Like a Vampire 4: Endgame

Capítulo 3- Sangue do meu sangue


(Narração Eliza)

—Então. Temos um plano?- Cousie olhou pra mim do outro lado da mesa.


Mal eram cinco horas da manhã. Eu estava basicamente desmaiando em cima da mesa de reuniões, mas a adrenalina não me deixava pregar os olhos.


Haruka ter sumido do nada era no mínimo loucura. Não recebemos visitantes a no mínimo oito anos. Ninguém tinha visto um barco ou algo parecido se aproximando do nosso reino.


E além disso, era Haruka.


Minha irmã devia ser uma das jovens mais promissoras e poderosas que eu conhecia. Se algo era certeza, ela nunca deixaria alguém pegá-la tão facilmente.


Não sem deixar a pessoa cega, no mínimo.

Mas não podíamos perder ela desse jeito. Existiam poucos de nós vivos e saudáveis.

Poucos demais pra gente só relaxar.


—Isso é o que as meninas propuseram.- Expliquei.- Tem certeza que é um bom plano?

—Aqui não é seguro. Não pra tantas de nós, pelo menos.- Cousie respondeu- Perdemos uma, Eliza. Perdemos nossa irmã.


Eu engoli em seco quase instantaneamente.


—Então vai ser isso.- Decidi.- A gente se divide em quatro grupos.


Cousie pegou alguns bonequinhos de madeira que jazavam parados na mesa de canto. Seu vestido azul escuro escorreu pelo chão enquanto ela andava de volta pra mesa.


—Daayene, Victoria, Marie e Nikki vão voltar pro Mundo Vampiro.- Ela colocou quatro bonecos na parte do Reino Vampiro na mesa mapa- Daayene é praticamente inútil tão longe dos seus poderes aqui. Marie e Victoria são ótimas fontes de informação e controle político e Nikki é uma das comandantes da Patrulha das Mulheres.


—Elas poderiam arrumar um jeito mais rapido de viajar.- Opinei- Se demorarem mais duas semanas pra voltar, sabe-se lá o que pode acontecer.


—Vou ver com Carla se a gente consegue viajar até o Reino Lobisomem de barco e depois teletransportar elas.- Cousie serviu-se de uma taça de vinho.- Aceita?


—Não deveria beber tanto.- Eu arregalei os olhos- Não sabe se está grávida.


O rosto de Cousie se fechou.


E ela bebeu o álcool em um gole só.


Pigarreei:


—E o resto das meninas?


—Eu e Priya ficaremos aqui guardando o castelo e recebendo os lordes que resolverem pregar sua lealdade a mim.- Cousie colocou mais dois no mapa do Mundo Demônio.


—Priya?- Achei estranho- Priya? E Anna?


—Anna é jovem demais. Não vou deixar ela ficar aqui a essa altura do campeonato.- Cousie respondeu- Não sei se percebeu, mas coloquei as mais velhas pra trabalhar nos nossos dois centros políticos. Mais uma questão de maturidade.


—…Você gosta delas.- Sorri um pouco.


—Eu não disse isso.- Cousie foi rápida em desviar os olhos de mim.- Enfim. Brunna e Sofie vão viajar pelo Reino Feiticeiro procurando lordes e ladies.


—Acha seguro colocar a Herbert naquele lugar depois de todos os acontecimentos?- Questionei.


—Não.- Cousie respondeu, colocando dois blocos no Reino Feiticeiro.- É por isso que elas vão nas Vilas Livres, e não no Reino. E estão livres pra voltar quando quiserem.


—Ok. E quanto a mim?- Suspirei cansada- E as outras?


—Eu…- Cousie pigarreou- Vocês podem viajar por terra dos Lobisomens aos Vampiros buscando as pessoas que estão sumidas. E a nossa irmã.


—…Você não pensou em outra coisa que nós podíamos fazer, né?- Não pude deixar de ficar meio brava.


—Não leve pro pessoal, Eliza.- Cousie colocou o resto dos blocos no Reino Lobisomem.-Sabe que eu te adoro e te considero uma ótima e poderosa irmã.


—E é por isso que ao invés de me colocar em lugares mais perigosos vai me deixar cuidando das pirralhas?- Me levantei com as mãos na cintura- Se Haruka estivesse aqui, você ia mandar ela com Sofie e Brunna!


—Mas ela não está.- Cousie me respondeu- Caso não saiba, esse é o único motivo de estarmos nos separando.


—Quando é que você vai perceber que eu tão capaz e boa quanto qualquer uma aqui?- Me senti me magoar.


—Eliza, você é maravilhosa. Mas também é a mais paciente de todas as mais velhas, e é por isso que estou te mandando…- Cousie começou, mas eu interrompi ela:

—Pra ser babá da Anna, da Lua e da Sarah. Grande coisa.


—Eu acredito no seu potencial.- Cousie tentou justificar- Não percebe que estou fazendo isso pelo bem da nossa família?


Respirei fundo, tentando ignorar o fato que eu queria chorar.


—Então eu vou me preparar pra viagem.- Minha boca tremia- E me despedir dos meninos e dos criados. Você avisa as outras?


Cousie concordou com a cabeça e eu saí do cômodo.


Desci as escadas correndo, tomando cuidado pra não acabar tropeçando no meu vestido verde.


Percebi que eu estava tremendo. Muito.


Fechei os olhos e tentei focar na minha própria respiração.


Eu sentia minha pele queimando, e pelo jeito meu cabelo estava mudando de cor que nem um louco.


Quando abri os olhos, me virei e dei de cada com um espelho.


Meu cabelo estava curto e azul, e meus olhos eram dourados. Minha pele estava mais morena do que de costume.

Pigarreei e fui até o quarto de Carla.


Bati na porta três vezes.


—Precisa de ajuda?- Enfiei apenas minha cabeça.


—Você mora aqui, Elizabeth.- Carla me repreendeu- Não precisa agir como se fosse uma criada.


Morri de raiva por dentro pelo nome.


—Achei que vocês gostavam mais da gente quando agimos como criadas.- Eu dei de ombros, me deixando entrar no quarto.


—Gosto de quando são obedientes.- Carla admirou- Mas você é noiva de meu irmão, isso merece algum tipo de folga.


Não pude deixar de sorrir um pouco. Peguei uma toalha molhada e coloquei na testa dele.


—Eu estou bem.- Carla resmungou.

—Não muito.- Respondi- Estamos tentando evitar uma crise. Se continuar trabalhando feito louco e não se cuidar, você sabe o que pode acontecer com você.


—A teimosia da família de vocês vai acabar matando.- Carla bufou, mas não reclamou mais.- Você é idêntica suas irmãs.


—Não tanto quanto eu gostaria.- Meio que murmurei.


—Como disse?- Carla pareceu confuso.


—Eu…- Arregalei os olhos assustada- Acho que não nasci tão esperta quanto elas, isso que eu quis dizer.


—Se quer saber minha opinião, acho que você ainda vai ter a chance de mostrar seu valor.- Carla tentou se sentar, mas fraquejou- Talvez tenha um filho antes de mim.


—Eu não acredito tanto nisso.- Ajudei ele a se sentar.- Mal acho que seu irmão quer ter um filho meu a essa altura do campeonato.


—Shin é quase tão orgulhoso e teimoso quanto eu.- Carla disse- Se ter um filho com você significa me derrotar, aposte que é isso que ele fará.


—Não é sobre isso que deveria ser uma família, né?- Murmurei.- Deveríamos ter família com pessoas que amamos.


—Tempos de desespero pedem por medidas desesperadas.- Carla retrucou.- Você sabe o que isso significava, mesmo quando veio pra cá pela primeira vez.


Engoli em seco e concordei com a cabeça.


—Vocês nem estão tentando, estão?- Carla questionou.


—Shin não tenta desde quando cheguei.- Desbafei- Se ele tentasse me trocar por Haruka, eu nem chocada ficaria.


—É uma boa mulher.- Carla concordou- Será uma ótima esposa e mãe um dia.


—Continue fiel á Cousie.- Eu pedi.


—Nunca pensei em fazer o contrário...- Carla disse, antes de ser interrompido por uma crise de tosse.

Ele tossiu umas dez vezes consecutivas, e quando voltou a levantar sua cabeça percebi que um pouco de sangue estava escorrendo pelo seu queixo e seu cabelo.


Quase automaticamente peguei a toalha branca e o limpei. Um pouco de sangue acabou passando na minha mão, mas eu estava muito mais preocupada em limpar meu futuro cunhado.


—Oy, Elizabeth.- Shin praticamente arrombou a porta.- Quantas vezes tenho que te falar pra não bancar a empregada do meu irmão.


—Se chama ajudar o próximo, Shin.- Respondi.- Você devia experimentar.


—Nah, muito trabalhoso.- Ele nem pensou em hesitar antes de tentar me puxar pelo braço.- Irmão, diga ela pra vir comigo.


Carla olhou entre nós, como se não conseguisse proferir nenhuma palavra de tanto desgosto.


—Tem a permissão de ir com ele.- Carla afirmou com a cabeça- Sua presença foi de grande ajuda.


Concordei com a cabeça, antes de ser puxada agressivamente pelo cotovelo por Shin.


—Ai!- Eu me afastei dele assim que meu noivo bateu a porta- Não precisa dessa agressividade! Seu ciúmes é nojento.

—Eu? Ciúmes?- Shin pareceu abismado- De você com o meu irmão? Essa ideia é a mais absurda que já ouvi.


Ele pegou minha mão, observando o sangue seco nela:

—Lave isso.


—Por favor, é só sangue.- Revirei os olhos- Lembram que foram vocês que me obrigaram a cuidar do Carla como penitência pro meu sumiço.


—Bobagem. Cousie não teve que fazer nada.- Shin bufou.- Não sei como aguenta viver na sombra daquela insuportável.


—Ela é minha irmã.- O corrigi- Não estou vivendo á sombra dela. Estou honrando o nome da nossa família e servindo a líder mais poderosa que vai vir a existir.


—Ah, não sei. Parece uma desculpa que você fala pra você conseguir dormir de noite.- Shin zombou- Elizabeth, você sabe que nunca nasceu pra essas coisas. Nasceu pra se casar, ter família e todas as coisas estranhas que a maior parte das mulheres fazem.

—Eu vou fazer tudo isso, não vou?- Apontei pra ele mesmo.


—Ah, eu espero que sim.- Shin arregalou os olhos.- Prefiro muito conviver com um herdeiro nosso do que…


—Talvez porque se você tiver um filho primeiro você vira rei.- Cruzei os braços e comecei a ir na direção do meu quarto.


—E você vai ser rainha.- Shin foi atrás de mim.


O ignorei de cabeça erguida. Ele pareceu suspirar e então eu senti uma energia atrás de mim, junto com pelos passando pela minha perna.


Tive que olhar pra baixo pra encarar sua forma de lobo. O pelo rosado, o olho dourado e o tapa olho. E uma expressão surpreendentemente debochada para um animal.


—Você é louco.- Revirei os olhos.

Entrei no meu quarto, mas Shin se meteu no meio.


—Ok, cachorrinho.- Eu sorri.- Senta e finge de morto agora.


—Eu não sou um cachorro, humana miserável.- Shin rugiu.


—Enquanto você cismar em me chamar de Elizabeth, eu te chamo de cachorrinho.- Me joguei na cama.


O lobo pulou ao meu lado e quase automaticamente voltou pra sua forma humana.


—Por que esse ódio com as Elizabeths do mundo?- Shin riu de forma debochada- É só um nome.


—Eu só não gosto.- Bufei- Eliza combina mais comigo. Só isso.


—Eu acho Elizabeth mais com cara de rainha.- Shin me encarou.


—Uma pena, porque eu vou ser apenas a Princesa Eliza.- Tentei me distrair da presença dele pegando um caderno e uma caneta na minha mesa de canto.


—Ou…você pode ser rainha.- Shin se meteu mais perto de mim.


—Cousie será rainha.- Grunhi.


—Ah, sim. Com certeza. Mas se eu não me engano, ela bem queria dominar os quatro reinos.- Shin fingiu que não queria nada.- Nenhum líder desse tamanho consegue governar tudo sozinho.


Ele então se aproximou do meu ouvido:

—Você não acha que ela vai querer uma representante no Mundo Demônio?


Fiquei vermelha com a aproximação dele.


E com a proposta também.


Shin deve ter percebido, pois deu uma risada debochada.


—Ah, querida. Você é tão linda quando fica vermelha.- Shin riu mais.- Não acha, minha Eliza?


—Eu tenho coisas mais importantes pra me preocupar.- Me afastei dele.- Caso não saiba, minha irmã desapareceu.


—Sua irmã foi sequestrada.- Shin me corrigiu- Por favor, você sabe disso. Só tem medo de admitir.


Fechei os punhos.


—Eu só posso assumir que ela foi sequestrada quando eu souber quem fez isso.- Tentei me sentar na poltrona- É por isso que eu, Anna, Sarah e Lua vamos viajar a pé do Lobisomem até o Vampiro. Buscando respostas.


—Você sabe que sua irmã só mandou elas pra lá porque são as mais problemáticas, né?- Shin cerrou o olhar- Até eu sei que Lua tem as decisões espertas de uma porta, Sarah tem algum problema hormonal psicológico e Anna… bem, é a mais nova. E você é a linda babá delas.


—Eu sei.- Apertei a caneta na mão.- Mas estou disposta a provar que ela está errada. Eu e as meninas vamos achar quem pegou Haruka. Custe o que custar.


—Agora, essa é a Elizabeth que eu conheço.- Shin debochou.


—Você pare de me zombar.- Eu briguei.

Percebi que meu olho estava coçando.

Pisquei algumas vezes pra tentar aliviar, mas então me rendi e cocei com as palmas.


—É divertido. Além disso, só me mostra quem você realmente é.- Shin riu- Não é só a princesinha burra que acham, Eliza.


Não pude deixar de dar um pequeno sorriso.


—Não. Não sou.- Respondi.

Quando me virei, ele estava bem atrás de mim.


Quase guinchei quando ele me puxou com força e me beijou.


Seria super romântico se não fosse simplesmente trágico.


Suas mãos amassavam meu vestido e apertavam minha cintura. Sua boca mordeu levemente a minha, o suficiente pras suas presas criarem uma pequena ferida no meu lábio inferior


Ele passou a língua pelo contorno da minha boca, me rendendo as pernas fracas.


O puxei pra mais perto pelo cabelo, quase como se eu quisesse que seu corpo gelado fundisse com o meu, queimando.


—Se essa for a sua última noite aqui…- Shin tentou desabotoar meu vestido pelas costas.- Eu acho que posso merecer um presente pra eu aguentar ficar sem você.


—Ah, que pena.- Eu o afastei um pouco- Talvez tenhamos que deixar pra depois que eu voltar então.

Eu fingi que ia me afastar, mas Shin me pegou pela cintura e me jogou na cama.

Suas mãos pararam no meu decote, e ele rasgou meu vestido ao meio sem nem pensar duas vezes.


—Eu gostava desse vestido!- Reclamei, mas Shin fez um sinal de silêncio.

—Eu te compro outros milhares se quiser. Agora, eu tenho que te dar algo pra você lembrar de mim enquanto está longe.


E foi naquele momento que eu consegui fechar os olhos e focar nos sentimentos do meu corpo.


Nunca me senti tão viva.

Tão completa.


E poderosa.


Eu ia fazer tudo o que eu queria.


E no final eu vou sair por cima.


Custe o que custar.