ela agora esteja em segurança”.

“Nós não temos muito para retribuí-lo, mas...” ele apontou para garrafa de Whiskey “servido?”.

Ele negou.

“Não preciso de nada, senhor. Só estou feliz por ter ajudado”.

O velho homem sorriu, batendo no braço dele em resposta.

A próxima coisa que ele percebeu foram dois braços pequenos, ao redor de seu corpo.

“Senhor Booth, Deus lhe pague pela sua bondade” dizia a mulher, emocionada.

Ele acenou.

“Vou me retirar, se as damas e o senhor me permitem” curvou-se rapidamente “Espero que fique bem Temperance”.

Ela queria abraça-lo e agradecer por salvar sua vida e evitar a desgraça sobre sua família, elogiar sua braveza... Mas pensou que ele talvez já estivesse cheio de tanto ouvir as mesmas palavras, então somente sorriu, um longo e belo sorriso, antes de se retirar.