Linhas Borradas

Principio de Incêndio


— Se alguma coisa aparecer, me avise imediatamente.

— Sim, senhora— ouviu do outro a resposta da assistente antes de dar fim à ligação. Era frustrante para Sam sentir o incomodo a assolando depois de percorrer todo o jardim e alguns lados de dentro da estrutura de dentro do hospital quando sentiu-se observada, e se, estivesse era muito provável que não fosse a única ali e, principalmente não seria o foco da atenção.

Se estivesse erada seria apenas uma dor de cabeça passageira, se não fosse teria um novo problema nas mãos para lidar.

— Sam.

Voltou-se para a figura do marido perto do balcão da confeitaria que estavam. O cheiro de doces impregnava todo o ar e até a fazia sentir vontade de querer comer um pedaço de algum daqueles bolos bonitos que eram exibidos atrás dos vidros do balcão azul.

— Eu perdi alguma coisa?

Fred fez sinal para que se aproximasse.

— Você prometeu me ajudar a escolher as coisas.

Prometer ajudar a fazer a festa do filho de primo do marido agora claramente não era uma boa ideia quando estava com a cabeça cheia e nem tinha almoçado direito.

— É uma festa de criança, crianças gostam de quase tudo que seja doce, não acho que tem muito segredo, é só ser colorido e parecer gostoso. Se não for eles cospem quando não estão olhando.

A mulher atrás do balcão a olhou com o cenho franzido incomodada por suas palavras e Sam só pode supor que aquela pessoa tivesse alguma criança ou gostasse dos pequenos seres barulhentos em desenvolvimento.

Fred comprimiu os lábios voltando à lista que havia preparado com os doces favoritos do primo e cumprindo seu trabalho sob alguns comentários ácidos da esposa.

— E quanto ao bolo? Não sou especialista, mas festas tem bolos – Sam comentou fitando um em especial branco com lascas e uma flor feitos de chocolate escuro por cima. Ele pedia para ser levado.

— Eu estava chegando nisso.

— Ele tem algum gosto especifico? – a mulher atrás do balcão perguntou com interesse.

— Sim, ele quer um do Homem-Aranha do Miles Morales especificamente.

— Miles Morales é o autor? – Sam questionou ainda olhando o bolo.

— Não, é o personagem.

— O Homem-Aranha não é o Peter Park? Eu vi um dos filmes – mais de um talvez.

— Eu também vi o filme – a mulher atrás do balcão comentou.

— Existe esse também, mas o Bart quer o do Miles. Eles são diferentes.

— Salta de prédios e ta de fantasia. Não sei por que tanta exigência, de rosto coberto até o Jack Chan pode ser o Homem-Aranha.

Saber que nem a confeiteira sabia qual a suposta diferença entre esses personagens foi um consolo enquanto ainda se mantivera na tortura de organização só tendo suas capacidades aplicadas na hora de conseguir o salão de festas com brinquedos por um bom preço.

Os dedos digitavam ordens enquanto Fred dirigia o carro para casa. Quando eles estacionaram ambos saíram com ele trazendo o bolo que ela havia comprado.

— Deveríamos convidar o Beck e a Jade para jantarem aqui quando ele sair do hospital.

— É uma boa ideia.

— E podemos também adotar um unicórnio.

— Pode ser...espera, o que? – quando os olhos da loira voltaram-se para o marido foi só para vê-lo sorrindo com deboche enquanto abria a sacola se preparando para guardar o bolo.

— O que esta te preocupando? Tem haver com o Beck e a Jade não é?

— Sim, acho que vasaram a noticia sobre o estado do Beck para atingir ela e por extensão vai pegar em você e ele já que trabalham juntos. To preparando as coisas para o pior cenário.

Ele a fitou com conhecimento de causa para logo em seguida virar-se para as portas do armário pegando pratos e talheres de sobremesa. Sam sentou na banqueta e o aguardou servir a ambos e ocupar um lugar ao lado.

— Seja como for que as coisas aconteçam nós vamos superar. Todos nós – Fred garantiu pegando a mão da esposa e levando aos lábios em um beijo que reconfortava tanto a editora que deveria defender sua escritora como a esposa preocupada com o marido.

Sorriu enfiando o garfo no pedaço fino e o levando a boca. Em um minuto a satisfação transformou-se no mais puro desgosto enquanto fazia uma careta e soltava a mão do marido e procurava um lugar para se livrar daquilo.

— Sam?

O bolo era muito doce ao ponto de se tornar facilmente enjoativo, mas de resto não poderia o classificar como abominável ao ponto de gerar tal reação da esposa, Fred concluiu enquanto rumava o caminho seguido pela mulher.

A porta do banheiro o impediu de entrar e só pode se encostar a parede esperando. Pensar em uma viagem quando as coisas se acalmassem seria uma boa coisa para eles.

Longos minutos se passaram até a porta ser aberta e Sam sair com raiva.

— Se livra do bolo, é uma porcaria!

A vontade de rir da atitude inconformada dela só era reprimida pela preocupação de ver o rosto com uma palidez anormal que o impulsionou a levar uma das mãos à testa coberta pela franja sentindo-a fria.

— Você ta bem?

— Não, eu to com ódio de ter gastado dinheiro com comida ruim. Deveríamos voltar lá e xingar aquela mulher e cancelar o pedido, ela não presta para cozinhar.

— Acho que é melhor irmos com calma, foi um dia estressante vamos apenas ficar por aqui e descansar – aconselhou com as mãos pousadas nos ombros da mulher para conduzi-la para a sala a sentando no sofá puxando os sapatos dos pés dela e acomodando a cabeça dela no colo – Vamos nos preocupar com o que fazer depois, okay?

— Okay.

~&~

— Sim...?

Os dedos de Jade continuaram teclando incessantemente no teclado do notebook após aceitar a ligação deixando o celular no viva-voz sobre a mesinha baixa da sala onde estava sentada no chão.

— Como você esta? – ouviu a voz do irmão soar junto a alguma coisa estridente por um breve instante que não soube identificar.

— Sam mandou me ligar?

— Sim, então que tal responder. Como você esta?

— Vejamos; Estou com problemas para desenvolver o roteiro do meu novo livro, aquele restaurante chinês que sempre íamos quando você vinha para cá fechou há duas semanas e meu marido não tem ideia de quem eu sou.

— Aquele restaurante que tem uma placa verde do lado da porta escrito “família, serenidade” e mais uma outra coisa em chinês?

— Esse mesmo.

— Que droga, eu gostava do porco agridoce deles.

— Era um dos melhores da cidade – concordou enquanto soltava e prendia o cabelo melhor. Ouviu o irmão suspirar do outro lado.

— E quanto ao seu marido, como vai ser? Divorcio?

— Você acha que eu deveria me divorciar só porque sou uma completa estranha para ele e que talvez sempre seja apenas alguém que fez parte de um passado desconhecido pra ele? – perguntou com um toque de sarcasmo.

— Você pode adicionar a família dele a atormentando nessa lista de coisas para considerar o divorcio se de fato o quiser.

— Eu não quero.

Não podia vê-lo, mas podia apostar que o irmão estava comprimindo os lábios como sabia que sempre fazia também, o bendito hábito que haviam herdado da mãe.

Ergueu o olhar para a mesinha no canto da parede onde um porta-retratos com uma foto que havia tirado com o marido no ano anterior residia. Tão felizes que acharia uma afronta se alguém disse que as coisas no futuro acabariam assim. Seu mundo não deveria ser abalado como em um maldito romance clichê de qualidade mediana.

— Sam me disse o dia que as coisas aconteceram – o irmão tornou a falar trazendo-a de volta para a realidade — Você me ligou naquela noite, mas eu não consegui atender. Estava acontecendo alguma coisa entre vocês? O que ia me dizer?

Suspirou pesadamente, ainda conseguia sentir o nó crescer na garganta quando pensava naquele dia desde o inicio da manhã até a noite, o que talvez poderia ter mudado, o que teria evitado.

— Não era importante. Eu só queria muito conversar com alguém.

— Então alguma coisa aconteceu— o West mais jovem concluiu — Eu posso fazer alguma coisa por você agora irmã?

— Se eu precisar de ajuda, pedirei. No momento só o que posso fazer é tentar salvar a droga do meu casamento.

— Não se force a muito. Gosto do Oliver, mas ele não é o único homem no mundo e, se a estiver machucando então definitivamente não é alguém que te mereça.

A passos preguiçosos assistiu o cão surgir do corredor em direção a vasilha de água e depois vir em sua direção, sorriu começando a esfregar a cabeça do animal que logo se acomodou na perna aproveitando o afago.

— Se as coisas chegarem ao limite eu te direi, okay?

— Okay.

Quando a linha ficou muda voltou-se totalmente para o animal de olhos fechados que procurava dormir como nos dias anteriores não pudera.

— Eu sei que você é do Beck, mas se as coisas ficarem muito ruins e eu for embora, você irá comigo Scar? Espero que sim.

Por um longo tempo se permitiu apreciar o momento até ver o aviso de uma notificação piscando na tela do computador seguido por outra no celular.

Duas fotos.

Uma noticia.

“Suas palavras trazem o medo às pessoas enquanto sua realidade se mostra um verdadeiro drama. Será o fim do casamento de Jade West ”

“Os clichês podem acontecer na vida real; você pode ter seus livros derrubados e se apaixonar pela pessoa que te ajudar à pega-los, você pode encontrar o amor através daquele encontro arranjado que deveria ter sido um fiasco a principio, você até pode encontrar seu caminho nas paginas de um livro de historia, e, acima disso você pode perder sua memoria.

Pelo menos foi o que aparentemente aconteceu com Beck Oliver um dos donos “Espiral Fotografias” e marido da escritora dos melhores contos de terror que você pode encontrar para atormentar suas noites de sono, Jade West.

Fontes confirmam a amnesia do homem com relação a sua relação com a esposa, tendo apenas as memorias de quando era mais jovem. Isso cria um verdadeiro desafio para a West.

O que podemos esperar dessa situação, um novo livro ou divorcio?

Façam suas apostas“.

Ellen Wood para

Red Empire