James era um homem frio e quieto, afastado de todas as pessoas do seu grupo. Ele tinha se aproximado um pouco de Harry pelo fato do ex-professor ter deixado ele dar uma volta em sua Harley-Davidson. James raramente aceitava alguma ordem ou pedido de Stefan, ou de qualquer outra pessoa do grupo. Pode-se dizer que sua personalidade era arrogante e misteriosa, considerando que James conhecia Stefan há meses e nunca tinha falado do seu passado para ele, e para nenhuma outra pessoa.

– Esse maldito... – Sussurrou Stefan.

– Não entendo esse cara, ele é estranho... – Disse Jarold, terminando de comer seus pêssegos enlatado.

– É um filho da puta – Disse Stefan, em voz baixa.

– Quem é filho da puta? – Perguntou Benjamin, entrando na sala.

– Ninguém. Ben, preciso de um favor seu – Voltou a dizer Stefan – Quero que você tente descobrir o motivo daquela loira ter batido na ruiva, fale com o cabeludo, acho que ele e a loira são namorados.

– Wendy brigou com Chelsea? Como assim? – O fato de Benjamin saber os nomes surpreendeu um pouco o Stefan.

– Você sabe os nomes deles?

– Claro, eles falaram seus nomes no dia que chegaram aqui, não lembra?

– Sim, eu lembro, mas sou péssimo em decorar nomes e acabei de conhecê-lo, mas que seja, isso não importa – Disse Stefan, se levantando da poltrona e se posicionando na frente de Ben – Pode fazer isso por mim? – Pediu de uma forma educada, para garantir que Ben não fizesse o mesmo que James.

– Claro, pode deixar – Disse Ben, e em seguida se retirou do local.

Benjamin era um jogador de pôquer e por conta disso ele podia usar suas habilidades do jogo no diálogo que iria ter com Harry, e foi exatamente isso que Stefan havia pensado. Stefan havia tentado falar com Harry, e não teve sucesso no seu objetivo, e Stefan sabia perfeitamente que não tem habilidades de lábia e blefe como o Benjamin possui.

[...]

Mark e Ariel estavam no campo que era um pouco afastado do vilarejo, ambos estavam andando em direção a uma imensa árvore, sentaram-se no gramado e encostaram-se sobre o tronco da árvore.

– O que quer conversar a sós comigo? É tão importante assim? – Perguntou Ariel.

– Acha que esse lugar é seguro? – Perguntou Mark, ignorando as perguntas de Ariel e desviando o assunto.

– Sim, totalmente seguro – Respondeu Ariel, olhando para o horizonte – Não vimos nenhum mordedor desde que chegamos aqui, não é mesmo? Então, sim, eu acho esse lugar muito seguro.

– Mas podemos ser atacados por pessoas igual aqueles Retalhadores... – Mark também olhava para o horizonte, mas abaixou a cabeça quando terminou de falar.

– Mark, você não devia ficar se lembrando disso, são águas passadas. Você deve pensar no futuro, no que vamos fazer daqui pra frente – Disse Ariel, desviando seu olhar para o amigo ao seu lado.

– Sam, Mike e Seward morreram naquela cidade por minha culpa, e isso pode acontecer aqui também. E o Paul, se eu tivesse mantido o grupo unido ele não estaria morto, é minha culpa também – Mark permanecia de cabeça baixa.

– Não é sua culpa, essas coisas acontecem... Você não deve se culpar por essas coisas ou você ficará louco, Mark. Deixa eu te contar uma coisa... logo no começo desse caos eu e minha família estavámos fugindo do nosso bairro quando eu me perdi deles no meio da multidão, mas ao invés de procurá-los eu continuei fugindo para achar um lugar seguro – Ariel também abaixou sua cabeça – Me sinto culpada por isso, sabe? Não sei se eles estão vivos e para ser sincera acho que nunca mais irei vê-los novamente. E depois disso, eu entrei em um grupo e quando eles foram atacados por uma horda daquelas criaturas, eu simplesmente fugi sem ajudá-los... eles me ajudaram quando eu estava morrendo de fome e de sede e eu virei as costas no momento que eles mais precisavam de mim. Também me sinto culpada por isso – Ariel levantou a cabeça e viu que Mark a olhava – Mas eu não fico pensando nessas coisas o tempo todo, pois se eu ficasse provavelmente iria enlouquecer. Peço que você faça o mesmo que eu.

– Você tem razão... Vou parar de pensar nessas merdas! Obrigado Ariel, muito obrigado mesmo...

Quando Ariel ouviu os agradecimentos de Mark, suas bochechas se coraram e ela desviou o olhar. Mark se levantou e começou a caminhar de volta pro vilarejo medieval, junto com Ariel que caminhava ao seu lado.

[...]

Anne estava em um quarto que tinha três paredes rosas claro, e uma parede com um grande desenho de um castelo com uma princesa em uma das torres. Tinha vários desenhos de unicórnios, corações, ursinhos e todo tipo de coisas de um quarto infantil feminino, esse quarto pertencia a Emily.

Emily estava sentada em cima de um tapete no chão no centro do quarto, em suas mãos haviam bonecas e ursos de pelúcia. Anne estava sentada na cama de Emily, olhando a garotinha brincar.

– Quer brincar comigo? – Perguntou Emily, usando um tom de voz muito doce e amigável.

– Claro, mas não pense que sou uma criança – Anne falou de uma forma para fazer Emily rir, e de fato ela riu.

– Você não é adulta ainda, então ainda é criança – Disse Emily, brincando junto com Anne.

– Tenho dezessete anos, pode-se dizer que eu sou jovem – Anne sorria, depois de tanto tempo sem sorrir ela sentiu um pequeno desconforto nas bochechas.

Anne nasceu em Tóquio, Japão, filha de uma casal de escritores, viu os pais se separarem quando tinha seis anos, desde esse momento, percebeu que sua infância não seria como a da maioria das meninas da sua idade. Talvez pela ausência familiar, a garota passou a se interessar muito pelos livros, praticamente devorando os de aventura e os contos clássicos ingleses. Tornou-se fluente na língua inglesa aos doze anos e então se mudou para os Estados Unidos junto de seu pai, que conseguiu fundar uma editora de livros. Aos dezesseis anos Anne começou a escrever e dedicar o seu tempo nisso, conseguiu publicar apenas um livro de romance japonês com apoio da editora do seu pai. Sua mãe permaneceu no Japão e Anne sempre mandava cartas para ela e conversavam online pelo menos uma vez por semana.

Um ano depois disso o apocalipse se instarou na terra e isso fez com que Anne abandonasse completamente a caneta e o papel, ela nunca mais escreveu nada apesar de ter várias ideias na cabeça. Tinha uma irmã oito anos mais nova e Emily lembrava muito ela, o seu jeito meigo e dócil, inocente e carinhosa, era exatamente igual a sua irmãzinha. Lágrimas escorreram pelo rosto de Anne, que passou seu antebraço rapidamente sobre o rosto para limpá-lo, mas não foi rápida o suficiente para que Emily não notasse.

– O que foi? Porque está chorando? – Perguntou Emily, agora usando um tom de voz triste e preocupada.

– Não é nada, querida. Vamos continuar brincando, tá bom?

[...]

Lizzie, Vincent e Reece estavam jogando xadrez, isto é, dois deles jogavam enquanto um esperava o perdedor para jogar no lugar do mesmo. Lizzie por ser mais velha e mais experiente que os garotos, estava ganhando todos os jogos.

– Você joga isso muito bem! – Disse Vincent, de forma eufórica

– Você também joga bem para uma pessoa que aprendeu a jogar há três anos – Disse Lizzie, dando xeque-mate no Reece usando um cavalo.

– Você já jogou campeonato de xadrez ou algo do tipo? – Perguntou Reece, dando licença para que Vincent jogasse com Lizzie.

– Já... acho que mais ou menos dez vezes. Ganhei duas vezes e fiquei em segundo lugar uma vez – Disse Lizzie, começando a jogada movendo um peão branco duas casas à frente.

– Que maneiro! – Voltou a dizer Vincent euforicamente.

– Acho que ser campeão de surfe é mais maneiro do que xadrez! – Disse Lizzie para animar ainda mais o garoto.

Lizzie nasceu em Londres em uma família inglesa tradicional, seu pai era bancário e sua mãe ficava em casa cuidando dela e fazendo serviço doméstico. Ela começou a jogar xadrez ainda na sua infância incentivada por seu pai, que era um profundo admirador do jogo / esporte. Quando completou dezoito anos, estava cansada do tratamento rígido dos pais e decidiu juntar dinheiro para se mudar para os Estados Unidos e começar uma nova vida na América. Aceitou um emprego de garçonete em uma boate para se manter nos albergues da região, até que conseguiu juntar uma grana para fazer faculdade de História. Lizzie estava sem contato com seus pais há dois anos, e cursando a faculdade com o mesmo tempo, e foi quando o apocalipse começou.

– VOCÊ É UM IMBECIL, SEU FILHO DE UMA PUTA ARROGANTE! – Stefan gritava a plenos pulmões.

Os três saíram para fora da casa e viram Stefan gritando com James no meio da rua, James estava de braços cruzados, apenas encarando Stefan sem dizer uma palavra se quer.

– O que está acontecendo? – Perguntou Lizzie, se aproximando dos dois. Logo o restante do grupo estava na rua observando os dois.

– Cala a boca! Não se intrometa nisso! – Respondeu Stefan, mantendo seu olhar fixo em James.

Stefan estava nitidamente alterado naquele momento, parecia que ia explodir literalmente como se fosse uma bomba. Na verdade, ele estava com raiva das atitudes arrogantes de James, os dois se conheciam há meses e James sempre foi desse jeito e nunca foi amigável com ninguém do grupo, exceto Benjamin, que uma vez ou outra conversava um pouco com James, mas era coisa de vinte minutos no máximo. Outra coisa que estava deixando Stefan com raiva, era que James raramente aceitava uma ordem ou pedido dele.

Stefan deu um passo em direção de James, mas antes de chegar mais perto do que esse único passo, James deu um soco forte no rosto de Stefan, que caiu no chão desmaiado.