– Então pode me dar licença, Senhor futuro imperador? Eu estou com muito medo, será que posso ir chorar naquele canto? – Falei, fingindo afetação.

Uma fúria mortal cintilou nos olhos de Abarkur, e ele cerrou suas mãos em punhos, pronto para vir na minha direção. Mas nada era em vão. Eu tinha conseguido reunir mais energia e poder. Eu iria lançar meu ataque final. E tudo morreria ali. Sem mais empecilhos na minha vida ou na de Steve Rogers.

Estiquei minhas mãos, sentindo meu poder fluir sobre mim. Eu conjurava o feitiço das chamas. Afinal, nada como combater gelo com puro fogo. Eu semicerrei os olhos vagamente, deixando minha magia tomar conta do meu corpo e da minha mente. Senti meus cabelos voarem, com um leve vento fustigando-os. Uma energia negra, como uma sombra, fluía sobre minhas mãos, movendo-se como névoa.

Observei os quatro Jotuns, agora diante de mim. A pele deles parecia derreter lenta e vagamente. Um sorriso de satisfação surgiu em meus lábios, quando lancei parte da energia em dois deles.

Os Gigantes urravam, e eu podia perceber a fúria gradualmente ser substituída pela dor, em seus olhos negros. Meu feitiço estava funcionando. Eu precisava ser eficiente, já que essa magia me esgotava muito. Eu arfava, tentando manter-me de pé.

Desse modo, eu lançava minha energia sombria na direção deles, como uma névoa negra e quente. Eu não havia destruído nenhum Jotun ainda. Mas eles urravam de dor, sendo lentamente consumidos por aquele fogo negro mágico. Em breve, eles não agüentariam. Estavam muito esgotados. Por mais que eu não os tivesse matado ainda, sabia que em pouco tempo eles não suportariam e morreriam. E tudo estaria resolvido.

Devido ao impacto do meu feitiço, um forte vento tomava conta do local. E o grito dos Jotuns era ensurdecedor. Eu tentava resistir, firme e forte, esperando o máximo que podia.

Contudo, subitamente, algo aconteceu.

Uma espécie de tremor tomou conta das paredes e das celas. As barras de metal tremiam violentamente, tinindo umas contra as outras. Um vento ainda mais intenso tomou conta do local, fazendo com que todas as velas restantes dos candelabros se apagassem, de uma só vez.

– Isso... Isso não pode estar acontecendo! – Abarkur berrou, parecendo louco. – Esses... Esses efeitos... Tem algo a mais por aqui.

Os outros Jotuns tentaram assentir, mas estavam muito fracos. O que parecia resistir melhor era Abarkur. Esse Jotun tentava desesperadamente se mover em direção a alguma saída. Eu não tinha como saber se ele resistiria ou não aos meus ataques. Mas os outros três pareciam realmente em péssima situação.

– O que está acontecendo? – Gritei, inexplicavelmente perturbada por aqueles acontecimentos.

Agora, as portas e janelas batiam furtivamente. Eu ainda lançava meu feitiço. Pensei que tudo estivesse sob controle, e foi quando alguma coisa me empurrou violentamente para trás, fazendo com que meus pés deixassem de tocar o chão.

Eu estava presa contra a parede, a uns dois metros do solo. Como se estivesse planando em pleno ar.

– O que está acontecendo comigo? – Murmurei, sentindo-me fraca.

Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Não havia sentido. Não havia explicação plausível. Mas era como se uma energia estranha e sombria tivesse tomado conta de mim, durante aquele tempo. Eu me senti poderosa. Incrivelmente poderosa. Um poder movido às sombras, fúria, vingança e ódio. Um poder invencível.

Mas a sensação durou apenas alguns segundos. Eu caíra daquela altura, batendo contra o chão. Minha lança estava caída em algum canto que eu não podia enxergar. Eu me sentia fraca. Esgotada. Eu não sabia se era por causa dos meus esforços em realizar feitiços, ou por causa daquela energia que rapidamente tomara conta de mim e se fora. Eu respirava com dificuldade, caída ao chão, encolhida. Minha visão estava ligeiramente turva, e eu enxergava apenas vultos escuros ao meu redor.

Eu não podia ter certeza, mas parecia que dois Jotuns estavam mortos. O outro parecia estar chegando perto. E Abarkur, muito ferido, andava até minha direção. Eu tentei me esquivar, mas o torpor me dominava. O que estava acontecendo comigo?

Eu arquejava. Minha visão tornava a embaçar. Deitada, eu tentava me esquivar da presença do Gigante, cada vez mais próximo de mim.

– Não... – Eu murmurava, entre outros sons ininteligíveis.

– Fique com a lembrança de que todos os Asgardianos perecerão, Vingadora. – Abarkur murmurou, entre uma risada grave.

O Jotun estava ferido, mas detinha plenas condições de sobrevivência. Aquele fato me enfureceu. Eu estava ferida, confusa, esgotada... Incapaz de reagir diante da figura daquele Gigante.

Foi quando Abarkur pegou uma pequena faca, não pude ver de onde. Pensei em como seria completamente estúpido morrer daquela forma. Meu plano fracassara. Minha fragilidade estaria exposta e eu ficaria lembrada como a garota idiota que quisera bancar o fardo da equipe, sozinha.

– Depois de hoje, tua morte não me interessa. As forças ocultas se inclinam diante de você, Dama Sombria. Espero que um dia você faça o mesmo perante mim. – Abarkur proferiu, pegando-me por um braço, levantando-me levemente do chão.

Em seguida, fez um corte no meu braço direito, abaixo do cotovelo. Imediatamente após isso, não senti absolutamente nada. Abarkur caminhava a passos lentos, provavelmente procurando por alguma saída. Dois Jotuns estavam mortos. Outro agonizava em algum canto. E eu estava quase inconsciente, largada ao chão.

Depois, percebi o que acontecera. Um ardor tomara conta de meu braço, espalhando-se pelo corpo todo. Intensas alucinações tomaram conta de mim, e eu acho que aquele tempo imensurável fora drasticamente um dos piores momentos da minha vida.

Abarkur provavelmente devia ter me cortado com uma lâmina envenenada. Eu não sabia se deveria confiar em suas palavras, já que ele dissera não querer me ver morta. Além dos devaneios, eu estava imersa numa completa confusão. Minha mente girava entre os acontecimentos do dia, e aos poucos um resto de consciência se esvaía.

Se eu morresse, gostaria de ter feito uma última coisa diferente. No entanto, minha provável despedida dessa vida seria ter confiado num Gigante de Gelo, que prometera fazer-me perecer diante de seu Império.

•••

Eu adormecera.

Ainda sentia uma forte dor de cabeça, e tudo estava escuro. Calculei que não deveria ter acordado ainda. E eu não sabia se estava morta ou não. Minha mente trabalhava preguiçosamente, tentando convencer-me de que ficar quieta, sem questionar, era o ideal.

Além disso, minha concepção de tempo era muito falha e vaga. Eu não tinha ideia de quantas horas teriam se passado desde quando o Jotun envenenara-me, nas ruínas da prisão asgardiana. Eu nem mesmo tinha certeza do que realmente acontecera antes disso.

Tentei recapitular momentaneamente. Eu usara meus feitiços de fogo para acabar com os Gigantes de Gelo. Subitamente, uma energia estranha tomara conta de mim. Algo que me deixara incrivelmente forte e poderosa, por alguns segundos. Algo que despertara uma raiva obscura em mim. Em seguida, essa energia parecera me abandonar, tão rápido quanto surgira. E também me deixara esgotada, como se sua passagem tivesse drenado todas as minhas energias vitais. Além disso, esse acontecimento surpreendera Abarkur, que desistira de me matar ao presenciar aquela cena.

Aliás... Aquele Jotun. Ele estava atrás de algo que estava escondido em várias partes. Embora ele não tivesse especificado, eu podia prever que devia ter algo a ver com magia. Era com isso que os Jotuns estavam lidando, para terem se modificado tanto. E eu só tinha essas peças soltas, como peças de um quebra cabeça. Por enquanto, nada fazia sentido. Mas eu podia sentir que havia algo que ligava todas essas informações aleatórias. E aquilo que acontecera comigo, tão inesperadamente, ainda me incomodava... Por que eu fora tomada por aquela energia tão de repente? E porque justo comigo?

Essas perguntas não me abandonavam. Informações dançavam na minha mente. Abarkur estava procurando algo mágico. E os Vingadores não eram somente seus inimigos, como também seus alvos. Os Jotuns queriam Steve Rogers e agora, a mim, para concretizar seu plano. Portanto, ainda havia muitas lacunas a serem preenchidas. E eu não descansaria até completá-las, uma a uma.

Diante de tantas conclusões, eu cheguei a pensar que de fato não tinha morrido. Afinal, sentia minha consciência voltar lentamente ao trabalho. Tinha medo do que ia encontrar, mas nada podia ser pior do que a dúvida. Eu desmaiara, e agora, abria o olho, hesitante.

Eu estava em meu próprio quarto, no Palácio de Asgard. Não sabia que horas eram, mas a luminosidade que entrava através da janela cerrada era baixa. Havia alguns cobertores sobre mim, e eu estava cuidadosamente deitada sobre minha cama. Ao meu redor, os Vingadores me olhavam com uma expressiva preocupação.

– Stella? Até que enfim, minha irmã! – Lucca gritou, soltando um murmúrio de alívio.

Eu ainda estava reconhecendo o ambiente, a fim de ter certeza de que nada era fruto da minha imaginação.

– Oi... – Comentei, tentando forçar um sorriso para meus colegas.

– Como se sente? – Perguntou Steve Rogers, adiantando-se do grupo. Parou diante de mim, com os braços cruzados. Sua expressão era séria e formal. Acho que ele ainda tinha raiva de mim...

– Quero saber o que aconteceu. Como eu vim parar aqui? E aqueles Jotuns? – Perguntei, realmente desejosa de saber essas coisas.

– Curiosa demais... Como sempre. – Comentou Tony Stark, rindo vagamente. – Mas não se anime, queridinha. Você está melhorando, mas ainda está de castigo por desobedecer ao Tio Fury.

Eu revirei os olhos. Tinha me esquecido desse detalhe. Fury provavelmente me daria uma punição pela minha desobediência.

– Havia quatro Jotuns lá. Um escapou, dois estavam mortos e o outro foi combatido. – Steve comentou rapidamente.

– Com “combatido”, ele quer dizer “devidamente estraçalhado”. – Riu Tony, dando um tapa nas costas de Steve.

– Ok, Stark. Agora, eu converso com ela... Será que podem nos dar um minuto? – Steve perguntou, resoluto.

– Claro, claro... – Disse Tony, prestativo. – Vamos, Vingadores. Respeitem as ordens dos mais velhos. Andando...

Lucca riu e piscou para mim. Os Vingadores, aos poucos, foram deixando a sala. Depois de alguns segundos, Steve Rogers puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, olhando-me intensamente. Havia muito o que conversar. Ele hesitou, suspirando. E eu tinha poucos segundos para decidir se seria sincera com Steve Rogers, ou não.