O passado de Piper dispertara e ela sabia exatamente naquela manhã para onde estava indo. Partir para uma penitenciária federal não a assustava, o que a assustava era o fato de não saber o que iria acontecer lá dentro. Piper estava fazendo uma pequena retrospectiva de seu passado aonde veio à tona os fatos que a incriminava. Relembrou sua juventude, onde acabou feito péssimas escolhas, dando liberdade demais a si mesma para manifestar seus medos de forma tão perigosa e inconfiável. Havia construído metade de sua vida agora, planejara até uma festa de casamento com Larry e de repente, após dez anos, via-se forçada a confrontar todo esse passado, que se virava contra ela, de forma a assombrá-la no presente. Piper sabia do crime que cometera e isso acabou rastreando Alex para seus pensamentos. Após ser convencida por Alex, Piper passou a ser sua cúmplice em um contrabando junto a lavagem de dinheiro pela Alfândega de um aeroporto na Europa e, sabia que da mesma forma que havia a arrastado para o tráfico, havia sido ela também, que a havia entregado. Piper tinha o senso nítido em relação aos seus atos, sabia como as aventuras com Alex junto ao tráfico de drogas enquanto viajavam o mundo eram contagiantes. Tudo isso fazia parte de suas próprias escolhas e embora Alex passasse mal a seus julgamentos, Piper assumia a responsabilidade, mesmo que toda essa situação fosse claramente culpa de Alex.


Piper pulara num surto do banco passageiro do carro. Quando se viu, estava com os braços entrelaçados em seu travesseiro. Abaixo dele, alguns de seus pertences. Larry havia parado o carro quando acordara de um súbito silêncio que os rodeava. Foi quando antes de abrir a porta do carro, Piper teve a primeira e clara noção do por que estava ali. Piper sabia que dali teria que seguir com um agente penitenciário e que não veria mais Larry como gostaria de vê-lo sempre. Ao sair do carro, largou seus pertences no chão e o abraçou, jamais querendo soltá-lo. Piper pode sentir as mãos pesadas do agente encostando-a no braço querendo apresá-la. Assustada, lamentando de si mesma sob aquela situação horrível, Piper deixava as lágrimas rolarem e segurando de volta pouco de seus pertences, quase não pode sustentá-los, devido a um ataque repentino de tremedeira junto ao nervosismo que comandava todo seu corpo e que a forçava não pairar naquele momento.


Sendo condicionada pelo agente e mais um segurança, Piper atravessou o portão principal da prisão. Deparou-se com um mar de detentas todas emaranhadas na sua figura. Algumas lhe faziam caretas e gestos obscenos. Uma delas gritou ao fundo: "ESSA BRANQUELA É APETITOSA!". Piper arrepiara. E seu medo acabou prorrogando quando a voz havia ecoado as selas. Era difícil destrinçar o que melhor se adequava naquela situação porque ela não era específica. Fizeram-na virar-se para a parede e soltar o que tinha nas mãos. Piper apenas obedecera ainda assustada. Estava rendida. Dois agentes começavam a apalpá-la, sendo um deles um homem. Um nó apertou sua garganta enquanto suas mãos seguravam sua cabeça que doía. Era como se estive caído em um buraco negro, onde ninguém mais pudesse a ver, ninguém pudesse ajudá-la, ninguém pudesse tirá-la dali. Finalmente, Piper pode desfazer sua pose imóvel e largar sua cabeça. Naquele mesmo instante, ainda de desperto a ela, a nova detenta da penitenciária, Piper teve seus olhos fitando a figura de Alex, que acabara de cruzar o corredor. Ficou por um instante a observá-la, só observá-la.

— Alex...
Sussurrou. Piper ainda não havia armado bons ataques contra Alex, à raiva que sentia ora deixava de fazer parte daquele sentimento fébrio que a movia. No entanto, Piper estava disposta a não ceder e iria se manter emocionalmente na presença de Alex, pelo menos iria e precisava tentar.