Pov’s Ally
Senti meu coração parar na garganta quando Austin falou sobre estarmos sendo observados e o fato de estarmos no meio da madrugada com um homem morto perto de nós não ajudou em nada para acalmar a minha mente.
—O que vamos fazer?-Sussurrei com a respiração descontrolada e entrecortada.
Com meu peito subindo e descendo de forma feroz pude sentir minhas costas se chocarem no peito do Austin a cada vez que eu respirava.
—Tentar sair daqui da forma mais discreta possível.
Virei o rosto e por meio da lua pude ver seus olhos moverem-se com cautela por todos os coqueiros ao nosso redor.
—A cabana é por ali. -Apontei com a cabeça para a direção a leste de onde estávamos.
—Esta louca?Não podemos ir pra lá agora. Não é seguro. -Falou nervoso.
—E pra onde pretende ir?-Revirei os olhos.
Ele deu mais uma rápida olhada por todo o lugar ao nosso redor e por fim parou seus olhos em mim.
Parecia estar tendo uma conversa mental consigo mesmo e ainda um pouco apreensivo balançou a cabeça freneticamente.
—Apenas pise onde eu pisar, tudo bem?-Perguntou soltando seu corpo do meu.
Isso fez meu corpo esfriar por breves segundos, mas com toda a adrenalina a nossa volta eu não tinha tempo para sentir frio.
—Certo. -Comecei a caminhar logo atrás dele. Demorei minutos para perceber que isso ajudaria caso alguém encontrasse as pegadas. Pensaria que haveria apenas uma pessoa ali o que facilitaria muito para nós dois.
Enfiamos-nos em meio aos coqueiros, desviando de galhos e pequenas rochas. Eu estava indo bem até ver um pequeno lago no meio do caminho. Seu tamanho parecia dizer pouco sobre ele. A única forma de passar por ele era ou mergulhar e nadar até o outro lado ou caminhar sobre as rochas escorregadias em sua superfície. Em um posso me afogar e no outro cair de cabeça e quebrar o pescoço.
Austin estava prestes a mergulhar quando segurei em seu braço.
—Não sabemos o quão profundo esse lago é. -Engoli em seco ainda analisando o lago a minha frente.
Ele é pequeno, no entanto pode ser tão traiçoeiro quanto às ondas do mar que nos trouxe até aqui.
—Não deve ter mais do que um metro de profundidade Ally. -Fez pouco caso.
—É verdade, com tudo o que acabou de acontecer eu tinha me esquecido de que você precisa ver para acreditar em mim, não é mesmo?-Tirei minha mão do seu braço.
—Bom eu não irei mergulhar ai para provar nada. Morra sozinho. -Parei.
—Os lagos dessa ilha são rasos Ally. Você mesma já tomou banho em diversos deles ao longo da semana. -Se aproximou de mim, tentando me convencer.
Apenas continuei piscando meus olhos de forma lenta e tediosa. Não adianta discutir com esse imbecil, percebi isso meia hora atrás.
Ele vendo que não iria obter respostas, bufou com raiva e pegou uma pedrinha em meio a areia e a jogou no lago. Passaram-se longos segundos até ele se voltar para mim novamente.
—Teremos que ir pelas rochas. –Disse a contragosto.
—E morrer do mesmo jeito?Porque não simplificou as coisas me deixando morrer quando cai do navio?-Me levantei vitoriosa.
Eu devia simplesmente ter deixá-lo mergulhar no lago. Seria uma preocupação a menos.
—Estou começando a me arrepender. -Falou baixinho enquanto se equilibrava na primeira rocha.
Não posso negar que uma parte de mim desejava que ele caísse, porém a outra parte ainda o quer vivo para poder nos tirar dessa situação.
—Estou logo atrás de você. Uma palavra errada e te jogo daqui. -Subi com cuidado na primeira rocha. Ela era escorregadia por conta da água e pouco maior que o meu pé. Uma armadilha fatal.
Ele revirou os olhos e pulou para a terceira pedra.
—Tome cuidado, elas ficam cada vez mais escorregadias. -Voltou a pular.
Eu ainda estava na segunda.
—Jura?-Ironizei pulando para a terceira.
—Acho que preciso cair dela para entender isso. -Pulei para a quarta enquanto ele dava outro pulo adiante.
—Estou falando sério. Procure ir o mais devagar possível. -Me alertou e eu nem lhe deu atenção.
—Pule para a rocha que estou, é mais seguro se você for à frente. -Foi um pouco para o lado para dar espaço para que eu pulasse para sua rocha.
—O que me garante que você não vai me jogar daí?-Sorri.
—Não posso garantir nada. -Devolveu o sorriso e estendeu a mão.
—Acho que você já esta... -Pulei para a quinta e penúltima rocha. Percebi que havia sido um erro assim que pisei em falso.
A mão de Austin segurou a minha e me ajudou a ficar em pé na rocha.
—Segunda vez em uma noite morena. Cuidado onde pisa. -Sorriu de forma debochada para mim.
—Na verdade eu tenho mesmo é que ter cuidado com quem fico presa em ilhas. -Soltei minha mão da sua e pulei para a ultima rocha. Austin veio logo atrás e assim voltamos a caminhar. Agora um pouco mais relaxados.
—É melhor corrermos se quisermos chegar à praia ainda de madrugada. Não sabemos como as coisas irão se sair pela manhã. -Falou olhando para o céu. O azul já estava se tornando claro.
—Estou cansada e com um corte feio em minha coxa Austin. Não sei se consigo fazer algo além de caminhar. -Fui sincera.
—Vai ter que conseguir. -Pegou em minha mão o que me surpreendeu um pouco e começou a correr e tive que fazer o mesmo.
—Já vou logo avisando que você irá fazer o curativo da minha perna. -Falei apertando sua mão ainda com mais força.
—Fechado. -Disse acelerando ainda mais os passos.
E assim continuamos por longos minutos, talvez até uma hora e enfim chegamos à praia quando o sol já se dispunha a nascer.
Continuamos a correr em meio às margens do mar ainda de mãos dadas e corações disparados.
—Tudo bem, já estamos na praia. -Parei violentamente o obrigando a fazer o mesmo.
Meus cabelos se movimentavam com uma força surpreendente devido ao forte vento que os fazia cobrir meus olhos.
—Agora o que pretende fazer aqui?-Perguntei fazendo uma careta ao sentir o ardor na minha coxa direita.
Ele sorriu ainda com a respiração pesada e sorriu para o horizonte. Apontou com o queixo para a direção sobre os meus ombros e virei o rosto na hora.
—O avião caído. -Meu queixo caiu.
O pássaro de metal estava a uns dez metros de distância da gente. Uma de suas asas estava soterrada na areia. Parecia amassada, mas fora isso o avião estava aparentemente intacto.
—Podem ainda estar lá Austin. -Hesitei.
—Confie em mim, não estão. Qual a primeira coisa que você faria se seu avião caísse?-Arqueou a sobrancelha para mim.
Seus cabelos loiros cobriam parte dos seus olhos também e isso o deixava com uma aparência ainda mais leve.
—Sair dele o mais rápido possível. -Falei a contragosto.
—E por isso estamos indo lá. -Sorriu satisfeito e por ainda estarmos de mãos dadas ele me fez correr até o avião.
De perto podíamos ver as janelas quebradas e a porta um pouco amassada.
—Fique perto de mim. -Sussurrou subindo as escadas tortas do avião.
Ele bateu na porta duas vezes e eu apenas revirei os olhos. Como de esperado ninguém respondeu e ele apenas a arrombou com um chute.
O ato me surpreendeu de inicio, fazendo com que eu arregalasse os olhos. Ele me guiou para dentro do avião e realmente não havia ninguém ali.
Os assentos estavam intactos, algumas bagagens jogadas de qualquer jeito e a porta do banheiro econômico não estava mais em seu lugar de origem. Dei as costas a tudo aquilo e fui até a cabine do piloto.
Ela não passava de um véu de cacos de vidro. As sinalizações do avião e todos aqueles botões ainda piscavam em ordens e códigos que eu não conseguia entender. O rádio não passava de um chiado ensurdecedor e agonizante.
Vi a réstia de uma caixa embaixo do acento do co piloto e me abaixei para pegá-la. Estava aberta e dentro continha três revólveres e balas em saquinhos lacrados.
Olhei pra aquela caixa tempo o bastante para não ouvir Austin me chamar.
—Ally. -Disse já irritado.
—O que foi?-Com o pé joguei a caixa embaixo do acento e me virei para encará-lo. Ele estava parado em pé ao lado dos assentos da primeira classe do avião.
—Encontrei uma gaze. -Esticou a mão para que eu pudesse ver o pano branco.
Dei um meio sorriso e fui até o assento em que ele estava apoiado. Sentei-me ali e estava prestes a pegar a gaze quando ele recuou rápido.
—Eu disse que iria fazer o curativo em você. -Se ajoelhou a minha frente. Tinha uma pequena caixa de primeiros socorros ao seu lado.
Ele a abriu e de lá tirou uma garrafa que continha soro fisiológico.
—Vai arder. –Derramou o liquido da garrafa na minha perna.
Mordi o lábio para abafar um gemido, apertei os braços do assento e fiz uma careta de dor quando ele voltou a jogar o soro novamente.
Fechei os olhos tentando conter a dor e senti algo ser enfaixado na minha coxa de forma lenta e precisa. Depois de umas cinco voltas abri os olhos e vi que ele havia colocado uma gaze ali.
—Obrigada. -Agradeci me recostando no assento.
—Não precisa agradecer. -Ele se levantou.
Pensei que o clima ficaria estranho depois disso, mas o barulho do rádio não permitia que isso acontecesse.
Austin franziu a testa e parecia ter prestado atenção no som pela primeira vez desde que chegamos.
Seus olhos se arregalaram quando viu o rádio e correu em direção a ele. Tirou os cacos de vidro de cima do aparelho e começou a apertar diversos botões que pra mim pareciam ser aleatórios.
Estranhei, mas deixei de lado. Levantei-me e fui novamente até a cabine do piloto, fechei a porta logo atrás da gente. Abri a caixa novamente e comecei a analisar os revolveres. Porque não os levaram quando saíram do avião?Não faz sentido terem os deixado aqui.
Levantei os olhos para ver Austin e o encontrei diante de todas aquelas luzes. Ele apertava algumas de vez em quando, mas em nenhum momento perdia a concentração.
—O que esta fazendo?-Questionei intrigada.
—Estou tentando encontrar uma freqüência de aviação. -Disse sem me dar muita importância.
—E o que isso quer dizer?-Perguntei ainda confusa.
—Eu acho que consigo rastrear uma freqüência que seja capaz de captar freqüências entre 1118.0 e 136.975 MHz. -Ele nem piscou.
—Tudo bem, mas eu ainda...
—121.5.-Disse para si mesmo.
Austin esta me assustando.
—Austin esta tudo bem?-Perguntei vendo como suas mãos estavam tremendo.
—121.5 É uma freqüência de emergência. -Seus olhos brilharam.
Ele deve estar falando sobre se comunicar com pilotos de outras freqüências. Passei algum tempo apenas assimilando o que isso significava.
—Preciso do número de identificação do avião. -Disse voltando a ficar nervoso.
Ele começou então a procurar em meio a diversos papeis espalhados no painel da cabine. Fui até ele e comecei a procurar também, mesmo nem sabendo o que deveria de fato achar.
—Procure algo que identifique o número presente na cauda. -Disse vendo a confusão estampada em minha face.
Assenti e fiz o que pediu. Eram milhares de documentos do avião, mapas, restrições, tutoriais e muito mais.
Meus olhos já estavam ardendo quando vi ‘’Número presente na cauda da aeronave’’.
—3689. -Falei ainda sem acreditar. Por dentro eu estava animada apenas por ter encontrado o número mesmo sabendo que ainda é inserto que isso chegue a funcionar.
—O que?-Ele disse ofegante.
—3689 é o número. -Balancei a cabeça euforicamente.
Austin se sentou na cadeira do piloto e colocou os fones que estavam jogados no chão. Voltou a apertar diversos botões e controlar os chiados do rádio.
Levaram minutos para que os chiados cessassem.
—Subindo, contra o vento, a favor do vento, base e final. -Quando o rádio emitiu esse som meu queixo caiu.
—Base contra o vento. -Austin disse com a boca próxima do rádio.
Franzi a testa novamente, mas nem me dei ao trabalho de perguntar o que era. Provavelmente deve ser algum tipo de linguagem entre pilotos.
Austin e a voz do outro lado do rádio continuaram por um bom tempo nesse ritmo até que pude ouvir um caco de vidro se estilhaçar atrás de mim.
Meu corpo parou no mesmo instante. Austin esta a minha frente e ainda estamos na cabine. Não foi nenhum de nós.
Sem pensar abri devagar a porta que ligava a cabine do piloto à primeira classe. Mal tive tempo de gritar quando um cara alto e moreno puxou meu braço com força e apertou meu pescoço me sufocando.
Com o barulho Austin imediatamente olhou pra trás. Sem pensar duas vezes se levantou e veio em minha direção.
—Mais um passo e ela morre. -O cara atrás de mim apertou ainda mais meu pescoço. Eu já estava começando a ver pontos pretos ao redor dos meus olhos.
—Não precisa ser assim cara. -Austin disse levantando os braços como forma de rendição.
Apenas seus olhos trabalhavam e pareciam a todo instante caçar algo para usar contra o moreno, mas do contrário seu corpo estava relaxado. Não estava com medo do que poderia lhe acontecer ou pior, do que poderia me acontecer.
—Desligue o rádio. -Falou indo em direção a Austin o que me fez fazer o mesmo.
—Tudo bem, tudo bem. -Austin disse indo em direção a cabine.
Sentou-se na cadeira com a maior paciência do mundo enquanto sangue já começava a subir pela minha garganta.
O loiro parecia estar enrolando e até eu percebia isso.
—Anda logo. -O cara me apertou ainda mais forte.
—Austin. -Tentei falar, mas nada além de gemidos baixos e sangue saiam da minha boca.
—Cala a boca. -Gritou comigo.
Isso foi o necessário para ele perder o foco em Austin e três segundos depois um extintor de incêndio se chocou contra sua cabeça me fazendo cair no chão no mesmo instante com o impacto. Tentei recuperar o fôlego enquanto Austin lutava com o homem que agora tem um enorme buraco na cabeça.
Perto de mim vi os revolveres e quase que como automaticamente peguei um deles e mirei no moreno. Austin estava por cima dele lhe desferindo murros e chutes.
Apertei o gatilho ainda com as mãos tremulas, fechei os olhos e...
—Não. -A voz de Austin ressoou em meus ouvidos.
—Não atire nele. O barulho do disparo pode atrair outras pessoas pra cá. -Ele deu uma gravata no moreno o fazendo vomitar sangue.
—E o que vamos fazer?-Perguntei desesperada.
O loiro olhou para mim um pouco receoso e nervoso. Seus olhos se desligaram dos meus por um instante e ele os deixou admirarem a porta agora amassada da cabine. Parecia estar a quilômetros de distância não só da ilha, mas também do mundo.
O homem aos poucos foi perdendo a cor e seus movimentos de relutância se tornaram mais fracos até que ele parasse de vez de se mexer. Olhei assustada para a cena que se seguia a minha frente e pus a mão na boca. Eu estava assustada não com cara agora morto no avião, mas sim com Austin. Ele o matou com as próprias mãos.
Depois de alguns segundos ainda imóvel Austin finalmente deixou o cadáver do homem escorrer por seu corpo até desabar no chão.Me olhou apavorado e veio em minha direção.
—Você esta bem?-Perguntou segurando os meus ombros.
O empurrei de forma bruta e me afastei aos poucos até bater contra os botões da cabine.
—Quem é você?-Minha voz saiu tremula e ofegante. Meu coração ainda estava muito acelerado por conta do enforcamento.
—Como assim?-Perguntou com a respiração pesada. Sua testa sangrava um pouco e em seu braço havia cacos de vidro.
—Não se faça de desentendido. -Gritei.
—Histórias sobre me contar seu pior segredo, deduzir o fato de ter pessoas nos observando na ilha, saber fazer comunicações com pilotos e matar um homem com tanta frieza desse jeito?-Ri sarcasticamente.
—Acha que eu sou idiota?-Perguntei elevando ainda mais o tom de voz.
Lembranças do dia que nos conhecemos voltavam a minha cabeça como facadas.
Flashback on
Quando dei por mim eu já estava na entrada do salão com todos a minha volta me analisando, algumas mulheres me olhavam com desdém enquanto outros caras pareciam querer me devorar viva. Entre todos aqueles olhares o que mais me chamou a atenção foi o de um loiro que estava vestindo um terno preto, ele é muito bonito, mas deve ser igual aos outros.
—Ally você esta perfeita. – Cassy surgiu do nada me assustando um pouco.
—Você também esta muito bonita. – Falei observando seu vestido azul escuro liso, ele era deslumbrante.
—Vamos beber alguma coisa. – Falou me puxando para uma mesa próxima de nós.
Estávamos conversando banalidades, até que Cassy tocou em um assunto que me deixou intrigada.
—Você já percebeu que aquele cara está te olhando faz 15 minutos? – Cassy questionou apontando discretamente para o loiro que eu me referi mais cedo.
—Sim eu percebi. Ele só deve estar me achando parecida com alguém Cassy, não é nada demais. – Desviei o olhar dos de Cassidy e meus olhos percorreram todo o salão em busca do loiro misterioso e nada, ele sumiu.
Flashback off
—Na minha cabeça você estava apenas me paquerando naquela noite, mas não faria sentido. Se quisesse realmente alguma coisa comigo teria falado na primeira oportunidade possível. -Falei fazendo gestos frenéticos com as mãos.
—Você apenas saiu do salão sem dizer nada. -Falei negando com a cabeça.
Ele estava prestes a dizer algo quando o interrompi.
—Acho bom me explicar tudo isso agora mesmo Austin, porque eu tenho uma arma carregada na minha mão. -Apontei o revolver na direção dele. — E farei o que for preciso pra me manter segura aqui mesmo que isso custe a sua vida.