Wendy continuava sentindo contrações fortes na barriga e gemia de dor. Owen se aproximou da garota para ajudá-la, só que ela, não conhecendo o homem mascarado, se afastou de medo, pensando que ele poderia fazer algo ruim à ela. Wendy tropeçou em alguns entulhos que tinha no chão e ia cair, mas James usou seu reflexo e agiu rapidamente, segurando a garota e evitando que ela caísse de costas no chão.

– O que você tem, garota? – Perguntou Owen, que não se aproximou mais – É o bebê? Ele vai nascer?

Wendy apenas balançou a cabeça positivamente, tentando conter seus gemidos de dor. James recolocou a garota em pé e se colocou na frente dela, a protegendo de qualquer ato que Owen pudesse fazer.

– Eu posso ajudá-los, eu fui médico a minha vida toda... – Disse Owen, se mantendo parado.

– Não podemos confiar em você... – Ia dizendo James, mas foi interrompido.

– Deixe ele ajudá-los – Disse Mark, saindo da loja que estava escondido – Wendy precisa dar à luz em segurança.

Todo o grupo de Nadin se surpreendeu ao ver o Mark surgir daquele jeito, menos Dave que não se lembrava dele, e Harry que estava desmaiado. Nadin, Wendy e Emily esboçaram um pequeno sorriso no rosto ao vê-lo.

Mark viu que o Benjamin não estava presente entre eles e já deduziu que o mesmo estava morto. Ele suspirou e se aproximou de Wendy, e junto com James carregaram a garota para um local que fosse apropriado para um parto.

Eles levaram Wendy para uma loja de roupas femininas, que não estava tão destruída quanto as outras lojas. Eles colocaram a garota deitada em um balcão grande, improvisando uma maca. Owen teve que improvisar os materiais que tinha em sua mochila para ser equipamentos de médico, e mais especificamente para se fazer um parto.

Wendy estava deitada no balcão e com as pernas abertas, forçando o bebê pra fora. Owen estava na frente da garota, falando palavras para acalmá-la e para incentivá-la. A garota gritava de dor, que parecia ser insuportável. Mark e James estavam dentro da loja junto com Owen, porém os dois estavam em silêncio e apenas observando a cena.

Do lado de fora, todo mundo estava esperando e ouvindo os gritos ensurdecedores. E esses gritos deixavam os sobreviventes apreensivos por motivos óbvios.

– Acho que a cabeça já está aparecendo! – Exclamou Owen.

Wendy respirou fundo ao ouvir, e continuou fazendo força para empurrar seu bebê. Agora os gritos dela são ainda mais ensurdecedores por serem mais agudos e altos. E então o que Owen disse se concretizou, a cabeça do bebê podia ser vista claramente saindo da vagina da garota. Tudo caminhava para um parto de sucesso.

Mas dois seres não convidados entram no local onde eles estavam, ambos infectados saíram de uma salinha que tinha na loja e se aproximaram dos sobreviventes. Um dos infectados agarrou a camisa de James e aproximou sua boca pútrida do pescoço do ex-lenhador, porém o rapaz foi mais ágil que o infectado e enfiou sua faca na jugular do mesmo, o eliminando. O outro infectado segurou o braço esquerdo de Wendy e a puxou, mas antes da garota cair do balcão, Mark penetrou sua faca no crânio do infectado e o eliminou.

O ex-militar reendireitou o corpo de Wendy no balcão. A garota suspirou fundo aliviada, faltou pouco para o parto ir por água abaixo. Wendy respirou fundo e voltou a empurrar o bebê pra fora do seu corpo.

Owen colocou suas mãos na metade do corpo frágil do bebê que nasce, apoiando as mãos no corpo e segurando o mesmo. A garota continua fazendo seu trabalho, usando o restante de força que tinha.

– Está quase! Continue assim! – Exclamou Owen.

Agora Mark e James estavam mais atentos para não acontecer nenhum outro imprevisto. Wendy continua gritando de dor e empurrando seu bebê, até que ele finalmente nasce. Owen segurou o bebê no colo e logo cortou o cordão umbilical. Wendy relaxou seu corpo e respirou aliviada depois de toda essa sessão de dor e desespero.

– É um menino! – Owen segurava em seus braços o garotinho repleto de sangue.

Ele levanta um pouco a criança e dá dois leves tapas nas costas de mesma, fazendo com que ele chorasse, um choro fino e inocente. Uma vida nova acabava de surgir em meio ao um apocalipse. Wendy respirava fundo e ofegante, mas com um sorriso enorme em seu rosto, assim como Owen que olhava pra vida mais jovem daquele mundo. Até mesmo os durões Mark e James abriram um sorriso ao ver a criança.

Owen se aproximou de Wendy e mostrou o bebê pra garota, que acabou caindo no choro. Wendy usou sua última reserva de energia para se sentar no balcão e segurar seu filho no colo. Ela continuava chorando enquanto acariciava e aninhava seu bebê, ela chorava mas tinha um sorriso de orelha a orelha no rosto.

– Meu bebê... – Disse com a voz fraca e quase inaudível, limpando o rosto manchado de sangue do seu filho.

– Parabéns, Wendy – Disse Mark, se aproximando da garota para olhar o bebê mais de perto.

– Parabéns! – Repetiu James, também se aproximando para olhar o filho de Wendy e Harry.

– Já tem um nome pra ele? – Perguntou Owen, de forma ansiosa.

– Sim... vou chamá-lo de Harry Jr.(*) – Respondeu Wendy, olhando fixamente pro seu bebê.

Harry Jr.(*) é branco, tom de pele igual ao do pai, seus olhos são verdes claros igual ao da mãe, cabelos ralo e aparentemente preto, lábios rosados igual ao da mãe, nariz também igual da mãe. Seu porte físico é um pouco a cima do normal para um recém-nascido, então toda a fome que Harry passou não foi em vão. Pode se dizer que Harry Jr.(*) é 75% parecido com a Wendy, 20% com o Harry e os outros 5% com os avós maternos e paternos.

O parto foi realizado com sucesso, apesar dos dois infectados darem um susto nos quatro sobreviventes, tudo ocorreu muito bem e não tiveram muito problema. O bebê nasceu saudável. Harry permanecia desmaiado e por isso não presenciou o nascimento do seu filho. Depois do parto, todo o grupo seguiu o caminho em direção do local onde a esposa de Owen, Rose, iria encontrá-los.

Chegando lá, os sobreviventes entraram em uma loja de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, todos eles abandonados e a maioria quebrados. Rose estava sentada em uma cadeira que tinha uma mesa na frente, e isso fazia parecer que ela era chefe de todos os sobreviventes que trabalhavam no local. Lucy e Danyel estavam em pé ao lado dela, parecendo que eram seguranças de Rose.

– Por favor, sentam-se – Disse Rose, apontando para algumas cadeiras velhas que tinham ali, além dos produtos da loja que serviam como um banco ou cadeira improvisada.

A maioria dos sobreviventes se sentaram, alguns ficaram em pé porque não tinha assento para todos. Mark, Owen, Nadin, Stefan, James e Ariel ficaram de pé. Dave e Tom conseguiram colocar o corpo de Harry sentado em uma cadeira e ambos sentaram ao lado do ex-professor.

– Vocês são muitos... levarei dias para analisar todos vocês – Voltou a dizer Rose, se levantando e começando a caminhar entre os sobreviventes.

– Querida, sei que priorizamos a democracia, mas esse rapaz aqui é o líder deles – Disse Owen, se referindo ao Mark – Como eles não vivem uma democracia, acho que ele pode responder pelo grupo.

– Como se chama, rapaz? – Perguntou Rose.

– Mark Phillips.

– Mark... hmm... – Rose olhava fixamente pro ex-militar, ele retribuía o olhar – Há quanto tempo você tem esse grupo?

– Muito tempo. Não sei exatamente quanto tempo – Respondeu Mark – Alguns eu conheço há mais tempo que outros, durante o tempo nós acabamos perdendo uns e recrutando outros.

– Então você aceita pessoas novas no seu grupo... isso é bom – Disse Rose, ainda olhando fixamente os olhos do ex-militar – O que você já fez pra manter seus amigos em segurança?

– Matei meu irmão mais velho.

Ao ouvir isso, toda a calmaria e frieza de Rose desapareceu instantaneamente. Ela arregalou os olhos, engoliu em seco e se afastou um passo do ex-militar. Algumas pessoas tiveram a mesma reação de Rose, menos a parte de se afastar. Stefan não sabia disso, e ao saber sentiu mais raiva e medo de Mark.

– Mas ele se tornou contra mim e contra meu grupo, ele era meu inimigo – Completou.

– Como? Me conte como isso aconteceu.

– Eu não vivia com ele quando os mortos se levantaram – Falar sobre isso fazia Mark lembrar da tragédia que aconteceu com sua família – Eu morava com meu tio há anos, e quando essa merda de apocalipse começou, eu não tinha notícias do meu irmão. Pensei que ele estivesse morto.

Mark havia contado essa história para Dave, só que o texano não se lembrava disso, e quando ouviu essa história, ele não teve nenhuma lembrança ou flashback. O ex-militar pensou que Dave iria se pronunciar e falar que isso era verdade, mas o texano ficou quieto e não falou nada, deixando Mark aliviado, pois ele não queria que os outros soubessem que ele tinha contado essa história somente para o Dave.

– Bom, ouvindo isso me faz pensar que você e seu irmão não tinham uma boa relação, certo? – Perguntou Rose, e o ex-militar assentiu – É, eu entendo o seu lado... Mas mesmo assim, matar o próprio irmão é crueldade demais.

– Não se pode viver atualmente sem ter sangue em suas mãos – Rebateu Mark, de forma totalmente fria.

– E como se sentiu quando matou seu irmão? Feliz ou triste? – Perguntou Rose, tentando colocá-lo contra a parede.

– Nós estamos rodeados pela morte. Faz parte da nossa vida agora e não há nada que possamos fazer – Respondeu mais uma vez friamente.

– Mataria outra pessoa que ama para sobreviver?

– Se a pessoa se tornar contra mim e contra meu grupo... sim, eu mataria – Respondeu Mark, olhando fixamente os olhos de Rose – Não podemos ser fracos. Estamos literalmente em uma selva, e não somos mais o topo da cadeia alimentar!

– Se ser fraco significa não matar o próprio irmão, então eu devo ser fraco mesmo – Disse Stefan.

O ex-empreendedor simplesmente não aguentava mais ouvir as respostas de Mark e ficar submisso à todas decisões que o mesmo tomava. E para Stefan, essa era a hora perfeita de se voltar contra Mark, na frente de Rose e Owen, mostrando que ele não era um simples mero peão de xadrez daquele grupo.

– Você é surdo, Stefan? – Perguntou Mark, ironicamente. Ele nem olhou para o ex-empreendedor, ele manteve seu olhar em Rose – Vai ficar contra mim? Não ouviu o que acabei de falar?

– Cala a boca, seu filho da puta! Estou cansado de seguir você! Você é um louco! Você matou o John, tenho certeza! – Stefan berrava, estava fora de si. Ele deu um passo em direção do ex-militar mas foi impedido por Ariel.

– Não! Esqueceu o que eu disse pra você e John? Não é pra ficar contra o Mark! – Disse Ariel, segurando Stefan com a ajuda de Bernard.

– Ah, você e John estavam planejando ficar contra mim? Então você é muito burro mesmo. Acabei de falar que eu mataria quem ficasse contra mim... e você acha que eu matei John, e ele estava querendo ficar contra mim. Ligou os pontos? Entendeu o que quero dizer?

– Você vai me matar? É isso que tá querendo dizer? – Perguntou Stefan, nitidamente irritado.

– Só se você me der motivos. Então tenha cuidado – Respondeu Mark, de forma irônica – Não me provoque, criança – Mark tombou sua cabeça pro lado e olhou para Stefan com um olhar e sorriso insano(**).

– Tá bom! Já chega! – Exclamou Rose, chamando a atenção de todos – Já vi que nem todos vivem em harmonia, o que é normal... todos temos problemas e mal entendidos. Vamos ter que separá-los.

– Então quer dizer que passamos na avaliação? – Perguntou Mark, voltando a olhar pra Rose – Tão fácil assim? Sério?

– Eu pude ver que você foi totalmente honesto e sincero conosco. Pra mim é o suficiente para aprová-los na avaliação – Respondeu Rose.

– Mas e as outras pessoas, Rose? Você não fez nenhuma pergunta para elas – Questionou Danyel.

– Dan, se está achando ruim o que estou fazendo, você pode ficar com o meu papel e fazer as perguntas para eles, se acha que pode fazer melhor do que eu – Retrucou Rose.

– Me desculpe, senhora – Danyel abaixou a cabeça e ficou calado.

– Muito bem, então vamos seguir caminho – Disse Rose, saindo do local onde estavam e guiando todos os sobreviventes.

Rose levou todo o grupo para um lugar do shopping onde não tinha as barricadas e infectados dentro das lojas. A mulher abriu um portão improvisado no meio dos corredores do shopping, mostrando que esse lugar onde estavam no momento era totalmente diferente do restante do shopping. As vidraças de algumas lojas eram pintadas com spray preto para que as pessoas que estivessem do lado de fora não vissem as pessoas do lado de dentro, outras lojas tinham vários papelões ou papéis de jornais colados nas vidraças com fita adesiva ou fita crepe, e isso formava uma cortina improvisada.

– Lucy, por favor mostre onde eles dormirão – Pediu Owen, de forma educada.

– Você, venha comigo – Chamou Rose, olhando para Stefan. Ele assentiu e seguiu a mulher.

Rose levou Stefan para uma loja que era usada como despensa de suprimentos, e essa despensa estava quase vazia. A mulher se sentou em uma cadeira e convidou o ex-empreendedor a fazer o mesmo. Os dois ficaram em silêncio por cerca de um minuto, apenas trocando olhares.

– Qual é o seu problema com o Mark? – Perguntou de forma objetiva e direta.

– Quando eu o conheci, eu não tinha problemas com ele... – Stefan se lembrou da época do vilarejo. Nessa época ele tinha problemas com James – Mas a partir de duas semanas pra cá eu e ele tivemos vários conflitos.

– Quais os motivos?

– Fomos encurralados por um grupo de loucos que queriam nos matar. Todos, menos eu, estavam rendidos e um cara desse grupo abusou sexualmente da namorada dele, e o Mark me culpou por isso – Stefan fez uma breve pausa, se lembrando desse momento ruim – Eu estava escondido e esperando o momento certo para atacar. Mas eles estavam em vantagem e eu não podia atacar um deles porque os outros iriam matar as pessoas do meu grupo, entendeu? – Stefan respirou fundo, passou sua mão direita sobre o rosto, se lembrou de algo que tinha esquecido e continuou: – Ah, esqueci disso... Tinha um cara do nosso lado, o Jones, ele estava escondido também... mas agiu por impulso e fez merda. Ele atirou em um rapaz, se não me engano, mas os outros capturaram o Jones e foi aí que aconteceu a merda toda. Eu não pude fazer nada.

– Entendi. Então o Mark culpou você pelo que aconteceu com a namorada dele? – Perguntou Rose, e Stefan balançou a cabeça positivamente – A partir disso você e ele começaram a ter conflitos? – Stefan apenas balançou a cabeça mais uma vez.

– O problema é que o Mark mudou depois que isso aconteceu. Antes ele não era desse jeito que é hoje, sabe? Atualmente ele está agindo como um louco, nem parece que é a mesma pessoa que conheci há meses atrás.

– Acha que ele pode voltar ao que era antes?

– Sinceramente? Não.

– Porque acha isso? – Perguntou Rose.

– Ele mudou completamente, ele age diferente até com a namorada. Parece que ele nem se importa com ela, e com ninguém do grupo – Respondeu Stefan.

– Sabe o que Mark era antes do apocalipse? Qual era a profissão dele?

– A Ariel me disse que ele era soldado.

– Ariel é a namorada dele, aquela garota que te segurou? – Perguntou Rose, e Stefan assentiu novamente.

A conversa foi interrompida por um grito de desespero chamando a Rose. Ela levantou e saiu correndo da despensa rapidamente, parecia ser algo urgente.

Rose parou e ficou em choque ao ver a cena, logo começou a escorrer lágrimas de seus olhos. Ela estava vendo seu filho todo machucado e ensanguentado sendo carregado por outro rapaz, porém o seu filho estava vivo.

– O que aconteceu?! – Perguntou Rose, desesperada.

– Ele foi torturado... Todos os outros estão mortos. Um bando de loucos nos capturaram e torturaram o Aaron – Disse o rapaz, ainda carregando Aaron – Eles não encostaram um dedo em mim, disseram que eu seria o mensageiro deles e que viria mais disso.

Owen apareceu no local e ficou chocado ao ver seu filho naquele estado crítico, à beira da morte. O idoso ajudou o rapaz a carregar e levar o seu filho Aaron para um cama, e em seguida começou a cuidar do seu filho.

– Liam?! É você? – Perguntou Wendy, segurando o seu bebê no colo.

– Wendy?! Meu Deus! – Exclamou Liam, nitidamente surpreso ao ver uma antiga amiga no meio desse mundo condenado.

– Vocês se conhecem? – Perguntou Owen, sem olhar para os dois, ele estava concentrado em seu filho.

– Sim, eu conheci ele em um internato – Respondeu Wendy – Nossa, quanto tempo! Não imaginava que iria te encontrar novamente.

– Quem imagina encontrar um conhecido no meio desse caos? – Perguntou Dave, que estava ao lado de Wendy, de forma retórica.

– É verdade... – Disse Wendy.

– Dave?! Caramba, é você mesmo! – Voltou a exclamar Liam, correndo em direção de Dave e se jogando em cima dele, o abraçando.

– Você me conhece? – Perguntou Dave, confuso – Quem é você?

– Como assim? – Ao ouvir isso, Liam desfez o abraçado e se afastou um pouco de Dave, o olhando fixamente – Não se lembra de mim? Ah, já sei! Você está fazendo piada, como sempre faz! – Riu.

– Não... eu realmente não sei quem é você – Disse Dave, de forma séria.

– O que aconteceu com você, irmãozão? – Perguntou Liam.

– Ah... Ele perdeu a memória, Liam – Disse Wendy, se lembrando do acontecimento – Ele bateu a cabeça e esqueceu de quase tudo do seu passado.