“Eu vou lhe matar, seu desgraçado”.

Seeley praticamente pulou em cima do irmão, seus punhos encontrando a face dele sem compaixão.

Estava descontrolado, possuído por pura raiva, e acima de tudo... Assustado.

“O. Que. Você. Disse. Pra. Ela?” ele perguntou arisco, pontuando as palavras.

O irmão apenas riu, aproveitando o deslize e desferindo um soco contra a face de Seeley que rolou para o lado, segurando o queixo.

“Você realmente me machucou, irmãozinho” ele sorriu malicioso “Acho que vou chamar aquela enfermeira, qual o nome dela? Ahhh, Temperance, essa mesmo, quem sabe ela não me ajuda a cuidar dos meus ferimentos?”.

Booth caminhou na direção dele, jogando-o contra parede atingindo seu estomago com seu punho. Jared emitiu um grunhido de dor, mas logo pareceu recuperar-se e atingiu novamente o rosto do irmão mais velho, dessa vez no canto esquerdo do lábio que agora sangrava.

“Eu acho que preciso de cuidados especiais, concorda irmãozinho?” ele gargalhou “Se aquela enfermeira ficar uma hora comig-”.

“Cale essa sua boca imunda” Seeley vociferou, pegando pelo colarinho “O que você disse pra ela?”.

“Peça pra sua amiguinha vir calar com aqueles lábios dela”.

“Se não fosse por nossa mãe, você seria um homem morto, Jared” ele cuspiu as palavras “Eu vou perguntar pela ultima vez e se não me responder, eu vou quebrar seus ossos!”.

“Ok, ok caminha ai. Eu apenas disse a verdade mais pura de todas” ele respondeu “Você até pode tentar esquecer seu passado, mas eu me lembro e talvez...”

“O que?”

“... Tenha acrescentado umas coisinhas” gargalhou “Pobre moça, a decepção nos olhos dela realmente poderia partir meu coração se eu não estivesse me divertindo tanto”.

“Jared? Eu já disse que n-”.

“Talvez tenha me animado um pouco sobre suas aventuras fictícias com as senhoras”

Aquilo foi o estopim.

Seeley segurou firmemente o braço esquerdo do irmão – se é que o poderia chamar assim depois dos acontecimentos – e torceu para trás com toda sua força até escutar os gritos aflitos do homem em seus braços.

“Você disse que não iria quebrar nada se eu lhe respondesse, idiota!” vociferou “Quebrou meu braço, estúpido alcoólatra libertino”.

Marianne entrou na cozinha ouvindo os gritos do filho mais novo, encontrando-o caído ao chão segurando o braço.

“Querido, o que aconteceu?” perguntou desesperada.

“O orgulho da família acabou de quebrar meu braço”.

“Se você foi homem pra fazer o que fez, seja homem e pare de chorar que nem uma mocinha” Booth grunhiu, massageando o queixo “E não quebrei seu braço, apenas torci”.

“Seeley Booth, o que diabos você fez com seu irmão? Esta ficando louco?” e virou-se para sala, gritando “Alguém traga um medico com urgência a essa casa, pelo amor de Deus!”.

Seeley observou a mãe tentar socorrer o irmão, e suspirou.

Estava tão possesso de raiva minutos atrás que não medira as consequências de suas ações, mas agora não havia volta.

Caminhou pela porta traseira da cozinha, deixando a casa.

Precisava de paz, e sabia onde encontra-la.

...

Caminhando pelo centro da cidade, ele pode notar o silêncio que se instalava com a noite. Haviam poucas carruagens nas ruas, e alguns aventureiros – como ele – se aventuravam pelos cantos.

Mais alguns passos e quando percebeu estava a porta da enfermaria. O local estava silencioso, e ele se perguntou se Temperance estava ali.

Provavelmente não, pensou quando não a avistou em nenhum canto. Não deveria fazer escalas noturnas, mas isso não o havia impedido de ter esperanças.

“Posso ajudá-lo senhor?”

Ele tremeu quando escutou o som da voz em suas costas. Virou-se só para se deparar com o olhar surpreso dela.

“Pelos Deuses, Seeley. O que aconteceu com você?”

“E-eu...” suspirou “Preciso conversar com você”.

“Nós não temos n-nada pra... Conversar”.

“Por favor” suplicou “Se depois você quiser que eu desapareça da sua frente, eu o farei... Mas deixe-me ao menos explicar...”.

“Ok, mas você irá me deixar cuidar dessas contusões” e continuou “Atrás do hospital perto das arvores há uma mesa de madeira espere-me lá enquanto pego algumas coisas”.

Ele concordou enquanto saía do local.

Caminhou mais alguns metros até achar lugar que ela lhe disse. Era isolado e ele agradeceu por isso, não precisava de um escândalo justo agora. Tirou seu casaco vendo as manchas na camisa branca.

“Eu trouxe alguns remédios para desinfetarmos seus ferimentos” ela disse se aproximando do local “Sente-se a mesa e assim ficara quase a minha altura”.

Booth obedeceu, enquanto observava ela ficar a sua frente. Suas pernas estavam um pouco afastadas e Brennan resolveu ficar justo entre elas.

“Ouch!” resmungou “Isso arde”.

“Talvez da próxima vez você pense duas vezes antes de entrar em uma briga” ela disse “Vai me contar o que aconteceu?”.

“Jared e eu, hmnn... Nos desentendemos” respondeu “Ouch! Isso doeu”.

Ela sorriu, pressionando o algodão contra o canto dos lábios dele.

“Pare de ser um resmungão” riu e continuou “O que levou vocês a agirem que nem dois cães selvagens?”.

“Hey, assim você me ofende” ele sorriu.

“Pode acreditar que foi intencionalmente”.

Brennan descartou o algodão, analisando os danos. Nada que uma pomada não resolvesse e foi quando percebeu a mancha de sangue logo abaixo do peitoral dele.

“Você está sangrando” ela informou “Pode abrir sua camisa um pouco?”.

Ele começou a desabotoar, arrepiando-se quando sentiu a brisa fria de inverno contra sua pele quente. Quando já estava na metade da peça ela parou suas mãos afastando o tecido do corpo dele.

Temperance reprimiu um gemido.

Ele era lindo, mais do que sua mente fora capaz de imaginar em todos os seus sonhos – Caso você se pergunte caro leitor, sim, ela sonhava com ele frequentemente – o peitoral definido, levemente avermelhado pelo frio.

Não conseguiu conter um suspiro quando seus dedos tocaram a superfície macia.

“Você tem um corte, nada grave, só que precisa de tratamento” disse “Jared tinha algum objeto cortante?”.

“Não lembro” confessou “Foi tudo muito rápido”.

Ela assentiu pegando um frasco da caixinha que trouxera e passou sobre o corte ouvindo um gemido de Booth.

“Sinto muito, mas vai doer um pouco” sussurrou, pressionando contra a carne quente dele.

Algum tempo depois ela finalizou o curativo na ferida, abotoando a camiseta dele.

“Quando eu saí da faculdade eu estava perdido. Descobri que meu pai esta traindo minha mãe e não era nem pela primeira vez e ela ficou arrasada, então eu comecei a viajar pela Europa, bebendo e apostando nossa fortuna na tentativa de que eles me odiassem tanto que me poupariam de voltar para casa e ver o sofrimento dela” Comentou “Eu era um idiota, e posso até ser hoje, mas... Depois da morte do meu pai eu tive que crescer. Era responsável por uma fortuna, negócios e acima de tudo pela minha família, então desde aquele dia eu mudei. Voltei para casa e me tornei o herdeiro que a minha família precisava que eu fosse”.

Ele pegou a mão dela, apertando de leve, enquanto a outra descansava na curva da cintura fina.

“Eu fui um idiota, mimado, e até bêbado Tempe” disse encarando o azul dos olhos dela profundamente “Mas não era um libertino, não mesmo. Se tem algo que eu aprendi vendo o sofrimento da minha mãe é que não quero ver aquela tristeza nunca mais e farei o possível para evitar se estiver ao meu alcance”.

Ela se perdeu no castanho dele, suspirando.

“Eu sei que você não é um libertino” ela sussurrou “Quando seu irmão me disse aquelas coisas eu... Fiquei nervosa, não conseguia pensar direito, mas depois que vim para a enfermaria meus pensamentos começaram a clarear” se aproximou dele, acariciando seu rosto “Eu posso não te conhecer o suficiente como sua família, mas já sei o bastante pra entender que você nunca seria um libertino, ainda mais comigo”.

Ele sorriu diante da resposta dela, surpreso, mas acima de tudo feliz.

“Eu nunca faria algo assim, você é muito importante pra somente uma aventura. Eu gosto de você e acima de tudo a respeito. Quero que saiba disso. Você pode confiar em mim”.

Seeley colocou uma mecha de cabelo dela que insistia em cair sobre o rosto delicado atrás da orelha e percebeu que estavam próximos mais do que seria seguro. Conseguia sentir a respiração quente e uniforme dela contra suas bochechas enquanto suas mãos continuavam juntas.

Aproximou-a mais de si, a mão na cintura prendendo-a contra si, mas quando seus narizes se tocaram, ele suspirou.

Céus!Como a desejava...

E gradativamente seus corpos fecharam a pouca distância e sentiu uma explosão de sensações dentro de si, a mão livre acariciando os cabeços dela, enquanto as de Brennan descansavam em seu rosto.

Então como uma doce surpresa esperada, seus lábios tocaram os dela e ele grunhiu diante da sensação.

Por tudo que era sagrado naquele mundo, ele iria beijar Temperance Brennan.