Living in the North

Capítulo 09 - James Murray


James ouviu o barulho do seu celular vibrando e tocando, forçou seus olhos para se fecharem mais do que já estavam. Esticou o braço direito pro criado-mudo que ficava ao lado da cama e pegou o celular, desbloqueou o mesmo sem ver o nome do contato que ligava pra ele e colocou o aparelho na orelha direita.

— Sim?

— Ei James, levanta essa bunda, cara. Tem reunião no batalhão daqui trinta minutos – disse um amigo policial de James.

Fucking hell— murmurou enquanto desligava o celular e o devolvia pro criado-mudo.

James se levantou da cama, com os olhos semicerrados, ainda cansado e com sono. Sentiu uma dor na cabeça e mesma latejar. Na noite passada havia bebido tudo o que podia e mais um pouco, e a consequência disso era uma das piores ressacas que ele teve na vida. Mesmo assim, pegou o resto de uísque que tinha na garrafa e um cigarro no criado-mudo, ao lado do celular, e foi pro banheiro. Acendeu o cigarro e depois abriu o zíper da calça para fazer suas necessidades enquanto bebia grandes goles do pouco uísque que restava e tragava o cigarro.

Se dirigiu pra defronte à pia com espelho acima dela e pôde ver que escorria um pouco da bebida pelo seu queixo. Deixou a garrafa, agora vazia, em cima da pia enquanto apagava o cigarro, que havia metade para ser consumido, em uma pequena poça d'água ao lado da garrafa, então abriu o espelho para pegar sua escova de dente e escová-los. Voltou para o seu quarto depois de ter lavado seu rosto com a água da pia, abriu um pequeno frigobar que ficava ao lado do criado-mudo, pegou uma cerveja gelada e a abriu em seguida, acendeu outro cigarro e também pegou seu celular e o colocou no bolso traseiro da calça.

James achava incrível o fato da existência e funcionalidade dos aparelhos celulares em um mundo apocalíptico. Porém, as pessoas da cidade usavam os celulares para mandar mensagens de texto e ligações, pois não era possível acessar a internet. Mas de qualquer forma, um celular era muito melhor mais útil do que um telefone residencial com fio.

Ao chegar no batalhão as cinco e quarenta da tarde, depois de ter consumido a cerveja e cigarro, obviamente, James caminhou para o vestiário e trocou de roupa, tirando a sua roupa casual e colocando o seu uniforme militar. Lavou seu rosto mais uma vez com água de uma pia e se retirou do vestiário e foi até o pátio, onde havia milhares de outros militares à espera da tal reunião, que na verdade era pra fazer continência, jurar à bandeira e cantar o hino nacional. Isso era feito um sábado sim e outro não, portanto James podia se dar ao luxo de ficar bêbado nas sextas e acordar de ressaca nos sábados que tinha a reunião, pois não tinha nenhum compromisso sério no batalhão e os finais de semana eram seus dias de folga.

Era aproximadamente seis e meia da noite quando James saiu do batalhão depois de ter trocado de roupas novamente no vestiário, e mais uma vez ninguém notou que ele estava de ressaca e parcialmente bêbado. James conseguia disfarçar bem o seu estado e por isso os oficiais superiores não percebiam que ele estava bêbado ou/e de ressaca (tinha noites que James bebia tanto, que acordava ainda bêbado no dia seguinte), além de que esses oficiais ficavam em cima de um palco à uma boa distância do pátio em que todos os militares que faziam continência, juravam à bandeira e cantavam o hino nacional. E quando todos se retiravam do pátio, ninguém tinha contato direto com os oficiais superiores, a menos que queriam falar algo específico para eles e faziam isso depois da reunião.

— James! – chamou uma voz conhecida, James virou a cabeça, que ainda latejava, e viu Mark se aproximando dele. A reunião era para os policiais e também para os guardas/observadores – Como está?

— Péssimo – admitiu. – E você? Vi que você saiu do bar no começo da madrugada.

— Sim. Acho que era duas horas quando sai. Não sou doido igual à você que enche a cara na noite anterior da reunião no batalhão – riu baixo enquanto dava tapas fracos nas costas do amigo.

— Pois é... – James também riu. – Eu devia parar com essa mania, mas como a reunião é rápida creio que não tem problema ir pro batalhão no meu estado atual.

— Hoje você não está tão mal. Tem dias que você vem pra reunião ainda bêbado da noite passada, né?

— Exatamente. E é justo nesses dias eu fico do seu lado na reunião, pra você me dar um suporte caso preciso – disse rindo, enquanto caminhava ao lado de Mark. – Nunca te falei isso?

— Se me falou, eu não me lembro, sinceramente – Mark ria junto com James. – Mas agora que sei, ficarei mais atento quando estiver do meu lado.

— Obrigado, cara – James pegou mais um cigarro do maço e o acendeu. Ofereceu para Mark, que recusou. – Você vai pro bar hoje também, certo? Creio que hoje irá mais gente do que ontem. Wendy disse que vai, junto com o Harry Jr. e Emily.

— Acha que será um ambiente adequado para as crianças? – perguntou Mark, ligeiramente preocupado.

— Não será problema. Também teremos bebidas não alcoólicas para as crianças e jovens, além de que iremos fechar a rua de cadeiras e mesas até a praça de frente ao bar, assim as crianças podem brincar no parquinho.

— Sério? Que legal, cara! – disse Mark, entusiasmado. Pensou no filho e completou: – Vou trazer o Freddie, então.

— Iria dizer isso. Traz a Sarah também – sugeriu James.

— Sim, com certeza. Vai ser bom reunir a família toda de novo, cara. Como nos velhos tempos... – Mark olhou para uma placa e viu o nome da rua que ia cruzando. – Bom, meu caminho é por aqui – apontou para a placa. – Nos vemos mais tarde, James. Até mais.

James respondeu o "até mais", jogou a bituca do cigarro no chão, pisou sobre a brasa e continuou o seu caminho. Ao chegar em casa, a primeira coisa que fez foi tirar os coturnos de couro e se jogar na cama, ainda de camiseta, calça jeans e meias nos pés. Menos de um minuto depois já estava dormindo.

Sonhou que havia encontrado Ariel perdida no meio de um galpão enorme e vazio, o local estava cheio de neblina e James não sabia onde estava por mais que se esforçasse para saber. Ele chamou por ela, mas a garota não virou e nem deu sinal de nada, parecia ser uma estátua. O policial se aproximou à passos lentos da advogada, tocou-lhe o ombro e a puxou de leve para que ela virasse seu corpo, mas quando viu o rosto dela, que não tinha absolutamente nada, parecendo um manequim, acordou assustado com o coração acelerado, o corpo repleto de suor e tremendo.

Sentou-se sobre a beirada da cama e quando os batimentos do coração voltaram ao normal, percebeu que sentia fome. Mais do que isso, parecia que tinham arrancado o estômago de dentro da barriga de James. Ele não lembrava da última vez que tinha comido, mas achava que tinha sido no bar na madrugada naquele dia enquanto bebia sem parar. Se pôs de pé e caminhou até a cozinha.

James pegou um prato e foi até as panelas acima do fogão e serviu o prato com um pouco de cada: feijão, arroz, carne bovina com batata. Depois foi até a mesa da cozinha e colocou farofa de milho e salada de tomate no prato, e o colocou no microondas por um minuto. Enquanto isso, foi até a geladeira e pegou uma jarra de limonada e serviu em um copo. Parece que demorou dez minutos em vez de um minuto para o microondas apitar, tanto era a fome que o policial estava sentindo.

Devorou o alimento servido no prato ferozmente. Comeu tão rápido que sentiu a sua barriga estufar e ficar com a sensação que iria vomitar ou explodir. Sentou-se no sofá, que ficava ao lado do frigobar, que ficava ao lado do criado-mudo, que ficava ao lado da cama, e colocou uma mão sobre a barriga estufada. A casa de James era pequena e de formato retangular, com exceção do banheiro que ficava ao fundo, e de frente à porta de entrada. Era tudo junto em um único cômodo mas não chegava a ser apertado, porém, não era espaçoso também. James tinha totais condições de comprar uma casa maior e mais espaçosa, mas como passava a maior parte do tempo do seu dia fora de casa, seja no bar, no trabalho ou na casa da namorada, ele não fazia questão e nem tinha vontade de ter uma casa maior e mais espaçosa, essa era suficiente pra ele.

Quando James se levantou do sofá e ia até a estante de livros, seu celular tocou novamente. Viu que era Stefan que estava ligando e o atendeu.

— E aí Stefan, beleza? – cumprimentou.

— Beleza, cara. E aí, não vai vir aqui, não? Já tem aqui chegando aqui – informou Stefan.

— Já estou indo – disse James e desligou o celular. Jogou o celular em cima do sofá e foi pro banheiro para tomar uma ducha rápida.

Ao sair do banheiro, trocou de roupa rapidamente, pegou o celular em cima do sofá e saiu de casa. James trajava uma camisa xadrez de manga longa azul e preta, calça jeans cinza escuro, o mesmo coturno que usara no batalhão, além de alguns utensílios como dog tag no pescoço, anéis nos dedos, etc. Deu a volta na casa pequena e abriu uma garagem ainda menor que ficava do lado de trás da casa e ao lado do banheiro, a garagem era tão pequena que não teria espaço para um carro, mas tinha espaço para um moto, e era o que tinha lá dentro.

Harley-Davidson Dyna Street Bob era a moto que estava estacionada na garagem. Era o mesmo modelo que Harry teve, e era justamente por esse motivo que James tinha essa moto. James montou nela, a tirou da garagem, fechou a mesma e deu partida na moto para pilotar. Apenas os policiais, bombeiros, guardas/observadores e políticos tinham autorização de dirigir qualquer tipo de veículo na cidade, mesmo quando estavam fora de expediente.

James levava vinte minutos para chegar no bar caminhando, então de moto ele levou menos de cinco minutos para chegar no bar. Entrou no estabelecimento com a moto e a estacionou alguns metros de distância de uma das mesas de sinuca. Desligou o motor, guardou a chave no bolso frontal da camisa xadrez e desceu da moto. Viu a sua namorada, Kristen, e foi cumprimentá-la com um beijo e um abraço. Ambos conversaram um pouco até que a moça disse que iria lá fora, na praça, para fazer companhia pra sua irmã gêmea. Ellen estava na praça brincando com umas crianças. James perdeu a Kristen de vista quando ela entrou no meio da multidão, e quando ele ia até o balcão pegar uma bebida, uma pessoa o chamou:

— Oi, James! – era Wendy, com Emily à sua direita e Harry Jr. à sua esquerda.

— Ei, Wendy... Emily e Harry – cumprimentou a garota e depois se abaixou para cumprimentar as crianças. – Como vocês estão?

Tá tudu bem, tio "Deime"— disse o pequeno Harry. James sorriu e bagunçou os cabelos do garoto. – Meu capelo, tio! Mamãe demopou pra apumar.

— Seu cabelo fica mais bonito assim, Harry – riu baixo e bagunçou ainda mais os cabelos do garotinho.

— Fica mesmo, maninho! – disse Emily, sorrindo.

James se levantou, apalpou os bolsos traseiros da calça jeans até achar a carteira, tirou ela do bolso e a abriu, pegou dez moedas de 20 noho's e entregou para Wendy. A primeira reação da garota foi de incredulidade e de confusão, pois James sempre dava dinheiro pra garota na casa dela, depois ela sorriu e assentiu.

— Pra você gastar aqui e pra comprar despensas e outras coisas pra sua casa – informou. – E um presente pro Harry, não é mesmo?!

— É! – gritou o garoto.

— Aproveitem a festa. Se precisar de alguma coisa, é só pedir – disse James. Wendy assentiu mais uma vez e então o policial se retirou, mas antes bagunçou os cabelos de Harry novamente, que disse: "Para!".

Ele foi pra um jukebox que ficava ao lado do balcão, colocou uma moeda de 1 doho para ligá-lo e selecionou músicas da banda Guns N' Roses pra tocar. Depois deu alguns passos e chegou ao balcão, sentou-se na cadeira e apoiou os braços sobre a madeira do balcão. Stefan estava de costas pra ele, preparando um drink que um cliente ao lado direito dele havia pedido.

— Uma dose de uísque puro pra mim, por favor – disse como se fosse um cliente. Stefan não reconheceu a voz do seu amigo, que riu. Esperou alguns segundos e disse em voz alta: – Anda logo, cara!

Seu riso ficou mais alto quando viu a cara de Stefan quando o rapaz se virou. James tinha certeza que seu amigo iria xingar caso não tivesse visto que era ele. Stefan também riu, balançou a cabeça negativamente e virou de costas novamente para terminar o drink do cliente ao lado, que também ria timidamente.

— Não me diga que você vai beber mais! – disse Mark, colocando uma mão sobre o ombro de James e apertando de leve como cumprimento. James virou o rosto e viu Mark, e depois Sarah e Freddie.

— Claro que vou beber! Se não morro de sede, não é mesmo, Fred?! – James riu ao ver que o pequeno Freddie escondeu seu rosto de vergonha em uma das coxas da mãe. Fred falava apenas algumas palavras e era muito pouco, ao contrário de Harry Jr. que já conseguia se comunicar com as pessoas. – Boa noite, Sarah.

— Boa noite, James – cumprimentou ela, enquanto pegava Freddie no colo. – Ótima ideia "juntar" o bar com a praça para que todos possam se divertir.

— Na verdade, foi ideia do Stefan. Espero que a gente consiga fazer isso pelo menos uma vez por mês, no mínimo. É ótimo ver as crianças felizes.

— Vamos conseguir, se tudo der certo – disse Stefan, servindo uma dose de uísque para James, que bebeu tudo em um gole só. Stefan saiu de trás do balcão, deixando o Peter no cargo, e foi até a praça pra ficar junto com sua namorada, Ellen.

James e Mark conversaram por alguns minutos até que Mark disse que iria ver e conversar com Wendy e as crianças. Com um copo cheio até a metade, ou um pouco mais, de uísque puro, mas dessa vez com gelo, James saiu da cadeira do balcão e se dirigiu até onde estavam Nadin e Rafiq. Os três conversaram por alguns minutos, e depois o policial foi falar com Lizzie, depois com Rose e Lucy, depois com Tom e Devon. Ele passou cerca de duas horas e meia conversando com os amigos que era do grupo de sobreviventes antes de chegarem e entrarem na cidade de North Hopeville. E por fim foi passar o resto da noite, ou madrugada, com a sua namorada, Kristen.

Domingo era o dia da semana em que metade da cidade não trabalhava, com exceção de alguns casos específicos. Por causa disso a festa no bar durou a madrugada inteira, e só acabou quando começou a amanhecer. E é claro que James bebeu mais do que devia mais uma vez e ficou completamente bêbado.