Limoeiro

Medo da infância.


Claro que eu estava irritadíssima e muito abalada com mais uma morte mas era a hora de provar que não viemos aqui para perder.

Já tínhamos tirado do caminho muitos inimigos e isso devia contar.

Jeremias e Luca nunca seriam esquecidos e seriam muito bem lembrados!

Deixei que os mais frágeis fossem para a base do Do Contra e ele junto desses cuidassem desta coisa de união falsa e a historia do desafio do CF enquanto com poucos nos dirigimos ao local onde estava Aninha.

—--- E-seu vou. ---- a voz dele saiu tão fraca chorosa que eu quase não ouvi. Me virei e vi Xaveco parado do meu lado com os olhinhos cheios de lagrimas e não evitei lhe dar um grande abraço.

—--- Claro! Claro que vai meu amigo! Não seria a mesma coisa sem os mais fortes e uteis da equipe! Vamos salvar nossa amiga que esta nos esperando!

Só de ver o sorriso bobo dele já fez meu dia ter valido a pena.

Ele apenas move as mãos e um portal se abre na nossa frente e podemos ver nosso destino bem ali. . Era o sanatório da cidade a onde todos que não estavam bem iam; estremeci tentando imaginar como nossa amiga poderia estar, e não pude evitar olhar para Titi que tentava parecer forte. Ele era o único que havia vindo que não tinha grandes poderes, e pior que isso o único que havia vindo que não tinha habilidade alguma na verdade. Era apenas um ser humano.

Parei em frente a porta e pude ver uma enorme placa que parecia escrita com tinta infantil lavável ou coisa assim de um modo colorido que me passava insanidade e não alegria a palavra Tratamento e logo notei que o Cebolinha começava a segurar a respiração como se tivesse medo.

Eu nunca vi este cara temer nada. Nem perante a morte que enfrentamos varias vezes... Isso só poderia significar uma coisa... Esta era a base “dele”.

Empurrei os portões que estavam abertos e estremeci.

Podíamos ouvir gritos ecoarem de todos os corredores do prédio que sem nenhum tipo de segurança se mostrava na nossa frente.

Branco e com a pintura toda descascada aparentando abandono se não fosse pelas pessoas nas janelas se debatendo ou gritando querendo sair, trepadeiras subindo pelas beiradas assim como a grama que já invadia o saguão principal.

Caminhei adentrando o lugar tomando a dianteira com o Cascão logo a meu lado, e já na entrada do lugar me deparo com uma pessoa a bater a cabeça na parede com força tanto que podia ver uma marca de sangue ali, embrulhei o estomago mas logo uma outra pessoa tratou de agarrar aquela e lhe dar uma injeção a pondo em uma cadeira de rodas. Esta nos olhou de cima a baixo e sorriu. Seus lábios estavam cortados, seus cabelos desgrenhados e mostrando muita queda. Era nova como nós mas estava tão judiada que parecia uma pessoa de idade.

—--- Vão se internar? ---- ela sorri novamente. Posso ver que seus dentes estão quebrados e as vestes pareciam de paciente e não de medica, em seu pulso posso ver uma fita que comprovava isso. ---- Aqui é muito bom. Não vão mais ter que pensar nos seus problemas.

A voz dela me trazia arrepios.

Parecia estranhamente feliz mas chorosa ao mesmo tempo. Como um grito silencioso de socorro.

—--- Estamos procurando uma pessoa. Aninha... Ana Lúcia de Jesus Fonseca. ---- Titi se põe olhando para a moça como se não conseguisse perceber seu estado e assim ela se vira e sai gritando um outro nome e afirmando terem visitantes. Sumindo corredor a dentro com o paciente desacordado na cadeira de rodas.

—--- Visitantes? Que estranho. ---- um homem de óculos vem correndo pela mesma porta e nos analisa da cabeça aos pés. Este parecia muito mais são. ---- Jura que não querem se internar?

—--- Caro que não! Onde ela esta! Se isso é mesmo um hospital nós podemos levar ela em bora sem briga?

—--- Ow... Nunca tentaram antes... Eu -não -sei. ---- o homem se assusta e fala cantarolando. ---- Antes de mais nada o que são da paciente? Amigos? Sim amigos esta na cara pelas armas. Venham venham. Sejam bem vindos.

Saltitante e muito estranho o homem nos guia pelos corredores.

Posso ver as pessoas dentro dos quartos se debaterem amarradas as camas, outras pularem e morderem umas as outras logo sendo afastadas, também haviam as que tentavam desesperadamente abrir a porta e outras que simplesmente gritavam sem parar.

—--- Que tipo de lugar é este? ---- finalmente minha voz sai e questiona meus pensamentos. ---- Não é uma base de gangue é?

—--- Sim ela é. Os pacientes mais insanos e violentos ficam na formação de ataque se necessário. Também temos alguns com sintomas suicidas que são muito uteis.

—--- Mas... Vocês tratam as pessoas aqui?

—--- Tratar? --- ele para e volta a me olhar. ---- Estas pessoas estão completamente lucidas minha jovem. Só escolheram sua própria foram de lidar com esta realidade. ---- sua voz soa seria desta vez. ---- Acredite ninguém aqui é prisioneiro. Todos amam este lugar. Ele é incrível podemos fazer o que quisermos sermos quem quisermos sermos nós mesmos!

Definitivamente aquele lugar só tinha maluco.

—--- Aninha! ---- a voz de Titi se fez ouvir e ele logo desaparece entrando em uma sala e o seguimos assustados e preocupados. ---- Meu deus você esta viva! Se eu soubesse que estava aqui... Deus... Aninha!

Não consegui entrar no quarto.

Do jeito que ele invadiu e pegou ela nos braços começando a chora de novo foi incrível. Senti que tinha valido tudo a pena. Ela estava mesmo viva... O Do Contra mesmo com seus métodos tinha conseguido achar ela.

—--- Quem...? ---- ela virou o rosto meio confusa, com os lábios machucados e alguns hematomas no corpo.

—--- Sou eu Aninha, Titi. Lembra de mim? Era seu namoradinho quando crianças.

—--- Titi? Sim... o Titi vai me buscar. Ele vai vir me salvar vocês vão ver... ---- seus olhos pareciam não ver nada, ela estava olhando a tudo e voltava a fitar a janela falando do Titi como se ele não estivesse bem ali como se não o visse ou o reconhecesse. Era um eco. Um eco triste e assustador do que provavelmente ela esperou por todos estes anos.

—--- Aninha sou eu; eu to bem aqui. ---- ele segura seu rosto e a faz o olhar mas seus olhinhos estavam distantes e sonhadores. ---- O que fizeram com você...? O que fizeram com você?

Não aguentei ficar olhando.

Sai e olhei o corredor novamente.

Todas aquelas pessoas...

—--- É uma loucura não é mesmo? ---- um voz me desperta de súbito e me viro percebendo um homem alto a meu lado. ---- O que é mais louco? As vitimas ou quem causa? ---- ele me olha e sinto um arrepio percorrer minha espinha. ---- A psique humana na verdade é a coisa mais louca do mundo sabia? O que é certo? O que é errado? Oque pode e o que não pode? ---- me afasto da porta como se meu instinto me mandasse correr dali, mesmo que isso me obrigasse a abandonar meus amigos. ---- Você sabia que toda esta porcaria varia de lugar para lugar? O certo e errado... Ele não existe sabia? O que é errado aqui pode ser lei lá. Não é louco?

—--- Monica!—--- sinto a mão pesada de alguém me puxar e logo estou descendo as escadas correndo como uma louca desvairada. ---- Ela ele dloga! ---- olho para os lados e vejo que quem me puxava era Cebolinha e que Titi estava carregando Aninha e os outros também corriam.

—--- Ele quem? ---- o Cascão questiona tão afobado quento eu. Parecia que todos sentimos a mesma coisa nem raciocinar.

—--- Você lembla de um cala que eu disse que me seguia e...

—--- Cenourinha! Como você cresceu!

Acho que senti o coração do Cebolinha parar quando vimos que o homem estava bem a nossa frente.

Mas como?

Tínhamos corrido tanto...

—--- Estes são seus amiguinhos? Que loucura não? Nos encontrarmos assim depois de tantos anos. ---- ele comenta de longe sem se aproximar mas quando dou por mim ele esta parado ao meu lado. ---- Que moça bonita. É sua namoradinha Cenourinha?

O cebolinha apertou forte a minha mão e me puxou para longe dele.

Eu nunca tinha visto este homem na minha vida e não sabia por que o Cebolinha agia assim mas ele parecia o conhecer.

De cabelos louros dourados como o sol eram lisos e espetados, longos e muito descabelado como se tivesse levantado da cama e assim ficou; mas apesar disso era o nariz que eu não conseguia desviar o olhar. Enorme fino e longo.

—--- Nós vamos leval ela. Se voc...

—--- Tsc tsc. Tão grande e bonito e ainda falando errado assim? Que coisa feia... Criancinha ate é fofinho mas um marmanjo destes fica feio não é mesmo Cenourinha.

Eu juro que não vi quando o Cebolinha largou da minha mão por que agora ele estava do lado do louro que punhas as duas mãos na sua cabeça.

—--- Fica longe de mim seu maluco! ---- ele o empurra e logo continuamos a correr.

—--- Quem é ele? Por que você esta com medo dele?

—--- Não seja idiota Xaveco. Eu não tenho medo dele, mas ele nunca fez nada quando eu era criança. Só imagino oque aquela coisa selia capais de fazel agola.

O sanatorio era enorme e corriamos como loucos. Mas...

—--- Coisa? Que falta de educação Cenourinha. ---- novamente ele estava na nossa frente. ---- E cuidei tão bem da sua amiguinha.

Tínhamos descido as escadas e... Espera por que descemos se nunca tínhamos subido?

Olhei pela janela e estávamos no ultimo andar.

Como era possível? Era este homem que estava fazendo aquilo?

—--- Cebolinha... quem é ele? ---- volto a perguntar mas quando me viro percebo que Cebolinha não estava mais ali comigo. Na verdade todos tinham sumido e eu estava em meu quarto de pijamas acordando assustada no meio da noite.

—--- Meu anjo você esta bem? ---- meu pai vem ate o meu quarto meio sonolento por causa do meu grito e eu apenas aceno que sim.

Espero ele sair e levanto ainda atordoada.

Olho meu quarto e vejo o sansão sobre a cômoda estranhando o ver ali. Eu não tinha este coelhinho desde que...

Pequei meu celular e disquei o primeiro numero que me veio em mente.

—--- Alo? Monica...? O que foi? ---- percebendo a hora desliguei.

Fui ate minha cozinha e lá achei varias fotos minhas de famílias e muitas delas com meus amigos como se tivéssemos crescido juntos no bairro do Limoeiro como deveria ter sido.

Peguei um álbum de fiquei o folheando.

Era uma ilusão.

Estava presa em uma ilusão e aquele cara louro estava fazendo algo com os meus amigos!

Eu tinha que encontrar um jeito de sair dali!
Ass:Mônica Sousa