Living in the North

Capítulo 07 - Wendy McKinley, Emily Johnson & Harry Jr.


— E então? O que achou? – perguntou uma voz masculina.

— Está perfeito. Obrigada, Jackson – disse Wendy, sorrindo.

Jackson era um homem alto e magro porém forte, seus cabelos eram loiros e os olhos azuis, tinha uma barba da mesma cor dos cabelos por todo o rosto e pescoço, mas os pelos eram maiores na parte do buço e queixo.

Nas mãos de Wendy havia dois desenhos. Um deles era um retrato falado em preto e branco, e o outro era um desenho mais artístico e colorido. Wendy olhava para ambos com um sorriso no rosto e com os olhos cheios de lágrimas.

— Quanto lhe devo? – perguntou ela, erguendo a cabeça para olhar pro rapaz.

— Dez doho's – respondeu Jackson. Wendy arqueou uma das sobrancelhas com um olhar de que suspeitava de algo. Jackson riu e completou: – O preço normal é vinte, mas vou cobrar dez de você.

— E porque vou ganhar esse desconto?

— Pela Emily – respondeu o rapaz.

Jackson era um desenhista profissional, podemos dizer assim. Ele começou a desenhar com cinco anos e desde então não parou, somando um pouco mais de vinte anos que ele desenhava. Muita gente em North Hopeville pedia para ele desenhar algo, seja para colocar em quadros ou porta retratos. No caso da Wendy, ele ia colocar o desenho em preto e branco em um porta retrato, enquanto o desenho colorido seria colocado em um quadro.

O motivo de Jackson ter dado um desconto para Wendy foi pelo fato dele gostar da garotinha e também porque fora Emily que pedira para sua mãe algo que lembrasse seu pai, Harry. Como Wendy não tinha nenhuma foto de Harry, ela procurou Jackson e pediu para que ele fizesse esses dois desenhos do seu falecido namorado. O desenho em preto e branco estava mais caricaturado enquanto o desenho colorido estava mais realista, parecendo uma foto de verdade.

— Obrigada, Jackson – disse Wendy, após entregar uma moeda de 10 doho's nas mãos do desenhista.

Wendy também comprou duas molduras, uma de porta retrato e o outra de quadro, e depois disso ela se retirou da lojinha do rapaz e caminhou pelas ruas da cidade até chegar em casa. Lá a garota colocou o porta retrato na estante da sala de estar e o quadro na parede do mesmo cômodo. Ela ficou olhando para o quadro por alguns segundos, suspirou fundo e voltou a sair de casa.

Dessa vez Wendy chamou um cocheiro e pediu para que ele a levasse pra uma creche que ficava há seis quarteirões de sua casa. Lá ela pegou o Harry Jr., voltou para a carruagem com o mesmo cocheiro, e pediu para que ele a levasse para uma escola que ficava há quatro quarteirões da creche e dez da sua casa. Chegando lá, ela foi de encontro pra Emily que a esperava sentada em um banco defronte à escola.

— Oi mamãe! – disse a garotinha levantando-se e correndo em direção de Wendy.

Nos primeiros dias de aulas de Emily, a maioria dos pais que levavam e buscavam seus filhos olhavam confusos para Wendy pelo fato dela ter apenas vinte anos de idade e ter uma filha de catorze anos e um filho de um ano e meio. Com o passar das primeiras semanas, Wendy explicava repetidamente que Emily não era do seu sangue, mas ainda assim era sua filha, e que Harry Jr. era do seu sangue. Agora que todos conheciam essa história os olhares confusos não existiam mais.

— Oi, querida – disse Wendy, abraçando a garotinha com apenas um braço pois o outro estava ocupado segurando o pequeno Harry. – Como foi a aula? O que aprendeu?

Emily contou para sua mãe tudo o que aprendera naquele dia de aula.

Mesmo em um mundo apocalíptico, os políticos de North Hopeville acharam que era uma boa ideia construir escolas para que as crianças tivessem uma educação adequada, e a população da cidade aceitou a ideia de braços abertos. Se um dia o mundo voltasse a ser o que era antes, esses anos de estudos seriam úteis no futuro. Além das escolas, também tinha os prézinhos e creches para crianças pequenas.

Wendy decidira colocar Harry Jr. em uma creche para ele poder se enturmar com outras crianças e bebês, pois se escolhesse deixar o menino na casa de uma babá ele não teria esse contato com pessoas da sua faixa de idade. E deu um bom resultado, pois Harry Jr. fez alguns amiguinhos e amiguinhas além de que ele não era violento e nem teimoso, e por causa disso nunca teve problemas com outras crianças e bebês.

Os três voltaram para casa com o mesmo cocheiro, e Wendy deu cinco doho's para o rapaz que conduzia a carruagem antes de entrar na sua residência. Quando entrou, viu James acariciando e bagunçando os cabelos de Emily e cumprimentando Harry Jr. com o punho. Wendy abriu um sorriso enorme ao ver a cena.

— Ei, James! – chamou ela. – Tudo bem? Como está o trabalho?

O motivo de James estar dentro da casa de Wendy, era que ela tinha dado uma cópia das chaves para ele. O rapaz ajudava a moça com a dispensa e contas, pois uma garota de vinte anos não teria condições de sustentar dois filhos sozinha e sem ajuda. Os outros também ajudavam Wendy, mas James era o que mais ajudava.

— Estou bem e o trabalho está tudo em ordem – respondeu ele.

James não tinha mudado nada desde que Wendy e os outros o conhecera no vilarejo há aproximadamente quatro anos trás, o visual dele era o mesmo. Um homem alto e forte, com o corpo repleto de músculos bem definidos, com um metro e oitenta e seis de altura, os olhos castanhos-claros amarelados, os cabelos negros com alguns grisalhos, pele bronzeada e castigada pelo sol, e barba igual aos cabelos. Para não dizer que ele não mudara absolutamente nada, ele havia ganhado mais grisalhos em seus cabelos e barba, e algumas rugas em seu rosto.

— E a Ariel? Tem notícias dela? – perguntou Emily.

— Infelizmente não, querida. Já faz duas semanas e não achamos nenhum rastro dela.

— Que pena. Espero que a encontrem logo – disse Wendy. – Aceita café? Chá? Sanduíche com suco?

— Ah, sim. Obrigado, Wendy.

Wendy preparou sanduíches com pães de forma, peito de peru, presunto, fatias de queijo branco, e para completar, ela pediu para que Emily fosse à horta mais próxima e comprasse alface e tomate para fazer uma salada e colocar no sanduíche. Os três comiam sanduíches e Harry Jr. tomava leite morno na mamadeira quando Wendy perguntou:

— E o bar? Sempre cheio de clientes?

— Sim, graças a Deus – mesmo não sendo religioso, James dissera aquilo como se fosse algo de rotina e comum. – Principalmente nos finais de semana. Aliás, hoje é sexta-feira... que tal dar uma passada lá?

— Não posso. Hoje tive que faltar do trabalho pra verificar as papeladas do Harry Jr. no hospital – informou a garota. – Amanhã vou ajudar na organização da Escola da Família e depois ajudar na faxina, ou qualquer outra coisa pra compensar a minha ausência de hoje.

Escola da Família era um programa que era feito para, como diz o nome, reunir a família na escola e fazer diversas atividades.

Desde o primeiro dia que Wendy chegara em North Hopeville, ela decidira que iria trabalhar em um ambiente escolar para se lembrar de Harry. Nos primeiros dezoito meses ela era auxiliar geral, trabalhava com limpeza, organizava as cadeiras e carteiras, fazia reposição de giz, apagador, régua de madeira e outros materiais que os professores usavam, dentre outras coisas. Então, Wendy conhecera uma professora de filosofia e pedira para que ela lhe ensinasse e lhe guiasse para se tornar uma professora de filosofia também. Wendy contara a sua história para a professora e ela disse que iria ajudar a garota.

Seu nome era Donna, e ela já era professora há quinze anos antes do apocalipse começar, ou seja, ela começou a lecionar na época em que Wendy estava nascendo ou, no máximo, quando tinha apenas um ano de idade. Tinha os cabelos longos e pintados de vermelho, usava óculos no rosto, sua estatura era baixa e o corpo com belas curvas, principalmente nas nádegas, tinha os olhos castanhos-escuro e um belo sorriso nos lábios.

Wendy estava lecionando filosofia há aproximadamente vinte e cinco meses. Era uma das professoras mais queridas de toda a escola, e tinha a Emily como sua aluna, que era a melhor da turma na matéria. Sempre que sua filha tirava a maior nota possível ou perto disso, Wendy se lembrava de Harry e imaginava como ele ficaria orgulho da pequena Emily, e então chorava, ou sorria, ou fazia os dois.

— Tem que levantar cedo, né? Tudo bem, não tem problema. Outro dia você vai – disse James, terminando de beber seu copo de suco de laranja depois de ter colocado dois sanduíches dentro do estômago – Tenho que ir também, Wendy. Vou ver se consigo te visitar no meio da semana, okay?

— Certo. Obrigado por tudo, James – disse Wendy, se levantando junto com o rapaz e indo em direção à sala de estar. – Sempre digo e repito isso, mas você não faz ideia do quanto me ajuda.

— Você faria o mesmo por mim, Wendy – ele disse, sorrindo enquanto despedia dela com um beijo no rosto. Quando seu rosto estava ao lado do rosto de Wendy, ele viu o porta retrato e quadro de Harry. – Está parecido com ele – disse, apontando. Wendy sorriu e James completou: – Tenho certeza que ele estaria orgulho de você e de seus filhos. Sinto falta dele.

E então, James se retirou da casa e fechou a porta, Wendy pegou Harry Jr. no colo e ficou olhando para o quadro.