Little Angel

Capítulo 12 - O amor de uma mãe


Achar o paradeiro de Magnus quando ele não queria ser achado tinha sido mais difícil do que anteciparam, e nem mesmo o rastreio com um objeto dele tinha ajudado.

O loft estava deserto e não havia nenhum sinal deles, ou de luta.

Por fim, decidiram verificar se mais alguém sabia de algo e foram até a delegacia falar com Luke, já que ele não respondia o celular.

Chegando lá, Alaric lhes informou — com cara de poucos amigos — que Luke tinha ido atender um chamado, mas que eles poderiam esperar por ele, se assim desejassem.

E assim o fizeram.

Respiraram aliviados quando Luke retornou depois de algum tempo. Porém, o alívio durou pouco quando o lobisomem deu voz de prisão à Alec.

— Está louco? - Isabelle se estressou.

—Alexander Lightwood, você está preso por sequestro. Você tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo o que falar poderá ser usado contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado. Se não puder pagar um advogado, o Estado indicará um.

— Luke, o que é isso?! Não pode prendê-lo!

— Izzy, está tudo bem. É só um erro de comunicação.

— Fale isso para o menino em cirurgia nesse momento por sua causa. - Avisou.

— Jace?

— Quem mais, Lightwood? Vamos andando.

Luke o levou até as celas. Sabia que era questão de horas para que ele estivesse solto, ou até mesmo que fugisse, mas era uma questão de honra mostrar que havia consequências para todos.

— Não foi minha culpa, Luke. Eu nunca faria mal ao meu parabatai.

— O meu dizia a mesma coisa. - Comentou mordaz.

— Eu juro. Eu não tive escolha. Aldertree ameaçou prender o Magnus caso ele não levasse o Jace para interrogatório, e você sabe tão bem quanto eu que o Magnus não o levaria, e estaria nas mãos da clave. Então eu o levei, mas era só para isso.

— Eles quebraram a espinha do menino, Alec.

— Eu senti tudo, tudo. E eu juro que se eu soubesse que fariam isso, eu nunca o teria levado e seria o primeiro a colocar fogo na clave.

O lobisomem o observou e passou as mãos no rosto, cansado.

— Eu acredito em você, mas ainda vai ficar umas horinhas aqui para espairecer. E quanto a Aldertree e Jocelyn? Tomaram um tapinha na mão?

— Não. Lydia ficou possessa, e já enviou o vídeo para o conselho junto com um relatório, eles irão pagar. Ela está no comando agora.

— E mandou vocês atrás de informações.

— Sim. O que você sabe?

Luke pareceu em dúvida se contava ou não.

— Por favor, Luke.

— Ele está com Magnus agora, no Mercy General. Estava em cirurgia quando eu saí, mas estável.

— Cirurgia?

— Sim. Foi feio a coisa.

Alec abaixou a cabeça e levou as mãos ao cabelo.

— E Magnus?

— Possesso.

— Com razão.

— Com toda a razão.

— Sabe, você devia ir lá… - Parou quando virou e viu que estava sozinho na cela. Alec já tinha escapado.

***

Magnus estava exausto depois de tantas horas de espera.

Jace tinha saído da cirurgia depois de quase cinco horas, ficou um tempo em observação e tinha sido transferido para um quarto particular.

E agora com ele no quarto, tendo passado pelos procedimentos médicos necessários foi possível para Catarina ajudá-lo em sua recuperação.

A diferença era nítida. O semblante do menino era calmo e tranquilo. Já não parecia tão pálido.

— Descanse um pouco, filho.

Magnus até pensou em recusar a oferta, mas estava realmente drenado de energia e precisava descansar.

— Ninguém o machucará. Eu prometo.

Foi o que bastou para que se acalmasse e se entregasse ao sono.

Asmodeus se aproximou do filho exausto e com uma leve mexida de sua mão direita, liberou uma energia vermelha que o colocou num sono profundo e tão necessário.

Afastava uma mecha do cabelo de Magnus quando sentiu uma mudança de energia atrás de si.

— Como se sente, Jonathan? - perguntou ao se virar e encarar a criança com um sorriso.

A criança só o encarou, meio temerosa, e olhando para os lados.

— Você está no hospital, mas está bem. Só precisa descansar um pouco.

— Você está bravo? - o menino perguntou, tossindo.

O anjo caído então conjurou um copo de água com tampa e canudo com desenhos de dragões para o menino e o ofereceu.

Jace aceitou, mas seus olhos se encheram de lágrimas quando viu o copo.

— Ninguém está bravo.

— Ele pegou o meu Fofinho.

— O que é um fofinho?

— Fofinho era o meu dragão de pelúcia. Magnus me deu.

— O que é pelúcia? Um tipo novo de dragão?

— É fofinha, feita pra abraçar. Você disse que dragões protegem o dono, então eu pedi um pra mim e ele me deu um. Tiraram de mim e coisas ruins aconteceram.

— Você o quer de volta?

— Sim, mas não dá.

Asmodeus pareceu pensativo, mas olhou para o filho e se decidiu.

— Vamos fazer um trato então. Você me dá algo e eu o trago para você.

O menino desanimou. Não tinha nada que pudesse ofertar ali com ele. Seu carrinho estava em casa junto de seus outros poucos brinquedos.

— Eu não tenho nada.

— Que tal uma memória? Posso pegar uma pequena memória.

— Eu preciso delas. - O menino riu.

— Prometo pegar uma que não fará falta. Você nem irá perceber. E poderá ter seu Fofinho de volta.

O menino, achando que ele estava brincando, aceitou.

Asmodeus então, com muita pompa, fez questão de apertar os dedos da mão direita do menino que estavam livres do gesso, selando o trato.

Jace começou a piscar cada vez mais longamente e em poucos segundos estava dormindo.

O demônio maior então levou sua mão à têmpora do menino, procurando a memória específica que queria.

Sorriu quando a encontrou.

Uma vida sem a memória de Valentim certamente era uma vida melhor.

Ele então protegeu o quarto com sua magia, pegou um fio de cabelo do menino, abriu um portal e sumiu.

***

Lydia Branwell estava tendo um dia terrível.

Relatórios, denúncias de abuso e tortura, discussões com a matriarca Lightwood.

Desde de que a clave a tinha mandado para Nova York, ela podia jurar que tinha envelhecido uns dez anos.

Era um local muito estressante.

Por isso, estava tentando relaxar no antigo escritório de Aldertree, e agora seu escritório enquanto comia umas uvas que tinha pego no refeitório.

Tudo estava bem. Meio cacho já tinha ido embora, uma música de meditação tocava ao fundo, tinha os pés cruzados e descalços apoiados na mesa quando de repente, um portal se abriu no meio do escritório e um homem asiático — E muito bonito, não que ela tivesse prestado atenção nesse detalhe — saiu.

Foi tão repentino a chegada do indivíduo juntamente com o alarme de invasão, que ela acabou engasgando com a uva.

O homem, por sua vez, fez um movimento com a mão cessando o barulho ensurdecedor do alarme e se sentou, esperando.

Se era ela desengasgar ou morrer, ela não tinha certeza.

Depois de fazer uma manobra de Heimlich sozinha, com a ajuda da cadeira, cuspir uma uva a quase três metros, ela tossiu, ajeitou o terno e sentou-se, tentando demonstrar todo o controle que não sentia no momento.

— Quem é você?

— Asmodeus. - Ele respondeu com um sorriso ao cruzar as pernas elegantemente.

Já ela sentiu que a qualquer minuto seus olhos pulariam para fora.

Realmente não era o seu dia.

— Um demônio maior.

— Prefiro Príncipe do Inferno, senhor de Edom, srta. Branwell.

Ela pausou quando ele disse seu nome.

— Está escrito na placa. - Apontou para o nome dela, em cima da mesa, com um sorriso divertido e ela suspirou aliviada.

— O que faz aqui, senhor de Edom?

Ele sorriu ainda mais com o título falado a contragosto numa tentativa de não ofendê-lo.

— Vim buscar algo.

— Alguma alma? - não conseguiu evitar cutucar, causando uma pequena risada.

— Não hoje, apesar de alguns colegas seus merecerem por torturar uma criança indefesa. - Comentou, deixando-a apreensiva. — Nem mesmo no inferno vemos adultos atacando seus filhotes de forma tão grotesca e sem propósito. - Completou, sem nenhum vestígio de bom humor.

— A clave não compactua com esse tipo de procedimento. Posso assegurar que todas as medidas já foram tomadas para que os envolvidos sejam responsabilizados por tais atos.

— Tenho certeza de que pagarão — falou num tom sinistro, fazendo um arrepio percorrer o corpo da moça —, mas como eu disse, não vim por isso.

— E o que quer?

— Eu quero o dragão de pelúcia que roubaram do menino. Pode trazê-lo ou devo eu mesmo ir procurar usando quaisquer métodos que achar necessários?

Ela hesitou um segundo, até abrir a gaveta, pegar o brinquedo e lhe entregar.

***

Seus filhos não concordavam com a sua visão de vida, nem entendiam seus motivos.

Eram jovens e imaturos. Inocentes e facilmente manipuláveis.

Bastou algumas frases bem colocadas para que ficassem seguros e se mostrasse totalmente rebeldes a ela e fiéis à clave.

O nome de sua família estava seguro, tendo cortado todos os laços possíveis com a situação, mas isso não a deixou tranquila.

Longe disso, na verdade.

Ela tinha feito sua obrigação, cumprido sua responsabilidade.

Seus filhos estavam à salvo das garras da clave e do ciclo, mas isso não queria dizer que ela não se sentisse péssima por isso.

Por isso, após escutar uma conversa um tanto acalorada da filha com a atual chefe do instituto, Maryse conseguiu informações suficientes para achá-lo.

Jace, seu filho em tudo menos o nome tinha saído da cirurgia e estava num quarto.

Destrancou a porta com uma runa, e entrou sem saber acionando as barreiras de Asmodeus, que voltou imediatamente para o quarto, preferindo observá-la de longe.

Ela hesitou quando viu Magnus Bane, o Alto Feiticeiro do Brooklyn, dormindo desconfortavelmente num sofá, mas quando ele não se mexeu ou deu qualquer indício de ter notado sua presença, ela colocou uma runa de silêncio em si e se aproximou do menino.

***

Asmodeus espremeu os olhos tentando entender o que ela falava até a hora que percebeu que era uma runa que o atrapalhava. Com um movimento de suas mãos, se desfez da runa e conseguiu ouvir perfeitamente.

— Mesmo que minhas ações não façam sentido ou que minhas palavras doam, eu juro que tudo que sempre quis foi deixá-los a salvo. Você e seus irmãos são tudo para mim, e por vocês eu faço de tudo. Eu falhei com você, meu menino. E sinto muito por isso, mas não falharei mais. Seus irmãos ficarão a salvo, eu prometo. E vou caçar os que te feriram e te arrancaram de mim, de nós. - Prometeu, com a voz embargada e uma expressão feroz.

Ela arrumou o cabelo do menino com uma delicadeza absurda, e mesmo de longe, era claro o carinho que ela tinha pelo menino.

— Você não merecia isso, meu anjo, mas eu espero que agora você realmente esteja mais seguro longe de tudo. - Uma lágrima escorreu de seu rosto. — Espero que você tenha uma nova chance, e eu sinto muito não poder estar por perto para ver você se tornar um rapaz lindo e brilhante novamente, mas saiba que sempre estarei orgulhosa de você.

Ela então deu um beijo rápido na testa de Jonathan, virou-se e partiu.

Enxugou o rosto antes de sair do quarto, respirou fundo e partiu, passando por Asmodeus no corredor sem sequer notá-lo.

Ele, ao contrário, sentiu o coração bater ao ver uma mulher tão linda, amorosa e feroz quanto aquela.

Ele era paciente, aguardaria que seus caminhos se cruzassem novamente.

Suspirando, ele adentrou o quarto. Numa das mãos estava Fofinho, o dragãozinho de pelúcia e na outra um pretzel que ele comprara num carrinho em frente ao hospital.

— Acorde, filho. Tenho novidades. — Empurrando o filho com a perna, para abrir espaço e se sentar num canto do sofá.

— Aconteceu algo? - Magnus perguntou ainda grogue, tendo um pretzel quase esfregado em seu rosto.

Se sentou direito e aceitou o agrado, um tanto suspeito.

— Então? - Magnus perguntou quando viu que o pai continuava olhando para o nada, acariciando o bicho de pelúcia sem perceber.

— Acho que estou apaixonado.