Long shot

Capítulo 4


Dor de cabeça, a única coisa que eu sentia era dor de cabeça. Já se passava das 11 horas da manhã e a professora de sociologia insistia em falar da taxa de analfabetismo no nosso pais. Eu rabiscava a carteira enquanto ela continuava a falar, sua voz parecia tão distante quanto a chuva fria que caia lá fora, os rabiscos pareciam melhorar a minha dor, pareciam me distrair, mas minha mente vagava e voltava para o mesmo pensamento, os mesmos olhos castanhos.
O Sinal tocou, anunciado a troca de aula, peguei minhas coisas e sai da sala indo em direção ao meu armário.
– Vocês não cansam de se beijar! - agonizei ao ver Eric e Cath em um amasso daqueles na frente do meu armário.
– Não - responderam juntos dando risada.
– Eu desisto de tentar entender química - Bruna dizia colocando os livros no armário - aquela bruxa fica mascando chiclete durante a explicação e eu não entendo nada do que ela fala.
– Eu tenho aula com o senhor gostosão dos olhos claros - me gabei jogando os cabelos para trás.
Meu professor de química era extremamente lindo, mas isso me atrapalhava pois eu prestava atenção demais na sua beleza ao invés de ouvir o que ele falava.
– Temos aula de literatura agora - Eric disse fazendo careta - vamos amor?
– Vamos, tchau meninas, até mais tarde - disse acenando para nós.
Os dois saíram abraçados e eu suspirei ao lembrar dos braços torneados do Tobias ao meu redor.
– Careta, você está suspirando? - Bruna arregalou os olhos fazendo cara de surpresa.
– Cala a boca Bruna.
Eu sorri e nós saímos corredor a dentro com os livros na mão, tínhamos aula de redação, prova, por sinal. Eu sabia que iria me dar bem, a final, escrever é minha especialidade nas horas vagas. A sala pálida demonstrava o nervosismo de cada aluno, os nerds estavam sentados na frente com suas canetas organizadas da menor para a maior, os "normais" estavam concentrados no meio da sala batucando a caneta na mesa ou olhando para o nada perdido em pensamentos. Os da "turma da bagunça" estavam no fundo da sala conversando como se aquilo fosse uma praça de alimentação de um shopping qualquer, não uma sala de aula. Sentei na segunda carteira da ultima fileira, Bruna sentou-se logo atrás de mim.
– Sobre o que será o tema da redação? - Bruna perguntou.
Mas ela não estava realmente interessada, dei de ombros, a Sra. Olsen era a imprevisão em pessoa! O ano passado ela deu como o tema o São Paulo FashionWeek, e é claro que eu não sabia nada sobre o assunto, somente que São Paulo é um dos mais importantes estados do Brasil. Bruna se deu bem, ela tinha ido a esse desfile, me lembro de ter ficado mais de duas horas conversando com ela, e perguntando dos gatinhos brasileiros. Ela é super ligada em moda, pra ela foi facilíssimo escrever sobre esse assunto.
A professora entrou na sala com 25 envelopes na mão, essa era a quantidade de alunos da sala.
– Boa sorte - Bruna sussurrou para mim.

Eu desejei sorte a ela, mas eu sei que ela iria se dar mal, a menos que o assunto fosse moda, porém tenho certeza que não seria.
– Este ano, decidi ser boazinha, fiz mais de 100 provas, uma para cada aluno.
A sala começou a protestar, alguns diziam que isso era um absurdo, outros diziam o contrário, que assim era melhor. Eu não tinha opinião, para mim tanto faz.
– Silêncio por favor – alterou o tom de voz, e continuou a explicação - portanto, cada aluno terá um tema, boa sorte.
Sorte, eu precisarei de sorte. Ela entregava uma folha para cada aluno, alguns faziam cara feia, outros sorriam mostrando confiança. Quando chegou na minha vez de pegar a folha, a professora pegou uma folha no meio sorriu e se distanciou, eu li atentamente as regras básicas da prova, a última dizia qual seria meu tema, em letras em negritos estava escrito "Amor, eu li, reli e reli novamente só para ter certeza. Olhei para a mesa da Sra. Olsen, ela olhava atentamente para mim, sorriu largamente e eu voltei a olhar para folha desacreditando, destampei minha caneta e comecei a pensar como seria o meu texto crônico sobre aquele assunto.

Assim que cheguei em casa vi o bilhete deixado por Deize onde dizia que Megan foi para casa de uma amiguinha e que ela tinha ido ao mercado.
Ótimo, a casa toda só para mim. Subi para o meu quarto, joguei minha mochila em algum lugar e me troquei, colocando apenas uma blusa que mais parecia um vestido, ela era daquelas regatas que apareciam as costelas. Coloquei meu celular no pig, e aumentei o volume quando Ed começou a cantar, a voz dele me acalmava. Ouvi algumas risadas no corredor, achei que estivesse sozinha, abri a porta e dei de cara com três seres risonhos. Tobias olhou para mim e depois para as minhas pernas descobertas, arregalou os olhos e mordeu o lábio inferior. Senti minhas bochechas ruborescerem, Patrick e Logan olhavam assustados para nós dois.
– Achei que estivesse sozinha, você não tinha aula hoje? - Perguntei.
– Achou errado. - Respondeu revirando os olhos.
Ele passou reto, seguido pelos dois rapazes.
– Sua irmã até que é gostosa – ouvir Pratick dizer.
– Gostoso vai ser minha mão quebrando todos os seus dentes, dude! Tobias respondeu - e ela não é minha irmã.
Ciúmes? Não se iluda Beatrice, ele só não quer ver a irmããzinha dele magricela e sem sal ficando com algum amigo dele, só isso. Bufei alto, fechei a porta e aumentei mais opig, aquele não seria um dia fácil.