Limoeiro

Vida de protagonista é osso.


Tive uma vidinha moderadamente calma.

Passei a infância a capina roça e nunca vi problemas em ajudar meus pais ate que veio um tar de conselho tutelar aparecer do nada e ameaçar de me levar se eu trabalhasse. Nem adiantou eu falar que gostava.

Mas eu também não era nenhum santo.

Não resistia de roubar as goiaba deliciosa do vizinho. Sim, roubar. E ele me recebia com belos tiros de chumbinho quando me via e eu tinha de correr muito mesmo.
Mas isso foi outra coisa que não faço mais.

Aprendi que é errado roubar e ele também já não dava mais tiro ni mim.
Comecei a ir à escola.

No começo eu odiava. Todo mundo me chamava de burro, e eu me sentia mal. Vivia matando aula pra toma banho de riu; mas agora entendi a importância dos estudos e to me esforçando muito. Apesar de não ser fácil; eu consegui ir para a faculdade. E uma das melhores. Minha mãe e meu pai ate choraram.

Em falar de banho de riu. Eu amava nadar ali. E não via mardade alguma de nadar sem ropa do jeito que viemos ao mundo. Nadávamos todos juntos, meninos e meninas sem ver problemas com isso e era muito bom. Mas logo crescemos um pouco e os adurtos começaram a ter umas idéias de cidade e a proibir.
Agora não tenho tempo para nadar mais.

A faculdade e os estudos tomam o meu tempo. E lutar contra o preconceito é difícil.

Posso tira uma nota arta, ou fazer algo incrive.

Mas é só ouvirem um sotake ou o falar arrastado, que já era. Começa o risinho desavergonhado e a me taxarem de caipira burro e bicho do mato. É osso.

Tem dias que é dificir não fazer argo ou arresponde de atravessado. Mas meu humor e meu auto controle mioro muito. Só fico imaginando o que os amiguinhos da prima iria dizer se descobrirem que já espantei onça no berro? Acho que só iam parar de procurar coisa igual e iam achar. Rere.

Mas eu tava lá. Devaneando na sacada de casa e vendo a “menina” a brincar de cantarolar; era interessante ver uma moça feita assim agindo feito criança. Ela não parecia retardada, apenas criança. Era experta e aprendia rapdo, só...

Não entende nada de coisas da sua idade. Rosinha vive aqui em casa a ajudar ela, desde como se veste certas peças de roupas, a os cuidados com o corpo; mas o que importava mesmo pra ela viver bem não tínhamos como ajudar.

O namorado falou que ia entrar em contato com a família. Mas e depois?

Ela vai ser tratada como uma retardada com atraso mental para sempre? Vai viver entre clinicas? Aqui ela ta feliz; mas e depois...?

—--- Ei! O que vamos comer hoje? ---- ela para a minha frente, usava os vestidos de Rozinha e a mesma tinha posto na garota trancinhas como as dela, parecia ate uma sósia ruiva. ---- Ei me responde uma coisa? Eu fiquei desmaiada igual à bela adormecida por anos, e despertei como a princesa com um beijo? Eu não sou boba. Fala a verdade!

—--- Ara. ---- eu ri com sua cara irritada. Não dava para confundir que a mulher a minha frente era só uma criança. Pura e inocente com esta carinha dela. ---- Ocê num pode aceitar a historia feliz? Quer mesmo saber das bruxas e das coisas ruins? São tão malucas quanto esta historia ai. ---- respondo sem mentir uma única palavra e ela sobe os degraus da sacada se sentando a meu lado e ficando a olhar o céu.

—--- Onde estão meus pais? Eles me abandonaram? ---- sua voz soa triste, e a olho mexendo nas trancinhas novamente.

—--- Não. ---- respondo serio me virando para a dar a devida atenção. ---- Eles te procuraram por anos, chamaram a policia e tudo. Mas você sumil. Estava nas mãos de um ser muito mal e eles acharam que você estivesse morta e fugiram pra não morrer também. Seu namorado voltou pra te procurar, e o amigo dele veio junto. Mas... o amigo dele também morreu pra te salvar.

Falei serio e meio que sem pensar afinal ela, a mente dela era de uma criancinha.

—--- Você não tem tempo de se adaptar e crescer sua mente como devia. Tem que conseguir fingir que esta tudo bem se não quando seus pais chegarem você vai ser internada. Entende? ---- falei serio e ela engoliu o choro e assentiu que sim. ---- Apartir de amanha você vai sentar ali e estudar muito. Tem que aprender coisas de escola, muito avançado logo. Idioma muita coisa, se não... Bem... você não é mais uma criança. Eu sinto muito. ---- sentia como se tivesse realmente roubado a infância dela. Mas... eu roubei foi seu trauma. Então não tinha do que me culpar e sentir mal. ---- Num vai ser fácil, mas também não vai ser ruim. Eu prometo. Confia em mim?

Ela me responde com um olhar pensativo e logo abre um sorriso me abraçando.

—--- Chico. Vem cume omi. ---- a Rosinha surge da porta, com a garota ruiva ela não tinha o menor ciúme, sabia que a garota era só uma criança fofa e inocente e parecia mais maternal com a menina. ---- Fica ai sozinho olhando o nada. Como consegue ser tão assim? Num muda mesmo em. ---- brinca ao voltar para dentro.

Mas péra.

Sozinho?

Voltei o rosto e a garota tinha sumido.

Corri para dentro, entrei no quarto que ela usava esperando ver seus desenhos largados, mas estava tudo no lugar e o quarto estava sem o menor sinal de uso.

Passei a mão nos cabelos indgnado com o que via e ate derrubei o chapéu no chão. ---- Cadê? ---- o som saiu da minha boca sozinho e logo notei Rozinha parada na porta a me encarar como se eu fosse louco.

—--- Cadê o que Chico? ---- seu olhar não mentia. Ela não fazia idéia do que eu procurava. E dizer só iria me fazer parecer ainda mais maluco.

—--- Nada não. Tava procurando uma coisa aqui. Vamo come depois procuro. ---- sai do quarto sentindo um tipo de alivio sem entender o por que. Estava muito preocupado com o sumiço da moça.

Comi mas com a cabeça tão longe que ate errava as garfadas.

—--- Vo caminha pra fazer a digestão. To avuado. ---- falei ao por o chapéu e sair da casa, já a trilhar um daqueles caminhos que pareciam que me guiavam para o lugar certo.

O garoto estava lá fora sentado a segurar o celular que mal pegava no citio, só neste cantinho dava cinal. Ele me olhou com olhos pesarosos e mal conseguiu falar. ---- O que eu faço? Digo sim ou não? ---- ele fala como se perguntasse a um santo e logo para de andar.

Com dor no coração ele me explica o plano de minha prima que enviaram para ele via o telefone, e me revela seu medo e vontade de dizer não. Não queria ser contaminado, passar por toda aquela dor e agonia, se tornar uma aberração.
Não pude o negar.

Mas assim finalmente entendi para onde tinha ido a Anna.

—--- Oce... Ate onde Ocê é capaz de se sacrificar por sua amada e seu amigo? ---- falei olhando para o céu, pensando que ele iria fazer sim e por isso ela não estava mais aqui. O tempo estava estranho, se refazendo e era isso que eu estava sentindo. ---- Eu... Sei que vai dar certo. Mas não posso te obrigar a se sacrificar por que é um sacrifício enorme.

Eu sei que fiz errado.

Mas alguém tinha de o convencer a ir; eu tinha visto a prova que iria dar certo e também sentia que essa era uma boa ideia. Sentia que podeira trazer muito caos, mas que era o caminho de uma resposta. Assim como se tem de causar dor e danos em uma cirurgia para tratar.
E assim ele partiu.

Me peguei parado na sacada de casa sentindo os ventos virem fortes de vários ângulos, minha mãe gritou ajuda para tirar a roupa; mas aquilo tudo não era chuva vindo. Era outra coisa.

—--- Mãe. ---- falei ao ajudar ela a carregar tudo para dentro. ---- Vou na cidade. Ver a prima. ---- falo ao me despedir; já era grande pra cuidar do meu destino, e ela não se metia no que eu fazia mais, apenas rezava para eu voltar inteiro.

—--- Seu pai ta com o carro. É longe. ---- ela alerta mas eu já ia em direção do estábulo.

Meu cavalo de confiança era mais que um mero animal.

Isso é algo que gente da cidade não consegue entender. O que é um bom cavalo.

Peguei os arreios e larguei no chão, sabia o quanto ele odiava cela, arreios e viseiras. Mal parei em frente a ele o bicho já se erguei relinchando forte; parecia entender tudo sem precisar falar.

O mais marrento e bravo de todos.
Obedecia apenas a mim. Por que eu nunca tentei mandar nele.

Sempre respeitei os bixo tudo; entendia o que eles diziam sem usar palavras. E ele batia os cascos contra a porta de sua cancela com força. Não por que queria me bater, mas por que queria ir comigo, dizia assim que queria me ajudar.

Montar não se compara a dirigir.

Sentir o animal junto a ti, coração e alma sincronizados contra o vento.

Cheguei à cidade facim.

O lugar num era como minha casa.

Os carro tudo quebrado no caminho não deixava outro veiculo passar e entrar na cidade. Era argo novo ali, posto de propósito. Mas nada que impedisse o Alazão, que consegue passar por tudo com um trote e um salto. Eta bixo baum!

Cheguei à casa da prima e achei tudo destruído.

A coisa tava bem pior que antes.

A tia tava em pânico querendo sair da cidade, mas o povo mal de lá não deixava e ela chorava muito.

Tirei o celular no bolso e me pus a ligar pra uma mocinha que sabia que podia me pro apar de tudo rapidinho. ---- Oie? Denise? Onde ocê ta moça?

[---- Ai gato. Agora não é uma boa hora. Cola aqui na base do Dc que é mais seguro e nos falamos cara a cara pode ser?]

—--- Certo, já vo prai. ---- desligo e cumprimento a tia deixando ela ali sabendo que mesmo ela estando em pânico era mais seguro ela ficar ali.

Minha casa foi salva.

Mas o ar desta cidade estava passando para as outras por perto e eu temia que se alastrasse para o mundo. Do Limoeiro tomou Pitangueiras e depois a cidade, o que seria o próximo? Ele estava rumando ao domínio do estado e sabia que logo concretizaria, e partiria para o domínio do pais e depois quem sabe do mundo.

Não podíamos deixar.

Parei o Alazão dentro do lugar e o bixo relincho forte como se quisesse me avisar de argo ruim. Mas eu já sabia.

—--- O que ouve? Por que veio ate aqui assim gato? ---- ela vem tranqüila ate mim olhando o Alazão que quietinho ficou sem que eu precisasse amarrar. ---- E em cima de um cavalo destes sem sela. Cara? Você sabe não mitar? ---- ela brinca, mas logo vejo um loirinho me olhar com uma cara de zanga. Que eu fiz? Fiz nada não.

—--- A Monica não esta. ---- o loirinho vem ate mim bufando feito toro bravo. ---- Podia ter ligado invés de vir por nada.

—--- Não vim por nada. Vim ajudar lembra? ---- respondi serio sem ligar para a zanga dele, afinal não tinha feito nada mesmo. ---- E donde ela ta? Tem coisa extranha. A Aninha sumiu do nada lá de casa e ninguém arlembra dela.

Falei e eles me olharam como se eu estivesse falando uma doideira das brabas e logo o outro loiro veio ate mim. Era muita gente pra eu alembrar, mas este me fazia lembra dos cabelinhos do meu amigo Zé da Roça intaum ficava mais facim.

—--- Antonio correto? ---- ele pergunta, e eu nem fico brabo nem nada. Normar ele esquece meu nome já que eu tinha esquecido o de todo mundo. ---- A Monica, Cássio, Magali e Negi insistiram em ir em uma empreitada insana e nada pude fazer. Me ignoraram completamente.

Ele falava daquele jeitinho de gente estudada que sempre me olha com olhos estreitos e nariz empinado; mas não parecia ser gente ruim. Era engraçado como só de ouvir um jeito di fala a pessoa já imagina tudo da outra; eu num gostava disso e já tava fazendo isso com ele... E laskeira.

—--- Mas do que ce ta falando? ---- falo sem entender e ele já retém a fala como se pensasse o melhor modo de explicar para mim; e logo emudece como se eu fosse incapaz de compreender só por causa do sotaque que ouviu. Preconceito é doze. Mas como eu também fiz... ---- Oces num tão mexendo com as linhas do tempo tão? ---- falo e ele me olha com os zoio arregalados anssim, deste tamanhão todo. Parecia ate que ia pula da cara dele. ---- Por que isso num se faz. Vai da ruim e piora tudo.

—--- Foi exatamente o que eu disse a eles! ---- ele exclama feliz. ---- Não com estas palavras, mas foi. ---- confirma só pra dar aquela alfinetada num sei pra que. Acho que pra se sentir superior, num sei o que estes da cidade tem com o ego que é uma relação doentia já. ---- Só que eles simplesmente não me ouvem! Nunca me ouvem.

—--- Óia. ---- falei serio ao ver como ele olhava para mim. ---- Tarvez... Seja como tu fala. Se tu quer falar com gringo num dianta tenta grita, tem que proziam no idioma que eles entende né?

—--- Wooouuu. Tomou no meio da cara em. ---- a garota da um uivo di lobo e pula no lugar e o lirinho ri, deixando o loiro metido P da vida. E eu fico sem entender a brincadiera. Devi ser os tar de gíria que num canso de não entender. Já que em cada canto tinha uma, e se você não souber é burro... Prefiro não saber nenuhuma e falar o português normar, com meu sotakinho mesmo. A não ser que tenha que forçar não falar com ele. Mas aqui eu num tinha.

—--- Certo. Chega di zona. ---- bronquiei como eles fosse tudo criança por que tava parecendo e voltei a olha pro lorinho arrogante que parecia ser o único da minha idade. Tirando claro o dono do lugar que só ficava me zoiando de riba com aquela cara de difunto dele que arrepiava todos os pelos do corpo. ---- Eles devem ta é mexendo tanto no passado que agora ta desfazendo as coisas aqui no presente. Só nos ressta reza mesmo pra que isso não piore tudo.

—--- Aff gato. E como pode piorar?

—--- A menina... ---- murmurei pesaroso. ---- Tu num sabe que esta frase ai traz uma maldição?

Ass: Francisco Antônio Bento o/