Like a Vampire 4: Endgame

Capítulo 7- Coroa de espinhos


Ja era madrugada quando Kino acordou na areia.

Tossiu. Estava desconfortável. Não era lá a melhor coisa ter perdido seu navio.

Talvez ele nem devesse ter saído de sua casa pra começo de conversa.

Olhou para os lados, se assustando a ver quase ninguém ao seu redor.


Onde diabos eles se meteram?


Se obrigou a se levantar e tentar ter algum tipo de classe enquanto caminhava pela praia onde haviam naufragado e perdido o navio.

Bem, pelo menos todos haviam sido salvos graças á...

Haruka?

Ele observou a menina que estava sentada em cima de uma grande pedra, observando o oceano.


Seus cabelos e suas roupas ainda estavam molhados, mas era óbvio que ela ficava melhor assim.


—Não achei que você fosse do tipo que tem insônia.- Kino teve que falar mais alto pra que Haruka o escutasse.


—Não achei que fosse do tipo que se importava com as pessoas.- Haruka respondeu.

—O que?- Kino não entendeu- Desce pra gente conversar direito.


Haruka bufou, e se virou pra ele enquanto gritava:


—SOBE VOCÊ, BABACA!


—Ah, pra me xingar você pode falar alto.- Kino reclamou baixo e então aumentou o tom- Como você subiu?


Bastou só um olhar raivoso de Haruka na direção dele e Kino entendeu que era melhor não perguntar.

Com bastante dificuldade, Kino conseguiu escalar a pedra e se sentou ao lado de Haruka.

—Seus homens fugiram.- Haruka avisou- Alguns convenceram eles que me seguir era uma péssima ideia já que eu era "uma bruxa". Yuuri apenas me avisou que eles viajariam para um lugar seguro.

—Por que eles estavam assustados com o seu poder? Eu já tinha falado sobre isso. Além do mais, você não é humana.- Kino resmungou- Gente burra.


—Eu acho que era mais fragilidade por terem sido salvos por mim.- Haruka deu de ombros- Eu já tô acostumada.


Alguns segundos de silêncio se passaram.

—Você podia ter ido embora.- Kino resmungou.

—Eu posso ser várias coisas ruins, mas quebradora de promessas não é uma delas. Eu disse que iria achar sua irmã. E eu vou.- Haruka confirmou.

—Onde estamos?- Kino percebeu que estavam num lugar que não conhecia.

—Mundo Lobisomem.- Haruka respondeu.- Mun com certeza não está no Vampiro, e seria perigoso viajar pra lá assim do nada, principalmente comigo. Então eu desviei nossa rota pra vir pra cá, que é o reino mais próximo de onde estávamos.

—E o que acha que vamos encontrar aqui?- Kino retrucou.- Cachorros pra adotar?

—Aqui as pessoas são mais pacíficas e mais... Amigáveis. Principalmente com a Patrulha. Podemos seguir pela estrada onde são proibidas qualquer arma e tipo de combate. É pelo litoral.- Haruka explicou- E na cidade temos vários bares e hotéis se quisermos descansar.


—Me chamando pra um bar e pra um hotel?- Kino riu debochado.- Tem certeza que você quer descans.… Ai?

Kino havia levado um beliscado de Haruka.

—Se você fizer qualquer tipo de insinuação assim de novo, eu te assassino enquanto você dorme.- Haruka o fuzilou com o olhar.

—Ah, vai me falar que isso nunca passou pela sua cabeça?- Kino riu.


—Eu te odeio.- Haruka bufou e se deitou na pedra.

—Haruka, eu não te culpo, eu sou um cara bonito, eu sou um príncipe, até eu ia me querer.- Kino insistiu de forma zombeteira.


—Eu preciso te lembrar que você passa 24h por dia no celular jogando alguma coisa offline e que você sequestrou a pessoa errada?- Haruka retrucou.

—A única informação que me deram foi cabelo azul. Como eu deveria saber que existem duas pessoas de cabelo azul no seu grupo?- Kino se deitou do lado dela.

—Você tá mexendo com o perigo ficando perto de mim assim.- Haruka sorriu- Nunca se sabe quando eu posso tentar te estrangular.

—Ah, eu acho que vou arriscar.- Kino riu, apalpando o celular estragado em seu bolso- Eu não tenho nada mais divertido pra fazer.

—Então aproveite enquanto pode. Amanhã mesmo vamos seguir estrada a pé, Príncipe.- Haruka disse o apelido de forma debochada.

—Ah, agora nós damos apelidos um pro outro?- Kino se chocou- Bom saber, Ariel.

—Eu nem sou ruiva.- Haruka revirou os olhos.


—Prefere que eu te chame de Smurfette?- Kino questionou.

Haruka se virou quando não sabia o que responder:

—Boa noite, Kino.


—Ih, ficou sem resposta.- Kino debochou.

—Que pena. Estou dormindo. Mesmo assim parece que eu escuto um mosquito inconveniente no meu ouvido.


Kino riu, divertido e se virou pro lado oposto:

—Amanhã será um longo dia.

—______________


Narração Priya


Eu tinha grandes suspeitas que aquela era a manhã mais bizarra da minha vida.


Ok, talvez não era pra tanto. Teve uma manhã que eu acordei e descobri que estava grávida, então eu acho que essa ainda ganhava.

Mas mesmo assim, estranho.


Eu saí do meu quarto pronta pra tomar café e começar o dia. Já tinha me dado todo o trabalho de trocar de roupa e pentear o cabelo antes de sair só pra não passar vergonha na frente de Cousie ou dos Tsukanami.

Eu não entendia até agora o porquê de eu ter ficado aqui. Literalmente qualquer um podia ser melhor em acompanhar a futura rainha do que eu. Qualquer um.

E isso incluía Lua e Daayene, o que certamente significa algo.


Porém, ao invés de me deparar com bom dias e acenos educados dos criados, os achei parecendo assustados. Conversavam baixo nos corredores, e carregavam coisas pra lá e pra cá.


E se tem algo que eu aprendi vendo série de época, é que quando criados estão assim é porque algum babado aconteceu na realeza.

Desci as escadas fingindo não me importar, mas no fundo doida pra ouvir as fofocas.

Cheguei na cozinha e me servi de uma xícara de café com leito e alguns biscoitos de polvilho.

Aquele lugar ficava sinistro tão solitário assim.

Ouvi a porta se abrindo atrás de mim e dei de cara com Cousie.


Ela usava uma camisola longa que batia nos pés na cor preta, além de um robe branco. Seus cabelos estavam perfeitamente escovados e soltos.


Credo, até pra acordar a bicha tinha elegância.


—Bom dia.- Sorri de forma educada.

—Bom dia.- Cousie pareceu tensa.- Sente algo diferente em mim?


Olhei com mais atenção pra ela.


Eu odiava quando as pessoas me perguntam isso. Nunca prestei atenção em detalhes.


Quando eu ainda namorava com outros meninos e meninas antes daqui era bem assim: eu estava de boas, rolava essa pergunta e em dois segundos estavam brigando comigo por não ter notado os 3cm a menos de cabelo que tinham.

—…Não?- Eu hesitei.

Cousie suspirou, parecendo frustrada.

—Eu deveria?- Insisti.

Cousie se sentou na cadeira, e pela primeira vez senti que vi ela nervosa.

—Estou grávida.- Cousie respondeu.

Engasguei e cuspi meu café todo.

—Oi? Que? Bom dia?- Tossi, confusa.


—Meu sangue não desceu esse mês ainda. Deveria ter descido semana passada.- Cousie respondeu- Achei que seria notável quando acontecesse.


—Bem... Nas primeiras semanas de gravidez o bebê é minúsculo. Tipo, do tamanho de uma semente de papoula.- Eu expliquei- Não fica muito cismada com isso, provavelmente só vai ficar aparente depois.


—Você parece saber bastante sobre o assunto.- Cousie notou.

—Bem.…- Eu hesitei- Tive minhas experiências. Já contou pro Carla?

—Sim.- Cousie sorriu de canto- Ele parece feliz. Nossa coroação será hoje.

—Uau. Vocês são rápidos.- Eu ri.- Bem, seria uma honra te ajudar com o que eu sei. E parabéns!

Cousie sorriu sinceramente:

—Obrigada.

—Bem, você deveria ver um médico.- Eu indiquei- Não sei como funciona vocês, mas quando eu fiquei grávida tive que tomar ácido fólico e umas vitaminas pré natais. E comer muito cálcio e ferro.

Cousie parecia perdida.


—Relaxa, você manja depois. Eu não contei muito com meus pais, sabe. E eu mal tive barriga até... Bem... Nunca. Então eles só acharam que eu estava comendo demais.- Eu ri.

Uma batida houve na porta. Era Shin.

—Vejo que ja contou a novidade pra todos, Cousie.- Shin riu.


—Sem ciúmes só porque você não vai ser rei agora, Shin.- Cousie disse.

—Estou feliz de qualquer jeito. É um herdeiro, vindo de mim ou de Carla. Eliza e Haruka iam amar estar aqui.- Shin comentou.

—Bem, eu posso fazer o trabalho de tia enquanto elas estão longe.- Eu sorri.


Cousie pareceu agradecida.


—Bem, sinto muito em quebrar o clima mas Cousie precisa se preparar pra coroação.- Shin pigarreou.- As criadas estão loucas pra te vestir.

—É claro.- Cousie suspirou- Foi bom conversar com você, Priya.

—O prazer foi todo meu.- Eu sorri.


Os dois saíram pela porta.

Eu quase não consegui abafar um grito.

Que fofo! Cousie ia ser mamãe!

Talvez assim ela conseguisse descongelar o coração dela!

Bem, mas isso era o que menos vinha ao caso.


Eu tinha que ser responsavel e compreensiva, ja que era a única mulher na casa que podia ajudar Cousie.

Pensando bem, eu e Victoria somos as únicas do nosso grupo que podíamos ajudar ela.

Achei minha utilidade!

Depois de comer mais, eu saí da cozinha me sentindo revigorada.


Vou admitir, mesmo não tendo lá a melhor experiência com a gravidez, eu fiquei de verdade feliz pelo casal.

Eu sabia que os dois estavam tentando por muito tempo.

E aquela criança ia nascer bem e feliz, disso eu tinha certeza.


Acabei tombando com Carla no corredor.


Ele tinha o rosto meio pálido, mas ainda tinha a pose elegante de sempre.

—Bom dia.- Sorri educadamente- Fiquei sabendo da notícia. Meus parabéns.

—Agradeço.- Carla olhou pra mim- Acredito também que a senhorita ajudará Cousie no que for necessário.


—Claro.- Respondi- O desejo da rainha é minha ordem.


Carla sorriu de forma educada e pareceu esconder a vontade de tossir, tremendo um pouco.

—Enfim, creio que irei te ver na coroação hoje mais tarde.- Carla pigarreou, sua voz parecia áspera e dolorosa.- Parece que vários lordes virão prestar sua lealdade á minha esposa.

Arqueei as sobrancelhas. Pera, quando foi que eles casaram que eu não manjei até agora?

Mas não tive tempo de perguntar isso, pois Carla foi embora meio fraco.

Nossa, aquele lugar tinha virado mesmo de cabeça pra baixo com essas notícias.

Comecei a andar praticamente em círculos por todo o castelo, como se aquilo fizesse o tempo passar.


Além disso, eu nem sabia andar naquele lugar direito.


Enfim, eu desci e subi várias escadas até achar alguma coisa que me interessasse.


Uma espécie de corredor secreto.


Tá. Não era secreto. Era só um corredor que você tinha que descer umas escadas pra chegar nele e era bem chiquezinho e elegante.


Mas era muito mais legal de chamar de corredor secreto.

Coloquei as mãos nos bolsos da calça jeans e comecei a vasculhar.

Talvez não fosse uma boa ideia.…


Na verdade, eu acho que era bem provável que fosse uma PÉSSIMA ideia. Da última vez que eu inventei de explorar o subterrâneo de uma casa eu achei uma salinha de tortura.


...Bem, pelo menos agora não existia mais aquele lugar.

Mas não sei se as Creedley seriam do tipo de só ter uma sala de tortura em casa.

Ou talvez elas fossem.


Sei lá, eu não entendo muito delas até hoje.


Pelas paredes, várias pinturas chiques eram vistas. Eu me sentia uma turista num daqueles castelos chiques da Inglaterra.

Numa das pinturas, a maior de todas, havia uma família sentada numa espécie de divã vermelho.

A mulher era bela. Tinha um corpo esbelto, seus cabelos eram brancos e longos até a cintura, e seus olhos eram da cor do ouro. Ela usava um vestido todo vermelho e dourado.


Já o homem que estava ao seu lado parecia um pouco mais velho. Seus cabelos eram um pouco longos também, numa espécie de loiro queimado. Seus olhos também eram dourados, só que mais escuros. Ele usava um terno de veludo preto e uma capa vinho.


Duas crianças sentavam ao meio dos dois, indiscutivelmente Carla e Shin. Carla estava sentado próximo de sua mãe, os cabelos mais curtos e a roupa azul. Já Shin estava próximo de seu pai, seu cabelo ainda espetado e a roupa toda preta. Seus dois olhos estavam a mostra.

A coroa na cabeça do casal combinava. Ambas eram negras e ornamentadas com rubis.


Além disso, as hastes da coroa da mulher subiam tomando a forma da cabeça de dois lobos. Já a do rei tinha esse mesmo símbolo incrustado na frente de sua coroa, entre dois rubis.


Embaixo do quadro estava escrito.

"Rei Giesbach e Rainha Krone, e seus dois filhos Carla e Shin"


Ah, linda família, nem parece disfuncional.

Fiquei me perguntando qual seria a idade deles.


Eles não pareciam pessoas com quem você ia gostar de mexer.


Percebi que haviam outras coisas em display, além de vários outros quadros.

Um dos quadros mostrava a mesma rainha Krone, só que ao lado de uma mulher de cabelos negros e olhos verdes familiares demais.

Embaixo havia escrito "Rainha Krone e sua irmã Menae."

Talvez as Creedley logo logo teriam seu próprio quadro aqui também, então.


—Perdida, senhorita?- A voz de uma criada me fez pular de susto.

—Não… só...- Eu me senti gelar- Vendo os quadros.

A criada se aproximou de mim.


—Logo a Rainha Cousie o Rei Carla terão seu retrato também.- Ela parecia orgulhosa- Chegou a conhecer os outros reis.

—Não, senhora.- Eu por acaso tinha cara de centenária?- Não os conheci.

—Eram ótimos reis.- A criada apontou para o retrato dos dois com os seus filhos- Era conhecido que se amavam muito.

Há, conhecendo histórias de reis como eu conhecia graças á musicais, eu duvido.


—Uma pena que a rainha foi acusada de traição e então foi presa.- A criada informou, tristemente.- Era uma boa rainha.

—Como assim traição?- Questionei.

—Bem, dizem que ela questionou o rei de forma gravíssima. Não temos muitos detalhes, somos apenas criados e eles gostavam de manter a vida privada.

—E o rei, onde está?- Questionei.


A criada hesitou mais.

—Morreu a muito tempo atrás.- A criada explicou- Não soube? Foi o próprio Carla que o matou.


Me assustei.

—Faca envenenada no coração.- A criada continuou.- Ele não era um rei tão bom assim.

—Amélia!- Uma outra criada surgiu- A senhora está pedindo pra que comecemos a arrumar a senhorita!

—Sinto muito!- A tal Amélia disse- Vamos Senhorita Hudison, devemos te arrumar pra coroação!


Eu me deixei ser levada pelas criadas.

Depois de uns dez minutos subindo escadas, acabei parando num quarto de cama vermelha.

—É o quarto da Eliza.- Amélia explicou- Ela deve ter vestidos do seu tamanho.


Eu não acreditava muito nisso.

Eu tinha consciência da altura que eu tinha.


Quando entrei no pequeno closet da menina, me surpreendi ao ver roupas tão coloridas e princesescas.


Quer dizer... Com certeza era o estilo de Eliza. Só não era o meu.

—Eu me arrumo sozinha.- Avisei- Deveriam ver como a vossa realeza está.


As criadas, meio estabanadas, concordaram e saíram correndo, deixando a porta bater.

Fucei aquele closet inteiro até achar alguma coisa que fosse mais ou menos do meu gosto.


Quando percebi que isso seria impossível, resolvi achar algo que pelo menos servisse em mim.

Bem, pelo menos isso eu achei.

O vestido era longo, o que em mim significava que arrastava no chão. Por baixo o tecido era todo rosa, mas uma espécie de segundo tecido mais translúcido e leve azul cobria quase todo o vestido, deixando apenas uma parte larga da barra rosada exposta.

Além disso, o vestido era tomara que caia, o que conseguia dar algum destaque no pouco colo que eu tinha. A parte do busto toda era cheia de detalhes e renda.


Terminei meu look fazendo uma trança única no meu cabelo e colocando brincos pequenos prateados. Além disso, achei a maquiagem de Eliza e resolvi só passar um delineador.

Como aquela menina tinha tanta tralha sendo que podia mudar de aparência eu nunca ia entender.

Quando terminei, coloquei os sapatos que eu tinha mesmo. Se bem que eu podia ficar descalço mesmo, considerando o tamanho do vestido.


Daayene ia berrar muito comigo se me ouvisse pensar nisso.

Meio preparada, abri a porta do quarto de Eliza e saí pelo corredor.

—Ah, mas finalmente!- Shin reclamou.- Eu estava te esperando.

—E por que?- Questionei.

—Cousie me obrigou a te acompanhar já que Eliza não está aqui.- Shin bufou.

Percebi que seu cabelo estava penteado pra trás. Ele usava um terno vermelho e branco com uma gravata borboleta.


—Ah, sinto muito. Eu sei que você ia preferir que Eliza estivesse aqui. Até demais.- Revirei os olhos.

—Ela é minha noiva.- Shin reclamou- É claro que eu prefiro ela do que você. Um milhão de vezes. Até mais se bobear.


—Ai que fofo, todo mundo apaixonado.- Eu zoeei, já descendo as escadas.- Mano, só eu que ainda não me apaixonei nessa budega velha?


—Um, eu não estou apaixonado.- Shin correu pra chegar até onde eu estava- Dois, talvez você não tenha se apaixonado porque seja chata.


—Você não me conhece!- Resmunguei.


—Ah, mas eu conheço o tipo de amiga que a Eliza tem.- Shin retrucou.

—Ela é uma menina legal.- Eu sorri- Você é sortudo.

—É.- Shin resmungou, parecendo quase hesitante- Acho que eu sou mesmo.


Quando fomos nos aproximando do salão, Shin me ofereceu o braço e entramos juntas.


Bem, aquele furdunço todo não era por nada. Eu conseguia ver várias pessoas chiques que pareciam ser importantes ao meu redor. Até me sentia fora de meu hábitat.

Claro, não tinha TANTAS pessoas assim. Considerando que era uma coisa de última hora, as várias dezenas de pessoas que estavam lá já seriam grande coisa.

Shin se afastou de mim com a desculpa de ter que conversar com alguns dos lordes que estavam lá.


Bem, e agora eu estava sozinha.

Beeeem legal.


—Priya!- Uma voz conhecida me chamou- Que bom que te achamos.

Era Yui. Seu cabelo loiro quase branco estava preso num coque, e ela usava uma roupa toda preta, que contratava com o grimório prateado que carregava no pescoço.


—Yui!- Eu sorri- Que bom, não sabia que ia estar aqui!


—Bem, eu meio que não ia.- Yui suspirou- Parece que todos os reinos alcançaram uma política mais rígida de "contra humanos". Então eu por muito pouco não consegui entrar!

—Mas ficamos sabendo da coroação da Cousie e não pudemos ficar de fora.- Jackson chegou por trás dela, a dando um beijo na cabeça.- E eu ajudei ela a entrar.

—Ele me ajudou, sim.- Yui engoliu uma risada.- Se por ajudar você quer dizer fingir que ia se transformar em lobisomem em pleno meio dia pra assustar os guardas.

—Ei! Funcionou, pelo menos!- Jackson reclamou.

—Claro que foi por isso, e não porque eu falei que nós éramos amigos da Cousie.- Yui riu- É óbvio.

—Mas onde vocês estavam?- Questionei.

—Missão.- Jackson explicou- Tentamos achar as meninas no Reino Lobisomem pra prosseguirmos com elas, mas não achamos.

—Em compensação, fomos atacados.- Yui suspirou.

—Mentira!- Me abismei- Quem?

—Rebelião.- Yui explicou- Eles parecem ter mais coisa contra a gente do que o próprio KarlHeinz, Deus me livre.

—É, eles estariam ferrados se não fosse por mim.- Sol pulou pro lado deles.- E aí, Priya, tudo tranquilo?

—Na medida do possível.- Eu ri.- Akira veio?

—Tá com o Mao procurando comida.- Sol revirou os olhos- Juro que parece que os dois são javalis quando tão com fome e estressados.

Nós quatro rimos, e o papo começou a rolar.

—Bem, eu queria poder ter minha própria casa.- Eu disse quando o assunto veio á tona.- Eu não suporto viver na mesma casa que os Mukami. Nem das minhas irmãs.

—Pode passar uns dias no nosso apartamento se quiser.- Yui ofereceu docemente.

—Nosso apartamento?- Questionei- Seu e de quem?


—Jackson.- Sol pegou um drink da bandeja- Não ficou sabendo? Eles alugaram um apartamento em Okyo juntos. Eu e Mao ficamos lá por algumas noites.

—Ah.- Eu então sorri na direção do menino- Suas irmãs sabem que você já tá vivendo com a namorada?

—Não. Mas eu planejo contar assim que ver elas.- Jackson suspirou- Estou me preparando pra dor de cabeça.

—Relaxa, elas amam você com a Yui. Devem aceitar numa boa.- Comentei- Mas se prepare pra uma baita conversa sobre gravidez vindo da Marie.


Jackson grunhiu.

—Nem meu pai fala essas coisas comigo.- Ele reclamou.- Mas não, as dondoca das minhas irmãs tem que falar.

—Acontece nas melhores famílias, meu amor.- Yui sorriu pra ele.

—Argh, vocês são tão fofos e doces que vão me dar uma diabetes.- Akira chegou já abraçando Sol por trás.- Ei Priya. Ei amor.

—Ei Akira!- A cumprimentei- Bom tempo que a gente não se vê.

—Muitos compromissos.- Akira revirou os olhos.- É o preço de namorar uma da patrulha das mulheres, eu acho.

—Como alguém que já namorou uma da patrulha das mulheres, eu posso testemunhar que é verdade.- Mao levantou a mão.

—Ah, parece que alguém aqui superou.- Sol zombou.

—Calada, Sol.- Mao brigou de mentira- Eu já estou acostumado a levar fora mesmo.

—Tenho certeza que você vai achar alguém pra você, Mao.- Eu respondi- Talvez só você procurar uma menina que não tenha cabelo azul nem seja grossa.

—Ownt, você está se oferecendo, Prizinha?- Mao me abraçou de lado.


—Cuidado, ela gosta é do Yuma.- Yui riu, causando uma risada no seu namorado.


Fiquei confusa:


—Mas isso não é...

Fomos interrompidos por um barulho de portas se abrindo. Cornetas soaram.

Todos de repente se viraram, encarando o pequeno corredor que um tapete vermelho formava na direção de dois tronos negros.

Carla foi o primeiro que surgiu. Suas roupas negras agora foram substituídas por uma roupa toda vinho e dourada. Sua blusa de botões e gola alta era branca, e ele usava uma espécie de casaco longo com praticamente uma cauda vinho, além das calças da mesma cor. Um símbolo de lobo estava estampado em suas costas.

Enquanto ele atravessava pelo salão, todos nós nos curvamos.

Ele então parou na frente do menor trono, ficando de frente para todos.

Logo depois veio Cousie.

Seu cabelo escuro estava trançado, e sua maquiagem estava super discreta com apenas alguns detalhes dourados em seu rosto. Seu vestido arrastava no chão enquanto ela andava.

Era todo vermelho, as mangas escorrendo pelos seus ombros. Vários detalhes bordados dourados preenchiam o vestido todo.

Eu nunca havia visto Cousie tão elegante.

Permanecemos curvados até Cousie ficar ao lado de seu noivo.


Um homem velho de roupas negras se aproximou dos dois, ficando no meio de ambos.

—Estamos aqui reunidos.- Ele começou a falar bem alto- Para celebrar o noivo reinado que veio nos abençoar. Uma chama de esperança. Uma faísca. A luz no fim do túnel.

Cousie e Carla deram as mãos.

—Os líderes que nos levarão a vitórias e dias de alegria. Os que nos ajudaram em momentos difíceis, e reinarão com sabedoria, justiça e paz.- O homem continuou.- Reino Demônio, eu lhe apresento seus novos líderes.


Ele então pegou duas pequenas cúpulas de vidro, as abrindo.


A primeira era uma coroa maior, mais larga. Ela era toda dourada, com pequenas pedras prateadas em cada encontro dos entalhes.

Ele pegou a coroa com as duas mãos e a posicionou nos cabelos prateados de Carla:

—Vosso rei, Carla, da Família Tsukanami.

E então ele pegou outra coroa, mais alta. Essa era dourada, porém as pedras prateadas eram tantas que quase não conseguia se ver o que estava por trás. A coroa se moldava em várias curvas até chegar nas pontas afiadas.

O homem então colocou a coroa sob a cabeça de Cousie:

—E vossa rainha, Cousie, da família Creedley.

Alguns poucos segundos se passaram. Com um aceno de cabeça do homem, Carla tirou seu casaco e pôs nos ombros de Cousie, que foi receptiva.


—Esse dia também marca a união desses dois líderes perante todos os reinos. Agora estão unidos de hoje até o dia da sua morte.- O homem proclamou.- São uma dupla. Um casal. A esperança do reino. Os que irão prover para todos.

Carla e Cousie uniram suas mãos novamente, dessa vez um de frente pro outro.


—Deverão sempre se apoiar, e apoiar os que lutam por você. Estarão sempre lado a lado. Em todos os momentos.- O homem colocou sua mão em um véu, e pressionou esse véu nas mãos do casal.- Para toda a eternidade que for possível.

Os dois então se viraram pro povo.

—Esses são seus líderes, Demônios. Longo seja o seu reinado!

—Longo seja o seu reinado!- Várias pessoas responderam.


Com um gesto da mão, Carla deixou todos em silêncio.

Ele parecia um pouco pálido, e tossiu suavemente:

—Uma das primeiras promessas que fizemos, eu e meu irmão quando eramos príncipes, é que apenas nos coroariamos quando o futuro de nossa raça estivesse consolidado. E agora, com vocês todos aqui presentes, nobres de todas as raças, cavalheiros e companheiros, venho dizer felizmente que esse futuro esta mais perto que nunca.

Vi Jackson, Yui, Sol, Akira e Mao arregalaram os olhos. Todo o salão se encheu de fofocas e sussurros.


Cousie colocou sua mão na barriga nem um pouco avantajada, como se quisesse confirmar o que seu novo marido havia falado.

—Esse ser que cresce na barriga de minha esposa, meu futuro filho ou minha futura filha, será futuramente o governante de vocês também. Será coroado aos olhos de todos os seres mágicos assim como todos seus antecedentes.- Carla continuou- Mas enquanto isso, temos planos maiores e melhores pro futuro.

Cousie então deu um passo á frente.


—Todo rei demônio que aqui já se sentou escolhe alguns lordes para serem seus conselheiros e companheiros. Para lutar ao seu lado. Para assegurar sua segurança.- Cousie começou- Mas eu não sou um rei demônio. Eu não escolherei alguns lordes. Eu vou escolher todos vocês.


Todos pareceram confusos, porém confiantes com o discurso.

—Eu pedirei mais de vocês do que qualquer outro rei já pediu de seus súditos.- Cousie falava com confiança.- Vocês então levarão seus cavalos e navios pro outro lado do mar por mim? Matarão meus inimigos de roupas de ferro e destruirão suas casas de pedra?

Os cavalheiros gritaram em aprovação.


—Vocês me darão os quatro reinos mágicos, o presente que me foi prometido pelo meu marido bem aqui, em frente a esses tronos que vocês vêem?- Cousie perguntou de novo.

Todos gritaram de aprovação.

—Estão comigo?- Cousie insistiu- Agora.… E pras sempre?


Todos gritaram com mais força.

—Conquistaremos os quatro reinos sob ordem da minha esposa. Custe o que custar.- Carla insistiu- Ela é sua rainha. E logo, a de todos.

Todos aplaudiram.


Inclusive eu, que estava simplesmente embasbacada.


—Longo seja o seu reinado.- Eu Sussurrei.