Lives

Capítulo 2


Capítulo 2

Saiu do refeitório se deparando com uma grande movimentação. Iam para todos os lados; as faxineiras cochichavam. Um burburinho formou-se próximo à recepção. O alarme de incêndio soou no prédio ao lado. Sarah aproximou-se da janela, e uma multidão se formava lá fora. Seguravam cartazes, choravam e gritavam. Não era possível entender o que falavam. Pareciam querer invadir o hospital, os seguranças não davam conta e logo carros da polícia rodearam todo o prédio.
Peterson sentiu uma mão em seu ombro enquanto permanecia extasiada procurando compreender tudo aquilo.
O som que antes ecoava naquele corredor, agora saia definitivamente inaudível.

- Sim?

- É a cardiologista desse plantão, não é?

Havia certo desespero em sua voz.

- Sim, sou.

- Precisam de você urgentemente na emergência.

- Vamos, vamos me dêem licença! – De onde surgiu tanta gente? – Vamos, saiam do caminho! – Gritou.

Havia vários profissionais ao redor da maca como nunca havia visto antes. Lembrou-se do caso do Sr. Freeman que fraturou o crânio ao cair do alto de uma escada, e tivera que chamá-los para que o atendessem. Absurdo!
Quando todos se afastaram, ela encontrou um homem magro, alto, pálido e inconsciente. Tomou-lhe pulso.

- Sem pulsação! – Sarah encarou a todos. – O que ele ainda faz aqui?- Sua voz aumentava. - Ele nem está respirando! Não vêem que está morrendo?

Não houve resposta, nem ruído.

- Andem! Levem-no para a ala de cardiologia. Peguem o desfibrilador! Rápido! – Ordenou, esbaforida.

- Choque! Eletro-choque! – Alguém gritou.

Ao correr para a sala de emergência, se esbarrou com o Dr. Rodner 007- Licença para matar. Tudo para ele se resolvia na base de cirurgia. Ele tinha o maior índice de mortalidade na lista do hospital. Sua fisionomia se resumia nos olhos caídos e um sorriso sacana com dentes amarelados. Às vezes tinha cheiro de cigarro.

- Me desculpe!

- Precisa levá-lo para a sala de cirurgia! O caso é grave! Não viu?

- Está louco? Como vou operar assim de repente? Não posso abrir um peito dessa forma.

- Você por acaso percebeu quem é seu paciente?

- E o que interessa? Ele só precisa sair bem daqui.

- Ele vai morrer.

Mas não vai mesmo!


Com a tesoura Sarah rasgou a camisa que revestia o paciente. Realizou uma massagem cardíaca. Nada.
- Onde está o desfibrilador?

Ela estava desesperada.

A enfermeira auxiliar girou os botões para carregá-los e dez segundos após entregou a Dra. Peterson que o posicionou diretamente sobre o peito.
Havia um monitor no canto da sala que exibia o ritmo cardíaco, eletrocardiograma (ECG) e pressão.

- A pressão ainda está baixa! - Avisaram.

Peterson tentou de novo. O peito arfou e tornou a cair. Ela estava furiosa.

Nunca deixei um paciente morrer e não vai ser agora que isso vai acontecer!

- Injetem Epinefrina! Depressa!

Um momento após...

- Choque!

Os botões giraram novamente e Sarah torcia para que ele voltasse, ressuscitasse, que respirasse. O corpo saltou alguns centímetros pelo ar e retornou no instante seguinte, imóvel.

- Mais uma vez! – Berrou. – Vamos, vamos reaja! Dê-me um sinal! – Suplicava.

Gotículas de suor escorriam em sua testa. O local estava tenso, abafado.

Pela quarta vez o corpo subiu e desceu na maca. Parecia morto. Inerte.

Não, não. Você não vai morrer! Não em minhas mãos e não agora!

- O que está esperando? – Indagou alguém.

- De novo! – Ordenou Sarah. – Rápido!

- Ele vai conseguir. – Murmurou a enfermeira.

Sarah encarou o monitor e voltou-se para a face branda de lábios entreabertos. Pressionou mais fortemente o aparelho com o peso de seu corpo contra aquele peito. Seus cachos soltaram-se, e alguns insistiam em ficar-lhe sobre o rosto se misturando com o suor. Mordeu o lábio inferior e forçou mais um pouco contra aquele corpo. Ele mais uma vez se elevou e derramou-se na maca. Um tênue bip soou em seus ouvidos. Sumiu, reapareceu e falhou. Logo retornou mais forte tornando um ritmo constante e normalizado.

- Ele está voltando! – Anunciaram.

- Sim, ele está. – Sua voz continha alívio. - Foi por pouco!

Por muito pouco.

Respirou realmente sentindo o ar entrar e inchar seus pulmões. Olhou para cima parecendo agradecer a um bem maior. Ele está vivo! Obrigada.

- Tudo bem, Dra. Peterson?

- Sim. Um pouco cansada apenas. Bem, já sabem o que fazer. Levem-no para o quarto 214. Quero também um check-up.

- Sim, doutora.

- Já comunicaram a família?

- Acredito que sim, pois o trouxemos de ambulância. Alguém da casa ligou...

- Ok. Logo vou visitá-lo no quarto.

No refeitório encheu um copo enorme de água e desabou sobre a cadeira, debruçando-se na mesa. Cansada. Escutou o som de algo se arrastar e me e então se deparou com o “Dr. 007”.

- Então, Dra. Peterson? Pelo seu rosto as coisas não correram muito bem. – Sorriu, exalando cheiro de nicotina. – Não é?

- Muito pelo contrário, Dr. Rodner, ele está bem. Eu quem estou um pouco cansada. – Tomou um gole de água. – O paciente se encontra no quarto no aguardo dos familiares.

- Meus parabéns, doutora.- sarcástico. Depois lhe lançou um olhar nada agradável ao sair.

Idiota!

Honey via de longe a conversa, se aproximou exultante.

- Ele está bem, não é mesmo?

- Hã?

- Não se faça de boba. Michael, quem seria? Fiquei tão preocupada! Todos comentavam aqui! Mas pela sua conversinha com o “007” percebi que está tudo bem. Ou você mentiu para ele?

- Fala de meu paciente da Emergência? Ele se encontra estável. O caso dele foi difícil, por um momento pensei que fosse perdê-lo. Parada Cardíaca. – Deu um último gole e colocou o copo na mesa. – Mas não sabia que se chamava Michael. Ainda não me entregaram a ficha. Por acaso você o conhece?

- Ah, fala sério, Sarah, você está me zombando!

- E por que eu faria isso? Olha pra mim, estou parecendo um zumbi. Acha mesmo que estou com cabeça para gozações?

- Você acabou de salvar a vida do maior astro pop que já existiu! Está ouvindo essa gritaria? Você viu o tumulto que está lá fora? São os fãs dele! Você vive em que mundo? Me recuso a acreditar nisso!

- Bem, algumas vezes ouvi falar dele, acho...

Sarah não tinha o menor interesse em saber quem ele era.

- Graças a Deus! Uma esperança! - Honey elevou as mãos. – Ele é Michael Jackson! “’Cause this is thriller... Thriller night...” - Honey cantava estalando os dedos, mexendo-se no ritmo da música. - Lembra? Ele anunciou a turnê This Is It... Começa em Londres...

O rosto de Sarah não demonstrava qualquer reação significativa.

- Não faça isso comigo... Não diga que não se lembra...

Uma pausa inquietante.

- Hã... ok. – Queria desvencilhar-se da situação. – Vou ver os demais pacientes. Depois nos falamos.

- Sarah!

- Hum?

- Você precisa sair um pouco desse hospital! Escute o que estou te falando. Peça ao Dr. Willians umas férias!