Lucy conseguiu desvencilhar do infectado que a agarrou com as duas mãos. Ela deu uma cotovelada na cabeça do morto-vivo, e isso fez a camiseta da garota rasgar pois o infectado não soltou o tecido da roupa de Lucy. O golpe fez com que o infectado perdesse o equilíbrio e desse dois passos para trás, e Lucy aproveitou esse tempo para dar um chute na barriga do morto-vivo, o derrubando no chão, e em seguida ela enfiou sua faca no meio da testa do morto-vivo.

Boa parte da barriga, cintura e costas de Lucy estavam à mostra depois de ter a camiseta rasgada, mas ela não se importou com isso e subiu de volta pra laje da loja de bugigangas, evitando a horda de infectados que caminhavam pelo beco até se aglomerarem na rua.

Ariel ainda estava dentro da loja e ouviu a explosão do carro e os grunhidos da horda, ela se levantou de onde estava escondida e fechou a porta da loja para que nenhum morto-vivo entrasse no local, além de usar o balcão em que Lucy usou para sair da loja como um bloqueio para que os infectados não arrombassem a porta com tanta facilidade.

A judia voltou a sentar no chão, perto da janela, para olhar os mortos-vivos caminhando pela rua. Ela abraçou seus joelhos e encostou sua testa sobre seus antebraços, nitidamente abatida e pensando que nunca mais iria encontrar seus amigos novamente.

Esses pensamentos foram interrompidos quando Lucy abriu o alçapão e chamou por Ariel. A judia olhou pro alçapão, se levantou rapidamente e apontou sua arma em direção de Lucy, que se jogou para o lado pra não ser atingida por um tiro.

– Ariel, sou eu! Lucy! – Disse a garota, alguns metros de distância do alçapão. Ela sacou sua arma para se defender, caso Ariel conseguisse sair pelo alçapão.

– Lucy?! Você me deixou aqui para morrer, sua vadia! – Disse Ariel, irritada. Ela tinha imaginado que era algum inimigo que tinha aberto o alçapão.

– Olha, eu sei que errei feio... mas tem uma horda aqui do nosso lado e vamos precisar uma da outra para conseguir sobreviver! Nem eu e nem você conseguiremos sobreviver sozinhas.

– Quer que eu me junte à você? Depois do que você fez? Você deve estar louca... – Ariel ria de forma sarcástica, ainda apontando sua arma em direção do alçapão.

– Temos que nos unir ou iremos morrer! E outra, como você vai sair desse lugar enquanto eu estiver aqui em cima? Tenho certeza que pela porta não é a resposta, e eu não vou sair daqui de cima sozinha! – Disse Lucy, também apontando sua arma em direção do alçapão.

Ariel não aceitava as palavras e a linha de raciocínio de Lucy, e por causa disso as duas ficaram debatendo por horas, até que a ex-estudante de medicina conseguiu persuadir a judia. Lucy se debruçou sobre o alçapão e esticou seu braço pra dentro da loja para que a Ariel pudesse sair da loja com a ajuda de Lucy.

Quando as duas estavam em pé em cima da laje, Ariel deu um tapa forte no rosto da Lucy, que virou seu rosto com o impacto do tapa e perdeu um pouco do equilíbrio, cambaleando um pouco para o lado. Ariel encarava Lucy de uma forma assustadora e disse:

– Isso é pra você nunca mais repetir o que fez.

A ex-estudante de medicina olhou pra judia e sorriu, sua mão estava sobre a bochecha que ardia.

– É, acho que merecia isso... – Disse Lucy, reconhecendo o seu erro e também a besteira que fez ao deixar Ariel para morrer – Me desculpa.

– O que? – Perguntou Ariel, incrédula com o que acabara de ouvir.

– Eu também menti pra você... aliás, menti para todos vocês – Lucy suspirou – A mochila que eu carregava as costas tinha armas desde o início. Rose me pediu para que eu não falasse das armas para vocês, mas eu tive a oportunidade de dar as armas para vocês quando chegamos nessa cidade, quando passamos pelo viaduto... Não dei as armas para vocês porque tive medo do que alguns de vocês iriam falar e fazer comigo depois disso – Ela fez uma breve pausa – Me desculpa. Se eu tivesse sido um pouco mais corajosa, talvez não tivesse mortes.

– Então quer dizer que a Rose não confiava totalmente em nós quando saímos do shopping? – Perguntou Ariel, e Lucy assentiu – Entendo.

– Eu perdi a cabeça quando o Owen morreu... eu era muito próxima dele, sabe? Eu o via como um pai, ou algo do tipo. Mesmo estando com raiva de você ter mentido pra mim, eu não faria aquilo que fiz se estivesse no meu estado normal... A morte do Owen me abalou muito. Nem sei o que vou dizer pra Rose quando voltarmos.

– Se voltarmos... – Disse Ariel, olhando a rua tomada por infectados.

– O que é aquilo?! – Perguntou Lucy, olhando pro topo do prédio à frente da loja de bugigangas. Lá tinha duas pessoas, mas logo as duas pessoas desapareceram de onde estavam – Será que são James, Stefan, Lizzie e Tom?

O dia já estava amanhecendo, e com a pouca de luz que tinha já dava pra ver e reconhecer pessoas mesmo com essa distância que tinha da loja para o prédio. Mas Lucy não reconheceu quem era as duas pessoas porque ela as viu por poucos segundos.

James estava com os braços apoiados sobre a mureta do topo do prédio enquanto fumava um cigarro ao lado de Lizzie, que também fumava. Os dois viram Lucy e Ariel na laje da loja e se surpreenderam ao ver que as duas estavam bem. James e Lizzie viram as duas antes da Lucy ter os vistos, por isso eles reconheceram as duas e Lucy não.

– Caralho... elas estão vivas – Sussurrou James – Eu vou falar para Stefan e Tom o que vimos – Disse enquanto tragava seu cigarro, e Lizzie assentiu.

Jim foi até Stefan e Tom para falar que Lucy e Ariel estavam vivas, porém, presas em cima de uma laje por causa da horda de mortos-vivos que tinha ao redor.

– Vamos descer o prédio por um lugar que não tenha tantos infectados e vamos encontrar com as duas – Disse Stefan.

– E esse rapaz? Vamos deixá-lo aqui? – Perguntou Tom, olhando para Stefan e James.

– Não. Ele pode ter uma arma escondida em algum apartamento desse prédio e nos surpreender quando estivermos lá em baixo – Respondeu James – Vamos levá-lo conosco e você vai ficar de olho nele, Tom.

– Mas antes temos que comunicar as duas que estamos aqui em cima e que vamos descer para nos juntar com elas – Disse Lizzie, se aproximando dos rapazes.

– Tem razão – Disse Stefan, colocando uma mão sobre seu rosto – Temos que pensar em um jeito de nos comunicar com elas sem gritar, pois os amigos daqueles filhos da puta que nos atacaram devem estar próximos daqui.

– Que tal papel? – Perguntou Lizzie – Podemos usar papéis, escrever um recado e jogar uma bola de papel pra onde elas estão.

– Ótima ideia, Lizzie! – Disse James – Vou pegar papéis e caneta em algum apartamento e já volto.

Jim se retirou para procurar os itens que ele disse. Lizzie terminou de fumar seu cigarro e jogou a bituca sobre a laje do prédio, pisando em cima para apagar a pequena brasa que tinha nele.

– Espero que vocês encontrem suas amigas – Disse Devon, olhando para Lizzie, Stefan e Tom. Porém, ele foi ignorado completamente e abaixou a cabeça.

Poucos minutos depois, James voltou com um caderno velho e um lápis pequeno nas mãos. Ele escreveu o seguinte recado:

"Ariel, Lucy, estamos aqui em cima e vamos descer para resgatar vocês. Não saiam desse lugar onde vocês estão agora até chegarmos aí.

Assinado: James"

Após ter escrito isso, James fez uma bola de papel usando outras folhas do caderno, e quando terminou de fazer a bola ele escreveu em destaque "Open it", com os nomes deles com menor destaque.

– Lizzie, venha comigo... quero que as duas nos vejam depois que eu jogar o recado para elas.

Os dois voltaram pra mureta, James jogou a bola de papel próximo dos pés da Lucy, que se assustou com o papel e riu em seguida ao ver que era apenas um papel. Ela viu escrito "Open it" e os nomes de seus amigos, e antes dela abrir a bola de papel, Ariel já estava apontando sua arma em direção de James e Lizzie.

– Não! São nossos amigos que estão ali! – Disse Lucy. Quando Ariel a olhou confusa, ela mostrou os nomes de seus amigos junto com o "Open it".

Ariel abaixou sua arma e depois de alguns segundos olhando para James e Lizzie no topo do prédio, conseguiu reconhecê-los. Ela se aproximou da ex-estudante de medicina para ler o que estava escrito no papel. As duas fizeram um sinal de positivo após terem lido o recado, que foi visto pelos dois no topo do prédio, e então as duas se sentaram na laje para esperá-los.

– Pronto, elas leram o recado. Vamos nessa! – Disse James, caminhando até uma escada que tinha do outro lado do prédio.

Essa escada dava acesso pra um beco que tinha atrás do prédio onde eles estavam. James foi o primeiro a descer, seguido por Stefan e Lizzie, deixando Tom e Devon para desceram por último.

James, Stefan e Lizzie eliminaram os mortos-vivos que tinham ali no beco, limpando o caminho. Eles esperaram Tom e Devon para prosseguirem.

– Por aqui, vamos! – Disse James, liderando o grupo.

O grupo seguiu pelo beco até sair do mesmo, depois disso eles andaram por uma rua que não estava tomada pela horda de infectados. Uma vez ou outra aparecia alguns infectados, mas nada que fosse preocupante e atrasasse eles de chegarem até onde estavam Ariel e Lucy.

Eles andaram por um caminho mais longo, pois eles tiveram que dar a volta no quarteirão para evitar a horda que estava na rua que ficava entre o prédio e a loja de bugigangas. Quando conseguiram contornar a situação, eles viram o beco onde Lucy explodiu o carro dos inimigos, só que esse beco estava inacessível por causa das dezenas de infectados que perambulavam por ali.

– Olha... um caminhão! – Disse Lizzie, apontando pro veículo que estava batido sobre a parede de uma casa – Podemos usá-lo para subir no telhado e andar até onde estão Ariel e Lucy.

James assentiu e se aproximou do caminhão, ele foi o primeiro a subir na escadinha que tinha embaixo da porta do veículo, segurar o retrovisor e usá-lo para pegar impulso, apoiar os pés no buraco da janela para subir no teto do caminhão e em seguida no telhado da casa. Esses movimentos de James foram repetidos por seus amigos, e assim que todos estavam em cima do telhado.

– Espera... O que vamos fazer com esse cara? – Perguntou Stefan – Quero dizer, não vamos levá-lo até onde moramos, né? Então vamos abandoná-lo aqui nesse inferno?

– Vamos resolver isso depois, Stefan – Respondeu James.

– Certo.

Devon não disse nada, apenas continuou de cabeça baixa. O grupo começou a caminhar cuidadosamente pelos telhados e lajes que tinham até chegar onde estava Ariel e Lucy. A ex-estudante de medicina gritou quando viu o rapaz que o grupo fazia se prisioneiro, e em seguida correu até ele para abraçá-lo. Essa reação da garota fez com que todos ficam confusos.

– Devon, é você mesmo?! – Perguntou Lucy, o abraçando com força – Meu Deus... eu pensei que você tivesse morto...

– Você conhece esse rapaz? – Perguntou Stefan.

– Sim – Respondeu Lucy – Pensei que ele tivesse morto... Liam disse que um bando de loucos os capturaram e torturaram, disse que ele foi o único que não foi torturado. Aaron chegou em estado crítico, à beira da morte... pois isso viemos pra cá. Estávamos indo ao hospital quando fomos atacados ontem à noite.

– Eu consegui fugir... Liam deve ter achado que eu fui capturado e torturado depois – Disse Devon, desfazendo o abraço e se afastando um pouco para olhar nos olhos de sua amiga – Falando nele, onde ele está?

– Está morto... – Respondeu Lucy, com o tom de voz triste – Owen também se foi...

– Sinto muito.

– É... – Sussurrou enquanto suspirava – Bom, temos que sair daqui. Vamos logo pro hospital e ir embora desse inferno.

Depois desse reencontro e diálogo, o grupo voltou pelo caminho que vieram, desceram do telhado pelo caminhão e foram em direção ao hospital que tinha ali perto. Eles entraram no local e pegaram todo medicamento que Owen havia dito para Lucy antes de morrer, além de pegar mais algumas coisas extras caso fosse necessário, e colocaram tudo dentro da mochila de Lucy.

Esse ataque que eles sofreram foi crucial para todo esse tempo perdido. Além de terem perdido tempo, eles também perderam quatro pessoas, sendo elas: Bernard, Serena, Owen e Liam. O grupo saiu do hospital com os medicamentos e começaram a caminhar em direção ao shopping.

– Onde está o carro de vocês? – Perguntou Devon, olhando para os lados.

– Viemos a pé, DJ – Respondeu Lucy.

– DJ? Você era DJ, cara? – Perguntou Tom, curioso, olhando para Devon.

– Não... – Devon riu nasalmente – Meu apelido é DJ porque meu nome é Devon Joseph, entendeu? – DJ olhava pra Tom e ele assentiu. Então DJ direcionou seu olhar para Lucy – Como assim vieram a pé? O shopping é longe daqui... Vamos encontrar um carro para eu consertar e voltarmos mais rápido pro shopping.

– Você é mecânico? – Perguntou Stefan.

– Também não – Respondeu sorrindo – Eu aprendi um pouco sobre mecânica com meu irmão mais velho...

Esse irmão mais velho que Devon citou era Paul, o rapaz negro que era amigo de Harry e Chelsea, e que morreu na cidade perto da madeireira. Paul tinha trinta e dois anos quando morreu, e Devon tem vinte e seis anos atualmente.

Devon conheceu seu irmão depois dos seus vinte anos, pois o pai deles se separou da mãe quando DJ nasceu. O pai ficou com o Paul e a mãe ficou com o Devon. Quando Devon tinha mais de vinte anos, o seu pai foi preso por tráfico de drogas e quando sua mãe ficou sabendo isso, ela deixou o rapaz ir pra cidade onde seu pai e Paul moravam, para que Devon pudesse conhecer o seu irmão. Porém os dois passaram pouquíssimo tempo juntos, menos de uma semana pra ser exato, e Devon teve que voltar pra cidade que morava. Depois disso os dois nunca mais se viram. O pingente que Devon usa no pescoço é uma foto do seu irmão, e ele ganhou esse pingente da sua mãe antes mesmo de conhecer o Paul.

Devon nasceu na Califórnia, era jornalista antes do apocalipse acontecer e tinha uma carreira bem desenvolvida. Ele nunca conheceu o seu pai, nunca o viu pessoalmente, apenas viu algumas fotos mas não as guardou, pelo contrário, ele as queimou para não ver o rosto de seu pai nenhuma outra vez. Quando DJ tinha dezessete anos, o seu pai, Cristiano, ligou para ele pedindo para se encontrarem, pois Cristiano estava na cidade em que DJ e sua mãe, Raquel, moravam na época, mas Devon recusou o pedido.

Quando o apocalipse começou, Devon sobrevivia com sua mãe e avó materna em uma fazenda de um grupo que os acolheu logo no começo do surto. Na terceira semana do caos, o grupo da fazenda se virou contra os três por falta de comida e acabaram matando sua mãe e avó, mas Devon conseguiu fugir antes de ser morto também. Depois disso, DJ demorou três meses para se juntar à outro grupo, e este grupo é o de Rose, que ele faz parte até hoje.

Devon conseguiu arrumar um carro aleatório da rua em cerca de trinta minutos, e DJ escolheu um carro grande para couber sete pessoas: James, Stefan, Tom, Devon, Lizzie, Lucy e Ariel. Devon se ofereceu para dirigir o carro porque os outros seis não tinha dormido até o momento, mas antes deles dormirem enquanto DJ dirigia o carro pelas ruas, o rádio tocou uma gravação que dizia com o áudio bastante chiado:

"Sobrevivência... Proteção... Abrigo... Soldados armados... Comida... Somos muitos. Estamos localizados em... North Hopeville. Venham se unir à nós... aceitamos os vivos... os mortos estão longe do nosso alcance"

– Puta que pariu! Ouviram isso?! – Perguntou James, com o tom de voz alterado e entusiasmado.

– Será que isso é verdade? – Questionou Stefan.

– Podemos tentar descobrir... – Disse Lucy – Quando chegarmos no shopping, vamos falar sobre isso.

– Pois é... – Sussurrou Devon, mexendo na sintonia do rádio para ouvir de novo essa gravação.

Talvez seguir a gravação lhes dê algo que há muito tempo se encontrava perdido: a esperança.

Enquanto Devon continuava dirigindo o carro em direção ao shopping, outro veículo o seguia há uma distância segura para que não fosse visto. Agora os seis estavam dormindo e Devon estava concentrado na estrada à sua frente e não olhava pelo retrovisor.

– Que merda! Essa porra de carro não tem rádio! – Disse um homem no banco do passageiro – Sabe o que o Matt disse... só vamos segui-los, descobrirmos onde eles moram, voltar e depois atacá-los com força máxima.

– Eu sei disso – Disse o motorista.