Little Princess

Um lugar muito agradável


Capítulo 31 – Um lugar muito agradável

Pov's Bella:

Eu tremi quando uma gota de água pingou do teto para o chão da caverna. Ao menor som eu parecia um ratinho assustado – e nem mesmo me repreendia. Eu me sentia, mesmo, uma criança assustada.

Eddie uma vez me dissera que eu tenho uma língua afiada para respostas. Parecia que alguém havia cortado essa língua.

Alec tinha ido caçar e me deixara aqui na caverna, tampando-a com uma pedra que impedia a luz do dia entrar – nada muito sério, sendo o que sou, enxergo no escuro. Porém, não foi idiotice colocar a pedra.

Você pensa: eu posso tirar com minha super força. E eu digo que não posso. Eu não caço desde o dia que modifiquei a mente de Alexis – bom sim, eu cacei naquele dia, mas pouco. Depois, fiquei "desacordada-sem-sentidos-por-causa-do-dom-de-Alec" por mais alguns dias, e, depois de uma semana nas mãos daquele maníaco – realizando coisas que prefiro esquecer-me – estava sedenta.

E, mesmo assim, o canalha nem mesmo me trouxe um alce ou algo do tipo. Somente brincara sobre trazer um humano – que no meu estado talvez eu bebesse. Mas não trouxe.

Aqui estava eu, Bella Cullen, aquela cheia de poderes, lotada de dons, sem poder usar nenhum porque fui humilhada, porque estou com sede. A vida era tão irônica e injusta.

Olhei para meu próprio corpo. "Aquele vestido vermelho já nem existe mais", pensei, olhando no canto da caverna, onde existiam trapos do que já fora uma roupa. Eu estava nua em uma caverna com água pingando, temendo que a qualquer momento um maníaco por sexo chegasse e me estuprasse de novo.

A coisa toda poderia ser pior?

Bom, analisei bem, poderia, quero dizer, se tiverem sequer arrancado um fio de cabelo da minha família.

Não, repreendi-me, você fez isso por eles, não está se arrependendo de nada. Olhei para o meu reflexo na poça de água que se formou. Meus cabelos estavam penteados, paralisados, sim, mas ser vampira não faz com que a sujeira seja repelida de mim. Havia pó em meu cabelo claro e minha bochecha pálida estava suja. Meus olhos estavam tristes.

A pedra da caverna foi empurrada facilmente por Alec, que a fechou novamente, impedindo minha saída – o que era bobagem, eu nem mesmo consigo levantar.

Mas, dessa vez, eu levantei rápido a cabeça, meus sentidos apitavam: sangue! E eles não se enganaram, havia um puma recém morto jogado sem pudor no chão rochoso.

- Coma – Alec disse no seu já conhecido tom irônico e/ou zombeteiro –irá para a Itália, tem que estar em boa aparência para ver seu pai.

Ele frisou bem a palavra, porém a ignorei. Juntando o resto das minhas forças – e perdendo mais do meu orgulho – chupei todo o sangue do bicho que me fora dado, como se fosse aqueles pratos para prisioneiros com pão seco. Bom, o meu "pão seco" estava muito bom.

Quando terminei, limpando o sangue que escorria por meu queixo, ele me jogou um vestido. Era bem diferente do curtíssimo que ele me dera semana antes. Eu o vesti com avidez. Batia um pouco abaixo de meus joelhos, era preto de veludo, com uma linha dourada abaixo do busto.

- Toma – ele jogou um par de sandálias de lantejoulas douradas para mim, que calcei.

Enquanto amarrava as sandálias, vi a pulseira com o "V' de Volturi tinir no meu pulso. Era asquerosa e marcava – como se marca num boi com ferro quente – o meu destino, quase o meu dono. Humpf. Como se eu fosse um boi, pensei estarrecida e raivosa.

Ele aproximou-se sorridente, o que me fez dar um passo para trás. Alec riu: - Não se preocupe, não vou fazer nada com você... Por enquanto. Só vim entregar-lhe a roupa e – ele tirou um colar – isso.

Analisei meticulosamente o que o canalha tinha em mãos. Era delicado, mas não pude não sentir nojo. A corrente parecia de ouro puro e o pingente era um diamante – que também parecia verdadeiro – com o formato de um grande e brilhante "V" – povo fissurado nessa letra, tudo bem que é sobrenome, mas, pô!

- Você tem de usar – soou como uma ordem – é a marca Volturi – e exibiu um colar masculino, escondido sob a roupa, para mim. Revirei os olhos discretamente, quanta bobagem!

Levantei, passando a mão no rosto e no cabelo, tirando um pouco da sujeira ali.

- Chegando a casa, você toma um banho, vamos logo, quanto antes sairmos, mais cedo chegará – ele disse – as passagens do avião estão comigo há dias.

Então, que fiquemos aqui, pensei com cinismo. Demoremos bastante, por favor. Ele tirou a pedra e com um pouco da força recobrada, a enorme liberdade da floresta me pareceu tentadora. Eu sou rápida, por que não...?

- Sua família – minha cara devia ser bem óbvia, pois Alec respondeu – sabe de nosso acordo, ainda está em jogo.

Para sempre. Urgh!

A corrida – sim, eu estava correndo para o inferno! – foi silenciosa, assim como o vôo. Alec bem que tentou puxar assunto, segurar minha mão e coisas do tipo, porém ignorei-o completamente, ou pelo menos, somente balançava a cabeça e dizia "hum's" muitos convincentes. Perguntei-me, certo momento da viagem, se ele não pensava no que as pessoas viam.

Uma menina de dez anos sentada em um banco com um garoto de no máximo dezesseis ou quinze anos tentando cantá-la. Vá entender a mente dos humanos, não penso como eles há décadas.

- Isabella Volturi – Alec pronunciou numa voz rápida e baixa demais para ouvidos humanos – soa bem não?

- Somente aos seus ouvidos – respondi rapidamente e ele riu baixinho, porém ainda vi traços de uma raiva contida. Ele queria dar uma boa resposta.

- Ora, meu amor – odiei que isso saísse dos seus lábios e não consegui reprimir uma careta. O que o fez abrir um sorriso de orelha a orelha – Oh, Bella! Tão inocente você é! Se já ficamos juntos, mais unidos do que nunca, por que insiste em me repelir como algo asqueroso?

- Porque você é asqueroso – eu disse com toda a minha "delicadeza".

- Ah, vamos, vamos. Admita: aquelas noites foram prazerosas a você.

Ele acariciou minha face. Os humanos dormiam, o avião silencioso nos permitia privacidade – e eu nunca desejei tanto que os humanos não dormissem nunca.

- Nem um pouco – eu não hesitei; orgulhosa de mim mesma. Não, eu não havia sentido prazer algum, somente dor – na primeira vez, principalmente – e muito, mas muito, nojo e repulsa.

- Não sente nada? – Alec acariciou meu rosto, deu-me um breve beijo (que não retribuí), e me olhou. Eu vi sua decepção, como observadora de longas datas, mas ele escondia muito bem a olhares iniciantes.

- Nada – eu quase soletrei. Depois de tantos dias sendo humilhada, humilhar o que me humilhou (confuso isso? Imagina!) era o meu único prazer. Único.

O resto da viagem foi em um silêncio fúnebre que, cá entre nós, foi melhor que o papo. No aeroporto havia um carro nos esperando, e alguns humanos nos olhavam estranhos por não levarmos nenhuma mala após sairmos de um vôo – se os Volturi queriam ser discretos, falhavam miseravelmente.

No carro quem dirigia era Félix, que sorriu maliciosamente para mim e cumprimentou Alec. Eu ia entrar quando este traste de gente entrou na minha frente e me fez sentar em seu colo, com um sorriso, como se fosse a melhor coisa do mundo – espera aí, deixa eu ir ali vomitar.

Félix dirigia duzentos por hora, ou seja, foram poucas horas para chegarmos as ruas de Volterra – aquelas ruas que eu sempre prometi a mim mesma não voltar, não importando a situação. E aqui estava eu.

Entramos pelo saguão, que apesar de eu já ter vindo, nunca tinha visto. As paredes eram cobertas de madeira, o chão era atapetado com uma cobertura grossa, verde. Não havia janelas, mas sim grandes quadros, de uma luz brilhante que retratavam a região Toscana e que estavam pendurados em toda parte como se fosse uma substituição. Sofás de couro pálido estavam arrumados em grupos aconchegantes, e as mesas brilhantes sustentavam vasos de cristal cheios de buquês com cores vibrantes. No meio da sala havia um balcão alto, de mogno polido.

Eu quase me engasguei de pasmo com a mulher que ficava atrás dele. Ela era alta, com uma pele escura e olhos verdes. Ela teria sido muito bonita em qualquer outra companhia – mas não aqui. Porque ela era uma humana completamente – ou não, se anda com vampiros – normal. Eu não conseguia compreender o que uma humana estava fazendo aqui, totalmente tranqüila. Ela sorria educadamente nos recebendo.

- Alec, Félix.

- Mary – Alec disse monotonamente, nem esmo olhando na cara da mulher. Por esse motivo, quando passamos por ela, achei que seria gentil sorrir amigavelmente, ela não parecia malvada, por que ser má com ela?

Andamos até o final do corredor, onde eu encontrei finalmente algo conhecido: as gigantescas portas duplas que davam para o salão principal. Félix abriu-a silenciosamente e a manteve aberta para eu passar, com Alec atrás, como se fosse uma escolta. O salão continuava o mesmo, apesar das paredes terem sido pintadas novamente, pois não possuíam mais o aspecto velha.

A primeira coisa que reparei que havia mais pessoas na guarda. Certo, Marcus ainda tinha olhar entediado, sentado em seu trono. Caius seu olhar ambicioso e tão maligno quanto de Aro, que, aliás, também estava sentado em seu trono. Renata estava um pouco mais atrás, e não duvidei que o escudo físico estivesse sobre Aro.

Jane estava em um lado do salão, ao lado de Heidi – ambas me olharam superiores – e ao lado de outra mulher. Essa era mais alta que a "loirinha irritante" e "sexy exibida", e achei mais modesta também, pois não possui um olhar maligno, de fato. Não tinha um rosto juvenil, teria no mínimo vinte e alguma coisa anos. De olhos vermelhos, sim, mas cabelos claros e rosto gentil. Era quase como Esme, ou Carmen. Mas ainda era Volturi.

Com o dom de Aro, misturado ao de Edward, rapidamente vi sua vida em seus pensamentos. Chelsea Huglibins – agora Volturi.

O resto das pessoas na guarda eram altos e musculosos, homens, ou simplesmente talentosos. Não dei muita atenção a eles enquanto caminhava em direção a escadaria de mármore, parando em frente a Aro.

- Bella, como é bom revê-la – Aro levantou-se de seu trono, caminhando em minha direção. Alec e Félix pararam ao lado de dois brutamontes pálidos, rentes as paredes, somente à escuta.

- Suponho que seria indelicadeza de minha parte dizer que não sinto o mesmo – respondi-lhe numa voz educada, porém fria – Todavia, não encontro opções senão dizer a verdade, não é?

Aro riu delicadamente: - Sempre divertida, Bella. – ele sorriu – Sua viagem foi boa, espero que não tenha havido inconvenientes, certo?

Claro que não houve, quer dizer, tirando o fato de que vocês apareceram, não, não houve nenhum. No entanto, engoli minha resposta – Eddie tem razão, eu tenho uma língua afiada, que se eu não aprender a controlar, pode custar a vida dos que amo.

Quando respondi "nenhum", olhei bem nos olhos de Alec, que me deu um sorriso torto, nem um pouco parecido com o do meu irmão, bonito e gentil.

- Mas está muito mais bonita do que da última vez que nos vimos, há algumas décadas – Aro observou, olhando principalmente para o colar que eu carregava.

- Bondade sua – repliquei indiferente – Vampiros não mudam, de forma alguma, não é? Mas presumo que também não tenham filhos, então, acho que pode desejar o que quiser.

Ele sorriu gentilmente para mim, com os olhos vermelhos ambiciosos.

- Está com fome? Vejo seus olhos minimamente dourados, mas quase pretos – ele observou, desgostoso, minha dieta.

- De fato. Foi pouco o tempo que tive para me alimentar devidamente, perdoe-me se minha aparência incomoda-lhe, porém, não houve opções senão ficar com sede.

- Ora, mas posso providenciar agora um alimento para você – Aro propôs, olhando para Heidi, que logo deu um passo a frente, com seu vestido sedutor.

- Agradeço, mas dispenso. Se me permitir, caçarei mais tarde, a meu modo – isso era ridículo. Eu tinha que pedir permissão. Como Carlisle agüentou viver com eles durantes alguns anos?

- Por hora – Aro respondeu, mas sorriu vendo que tinha feito um tom sombrio – Imagino que Alec tenha lhe explicado o que desejo.

- Ah, bem mais que explicar, eu afirmo – zombei educadamente – mas entendi perfeitamente.

Aro ergueu as sobrancelhas, entretanto nada comentou.

- Bom, já que está a par de tudo, acho que Chelsea – a citada logo deu um passo a frente, e Heidi recuou, irritada por ser desnecessária – poderá lhe indicar o seu novo quarto, minha filha. Lá poderá se acomodar e encontrará roupas adequadas a você.

Enquanto andava em direção a porta, seguindo Chelsea – que até sorriu para mim (talvez eu tivesse pelo menos alguém gentil nesta merda) –, ouvi Caius dizer as minhas costas:

- Seja bem-vinda, princesa – e não era um apelido carinhoso vindo de meu pai.