Limoeiro

Doces maus entendidos.


Tudo bem.

Eu não gostei nada do Cascão ter levantado a vós para mim daquele jeito mas...

Por um lado ele estava certo; eu me sentia muito mal toda vês que olhava para ele, era um misto de desapontamento com... sei la o que, mas era muito desconfortável. Não sentia que ele era o Cascão, o garoto que brincava comigo e dormia na minha casa jogando na sala ate as altas horas da madrugada (10hrs para ser mais exata).

Mas aquele cara ali na minha frente definitivamente não era o meu amiginho.

Sentia que este Cássio tinha matado o Cascão.

E eu me sentia assim não só com ele.

oOoOoOoOoOo

Diferente de muitos que você ouvi as historias horriveis eu cresci fora do meu bairro do coração vivendo em uma cidade chata e monótona sempre passando as férias no sitio com meu primo e por tanto éramos muito unidos; e eu sabia tudo sobre ele. E o sitio.

O local não era, digamos... “normal”.

Assim que ele retira os selos de proteção posso ver que Magali já se arrepia toda, um assovio vem em direção a casa e logo somos inundados por uma profunda gargalhada que parecia vir de todos os cantos.

—--- Por que? Por que fez isso Chico? Acha mesmo que isso vai ajudar? O que é isso treino de sobrevivência? ---- me revolto o levando a um canto longe de todos, mas não uso muito a cabeça já que gritava o tempo todo.

Estava nervosa não raciocinava muito bem nestas horas; meus amigos poderiam estar em perigo ali. E novamente seria minha culpa.

—--- Carma sô. Eu sei o que to fazeno.

—--- Sei...

—--- É serio. Confia neu só um tiquim.–--- não tinha como eu negar este pedido, Chico era de longe à pessoa em quem eu mais confiava em todo o mundo, então me calo e seguimos para fora a onde os demais já me encaravam curiosos com minha reação exagerada. ---- Ces tão preprarado? Isso num vai ce ninhum paceio no parke.

—--- Já entendemos gato. Mas o que temos de fazer? ---- a Denise andava muito atirada para cima do meu primo coisa que me incomodava, mas não pior que a Carmem ou as perdas de foco da Magali. Poxa ate a Magali!

—--- Num posso dize. É atrapaia oces.

—--- Como assim? Você não vai nos ajudar? ---- ai como eu odiava este timbre choroso e meloso que a Carmem usava com os caras, era tão obvia. Uma vadia, uma grande vadia!

—--- Vo sim. Mas oces ainda tem que se vira um tikim.—--- ele afasta ambas seguindo por uma trilha e pegando uma lamparina a gás. Parecia imune ao que todos os caras viam em Carmem, e lógico que ela fica muito P com isso. Rio litros.

—--- Este cara é viado. Só pode... ---- ouço a loura reclamar, e tento segurar a risada.

—--- Também acho gata. O cara não reage a nada. ---- logo Denise responde igualmente indignada e não resisto a responder.

—--- Ele namora há 11 anos. E além disso não gosta deste tipo de coisa, prefere garotas tímidas, tem um certo nojo de atiradas. ---- tento segurar o riso quando elas me encaram. ---- O que foi? É a verdade. Dueu?

—--- Desnecessário Mônica. Ate pra você... ---- a loura balança suas madeixas do modo mais esnobe que pode. ---- Não sou atirada.

—--- Jura? ---- me viro com desdém para o ultimo namorado que soube que ela teve. ---- Do Contra, a Carmem é o que pra você? Lembra da época que saiam?

Ele então franze o senho e se vira saindo indignado. –--- Credo nem me lembre dos erros da infância. Já tenho muitos pra contar...

Gargalho sem dó e logo todos estamos no mesmo coro de risadas.

Nunca fui muito fã da Carmem e admito que aquilo foi maldade da minha parte, mas foi tão engraçado que nem me senti mal. Quantas vezes ela já não tinha me humilhado e me feito chorar?

Mas logo nosso pequeno momento de entrosamento acaba.

Eu já esperava que a coisa ficasse “feia” mas não imaginava que precisávamos tanto assim deste treinamento. Primeiro a risada se transforma em um gargalhada estridente e os vidros se partem; subindo uma brisa que rapidamente se converte em uma ventania, os longos cabelos de minhas amigas é trançado e amarrado uns nos outros e em pânico elas tentam correr caindo.

—--- Meu cabelo! Meu lindo cabelo!

Elas reclamam e murmuram enquanto o resto de nós tentava entender o que se passava ali. Bem, eles. Eu e Chico sabíamos exatamente o que fazer.

Mas ele não faz nada, ainda. Fica apenas vendo nossa reação ate que Cascão perde a paciência cortando as tranças e separando Denise, Carmem, Marina e Magali que logo se põem a cobri-lo das mais ultrajantes ofensas.

—--- Na próxima deixo vocês amarradas. ---- ele reclama ao devolver a faca que havia pego de Dc, enquanto este apenas ria de tudo.

—--- Não tinha um modo melhor de nos ajudar? ---- Magali se altera vendo suas lindas madeixas negras em fiasco.

—--- Você podia ter desembaraçado! ---- Marina parecia chorar.

—--- Seu retardado eu vou te processar! ---- Denise ficou fora de si, enquanto Carmem se desmanchava em prantos.

—--- Por um cabelo? ---- ele entona sarcástico logo olhando para os garotos como se pedisse uma aprovação para zombar das quatro.

—--- Foco no desafio. ---- logo Dc se pronuncia firme olhando o horizonte como se pudesse ver algo que nós ignorávamos. ---- E além do mais sempre achei melhor cabelos curtos. ---- ele termina em baixo tom ao me olhar por sobre ombros e eu sinto meu rosto ferver.

Como assim? Em uma hora como esta...

Mas as travessuras não ficam por ai.

Ele não tinha ido embora apenas esgueirava por entre as arvores para usufruir de seus feitos; tenho plena certeza que gozou muito ao ver a reação de todas quando Cascão cortou seus cabelos sem a mínima piedade.

Mas este era o menor de nossos problemas.

O sitio era muito próximo de um lago; lago que aprendi a nadar. Mas hoje ele não seria algo amigável. E enquanto todos se distraiam com o debate de: levar ou não a serio o corte de um cabelo; um som suave e melodioso começava a ecoar pelas arvores e adentrar nossas almas. E aos poucos os garotos iam se silenciando, seu olhos ficando brancos, e assim saindo andando em um obvio transe.

—--- O que esta acontecendo? ---- Magali grita ao agarrar o braço de Cascão mas este a arrastava com sigo. ---- Mônica me ajuda aqui! ---- magrinha e frágil como era não podia com ele, mas eu estava tentando descobrir como acabar com o efeito. Segura-los não iria adiantar.

Mas mesmo assim não poderia deixá-los serem levados desta forma.

Invado a casa e volto com uma corda grossa e longa o suficiente para amarrar todos eles. Entretanto isso não adianta em nada pois as meninas não conseguem mantê-los parados o tempo suficiente para que eu voltasse e logo eles desaparecem mata a dentro.

Isso se eu não soubesse aonde procurar.

—--- Mônica aonde você esta indo? Temos de fazer um plano... sair daqui e...

Ignoro os alardes de Marina; o lago; estava próximo e teríamos de chegar lá antes que fosse tarde de mais. Mas eu não podia contar a eles o que estava ocorrendo, no mínimo iriam rir de mim e perder toda crença em me ouvir, coisa que não poderia deixar de modo algum acontecer.

Mas não consigo chegar ate lá.

Ass: Mônica Sousa