Não faziam três dias que Vitor tinha sido chutado por Camile e a foto da garota, no perfil do facebook, já era ela abraçada com o novo namorado. E como previsto, era o tal rapaz da cantada que o Vitor havia falado. O que queria dizer, muito provavelmente, que os dois já se conheciam antes.

Bruno aceitou isso como a prova de que Camille não valia nada, porém Vitor não conseguia assimilar tais informações naquele instante. Estava derrotado e desestabilizado. Vários pensamentos de um chifre enorme lhe florindo a cabeça vinham a mente e ele só conseguia perguntar-se: Desde quando? Como ele não havia percebido?

Era aterrorizante imaginar que uma pessoa em que você confia possa te trair. E sim, ele confiava nela. Estavam namorando, se viam quase todos os dias, perdiam horas conversando online e aquilo não era o suficiente para assegurar que tinham um relacionamento feliz? Pelo jeito não.

Será que Camile estava tão insatisfeita assim com o relacionamento? Era culpa dele? O que podia ter feito para que as coisas dessem certo? Não compreendia.
Talvez fosse imaturo e não soubesse como fortalecer um relacionamento. Ou desinteressante, afinal não conhecia muitas coisas, só falava com ela sobre assuntos bobos. E... ele era bonito, mas nem tanto. O rapaz da foto parecia ser mais bonito e uns anos mais velho. Garotas preferem homens mais velhos, não é mesmo? Eles têm dinheiro, podem leva-las a lugares onde o mesmo só passaria em frente.
Eram tantas coisas que lhe faltavam.
Uma lágrima irritante veio, mas Vitor não queria chorar, não enquanto Bruno estivesse ali.

— É muito vaca, caramba. Já tá namorando? E bloqueou todos nós!

— Não fala assim dela! — Respondeu a afronta sem pensar direito. Mesmo que fosse verdade, apenas ele tinha o direito de reclamar de Camile.

É isso que se apaixonar causa? Burrice crônica?

— Tá, tá. Mas não acho isso certo não. Poxa! Vocês mal terminaram. Não deu nem tempo de você pensar em esquecer o que rolou e ela já tá em outra?! Poxa, sacanagem.

Vitor apenas se encolheu um pouco mais. Era até estranho ver um homem daquele tamanho a ponto de chorar como um bebê.
Bruno ficou sem reação, não sabia se podia cutucar um pouco mais a ferida para ver se o outro lado começava a falar mal da guria e ficasse com raiva dela, (sei lá, raiva parecia melhor do que essa tristeza) ou se calava a boca e só deixava o guri no canto isolado e quieto por um tempo. Sem saber, passou o problema para uma pessoa um pouco mais experiente nesse assunto.
Bateu uma foto para explicar melhor a situação e depois continuou por texto mesmo.

“Ele está chorando. O que faço?”
Bia logo respondeu.

“Abraça ele”

“Bia, algo que eu possa fazer”

“É sério! Ontem quando eu não sabia mais o que dizer eu apenas o abracei.
Deu certo”

“A pequena diferença é que tu é mulher! Certeza que ele não quer macho nenhum o abraçando. ”

“ Então se vira ‘-‘ ”

Agradeceu a grande ajuda da amiga e olhou novamente o moreno.
Não gostava de vê-lo daquele jeito, mas Bruno sabia desde o início que seria assim. Os dois eram muito diferentes, iam acabar uma hora ou outra ou viveriam insatisfeitos no relacionamento. Ele realmente achava que, entre a Camile e a Bia, a segunda era a mais indicada. Porém, claro, não seria perfeito e acabariam em algum momento também. E talvez a amizade fosse afetada, o que não era uma boa coisa. Afinal, eles eram um trio, não funcionariam como duplas. Imagina se depois de terminarem ele tivesse que escolher um lado? Nem tinha intensão de pensar tão longe.

E, quanto mais encarava o amigo, mais seus olhos focavam onde não queria.
Pensar que poderia deixá-lo feliz novamente e garantir que o colega nunca mais precisasse chorar por causa de um relacionamento acabado era no mínimo “encantador”.
Claro que faziam anos que ele ignorava as linhas e não se custava a ficar outros tantos fazendo o mesmo, afinal aquilo não era normal! Ninguém mais via. E se os outros não viam é porque não é algo que deva ser visto.
Sabia como ninguém que aquelas linhas eram traiçoeiras, amaravam num ponto e desestruturavam o resto.
Porém seu receio foi passando a medida que o arrependimento por não ter se erguido naquela noite no ônibus e juntado um belo casal veio à tona. Ele podia fazer isso! Só mais esta vez, por um grande amigo. Bruno devia isso a ele.

Levantou-se em súbito e foi em direção ao Vitor. Pegou em sua mão esquerda e a linha, um tanto quanto fina, ficou mais visível. Segurou a mesma e andou apressadamente até a porta.

— Fica ai que eu já volto! — Despediu-se.

A porta fechou, mas Vitor a encarava tentando entender o que havia rolado. Em alguns segundos ouviu uma porta mais distante ser aberta e prontamente fechada. Ele havia realmente ido embora.

Vitor não sabia se sentia-se aliviado ou totalmente frustrado por ser deixado sozinho aquela maneira. Queria a solidão para que suas lagrimas se derramarem, mas por outro lado precisava da presença do amigo e novamente o outro havia faltado com ele em um momento tão delicado. Devia acha-lo um frouxo molenga e por isso não se importava, ou sei lá. De fato era a parte mais sem graça do trio mesmo.
Viriam a substitui-lo também? Camile já o havia feito, não estranharia que os amigos escolhessem alguém melhor para tomar o seu lugar.
Além disso, antes de sair rolou aquela coisa estranha. “Tipo, alguém poderia me dizer por quê Bruno tinha pego na minha mão?” Mais um tinha mudado de lado agora? Será que ambos estavam de segredinhos coloridos e os tinham tirado de fora da conversa?
“Claro que a Beatriz já havia contado antes para o Bruno que gostava de garotas. Afinal eram mais amigos entre si, viviam conversando sozinhos e deixando o grupo “Retardados” para lá desde que Elisa tinha sido incluída. CARAMBA, tinha aquele áudio no grupo! O Bruno é viado mesmo! Não acredito que estavam de segredinhos assim!”

Cheio de inconstâncias e dúvidas, Vitor apenas se agarrou a Bad e chorou até pegar no sono.