Little Angel

Capítulo 19 - Tudo o que eu sempre quis


Magnus estava surtando.
Ninguém tinha visto Jace em lugar algum.
Não tinham pistas, e a noite estava ficando cada vez mais fria.
— Nós vamos achá-lo, Magnus.
— E se ele morreu? Eu não devia ter te ouvido, devia ter ido atrás dele na hora.
Alec se ofendeu.
— Agora a culpa é minha que ele caiu da sua varanda? Você é quem deveria ter colocado uma grade ali ou alguma proteção.
— Está me chamando de irresponsável? Essa é boa vindo do homem que o levou para ser torturado.
— Parem com isso! Não é hora para discussões bobas. Nós temos que focar em achar o Jace, e não trocar acusações que não levam à nada. - Isabelle ralhou com os dois, que pareciam embaraçados.
O feiticeiro então se sentou num banco próximo, e levou as mãos à cabeça.
Alec suspirou depois que sua irmã lhe lançou um olhar e sentou-se ao lado do namorado. Parecia um tanto contrariado em fazer aquilo, decerto ainda ressentido pelas palavras de Magnus minutos antes.
— E se ninguém o viu porque ele já não está mais aqui?
— Como assim?
— E se ele morreu por minha causa? Eu nunca iria me perdoar. - Falou com a voz embargada. — Eu devia ter colocado uma rede ali, restringido o acesso dele ao terraço. Qualquer coisa.
— Não.
— Sim, você estava certo. Foi culpa minha.
— Não, não estava. Eu falei da boca para fora. Você cuida muito bem dele.
Magnus riu e balançou a cabeça em negação.
— Eu não tenho ideia do que estou fazendo.
— Alec está certo, Magnus. Isso foi um incidente, não foi culpa sua. Poderia ter acontecido com qualquer um. Você é um ótimo guardião. - Isabelle sorriu para ele.
Alec entrelaçou os dedos com os seus e apertou carinhosamente.
— É um ótimo pai. - Sorriu para o namorado que sorriu um pouco mais animado.
O clima mais ameno foi quebrado quando o celular de Alec tocou.
— Acharam ele. - Ele falou, depois de desligar, com um sorriso de uma orelha à outra. — Está no Jade Wolf.

***

Alaric estava se divertindo com a cena inusitada no restaurante.
Dificilmente pessoas que não eram ligadas a alcatéia frequentavam o Jade Wolf, era território dos lobos. E mesmo aqueles que tinham algum contato direto com algum membro — como Simon, o pior vampiro da história — não eram exatamente bem quistos, eram no máximo tolerados.
Entretanto, lá estavam os lobos brincando de pegar a bolinha com um mini shadowhunter.
O menino chegou mordido, com frio, faminto, mas em poucos minutos seduziu à todos ali.
Ele era diferente.
Alaric limpou e fez um curativo em seu ferimento sem o menino sequer piscar ou reclamar de dor, mas o mais estranho era o total fascínio dele pelos lobisomens transformados.
Qualquer criança, e até adulto, ficaria aterrorizado ao ver um animal selvagem e enorme à sua frente. Ainda mais se fossem mais de cinco, mas o menino simplesmente parecia encantado.
Ele mal conseguia parar quieto na cadeira enquanto Alaric terminava os cuidados, e quando estava livre, correu para os lobos com um sorriso no rosto abraçando-os como se fossem bichinhos de pelúcia gigantes.
Alguns estranharam e rosnaram, mas ao verem que nem mesmo Gretel — sempre tão sem paciência com tudo e todos — se irritou com o menino, relaxaram também.
O menino foi comer junto deles, e ficava alimentando a todos, dividindo tudo, enquanto falava sem parar coisas que não faziam muito sentido para ele, como ser jogado de um terraço por um gato.
— Você é tão quentinho. Eu poderia te abraçar para sempre. - Ouvi-o dizer quando se abraçou Gretel, e escondeu seu rosto em meio aos enormes pêlos brancos da loba.
Gretel se limitou e virar o rosto, mas lambeu o menino quando achou que ninguém a olhava.
E assim ele conquistou a todos, e quando Alaric lhe mostrou uma bolinha, ele decidiu que era uma ótima ideia brincar de pegar a bolinha com seus novos amigos.
Ninguém, obviamente, tinha lhe explicado que ele deveria jogar a bola para ser pega, e por isso os lobos empurravam a bola para longe enquanto o menino é quem corria para pegar.
Alaric estava tão distraído observando o menino brincar e rir que deu um pulo enorme quando um portal se abriu a poucos centímetros de onde estava. Sua sorte é que quase ninguém notou porque quase todos os lobos tiveram uma reação semelhante.
Porém, o mais surpreendente não foi o susto e sim a reação de Gretel que se colocou na frente do menino, rosnando para os recém-chegados.
— Pelo Anjo, Jace. - Alec falou, ignorando totalmente a todos ali e indo em direção ao menino.
Porém, antes que pudesse se aproximar, um vulto passou por ele e abraçou o menino.
Era Magnus.
O feiticeiro abraçou o menino de tal maneira que era quase impossível ver a criança. Em seguida, ele a afastou e o olhou com reprovação.
— Você está de castigo, mocinho! De castigo nos próximos meses! Anos! Quando ficar velhinho e não conseguir mais andar, quem sabe eu te tire do castigo. E eu disse quem sabe. Vai ter que andar na linha, mocinho.
O menino o olhava sem entender nada.
— Você não é meu pai. Não pode me botar de castigo. - Respondeu petulante. Não tinha esquecido que ninguém lhe respondera na conversa mais cedo. Ainda estava chateado.
— Não sou — Magnus concordou — , mas posso ser se você também quiser.
— Mesmo?
— Sim. - Respondeu sorrindo e o menino foi correndo lhe abraçar.
Alec se aproximou e abraçou os dois.
— O que foi isso no seu braço, Jace?
— Uma mordidinha.
— Um lobisomem te mordeu?! - Isabelle perguntou espantada.
— É, mas foi sem querer. - Jace deu de ombros.
— Eu já limpei a ferida, não se preocupem. Foi bem superficial. - Alaric explicou.
Gretel, que até então observava, fez um barulho que parecia claramente uma risada debochada, mas ninguém poderia ao certo afirmar isso, exceto os outros lobos.
— Melhor manter um pouco de distância deles, Jace.
— Por quê? Eles são tão fofinhos! - Ele falou e foi apertar o rosto da loba, esfregando seu rosto no focinho dela. — Ela é minha preferida. O nome dela é Gretel e ela é linda, não é? - o menino abraçou o pescoço da loba, com um sorriso enorme.
— Opa, vampiro babá na área. - Simon se identificou quando entrou. — Cadê meu padawan preferido? Meu D… - Correu e tirou o menino de perto dos lobisomens.
Jace quando viu que estava longe, já ia voltando para o lado dos lobisomens.
— Nada disso. É perigoso. - Simon segurou o menino para que não fosse na direção deles.
— Vê como fala, defunto! - Gritou um lobisomem que estava sentado na última mesa.
— Melhor ficar aqui, Jace. - Alec apoiou o vampiro. Não estava gostando daquela aproximação.
— Que tal irmos? Você precisa de um banho.
— E comida. Não está com fome, filhote?
— Não, a Gretel me trouxe pra comer aqui e a gente comeu um montão. - Ele apontou para um prato no chão, com restos de frango frito.
Magnus torceu o nariz quando viu que tinham deixado o menino comer no chão como um animal.
— Ele quem levou o prato até lá e quis dividir com os outros. Eu juro! - Levantou as mãos quando viu os olhos do feiticeiro ficando amarelos como os de um gato.
— Vamos, Gretel. Vamos pra casa. - Jace foi até a loba enquanto os outros discutiam. — Vou te mostrar meu quarto. Tem dragões nele e tem o meu Fofinho também. E tem o Presidente Miau, mas não confie nele. Ele pode te jogar de lugares altos também.
— Não pode levá-la, Jonathan. Já falei que a minha casa não é um hostel. Pare de convidar todo mundo para morar lá.
— Mas ela é o meu bichinho de estimação. Eu sempre quis ter um cachorro e eu a amo.
— Errr...ela não é cachorro, padawan.
— Claro que é.
— Ela é um lobisomem, Jace.
O menino olhou para Gretel sem entender, mas não arredou o pé de perto dela.
A loba então bufou e se transformou em humana novamente. Uma humana extremamente nua.
— Vá para casa, moleque. - Resmungou de mau humor ao ir em direção à parte interna do restaurante sem pudor algum.
Em nenhum momento ela hesitou ou fez qualquer menção de se despedir do menino que parecia arrasado pela sua cachorrinha não ser de fato uma cadela, e aparentemente sequer suportá-lo.
Magnus abriu um portal e passou com o menino nos braços, que a essa hora já chorava.
Isabelle passou em seguida e Alec ficou para agradecer Alaric por encontrá-lo e cuidar dele até que chegassem.
— Simon?
— Pode ir, eu vou andando depois. - Simon respondeu, encarando a porta por onde Gretel tinha passado instantes antes.
— Tem certeza?
— Tenho sim. - Virou sorrindo para Alec, que acatou e foi embora pelo portal que se fechou atrás dele.
Simon virou em direção à porta novamente sem o menor vestígio do sorriso de antes e encarou a porta novamente e depois os lobisomens do salão.
— Sabe, eu entendo que não vão com a minha cara, ou com a de qualquer outro vampiro. Até que não gostem de shadowhunters, mas iludir uma criança indefesa é demais até para vocês. É coisa de vilão de filme.
— Vá com calma aí, defunto.
— Vá com calma o caramba. - Simon se alterou com o parceiro de Luke. — O menino saiu daqui chorando por causa da babaquice de vocês.
— Não o obrigamos a fazer nada. Foi tudo ideia dele. Ele quem ficou brincando o tempo todo.
— Ele nunca tinha visto um lobisomem transformado antes!
— Pare de drama, vampiro. Ele é filho de Valentim. Era um shadowhunter, só encolheu. O que ele mais viu foi lobisomens na vida.
— Até ajudou a me sequestrar antes. - Gretel interveio. — Devia ficar agradecido de eu não tê-lo comido no jantar.
— Ele é filho dele sim, mas é só uma criança indefesa. Não tem culpa do pai que tem, e sequer lembra de antes. Ele é meigo e leal.
— E burro por confundir um cachorro com um lobisomem. - Ela retrucou, fazendo alguns rirem. Alaric não foi um deles. Ele parecia pensativo.
— Talvez seja burro por amar tão facilmente alguém como você que acha engraçado quebrar o coração de criancinhas.
Simon olhou para todos que ostentavam sorrisos debochados e suspirou balançando a cabeça.
— Quer saber? Deixa para lá. - Comentou, deu as costas e foi andando em direção à saída.
— Você se acha tão superior, defunto. - Gretel rosnou, indo atrás dele. — É tão monstro quanto nós.
— Não. Posso ser um defunto como vocês dizem, mas ainda tenho noção do que é certo e errado. Do que é decente. Virar um vampiro não me fez perder minha humanidade. E iludir uma criança pequena é errado, não é algo que uma pessoa decente faça. É monstruoso.
A loba de cabelos brancos não esboçou qualquer reação quando viu o vampiro indo embora.
— Está bem? - Alaric perguntou ao se aproximar da garota.
— Odeio esse cara. - Ela respondeu com raiva antes de suspirar. Ele só colocou a mão em seu ombro e ambos voltaram para dentro do restaurante.

***

No dia seguinte, Jace ouviu um barulho atrás da porta de entrada e, ficando nas pontas dos pés, abriu a porta.
Para sua surpresa, deu de cara com a moça de cabelos brancos do dia anterior, a que não era um cachorro.
Os dois se olharam por um tempo, até que ela desviou o olhar e empurrou uma caixa enorme cheia de furos para o menino.
— Aqui.
Ele quase deixou a caixa cair porque era pesada.
Ela o ajudou a segurar e abriu, e um cachorrinho colocou a cabeça para fora, balançando o rabinho freneticamente.
Jace sorriu de uma orelha à outra e abraçou o bichinho contra o peito.
— Você disse que queria um cachorro. - Explicou sem graça. — É uma garota.
— Está falando com quem, Jace? - Simon perguntou ao abrir mais a porta e deu de cara com a loba.
Ele olhou o cachorro e o rosto corado de Gretel e sorriu.
— Olha o que eu ganhei, Si!
— Muito legal. Já agradeceu, padawan?
O menino deu o cachorro nas mãos do vampiro e abraçou as pernas da loba que parecia querer fugir dali.
— Muito obrigado, Srta. Gretel. Eu amei.
Jace então pegou o cachorrinho das mãos de sua babá, e correu para dentro do loft para apresentar seu novo bichinho para os outros.
— Isso não muda nada. - Gretel rosnou.
— Não mesmo. Ainda te acho babaca. - Ele disse e sorriu, fazendo-a sorrir de volta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.