A noite estava sendo uma desgraça. Enzo tinha acabado com o humor de Bruno e assustado Elisa, que não o imaginava daquela maneira. É verdade que no aniversário a garota tinha estranhado o afastamento dos dois. Sentiu que ambos buscavam ocupar lugares opostos o tempo todo, mas não podia imaginar que seria assim. Afinal, ele os expulsou da mesa e ainda fez as crianças acreditarem que os dois é que não queriam ficar ali. Era absurdo! Como Enzo podia agir de tal maneira? Não eram pai e filho? Como a situação podia ter chego neste ponto?

Não entendia. Não conseguia ver sentido naquilo tudo. Afinal Martha era super amorosa com Bruno, Inácio sempre teve uma boa convivência com ele também, a família era mais unida do que a dela que pouco ficava em casa. Então ter um integrante agindo deste modo era uma novidade estranha.
Estava curiosa. Queria entender o que acontecia, porém decidiu não perguntar, evitando deixá-lo ainda pior.

Os dois até sentaram à mesa, porem Elisa viu no rosto do namorado como o encontro com o pai o tinha esgotado, então perguntou se ele não preferia ir embora. Bruno achou melhor irem, então apenas foram para casa - casa de Bruno, pois os pais de Elisa não permitiam que ele dormisse lá.

Ao chegarem foram recebidos pela Dona Martha que ainda estava acordada na sala, assistindo a última novela. Bruno subiu para tomar um banho e Elisa pediu permissão para assaltar a geladeira.

— Vocês não foram comer fora?

— Sim. Mas acabamos não comendo nada.

— A comida era assim tão ruim? O que você escolheu experimentar? — Debochou a sogra que não entendia essa coisa de ficar "experimentado". Gosta de algo? Ótimo! Para que mudar?

Elisa já pensava diferente.
Por fazer faculdade de Nutrição queria provar de tudo um pouco, para quando necessário estar ela pudesse indicar o melhor ao paciente, sabendo o que dava para comer e o que era só enrolação. Daquelas coisas que é receitado, mas o coitado coloca na boca pela primeira vez e nunca mais quer ouvir falar do negócio – ou é totalmente inacessível financeiramente.

— Sushi.

Elisa poderia parar o assunto ali, como geralmente fazia, porém queria saber um pouco mais sobre o pai de Bruno.

— Nós encontramos o Enzo. — Disse, como quem não queria nada enquanto cortava o pão de trigo.

— Agora está explicado. — Falou já perdendo a calma. — Aquele homem é uma desgraça. Sempre ignorante! Por mim ele não colocaria os pés nessa casa, mas ele trata Jéssica a pão de ló. E também tem aquelas crianças que não tem culpa do pai que tem.

De fato Elisa concordava com Dona Martha, pela maneira que ele tratava Bruno era estranho acreditar que estava ali no aniversário de Jéssica. Afinal, os irmãos se davam muito bem. Então Jéssica não deveria gostar de ver alguém que o tratava daquele jeito na própria casa, mesmo sendo seu pai, mesmo que a tratasse bem, mesmo sendo o seu aniversário.

— O que ele disse para o Bruno?

Mesmo tendo instigado a senhora, Elisa queria evitar o assunto. Deu uma breve pausa, pensando se deveria ou não. Todavia a garota até podia querer não comentar sobre aquilo, mas Dona Martha não estava muito afim de "deixar para lá". Então acabou cedendo. Já estava cansada e não queria permanecer ali fugindo do assunto por muito tempo.

— O Matheus nos chamou para comer juntos, porém Enzo foi grosseiro. Falou para as crianças que nós dois não tínhamos ido até ali para ficar conversando com eles e sim para "namorar", mandou pararem de insistir e expulsou a gente dali. Foi rude até mesmo com a esposa. — Deu uma breve pausa. — Ela não gostou nada, fez uma cara para ele. Porém acho que ele nem percebeu, só olhava para o Bruno com uma fuça que faria qualquer ladrão dar meia volta e procurar outra vítima.

— Não acredito. Como que fui casada com um homem desses? O que tinha na cabeça?

Elisa não respondeu, apenas terminou de montar o pão, colocando uma fatia de queijo, e pegou uma água na geladeira. Em todo caso, aquilo ali estava um banquete! Melhor do que muito "sushi" por ai.
Bem, para ser justo a barriga dela estava faminta, deixando a comida com aparência ainda mais saborosa!

— Posso perguntar uma coisa? — Disse Elisa.

A senhora balançou a cabeça em concordância, então ela continuou.

— Por que Enzo é assim com Bruno? Eu não consigo entender...

Dona Martha pela primeira vez calou-se. Buscou palavras e decidiu pôr fim em dizer:

— Isso você precisa perguntar ao Bruno.

Elisa concordou.

Então a mais velha se despediu, dizendo que o sono a havia pego de jeito e foi para o quarto. Claro que a garota percebeu o quão estranho aquilo era. Dona Martha adorava ficar conversando, se Eliza não fugisse elas ficavam por horas num papo onde a mulher falava e a Nora escutava, então não era um soninho que ia a impedir.

Logo a mesma terminou de comer, lavou sua louça e subiu para o quarto. Viu que Bruno ainda não tinha saído do banho, então sentou a beirada da cama, esperando. Ouviu o celular vibrar, procurou por ele e o encontrou em cima do criado mudo. Ficou com vontade de olhar quem era, mas achou que era passar dos limites, afinal ninguém quer alguém fuçando nas suas coisas. Então apenas ignorou.

Estava cansada. Lembrou que havia tomado banho antes de sair, então apenas tirou a roupa e pegou uma camiseta de Bruno - que por sinal estava furada. E afundou-se na cama.