Eu não sabia se eu e Lucca tínhamos permissão para estar lá.

No entanto, nós dois corremos em direção à biblioteca do Palácio de Asgard. Precisávamos buscar qualquer informação mais precisa sobre Magia das Sombras Asgardiana. Eu não entendi nada do idioma local, e precisei usar minha própria mágica para traduzir os escritos e me localizar.

A biblioteca era um lugar enorme e circular, iluminado por inúmeros candelabros, com a parede completamente tomada por uma única estante dourada em espiral, que ia do chão até o teto. Bom, eu presumi que devia ter um teto, embora eu não enxergasse o final das prateleiras. Eu e Lucca procurávamos por algo, até que eu achei um livro chamado “Magia Ancestral”, cuja capa era de couro preto.

Sentei no chão com o livro apoiado em meus joelhos. Com o auxílio de minha mágica, eu conseguia entender o conteúdo geral das páginas que meus olhos percorriam. Era a história dos vários tipos de magia ao longo dos séculos. Meus olhos captavam as palavras e compreendiam os significados. Lucca continuava a procurar por mais informações. E meus olhos se detiveram nas páginas quando li “Magia Sombria”.

O livro contava que Magia das Sombras era algo raro e temido em Asgard, porque poderia realizar estragos inimagináveis. Esse tipo de mágica já provocara horror nos habitantes, e por isso era, em geral, evitado. Além disso, eu lia que a Magia das Sombras era muito poderosa, quase ao ponto de ser invencível. Porém, como é a Lei da Vida, tudo tem que ter um ponto fraco. Poderes relacionados à Magia Sombria costumam ser instáveis e incontroláveis, trazendo agonia para quem os possui. Legal.

Aos poucos, eu reduzia minha leitura para páginas esporádicas, parando apenas quando havia alguma figura na folha. Dessa forma, revirando as páginas, encontrei uma gravura que mostrava um Asgardiano usando seu poder negro contra uma população, que corria assustada e gritava.

O desenho era um tanto quanto grotesco e me dava arrepios. A expressão das pessoas era horrível, o terror estava estampado em seus rostos, e era quase como se eu pudesse ouvir gritos bem ao meu redor.

Foi quando Lucca me chamou...

– Ah, Stella, você vai querer ver isso. – Ele comentou, receoso. Estava parado perto de uma janela pequena, no extremo oposto de onde eu estava. Tinha largado o livro num canto, e se equilibrava para observar o que acontecia no exterior do Palácio.

– O que houve, Lucca? – Eu perguntei, um pouco irritada pela interrupção. Acho que ler aquelas coisas e ver aquelas figuras sinistras me deixaram um pouco abalada.

Mesmo assim, caminhei até a janela para observar seu exterior ao lado de Lucca. O ar em minha garganta pareceu congelar.

– Acho que temos... Problemas. – Comentou Lucca, com uma mão sob o queixo, cômico e sério simultaneamente.

Minha boca abria, tanto de descrença como de receio. Comentei, aflita:

– É pior. Muito pior.

•••

O Palácio de Asgard estava sendo invadido. Outra vez. Pela janela, eu vi centenas de Gigantes invadirem o Palácio. Gigantes das mais variadas e temidas espécies. Eu não tinha ideia de como eles tinham invadido o lugar. Talvez tivessem usado portais ou outra coisa. Mas eu sentia que era um ataque diferente... Mais massivo e mortal. Eu quase não podia ver o gramado, visto que estava tomado de criaturas.

Novamente, os Gigantes utilizavam um ataque inesperado. Lá fora, eu podia observar os primeiros legionários chegando, mas eles pareciam cansados e claramente em menor número. Desejei, do fundo do meu ser, que eles resistissem até a nossa ajuda chegar.

– Por que não estamos ouvindo? – Perguntei a Lucca, tentando recompor-me. Realmente, nós não conseguíamos ouvir nada. Era como se estivéssemos lacrados numa bolha e fora do mundo real.

– Essa sala é vedada e altamente protegida, por conter elementos históricos. Não podemos ouvir nada que venha de fora. – Explicou Lucca, os dedos procurando alguma arma oculta sob a roupa. – Vamos deter esses monstros. Fury que vá para o inferno. Você vem comigo.

Sorri, anotando mentalmente que devia uma para Lucca. Nós guardamos os livros rapidamente e seguimos para o saguão principal. Durante o caminho, os sons da luta lá fora começaram a ficar mais audíveis, assim como o caos que já se instaurava no próprio interior do Palácio.

Eu tirei minha lança – em menor tamanho – do interior de meu casaco, e estava pronta para fazê-la maximizar. Dada a dimensão do ataque, eu esperava que os Vingadores já estivessem lá fora há muito tempo. Com certeza, diante dessa guerra, eles teriam corrido para fora, deixando o caminho livre para mim.

Desse modo, eu e Lucca atravessamos o saguão em meio a alguns guardas que chegavam, outros que iam, e pessoas que corriam. Estávamos alcançando a porta principal quando me deparei com ninguém menos do que Nick Fury.

– Senhor Alessa, seus companheiros lhe aguardam. – Disse Nick, cuidadosamente ameaçador para Lucca.

Meu irmão cerrou os dentes, pronto para retrucar, mas eu o segurei pelo pulso.

– Não, Lucca. Vai. Eu dou um jeito. Não posso correr o risco de ele te banir da equipe também. – Sussurrei para Lucca, que concordou, meio contrariado.

Desse modo, Lucca sorriu para mim, como quem deseja boa sorte. Em seguida, caminhou a passos lentos e certeiros para fora, esbarrando de propósito em Fury. Obviamente, eu queria participar da batalha. Mas não podia colocar a participação do meu irmão em risco por causa das minhas vontades. A equipe perderia muito se Lucca fosse banido por minha causa. Eu tinha que resolver as coisas do meu jeito.

– Vim para certificar de que vai cumprir sua punição. – Ele comentou.

Eu revirei os olhos, perplexa.

– Vou dizer novamente... Está sendo ridículo, Fury. Esqueça meus erros e me deixe ajudar a equipe.

Fury sorriu discretamente.

– Vou dizer novamente: Eu que mando aqui.

Então, eu fiz provavelmente a coisa mais inútil que poderia ter feito. Tentei ultrapassar Nick e seguir pela porta. Cometi o simples erro de pensar que Fury não estaria planejando nada. Obviamente, ele teria se preparado caso eu tentasse desobedecê-lo.

– Perdão, Stella. Mas regras são regras. – Ele disse, segurando-me pelo braço e aplicando algo que parecia um tranqüilizante numa injeção.

Aos poucos, eu ia apagando, lutando para continuar os meus movimentos. Afinal, a maior invasão de todos os tempos estava acontecendo em Asgard. E eu caía impotente no chão. Mas, mesmo assim, um pensamento não conseguia me deixar... Regras podiam ser regras. Mas uma Alessa de verdade nunca se dava bem com elas.

•••

Minha cabeça doía. Meus pensamentos se alternavam entre histórias de uma Magia Ancestral e cenas da batalha que deveriam estar ocorrendo nos Jardins de Asgard... Os Vingadores precisavam da minha ajuda. Asgard também. Eles deviam estar perdendo... Havia muitos gigantes. Ora, eu só receberia meu dinheiro se toda a invasão fosse contida. Era isso o que Steve me dissera quando me contratara. Então, se eu quisesse algumas notas... Teria de contribuir para tudo voltar ao normal.

No entanto, algo que me dizia, dentro de mim, que não era somente por isso. Afinal, os Vingadores eram meio que... Meus amigos. Ou algo bem próximo disso. De qualquer forma, eu não queria que eles fossem feridos. Eu queria, acima de tudo, estar lá com eles... E com Lucca.

Reunindo tais pensamentos, eu decidi abrir os olhos. Não importava o que fosse acontecer. Eu tinha que dar um jeito de lutar. E eu faria isso. Dessa forma, abri os olhos, percebendo que o efeito do tranqüilizante de Nick devia estar quase no final. E eu estava numa cela, ao que parecia. Devia ser nos porões de Asgard, onde a prisão costumava ser anteriormente, até mudarem o local. A cela parecia simples. Apenas parede de pedra negra e barras de ferro. No entanto, devia estar protegida e camuflada por feitiços antigos, uma vez que eu tentei fugir e não consegui. Novamente eu era enganada pelas aparências. Escapar daqui não seria tão fácil.

Então, de súbito, ouvi passos no corredor. Ótimo. Eu imploraria por ajuda, se necessário.

Os passos foram ficando mais espaçados, como se a pessoa soubesse exatamente aonde queria ir, mas estivesse hesitando.

– Ora, ora... Tão fácil. – Ouvi uma voz. Era ele. Loki. Seu timbre grave ecoava contra as paredes, e eu corri até as barras da cela, tentando fitá-lo.

– Loki? – Chamei, quase beirando ao desespero.

– Você não merece que eu a tire daí. Mas,você sabe... Sou um deus movido por vontades e rebeldia. Vou tirá-la daí porque acho que é que eu devo fazer. – O deus explicou, enquanto recomeçava sua caminhada na minha direção. Ele tinha a expressão enigmática e os olhos verdes eram quase luminosos no escuro do porão.

Ele estendeu seu cetro, dizendo quase debochado:

– Eles estavam atrás de mim... Acho que sabem que eu libertaria você. Mas sou o deus da trapaça... Ledo engano se acham que podem me encontrar.

E então, Loki disparou um ataque contra a cela. Ela fumegou e abriu, de modo que eu pude escapar rapidamente.

Tropecei diante do deus, ao sair apressada da cela.

– Por quê? Por que está fazendo isso? – Perguntei, tentando me levantar. O deus me ajudou, com uma expressão de quem está fazendo algo por obrigação.

– Quer que eu seja gentil ou sincero? – Ele sorriu, travesso. Eu me apoiava em seus braços.

– Sincero. – Comentei, revirando os olhos.

– Fiz isso porque sei que, se fosse o contrário, você me libertaria também. Mesmo sem ter motivos claros para fazer isso. Só acho que... As pessoas dizem coisas ao seu respeito... E você quer provar que estão erradas. Isso também acontece comigo. Então, por que não lhe dar uma chance? – Ele disse, quase filosófico. O sorriso lateral crescia em seus lábios. – Além disso, você tecnicamente me deve um favor.

Eu reprimi uma risada. Havia muitas semelhanças entre mim e Loki. Eu precisava admitir isso, fosse algo bom ou ruim. Fosse cedo ou tarde.

– Eu agradeço, Loki. Mas se quer me ajudar, faça direito. Ainda preciso de um favor seu. – Comentei, uma ideia surgindo em minha mente.

O deus riu em descrença.

– Por que eu ajudaria você?

Eu comecei a caminhar em círculos ao redor do Deus, como se assim pudesse ludibriá-lo com minhas palavras. Usei um tom de voz misterioso e certeiro, olhando para Loki de maneira quase hipnotizante.

– Ora... Se Asgard cair, você também cai. Não terá mais um lugar para reinar. Além disso, não está interessado em informações sobre a energia sombria que estive em contato? – Comentei.

Eu tocara no ponto fraco de Loki: Sua sede inesgotável de poder. Se o que eu queria era convencer Loki a fazer algo, precisava ser dessa maneira. Oferecendo informação sobre poder. Os olhos verdes do deus brilharam em cobiça, desfocando-se.

– Seus sensos argumentativos sempre me impressionam, Stella. Considere-se sortuda por isso. – Ele comentou, fitando-me.

Eu sorri, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas:

– Pois então... Leve-me imediatamente para a prisão de Asgard.