Limoeiro

Atos e Consequências.


Acordei mas não levantei da cama.
Fiquei há curtir um pouco aqueles lençóis cheiros e limpinhos.

—--- Anda! Você não tem jogo hoje campeão? ---- olhei para aporta e lá estava o meu pai parado com um sorriso enorme na cara e com a camisa de um time fantasia. O time do limoeiro, time infantil que ele torcia com tanto afinco.
Eu tinha me esquecido ate disso. De como era o sorriso do meu pai.

—--- O que foi campeão? ---- ele pareceu ficar bem preocupado, mas eu só conseguia pensar quando foi que eu o vi sorrir pela ultima vez. Foi antes de tudo. Quando estávamos jogando algo bobo na cozinha, antes de termos de sair da nossa casa.
Mas e eu? Quando foi a ultima vez que sorri assim?

—--- Nada não pai. Só to com sono. ---- respondi de qualquer jeito e logo me troquei. Sai para fora e lá estava o sol radiante acompanhado de nuvens fofas e branquinhas.

Claro que não tinha me esquecido do plano.

Só que nos éramos criancinhas e tínhamos de responder a certos horários.

Então fui ate lá e dei o meu melhor mesmo estando com a cabeça em outro lugar e achando aquilo tudo uma grande perda de tempo... Mas...! Não vou negar que me diverti.
Estava enferrujado.

Fazia muito tempo que não treinava com uma bola nos pés.

Acabei perdendo a manha ali, mas vencemos e os “inimigos” ficaram putos da vida. Afinal ainda eram crianças que não sabiam perder. ---- Aeeeeeee! O Cascão é o melhor! ---- o povo todo gritava e eu me achava o cara.

Ate me distrai e fui comemorar com eles e seus pais.

Me senti realmente no paraíso.

Como eu não tinha me dado conta de que esta vida era um éden? Só fui notar quando percebi que o mundo lá fora é um inferno...

Mas em momento algum eu me esqueci o que viemos fazer ali.

Aproveitava as distrações de todos para agir. Fiz que ia no banheiro e sai para “pegar” uma latas de gasolina e por dentro do carro, que naquela época vivia destrancado e sem alarmes. Pequei tudo no posto que ficava bem ao lado da lanchonete (e que eu tinha visto quando passamos de carro) e pus no porta malas. Só não estava nos meus planos aquilo ser tão pesado e foi difícil de mais... Alem de fingir a todos que estava tudo bem e que eu não tinha ferrado vários músculos do corpo.

—--- Esta tudo bem campeão? ---- meu pai percebe que manco um pouco ao entrar no carro e eu tenho um micro infarto ate lembrar que estava jogando bola a pouco tempo e dei ate umas bicicletas no ar, chapéu entre outras técnicas que criança nenhuma faz. E pus a culpa nisso. ---- Verdade. Isso me impressionou muito em. Sabia que você era bom, mas não tanto. E se te indicarmos para algo serio em? Já pensou? ---- meu coração ate palpitou com isso.

Era meu sonho.

Ganhar a vida nos esportes.

Ser um mestre em vários ou só no futebol não importava...

Eu queria muito isso, sonhava e almejava; ate criava o que se pode chamar de planos futuros. Isso antes de... Eu perder tudo.

Ate as esperanças.

Com o passar dos anos meu sonho passou a ser ficar vivo ate o fim do ano ou somente o dia seguinte, e não ver ninguém que eu amava morrer.

Como as coisas mudam....

Sai do carro já pensando em pegar o carrinho de mão para não fazer tanto peso.

—--- Ei. Você se machucou feio em. ---- ele do nada vem e me carrega no colo. E não pude evitar uma reação automática e bati com tudo o cotovelo na cara dele.

Um arrepio ruim de culpa me percorreu inteiro...

—--- Me desculpa. ---- falei na hora que meus pés tocaram o chão. E minha mãe veio ver o que tinha ocorrido. ----- Me desculpa. ---- acabei repetindo, mas não para ele. Para o meu pais do futuro... Eles fizeram tudo o que podiam por mim... E eu os abandonei. Os culpei, pelo que ouve comigo. ---- Desculpa... ---- quando vi estava chorando e não consegui controlar.

Não tinha me dado conta ate então.

Sentia falta deles.

Sentia falta desta vida destes sonhos bobos, e deste carinho.

Sentia falta de ser o Cascão.

Eu nunca quis ser o Spenk.

Ass: Cássio Marques de Araújo >_O”