Lives

Capítulo 35


Capítulo 35

Julgamento

Sentado, observando a Dra. Peterson, desgostosa, Conrad Murray pensava: Não sairá daqui sem algemas e humilhada, querida. Depois ele sorriu a si mesmo. Até que a sacana é bonita...

Um observador desinteressado a descartaria como uma mulher atraente. Outro mais atento teria notado que todas as diferentes fases da vida coexistiam nela. Havia a criança, a adolescente e então a mulher. Pairava sobre ela o ar da inocência.

É o tipo de garota que um cara se orgulharia de levar para casa, apresentar a mãe..., pensava Murray, cético.

E casar com ela..., Michael delirava em seus pensamentos e planos.

Se sua mãe apreciasse doutoras incompetentes e ingênuas, continuou Murray.

Não sabe o que lhe espera, Conrad. Não sabe mesmo..., Sarah parecia ler os olhos dele.

Naquela manhã de sol fraco, Michael havia encerrado seu depoimento, dando a inocência a ambos os acusados, e culpando-se pela falha de Conrad. E então, não havia outro clima. Eram olhares indiretos para lá e cá, tensão, expectativas, medo... Esperança. O silêncio era tanto, e perturbador, que se podia ouvir um estalar de dedos.

Estava exatamente assim naquele tribunal de Santa Mônica.
Mas então, as portas rangeram ao abrirem e baterem com violência. Todos torceram os pescoços para olhar a ousadia.
Uma mulher de cabelos lisos e corpo esguio rumou à bancada do juiz com seu scarpin golpeando o piso. Deixou lá um gravador, e virou-se para seus espectadores, aturdidos.
Murray exclamou, surpreso:

- Alícia!

Carl indagou:

- Cinthia?

Ela exibiu um emblema:

- Olá, Murray. E a propósito, me chamo Cinthia Campbell e trabalho para o FBI. – Voltou-se para a plateia. – E tenho provas que Conrad Murray planejava assassinar Michael Jackson com mais três comparsas, cujos nomes estão em conversas nesse gravador. – Mostrou-o. – Estão incluídos o representante da AEG Live e o dono de uma farmácia em Houston, mesmo local do consultório de Murray. Provo aqui também, sobre o suposto acidente de Matthew e Sarah, cujo Matthew infelizmente não resistiu. Tudo minuciosamente e precisamente articulado.

A vadia armou tudo, pensava Murray, enfurecido.

Houve um intenso burburinho.

- Silêncio! Silêncio!- Berrou o juiz.

Continuavam a ouvir o deslizar desesperado dos lápis sobre os bloquinhos dos repórteres de plantão.

Os policiais que se achegavam para colocá-la para fora, recuaram.

- Trabalha para o FBI? – Carl estava incrédulo. – Como que eu nunca soube disso?

- Oh, querido, lamento. Conversamos sobre isso depois em casa. – Virou-se para o juiz. – Preciso que ouça a gravação.

- Está atrapalhando o julgamento, Sra. Campbell.

- Garanto que me agradecerá depois.

Ela não desistiria.

- É o que veremos. Reproduza-o.

Quando terminou, não havia sequer o que pensar ou duvidar. O juiz virou-se para Conrad:

- Prazo de seis meses... é isso mesmo, Dr. Conrad? – Ele voltou-se para o público. – Declaro a ré, Dra. Sarah Peterson, absolvida. Inocente!

Alguém gritou – Provavelmente um repórter:

- Dra. Sarah tem um caso com o Sr. Jackson! – E exibiu uma foto.

O juiz mirou o autor da ousadia.

- No meu tribunal, na minha está sessão isso não convém ao caso. Nem acrescenta e muito menos diminui. Caso encerrado. – e então, ele bateu o martelo.

Havia uma impressão quase sinistra de distanciamento em seus olhos, uma expressão que dizia que Peterson recuara para dentro de si mesma, para um local desconhecido a todos que a fitaram sem compreender a sua ausência de reação. Sarah estava longe do tribunal frio em que se viu acuada.

Jackson correu para junto dela sem dar a menor importância às consequências que seu ato poderia lhe causar. Agarrou Sarah e sacudiu-a. Ela parecia indiferente, impassível. Viu os olhos dele emocionados e nada sentiu. Viu seu largo sorriso. Sem reação.

- Sarah! Sarah! – Michael a chamava, desesperado, quase gritando. – Você escutou?

Gerou-se então um silêncio mútuo. Peterson olhou-o. Nada disse.

- Você está inocentada! – Exclamou ele. – É inocente!

Sarah se afastou de Michael e caminhou até Murray, que recebia as algemas. Ele estava de costas quando Peterson chegou.

- Com licença. – Pediu ela a um dos policiais.

Sem entender, o homem fardado virou-se e olhou-a. Durou mesmo de um segundo. Todos a olhavam. E não houve tempo para qualquer desvio, Sarah golpeou Murray no olho esquerdo. Formou-se uma rodela roxa e inchada.

- É só pra você começar a se acostumar com o que terá todos os dias na cadeia, seu imbecil! – Vociferou ela sendo arrastada à força, se debatendo entre os policiais. Soltou-se, lançou um último olhar para ele e voou para os braços de Michael, sorridente: - Eu o amo, Michael. Eu o amo! – Beijou-o.

O automóvel policial se encontrava cercado de gente. Havia uma euforia geral, e a situação estava embaraçosa demais para se conseguir a ordem. Murray, acompanhado pelos oficiais, seguia para fora. Michael, apressado, esgueirava-se entre a multidão ansiosa em agarrá-lo. Por sorte, alcançou Conrad que ao vê-lo, sentiu-se iluminado.

Michael vai me tirar dessa, sei disso. Ele confia em mim. Murray sentia-se esperançoso.

Mas não. Jackson lhe acertou pesado e direto no nariz. Murray desequilibrou-se para trás e caiu. O nariz mergulhara em sangue. Gritou:

- Seu pedófilo desgraçado! – Estava sufocando no próprio sangue. – Quebrou meu nariz! – A voz nasalada. – Seu filho de uma...

- Que pena – desdenhou Michael. -, vi que errei a pontaria... Eu deveria ter quebrado sua cara!

Jackson virou-se e saiu. O mar de gente delirou.

Deus, me perdoe. Eu sei o quanto isso é ruim, mas não posso controlar. Como eu odeio aquele homem!

- Muito obrigado, Sra. Campbell. – Agradeceu o juiz.

- Foi um prazer.

No mesmo dia, Sarah mudou-se para a residência de Michael. Prince e seus irmãos pararam em sua frente.

- Desculpe, doutora. – Falou Prince.

Michael sorriu. Sarah abraçou-o.

- Está tudo bem, Prince. Eu sabia que ainda entenderia. Me chame de Sarah, se quiser.

- Não. Creio que mãe nesse momento –olhou para o pai -, é mais apropriado.

Prince limpou a lágrima que contornou a maçã de Peterson.

- Fico feliz por estar com o meu pai. – Confessou Paris. – Sei que o ama de verdade.

- E como! – Sorriu. – Amo seu pai e também a vocês.

- Legal, você poderá brincar com a gente no próximo dia do papai! – Exclamou Blanket, sem entender muito a situação. – Poderemos nos sujar com chantilly e calda de chocolate! – Pulou nos braços do pai. – Não é pai?

Michael assentiu, sorridente.

Casaram-se dia seguinte, numa cerimônia reservada apenas para próximos. Dr. Willian foi o padrinho.