Lives

Capítulo 33


Capítulo 33

- Dra. Peterson está viva.

Murray revirou os olhos.

- Como se eu já não soubesse. – Desdenhou. – Por que acha que a polícia e os jornais andam atrás de mim? Aquela imbecil me denunciou.

Aqueles idiotas não fizeram o trabalho.

- Oh, Conrad, eu preciso sair daqui. Não suporto mais essas crianças, esses empregados... essa casa!

- Só mais um tempo. Eu preciso que fique para que me dê informações.

- Por você, amor. Estou com saudades. Preciso vê-lo.

- Também estou. – Mentira. – Mas não podemos ser vistos juntos. É arriscado.

“Chamando, Alícia”, leu Murray no visor do celular.

- Tenho medo que me descubram sobre a troca do medicamento.

- Isso não acontecerá, querida. – Confortou-a. – Eu preciso desligar. – Alícia está me chamando. – Eu te amo.

A linha emudeceu. Ela se virou. Dowall estava lá.

- Morgan?!

- Alícia, minha amada. Como está?

- Melhor agora, querido.

- Oh, digo-lhe o mesmo. Estou louco para te ver...

- É por isso que estou a caminho.

A campanhia tocou. E a figura de pijama se movimentou até a porta.

- Carl? O que faz aqui?

- Ora, como assim “o que faço aqui”? Eu moro aqui. – Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Estou de folga!

- Bom pra você. – Honey entrou. Olhou para toda a sala. – Essa casa está uma bagunça! Onde está Cinthia?

Carl voltou para o sofá e apontou o controle para a TV.

- Disse que precisava sair. Faz uns dez minutos.

Honey suspirou.

- Tudo bem. Avise-a que trouxe o vestido que me emprestou. Vou subir e guardá-lo.

Ajeitou a peça e guardou-a. Já estava indo embora quando reparou em uma gaveta aberta – era uma verdadeira detalhista metódica -, aproximou-se para fechá-la.

- Mas o que é isso?

Haviam inúmeros recortes de jornais e revistas de Sarah e Murray sobre as acusações de negligência e suposta tentativa de homicídio em Michael Jackson. Mas isso já é loucura!, pensava Honey, atordoada, ao olhar para cada reportagem.
Mais ao fundo encontrou documentos em nome de Alícia Mitchew.

Kinsey estava apressada ao rumar para a SE dois quando ouviu berros vindos da sala diretiva.

- Não vou descansar até vê-lo atrás das grades! – Ameaçou Sam, descontrolado. – Todos saberão que furta os medicamentos da farmácia.

Wallace rodeou Sam, e falou sarcástico:

- Não sou eu o viciado, Sam. Em quem você pensa que acreditarão? Você quis se juntar a mim...

- Prometeu que dividiria os lucros! – Protestou ele.

Sam queria socá-lo.

- Me escute – continuou Wallace. -, eu lhe avisei para que tivesse cautela, que poderia comprometer seu rendimento no hospital. Foi necessário tirá-lo da equipe. – Ou desconfiariam de mim. Wallace arriou-se confortavelmente na cadeira estofada. – “Entrar nesse negócio” foi o melhor que fiz na vida! – Riu. Olhou para Sam e sorriu insinuante. – E se sua moral baixou com a inútil da Peterson... oh, lamento... mas isso não é problema meu.

Sam agarrou-o pela camisa erguendo-o, e o pôs contra a parede. Kinsey – muda -, presenciando a tudo, se sobressaltou deixando-os a saber que alguém os observava.
Kinsey fugiu.

- É o Sr. Peterson? – Perguntou o homem fardado.

- Sim, eu mesmo.

- Siga-me.

Ben passou para uma pequena sala cinza incrementada por uma mesa de dois assentos de pés enferrujados. Um fio de luz entrava por uma minúscula janela ao alto da parede.
Ben Peterson sentou-se, apreensivo. Logo escutou passos se achegarem.

- Ben Peterson?! – A voz era um tanto insinuante. O riso, característico.

- Shelton. – Falou ele, seco.

- O que traz essa presença tão ilustre?

Ele acompanhou com os olhos Shelton se acomodar a sua frente. Respirou fundo e a porta abriu. Duas mulheres entraram esbaforidas.

- Meg? – Inquiriu Ben, hesitante. – Burton?Mas o que...

- Já disse que não devem entrar aqui! – Advertiu o policial. – Vamos comigo. – Ele agarrou as duas pelos braços.

- Não! – Exclamou Ben. – Por favor, deixe-as!

O policial olhou para cada uma e então indagou:

- Tem certeza, senhor?

Ben assentiu. O oficial consultou o relógio, avisando:

- Vocês têm meia hora.

Shelton se ergueu encarando a todos. Inquiriu a Burton, insinuante:

- Veio me fazer companhia?

- Mas que raios você quer dizer com isso?

Ele parecia furioso. Meg e Burton trocaram olhares.

- Há algo que eu não saiba? É isso?

Meg apertou o braço de Ben.

- Querido, acho melhor irmos embora. Hum?

- Não antes de eu saber o que está havendo. Por que estão aqui?

Ela se calou. Burton se aproximou. O clima estava tenso.

- Ben, nós... – Não tinha idéia do que dizer. – Ouça-me...

- Vim avisar com todo o prazer – olhou para Shelton -, à assassina de meu irmão, que enfim ela pagará por tudo. Por cada lágrima que eu e o resto de minha família derramam. Você trocou os medicamentos de Joseph! – Ele acusou-a, louco para lhe apertar o pescoço.

Joseph era cardíaco.

Sarah encheu o copo e retornou ao quarto, deixou-o sobre o criado-mudo e chamou o pai, ele não respondia. Olhou para o pote de comprimidos abertos e entrou em pânico.

- A justiça enfim será feita! – Ben começou a berrar e andar em círculos. – Tudo, tudo se volta a você. Porque foi você! – Apontou para Shelton. – O dia, o horário... Tudo! Tudo se encaixa numa sincronia perfeita de uma psicopata! – Pausa. - Enfim a ordem judicial sairá e sua pena será aumentada. Quero vê-la apodrecer aqui, sua vadia!

- Não! – Exclamou Burton, chorosa. – Isso está errado... ela não...

Meg e Ben fitaram-na. Shelton esboçava um sorriso satisfeito.

- Vamos, confesse logo sua assassina!

Ben Peterson encarou-a, aturdido.

- Confessar o que, Sra. Burton?

- Não! Não faça isso... – Implorou Meg, desesperada.

Ben fitou Meg.

- Diga.

- Não. – Insistiu Meg presenciando a cena.

Shelton agarrou Ben pela camisa, encarando-o olho no olho.
- Seu imbecil. Quando a verdade está na sua cara você se finge de cego. Nem tudo é o que parece. - Ela estava enfurecida. – Ela– Shelton apontou para Burton. -, essa senhora educada e boazinha aí... Matou seu irmão. Seu amado irmãozinho. Matou! Joseph foi assassinado por Burton!

Burton não soube o que dizer, a sala parecia se comprimir contra si. As lágrimas vieram, incontroláveis. Ben foi até ela, incrédulo. Agarrou-a pelos braços.

- Isso... isso é verdade?– Seus olhos estavam vermelhos e arregalados. Ódio. – Responda! – Berrou. Burton pôde sentir seu hálito lhe golpear a cara.

Ela chorava, impossível de se falar. Meg se aproximou.

- Burton, não...

- Sim. – Ela murmurou. – Sim! – Exaltou. – Foi preciso.

Ele largou-a, andando à esmo pelo cubículo. Meg sabia desde o começo.

- Por que não me contou nada, Meg?

Ela respondeu, hesitante:

- Burton é minha irmã.

- E Joseph era meu irmão. Você presenciou meu desespero durante anos... e não fez nada!

Bem sentia-se a beira de um ataque de pânico.

Burton murmurou:

- Preciso falar com Sarah, eu imploro. Ela precisa saber que...

- Minha mãe fugiu com um chefe de uma restaurante francês. Pelo menos foi o que meu pai disse. – Explicou Sarah a Michael que a interrogava mais que um delegado. – Agora chega, Michael. Não quero mais falar da minha vida. Ela não é nada interessante.

- Está enganada. Tem uma história e tanto.

- Oh, sim. Uma mãe que me abandona com poucos meses e trai meu pai. Um pai que falece sem explicação. Oh, sim, grande história a minha.

Michael a beijou de leve.

- Lamento.

- Não precisa.

- Minha vida também não foi a das melhores.

- Sei disso.

- Você é uma mulher muito forte, Sarah. E eu admiro muito isso.

Ela esboçou um sorriso ao olhar para ele, deitado na vasta cama, confortável.

- Estou com medo de amanhã, Michael. – Confessou.

Ele a envolveu pela cintura trazendo para próximo de seu corpo. Aninhou-a, sussurrando em seu ouvido:

- Estou aqui. E estarei com você amanhã, querida.

- Todos vão me olhar e me acusar.

Jackson sabia muito bem o que era isso. Lembrou-se das acusações de pedofilia, onde fora acusado inocentemente. Tudo por dinheiro...

- Sarah, meu amor. – Ele virou o rosto dela para si. Olhou-a. – Já disse que estarei com você. Não deixarei que pague pelo o que não fez. – Fitavam-se. – Sou muito agradecido por ter-me salvado a vida.

- Tive medo de não conseguir...

- Mas conseguiu.

- Eu o amo muito, Michael.

Ele roçou seu nariz junto ao dela, sorrindo.

- Eu também a amo.

O coração de Sarah batia descompassado. E nem tentaram descobrir quem tomou a iniciativa, mas de alguma forma se descobriram num beijo ávido. Numa ânsia sem igual de se sentirem e era como e fosse a coisa mais natural do mundo. Mais próximos. Mais íntimos. Corpo com corpo. Começaram a despir um ao outro. Botão por botão. Traje por traje. Entre carinhos e beijos urgentes. Queriam-se. Ter-se-iam, ali, e agora. Fizeram amor.

- Ah, como eu a amo, Sarah! – Sussurrou ele, com os lábios encostados em sua orelha.

- Sei disso. – Brincou ela. Enrolando uns fios dos cabelos de Michael em seus dedos, olhando-o nos olhos. – Desde a primeira vez que me viu entrar no quarto e cumprimentá-lo.

- Isso. – Ele sorriu, assentindo. – À primeira vista.

Se aproximou de Jackson e ofereceu a mão. Ele apertou.
- Sou a Dra. Sarah Peterson, Sr. Jackson.

- Prazer.


À primeira vista, Michael se relembrava.

- Gostaria de passar a noite aqui. – Falou Sarah.

Jackson sorriu, e lhe afagou os cachos.

- Se não me odiar pela manhã... – Brincou ele.

- Acho isso muito improvável.

- Eu adoraria.

Passaram a noite juntos, conversando... fazendo amor... conversando.