P.O.V. Valentim.

Todos acham que a Alisson Loring morreu, mas ela não morreu. Eu lembro dela matando aquelas coisas na escola e forjando a própria morte.

Estou no meu quarto me preparando para dormir quando de repente eu sinto alguém me olhando. E quando eu me virei, fiquei sem chão.

—Você não consegue me deixar em paz nem depois da minha morte? Porque não me deixa descansar em paz?

Os cabelos ruivos, os olhos verdes. Ela estava usando uma camisola branca com um roupão da mesma cor. Parecia mesmo um fantasma.

—Eu sei que você não está morta. Eu me lembro de ver você matar o homem lagarto com as braçadeiras de gladiador e atirar na coisa com a arma de elefante.

—O que?! Não. Eu fiz todo mundo esquecer.

—Bom, parece que funcionou. Em todo mundo menos em mim.

—Ora, ora, ora. Todo esse tempo você era um ser sobrenatural. Eu me pergunto... o que você é?

—Ser sobrenatural?!

—É o único jeito de você ter resistido ao meu controle mental. Sobrenaturais tem imunidade á certos feitiços. Os mortais precisam de proteção.

Ela colocou garras chinesas.

—O que vai fazer com isso?

—Você já faz a barba?

—Faço. Porque?

—Ótimo. A desculpa perfeita.

—Desculpa pra que?

—Não se mova.

Senti as garras de metal geladas roçando na minha pele e então, ela fez um pequeno corte no meu rosto bem abaixo do queixo.

—Ai!

Colocou a garra com o sangue na boca. Entrou em algum tipo de transe.

Mas, foi muito breve.

—Uau! Quem diria?

—O que?

—Quantos anos você tem?

—Dezessete.

—Quando é seu aniversário?

—Seis de fevereiro.

—Fará dezoito este ano, eu presumo.

—É. O que isso tem a ver?

—Menino, sua vida vai dar um giro de trezentos e sessenta graus esse ano. Pra você ter resistido ao meu feitiço de controle mental antes do aniversário, o seu pai era com certeza muito... poderoso. Eu me pergunto, em que classificação ele se encaixa?

—O meu pai é contador.

—Não estou falando de Christopher Jones. Estou falando do seu pai biológico.

—Sou adotado?!

—Com certeza. A mãe humana jamais sobrevive ao parto.

—Mãe humana?

—Quem diria, que o babaca galinha e conquistador do Valentim Jones seria realmente divino.

—Divino?

—O Nephilim é mais poderoso do que o anjo que o gerou. Nefilins tem o dom das línguas, podem falar todas as línguas conhecidas pelo homem, animais e plantas. Força sobrenatural, habilidade sobrenatural de cura entre outras coisas.

—Nephilim?

—Estou vendo que você não está acompanhando meu raciocínio. Então, permita-me simplificar. Sua mãe era humana, seu pai era um anjo, você é um híbrido.

O relógio bateu meia noite.

—Feliz aniversário.

Então, ela sumiu.

Acordei com o meu cachorro, meu labrador pulando encima de mim.

—Ah, Gabe sai pra lá.

Meus pais me trouxeram bolo na cama cantando parabéns.

—Obrigado.

—Dezesseis anos ein filhão!

—É.

—Bom, conhece a nossa tradição. O aniversariante escolhe o jantar, então... o que vai ser?

—Não sei. Que tal pizza?

—Claro. Ahm, filho nós temos que conversar.

Ai eu lembrei.

—Sou adotado não sou?

—Você sabia?

—Não. Não até ontem.

—E como você descobriu?

—Chame de mensagem do além.

—Mensagem do além? Bom, eu tenho que acordar o Stevie.

—Tudo bem. Eu te amo mãe.

—Também te amo filho.

Coloquei o meu uniforme e desci.

—E ai irmãozinho.

Peguei o Stevie no colo.

—Você é a única pessoa que ele deixa fazer isso.

—Eu sei.

Stevie é autista. Ela não fala, não gosta que encostem nele sem avisar.

—Você está bem meu filho?

—Até agora nada de estranho aconteceu.

—E o que de estranho aconteceria?

—Não sei. Mas, Stevie e eu temos uma ligação certo maninho?

Ele puxou o meu anel.

—Ei Stevie, deixe o anel do Val no lugar.

—Não, tudo bem. Ele pode brincar com ele.

Quando a minha mãe pegou o Stevie de mim, ele gemeu reclamando. E eu fiz aquela cara de... sinto muito.

—Não, tudo bem filho. É bom que ele responda tão bem a você. Certo garoto?

Perguntou a minha mãe para o meu irmãozinho, mas ele não respondeu. Só olhou para o Freddy o seu coelho de pelúcia.

Fui para a escola e um garoto estava tendo problemas com o seu armário. Fui ajudá-lo a abrir e acidentalmente....

—Caramba Jones!

Arranquei a porta fora.

—Para um atleta, você é quase humano.

Disse o Brady. Brady era o novo nerd da nossa sala.

—Porque você é gentil comigo?

—Da última vez que eu não fui gentil com uma nerd, eu me dei muito mal.

—A garota que morreu?

—É. Allison Loring.

O garoto foi embora.

—Porque fica ajudando aquele pateta?

—Deixa ele em paz Peter.

—Só to te dando um toque. E o que quer que esteja usando, me fala.

—Acho que sangue de anjo não está disponível no mercado.

—Sangue de anjo? O que foi que você tomou, cara?

—Nada.

—Você era afim da nerd?

—Ela salvou nossas vidas. Só que você não lembra.

Peter Clark. Sempre foi meu melhor amigo, mas agora... eu vejo o quanto ele é... vazio.

—Você já está meio pirado desde que a Loring morreu, mas sair com perdedores como ele? É ruim pra sua reputação cara.

—Eu não to nem ai pra isso Peter.

Estávamos no treino quando eu vi o cara. Um cara todo vestido de preto, negro.

Mas, ai ele sumiu. Estávamos no vestiário e os caras do time começaram a implicar com o Brady de novo.

—Deixa ele em paz Peter.

—Vai mesmo desafiar o Lockhart depois da sua derrota hoje?

—Vou.

Peter Lockhart, era o cara mais babaca que eu já conheci.

Eu avancei encima dele. E comecei a sufocá-lo. Foi tão fácil derrubá-lo que eu fiquei com dó.

—Porque você não larga a mão de ser babaca?! E ele estava certo, você não é inteligente. Você é que é o perdedor e nem sabe.

—Larga ele Jones! Jones você vai matar ele!

Só então eu percebi o que eu estava fazendo.

—Caramba cara!

Sai de lá correndo.

Fui até o banheiro masculino e não tinha ninguém lá.

—Ela falou da força sobrenatural, mas não mencionou nada sobre a fúria assassina.

Comecei a falar com uma menina, ela veio falar comigo.

—Você conhece sua família biológica.

—Você não?

—Não. Eu fui colocado pra adoção logo que eu nasci e meus pais me adotaram. Hoje que eu descobri que meus pais não são realmente meus pais.

—Nossa! Mas, então... vai ter uma grande festa de aniversário?

—Não. Eu provavelmente só vou ficar com os meus pais e o meu irmãozinho Stevie. Eu sei, parece chato.

—Não. É admirável na verdade.

A hora do almoço acabou e fui pra aula de química. Mas, eu ficava tendo essas crises de ausência. Haviam essas vozes dentro da minha cabeça e eu só acordei quando o sinal bateu.

Olhei no papel e eu havia desenhado um anjo com uma lâmina flamejante.

—Eu ein.

Amassei o papel e joguei no lixo.

P.O.V. Senhora Branwell.

Valentim Jones sempre foi um bom aluno, esforçado e tira boas notas. Ele recebeu até uma oferta de bolsa de estudos na Cornell, mas havia algo errado com ele hoje. Parecia, desatento e aéreo.

Um homem de preto apareceu e tirou da lixeira um papel.

—Posso ajudá-lo, senhor?

—O garoto, que acaba de sair.

—Valentim Jones?

—Sim. Obrigado.

—Algum problema senhor?

—Não. Não mais.

P.O.V. Valentim.

A dor na minha cabeça atingiu níveis estratosféricos. Estava zumbindo.

De repente parou e eu comecei a ouvir as meninas falando. Estavam falando de mim, mas era uma mistura como se elas estivessem falando uma língua encima da outra.

Então, aula de biologia e eu comecei a ouvir os sussurros.

—Corra. Perigo.

—Eles estão vindo.

—Corra.

Eu olhei e eram as iguanas do laboratório de biologia. Eu estava compreendendo as iguanas do laboratório de biologia! Então, me lembrei.

—Nefilins tem o dom das línguas.

Eu voltei pra casa meio apavorado. Meu Deus! Eu sou metade anjo.

—Mãe? Pai?

Então, ouvi uma voz.

—Valentim!

—Stevie?

E apareceu o meu cachorro. Gabe.

—Valentim! Valentim! Valentim!

—Estou entendendo meu cachorro.

—Te amo, te amo, te amo.

—Você vai brincar com o Gabriel agora? Valentim está assustado? Valentim está bem?

—Val! Chegou mais cedo da escola. Você está bem?

—Defina bem.

—O que foi meu filho?

—Eu... não vai pensar que eu sou maluco.

—O que foi meu filho?

—Eu sou Nephilim. Eu começo a entender as iguanas do laboratório de biologia e o que o Gabe está falando.

—Ok. Precisamos do Doutor James.

—Eu não sou maluco! Eu arranquei acidentalmente a porta dum armário com a mão! Eu vou lá pra cima.

—Filho, tá com febre. Valentim!

—Espere o Gabriel!

A porta está fechada, mas estou ouvindo meu cachorro falar.

—Valentim, com raiva do Gabriel?

—Gabriel, fez algo errado?

—Isso é insanidade. É loucura.

—Val, abra a porta!

Gritou a minha mãe.

—Estou ficando maluco.

—Valentim bravo. Gabriel sabe porque.

—Valentim, abra a porta!

—Calem a boca!

Ai eu percebi que falei aquilo pra minha mãe. Abri a porta.

—Me desculpe mãe. Só, me desculpe.

—Gabriel pegou, mastigou, não conseguiu parar. Gabriel sente muito.

—Não é por causa da meia Gabe. Estou falando e entendendo o meu cachorro. Talvez eu tenha batido a minha cabeça muito forte no treino.

Meus pais me levaram no terapeuta. O Doutor James.

—Acho que estou ficando maluco.

—Você está entendendo o Gabriel?

—Estou. Estou ficando esquizofrênico?

—Há muito mais do que esquizofrenia que podem explicar esses sintomas. Estamos nos encontrando a sete anos Valentim, você nunca demonstrou nem um tipo de sintoma assim antes.

—Acho que tenho uma explicação. Para os sonhos, o dom das línguas e tudo isso ai. Mas, é uma explicação nada científica.

—E qual seria?

—Sou Nephilim. Sabe, parte humano, parte anjo.

—Você disse que bateu a cabeça. Já ouvi falar de pessoas que sofrem traumas na cabeça e tem efeitos colaterais adversos.

—Alguém que sofreu um trauma na cabeça consegue arrancar uma porta de armário de aço fora com uma única mão?

—Vamos ver. Um teste.

Ele pegou um livro e começou a ler. Italiano.

—Quem é esse que passa pelo reino dos mortos.... O que eu acabo de dizer?

—É do Inferno de Dante.

P.O.V. Doutor James.

Eu sou o psicólogo Doutor Daniel James e nunca vi um caso como esse antes. Ele traduziu cada palavra de cabeça.

E a última parte nos pegou de surpresa.

—Já leu em italiano?

—No. No.

Ele começou a falar italiano!

—Mas, está falando agora.

—No. No estoi parlan... parlando. Minha Nossa!

Eu falei francês e ele me entendeu, eu falei espanhol e ele me entendeu.

—Uma cebola? O que isso significa?

—Meu Deus! Eu nunca vi um caso como esse. Você disse que arrancou a porta dum armário fora. Como?

—Com a mão. O negócio tava com cadeado e tudo.

—Como?

—Eu não sei. Só meio que aconteceu. Como falar italiano e francês.

Eu fiz todos os testes. O menino é saudável.

—E consegue compreender animais também?

Ele fez que sim com a cabeça.

—Gabe está dizendo alguma coisa?

—Gabe?

—Uma poodle fez xixi, bem aqui.

—Uma poodle fez xixi, no seu carpete.

—Isso é impossível. Na etiqueta dizia que o cheiro sairia em uma semana e ninguém conseguiria... Gabe disse isso?

—Disse. Nós não conseguimos sentir o cheiro, mas ele consegue.

—Caramba! Você tem mais algum sintoma? Náuseas? Vômito?

—Não.

—Vou te encaixar com um médico amigo meu em Stanford...

Então uma mulher apareceu, estava vestida de branco e ela criou asas!

—Venha Nephilim. Venha e encontre a sua morte!

—Você é um anjo?

—Sou.

—Porque você quer me matar?

—Abominação é o que você é.

—Verchiel! Você não pode matar o menino! Você não pode matar o redentor!

—O que?!

—Nephilim são filhos de um anjo e uma humana e eles tem o poder dos anjos, mas a alma dos homens.

P.O.V. Valentim.

Era o cara.

—Eu me lembro de você. Eu vi você. Estava no ginásio.

—Sim eu estava.

—Traidor.

—Eu era como você Verchiel, achava que sabia o que o criador queria, mas eu logo percebi que o Criador tinha um plano muito maior do que eu poderia se quer imaginar.

—O criador? Está falando de Deus?

Ele fez que sim com a cabeça.

—Caramba!

Eu coloquei as mãos acima da cabeça.

—Vê?

O homem pegou o meu braço.

—O que é isso? É só um hematoma.

—Oh, não. Isso é escrita antiga. É o nome de um anjo. Ezequiel, um caído. Ele carrega o nome dos caídos, ele tem o toque dos anjos.

—Isso não prova nada.

—Bola!

—Não Gabe!

Gabe foi a atropelado e eu salvei ele.

—Meu Deus!

O anjo avançou encima de mim e a minha mãe se meteu na frente.

—Mãe!

—Lori!

—Você é que é abominação! Se você é um anjo, o Criador pisou feio na bola quando te fez!

Fiquei com tanta raiva. Eu apontei a minha mão pra ela e saíram tipo uns raios quando eu fiz aquilo e a anja voou longe.

—Me considere, extremamente curiosa.

—Alisson Loring? Valentim estava certo e você nunca morreu?

—Isso.

—Você é uma Grimm. A criança da realeza.

—Sou. Pior que sou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.