Little Things

I. first things first


I

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{first things first}

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Scorpius Malfoy não saberia dizer se havia sido amor à primeira vista. Na verdade, sequer sabia se acreditava em algo tão ingênuo como amor à primeira vista. No entanto, entendia que Rose Weasley despertara algo nele desde a primeira vez que a vira. Era primeiro de setembro do seu primeiro ano em Hogwarts e ele se despedia dos pais, na Plataforma 9 ¾, quando a notou.

A culpa fora inteiramente de Draco que, por algum motivo, resolvera enviar seus cumprimentos, com um aceno de cabeça, a um grupo de adultos que o filho não conhecia. Apenas aquilo já teria sido suficiente para acender a curiosidade do menino, mas quando seus inocentes olhos cinzentos pousaram na garota ruiva, parada do outro lado da estação, Scorpius sentiu que jamais seria capaz de parar de observá-la.

O garoto não conseguiria explicar o que acontecera naquele dia. Passaria anos e anos se indagando, sem encontrar uma resposta satisfatória. E talvez não houvesse mesmo qualquer explicação racional para aquilo. E talvez não houvesse necessidade de uma explicação racional. O fato era que aos 11 anos, Rose Weasley não era a menina mais bonita do mundo. Não era nem mesmo a menina mais bonita que o Malfoy já vira. Ainda assim, havia algo sobre ela.

Algo sobre as roupas confusas e excessivamente coloridas que usava. Algo sobre os vibrantes cachos ruivos, que ela tentava em vão afastar dos olhos castanhos. Algo sobre as sardas alaranjadas que pintavam seu rosto pálido e redondo. Algo sobre o modo como ela gesticulava ao conversar animadamente com o garoto que estava ao seu lado. Algo sobre a forma como ela sorria tão facilmente para tudo e todos.

Por um lado, Scorpius achava estranho se flagrar tão fascinado por alguém de quem era tão obviamente distinto. Oposto em todos os sentidos. Ela, um caleidoscópio caótico e vibrante. Um perfeito arco-íris. Pinceladas bruscas e policromáticas em uma página em branco. Ele, cinza da cabeça aos pés. Monocromático. Invisível. Alguém habituada às margens, aos cantos. Entediante e entediado. Por outro lado, o rapaz achava que fazia sentido que alguém como ele, vivendo há tanto tempo nas sombras, se encantasse pelas cores daquela rosa que tinha sardas no lugar de espinhos.

Aos 11 anos, de qualquer forma, tudo o que o Malfoy soubera fora que havia um magnetismo estranho naquela menina. Por meio minuto chegou a se incomodar com os sentimentos incompreensíveis que se misturaram em seu estômago. Contudo, qualquer incômodo desvaneceu, quando a garota também o notou. Quando ela finalmente abandonou a conversa e percebeu o desconhecido que a observava à distância. Os olhos dela se encontraram aos olhos dele por um único instante. E então Rose sorriu. Para ele e mais ninguém. E então Scorpius sorriu. Para ela e mais ninguém.