Like a Vampire 4: Endgame

Capítulo 28- Sonhos selvagens


Haruka se analisou no espelho. O cabelo azul bem preso. O blush rosado nas bochechas. Os brincos e o colar de diamante da família, além de uma tiara prateada.

Tudo combinava com seu vestido creme bufante, cheio de camadas, costuras brancas e muita renda. Seu tronco era levemente apertado pelo corselet, o que só piorava com o cinto branco na sua cintura. E sua clavícula mostrava apenas o suficiente pra encantar os pretendentes.

Palavras da irmã mais velha, não dela.

Bufou. Duas vezes, no mínimo.

Com uma batida na porta, sua segunda irmã entrou, delicada como sempre.

Seu cabelo alaranjado estava solto, um pouco selvagem. Ela claramente havia usado bastante maquiagem pra tampar as olheiras e o rosto doente.

Mas usava um vestido rosado, cheio de detalhes de flores e folhas rosas. Uma coisa de estilo mais boêmio. Bem solto e leve, talvez até pra esconder como estava esquelética. Mas estava linda.

—Você está pronta?- Entrelaçou os próprios dedos, sorrindo de forma graciosa.

Haruka precisou se perguntar por que que Eliza não havia sido a escolhida pra se casar. Ela sim seria uma ótima esposa.

E melhor que isso, ela queria se casar.

—Como sempre estarei.- Haruka deu de ombros.

—Então precisamos ir.- Eliza estendeu a mão pra irmã mais nova- Logo será sua entrada triunfal.

Haruka segurou a mão de Eliza, e as duas saíram do quarto.

Haruka só conseguiu se olhar de novo por espelhos por segundos antes da luz se apagar sozinha e a porta se fechar.

—___________________

—Eu odeio esse trabalho- Victoria revirou os olhos.- Por que a Cousie decidiu nos enviar aqui mesmo?

—Porque nós duas somos as mais velhas, depois dela.- Marie respondeu- Mas você sabe quem é o Lorde Rourke?

O vestido de Marie era leve e azul claro, o que contrastava com seu olho vermelho. Os braços estavam um pouco expostos, mas um decote bem fechado e um cinto dourado marcavam seu tronco. O tecido parecia quase translúcido em sua pele.

Já Victoria usava um vestido vermelho mais puxado pro arroxeado. Os ombros estavam á mostra pelas mangas caídas, cujo tecido escorregava até o chão. Apesar disso, sua roupa não era nada bufante e parecia super leve. Flores estavam costuradas em todo seu decote.

Mas seu rosto parecia mais leve, com apenas delineador e uma trança no cabelo para marcá-la.

Com o silêncio da irmã mais nova, Marie suspirou.

—Ok, entendido. Ele completa a lista das… 56 pessoas que a gente não faz ideia de quem seja.

—Eu sou só alguns meses mais velha que a Priya!- Victoria retrucou- E a Daayene ajudou a organizar tudo! Mas não, tem que sobrar pra gente!

—Acho que depois dos acontecimentos recentes sobre as Hudison, a Cousie nem quer mais se envolver com elas direito.- Marie opinou.

As duas se encararam, antes de olharem da escadaria a grande quantidade de convidados que não paravam de chegar. Já dançavam, comiam e bebiam.

—Existe alguma chance do quarto da Neyo ter sido magicamente trancado e a única saída ser a janela do quarto dela?- Victoria sugeriu de repente.

—Por mais que essa seja uma grande esperança minha, eu duvido que alguém aqui tenha essa coragem.

—Nunca seria tarde demais pra gente ir lá e…

Marie segurou a risada.

—Planos de assassinato e nem me avisam?- A voz zombeteira de Lua soou detrás delas.

Estava radiante, usando um vestido levemente puxado pro tom de gelo. A primeira camada do vestido era mais simples e mostrava bastante pele, mas o véu translúcido e branco que havia colocado por cima da roupa a deixava com um ar angelical. Além de cheia de brilho.

—Da onde você surgiu?!- Victoria se virou num susto.

—Da porta. E depois passei pela escada.- Lua riu, ajeitando seu óculos- Chocante, né? Isso é vinho? Me dá um pouco!

Marie recuou com a taça.

—Nada de álcool pra você, mocinha.

—Marie, eu preciso te lembrar que eu já sou maior de idade?- Lua riu- Já sou ó. Mocinha.

—Pouco me interessa. É minha irmã mais nova. Não vai beber.- Marie negou.

—Eu perdi alguma coisa?- Subaru chegou, envolvendo um braço na namorada.

—Subs, pode falar pras minhas irmãs servirem bebida pra mim, por favorzinho?- Lua olhou pro Sakamaki, pedinte.

—Subaru, se você tem amor pela sua vida…- Marie começou a falar.

Victoria fez um sinal silencioso de morte atrás da mais velha.

—Eu prefiro não me arriscar por você. Eu hein.- Subaru bufou.

—Ai, grande príncipe!- Lua zombou.

—Um salvador da pátria por não deixar todos lidarem com você bêbada, isso sim.- Subaru soltou um grunhido do fundo da garganta.

—A festa parece bem animada daqui.- A risada que ressoou era de Brunna.

Ela vinha com um vestido bem azul claro, quase uma Cinderela. Diferente de todas as meninas, suas mangas eram bem curtas e seu decote era discreto. Os detalhes prateados e dourados viajavam pelo tecido todo, incluindo a capa de mesma estampa que estava em seus ombros.

—Olha quem vem, a noiva do dia!- Lua bateu palmas.

Mesmo com todo o climão graças a situação de todas as famílias com as Hudison, Marie resolveu quebrar o clima:

—Está linda, Brunna. Tem certeza que o Ruki não vai querer casar ás pressas com você nesse vestido?

—Do jeito planejador e perfeccionista dele?- Brunna franziu o cenho- Muito mais fácil eu fazer isso.

O anel cintilava no seu dedo, o que fez Marie sorrir.

—E você, Vic? Não cumpriu com suas tarefas de lady ainda?- Brunna riu.

Victoria fez barulhos incoerentes.

—Eu fui sortuda de ainda não aguentar ninguém me perguntando sobre filhos. Ou pior, meu casório.- Ela reclamou.

—Aproveita a oportunidade e anuncia divórcio. Simples.- Subaru sugeriu.

—E aguentar Cousie mascando no meu ouvido sobre roubar a atenção da Haruka pro resto da minha vida?- Victoria pareceu abismada- Nem que a vaca tussa.

—Considerando que um total de… duas pessoas queriam que esse baile acontecesse, acho que merecemos tentar nos divertir enquanto podemos.- Brunna opinou.

—Isso não deve durar muito tempo.- Marie retrucou- Sabe como são eventos conosco. Toda hora uma encrenca diferente.

—Pelo menos esse baile na teoria é nosso.- Lua respondeu.

—E temos a ex maluca da Sarah na lista de convidados.- Victoria grunhiu- Eu juro que as Creedley…

—Aí está você.- Ruki se aproximou de Brunna- Trouxe o drink que pediu. Olá, pessoal.

Ele estendeu uma taça cheia de algo gasoso dentro pra ela.

—Merda de casal charmoso.- Victoria reclamou baixo.

—Que?- Marie, que estava ao seu lado, não havia ouvido.

—Eu disse... baita som cabuloso!- Victoria mentiu, tomando um gole da taça de vinho da irmã.- Falando nisso, acho que eu deveria dançar… tipo. Sozinha!

Ela saiu correndo.

—Mas é uma música de valsa?- Lua ficou confusa.

—Deixa ela. É a solteira do rolê. Tem que curtir mesmo.- Brunna sorriu.

—Você quer insinuar alguma coisa com isso?- Ruki questionou.

—Não.- Brunna respondeu- Mas ela, Priya e Daay são as que mais vão curtir hoje, isso é certeiro.

Marie e Lua trocaram um mero olhar, praticamente notando agora sobre como aquele poderia ser o último baile de Daayene pelos próximos anos.

—Bem, eu acho que é isso.- Lua sorriu.- Alguém desce comigo?

Brunna e Ruki concordaram. Subaru deu as mãos de novo pra namorada.

Um tempo se passou, e as meninas já estavam preocupadas com a grande parte da fortaleza nem ter chegado, quando duas presenças se exibiram.

—Olha quem vem chegando.- Marie zombou. Laito fez uma espécie de revêrencia com seu chapéu.

—Mah-chan está lin-da hoje!- Ele beijou sua mão de forma provocadora.

Marie revirou os olhos mas riu:

—Charmoso.

—Irmã, se quiser, eu posso ficar por conta da vigilância.- Lua sugeriu.- Você deve estar cansada.

Marie tentou forçar sua respiração a ficar normal. Apesar de sua… condição ter passado, ela ainda se sentia fraca e exausta.

—Não tem problema.- Marie retrucou.- Eu aguen…

—Eu posso ajudar.- Reijii pigarreou detrás deles.

Silêncio.

—Claro, se quiserem minha presença.- Reijii foi rápido em adicionar.

—Não sei se seria uma boa idei…- Laito começou.

—Ah. Tudo bem por mim!- Lua sorriu- Não é como se ele fosse me matar, galera.

—É só algumas horas de baile.- Lua murmurou, depois falou mais alto.- Não acho que seja assim grande coisa.

Marie suspirou.

—Ok. Mas se você se cansar...

—Eu te aviso. Claro.- Lua sorriu fraco pra Reijii antes do outro casal descer as escadas.

Sofie finalmente veio, com seu vestido multicor. O corpete era branco, porém com o decote em marrom. Mas a saia descia num degradê de tons de azul. O vestido era totalmente decorado por detalhes de plantas. Folhas, flores. As mangas eram tão longas que mal podia se ver suas mãos.

—Boa noite, princesa dos quatro reinos.- Lua forçou uma reverência.

—Ai, não enche.- Sofie revirou os olhos, rindo.

Reijii deu um aceno pra gêmea mais nova enquanto cumprimentava um par de lordes que havia chegado.

—Está realmente bonita. Jura que não tá tentando conquistar outra pessoa?- Lua questionou.

—Eu acho que eu não poderia nem se eu quisesse.- Sofie respondeu.

Num jato, Ayato estava ao lado de sua namorada.

—Por que saiu correndo?- Ayato questionou.

—Tenho certeza que foi você que se distraiu com a comida.- Sofie retrucou.

—Mentira.- Ayato negou.

Logo detrás deles, mais duas pessoas surgiram.

Sarah, nada surpreendentemente, estava de preto. Mas seu tronco era totalmente destacado pelo brilho prata e a transparência no pescoço. A saia começava descendo com pedras negras, porém ao final do tecido restava apenas a cor azul marinha.

Kanato vinha de mãos dadas com ela, parecendo aflito ao olhar pros lados.

—Eu falei que ela não tinha chegado ainda.- Sarah sussurrou.

—Nada como prevenir.- Kanato brigou.

—Boa noite pra vocês também.- Lua riu- Imagino eu que as Creedley e os Tsukanami cheguem logo, então eu diria que vocês tem que se apressar aí.

—Fico feliz de te ver toda arrumada e feliz, Lua.- Sarah sorriu.- Bem, acho melhor nós irmos. Estou faminta.

—Você sempre tá faminta.- Ayato reclamou.

—Olha quem fala.- Sofie zombou.

Lua se sentou, procurando o telefone no cinto pra mandar uma mensagem xingando o resto das meninas.

—Saudades?- Nikki cutucou as costas de Lua.

A mais nova se assustou:

—De você?

—Do Reijii eu imagino que não seja.- Nikki enfiou as mãos nos bolsos.

Ela usava um terninho prateado que tinha as pernas bem largas, deixando suas pernas bem confortáveis. Seu busto estava mais apertado no tecido mais translúcido e rendado, porém ela parecia mais que alegre com as mangas largas.

—Está bélissima.- Lua sorriu- Shu não vem?

Nikki fez uma expressão confusa:

—Ele já chegou. Disse que se chegar mais cedo, não precisa ir embora tarde.

Ela apontou pro Sakamaki sentado numa das poltronas do salão.

—Faz sentido.- Lua assentiu- Espero que curtam o baile.

Nikki tossiu, meio envergonhada.

—E você, não vai?- Nikki perguntou.

—Eu meio que preciso… terminar de ver os convidados.- Lua engoliu em seco.

—Ah. Claro. Faz sentido.- Nikki sorriu- Vejo você lá.

A irmã desceu, deixando Lua mais uma vez sozinha.

Mas não durou muito tempo, já que Anna e Azusa logo foram vistos chegando.

Anna estava com um vestido branco e rendado sinples. A saia acabava bem aos pés da Hudison mais nova, e seus braços estavam bem cobertos. Porém, uma capa grossa azul clara com renda branca estava posta sob seus ombros, a deixando com um tchâm a mais.

—Ai, que casal mais lindo.- Lua comemorou- Eu posso chorar?

—Hã… não?- Azusa sugeriu.

—Ela tá brincando.- Anna falou baixo.

—Nem tanto.- Lua provocou.- Mas a culpa não é minha que vocês são tão adoráveis juntos.

—Eu não lembro de termos ficado assim com você e o Subaru namorando…- Anna analisou.

—Anna. Você é o bebê do grupo. Tanto biologicamente quanto psicologicamente.- Lua a segurou pelos braços- Azusa se você acabar com ela eu vou te bater

—…O…K?- Azusa pareceu confuso.

Lua riu, claramente divertida.

—Desculpa, podem ir, fiquem á vontade.

Os dois desceram, claramente mais envergonhados que antes.

Lua nem precisou ver quem era quando duas vozes escandalosas chamaram sua atenção.

O vestido de Priya também era vermelho escuro. A saia era bem mais longa e cheia do que esperavam, e o corpete além de justo mostrava bem mais pele do que talvez fosse adequado pra ocasião. Alguns brilhos e costuras em preto desciam pela sua veste, e ela parecia bem alegre.

Daay veio gerando um choque. Ao invés do rosa brilhante que todos esperavam, Daayene desfilava num vestido leve e longo,todo preto. Claro, ela ainda era Daayene, então seu decote e seus braços estavam cheios de transparência e rendas.

Ela pausou sua marcha com as mãos na cintura, e o cabelo albino e os olhos vermelhos nunca pareceram honrar tanto seu estilo.

—Oi pra vocês duas!- Lua se assustou- Nossa, vocês trouxeram esse calor aqui ou…

—Lua, pelamor.- Daayene riu- Se for pra você sair do armário, pelo menos termina com o Subaru antes.

—Não dá pra evitar! Olha vocês!- Lua basicamente pulava.

—As graças da solteirice.- Priya sorriu- Não precisamos nos preocupar em agradar ninguém.

—Não sei se isso é tão verdade…- Lua analisou o salão, onde Yuma e Kou obviamente olhavam pra escadaria, mesmo conversando com as duas outras Hudison e seus irmãos.

—Por favor!- Daayene cobriu o rosto- O Yuma pra Pri até eu entendo…

—Entende? Porque eu não.- Priya interrompeu.

—Mas eu com o Kou?- Daay continuou- A gente é só amigo.

—Eu sei lá, eu acho todas as minhas amigas super gatas mas não fico olhando pra elas assim.- Lua franziu o cenho- Credo, eu espero que eu não olhe nem pro meu namorado assim.

—Não sei se ele reclamaria.- Priya riu.

—Não é sobre isso.- Lua sorriu de volta.

—Enfim, acho melhor nós irmos pra não acabar atrasando alguém.- Daayene deu um sorrisinho- Se eu te achar lá embaixo a gente pode beber juntas, Lulu!

—Ela é um bebê!- Priya foi reclamando.

—ELA TEM 18 ANOS!- Daayene comentou de forma exagerada.

Lua não pode deixar de rir das duas garotas.

Estava ficando cansada de esperar, então já ia indo embora quando viu um quarteto se aproximar.

—LUINHA!- Mao correu- Um desastre aconteceu!

—O KarlHeinz veio?- Lua se assustou verdadeiramente.

—Hã… não?- Mao ficou confuso.

—Ele tá sendo dramático.- Jackson se aproximou.

Lua ficou de coração leve ao ver que nenhum dos dois parecia ter raiva dela.

—O que rolou?- Lua questionou de novo.

—O NOIVO DA HARUKA CHEGOU!- Mao berrou.

—Você pirou?- Jackson o deu um tapa- Berra mais.

—Quem?- Continuou insistindo.

—Um príncipe demônio.- Yui chegou perto de nós.- Aparentemente ele acabou de entrar no mercado dos casamentos. Ele seria um ótimo partido, e a carruagem dele está lá fora.

Yui estava sorridente. Seu cabelo estava preso num coque frouxo, e ela mal usava maquiagem. Apesar das mangas longas e largas e o decote em V bem discreto, ela estava digna de uma princesa da Disney. O tecido rosado combinava com os olhos dela, e sua cintura era bem marcada pelas pregas e uma fita da mesma cor.

—Mercado dos casamentos… carruagem?- Lua fez uma expressão confusa- O que é isso? Bridgerton?

—Você devia imaginar que esse tipo de coisa aconteceria aqui.- Sol se aproximou, falando mais baixo que todos.

Estava com um diadema dourado no cabelo. O vestido era bem mais largo do que o das outras meninas. Azul escuro. Apesar do tronco ter alguns bordados em dourado e um pequeno laço que destacava sua cintura, a saia era reta e simples. Na verdade, dava até pra suspeitar que usava uma calça por baixo.

—Então… um bom pretendente pra Haruka?- Lua fez uma expressão confusa- Isso seria bom, não?

—EXATAMENTE!- Mao berrou- BOM DEMAIS!

—…Você ainda gosta da Haruka?- Lua questionou.

—Quê? Não. Ah, isso, não.- Mao ajeitou os óculos- Mas ele é perfeitinho. Ninguém é perfeitinho assim de verdade.

—Estamos apostando em qual vai ser o segredo obscuro dele.- Yui comentou.

—Pai de filho bastardo.- Sol sugeriu.

—Usuário de drogas.- Jackson continuou.

—Viciado em jogos de aposta.- Mao prosseguiu.

—Poligâmico.- Yui finalizou.

—Ou… ele pode só ser um cara legal?- Lua pensou alto.

Os quatro fizeram caretas.

—Bem, de qualquer forma, eu estarei animada pro desenrolar das coisas.- Lua olhou o relógio do celular- Ah! Desçam logo! Daqui a pouco fecharemos as portas!

Eles se assustaram antes de correrem pelas escadas.

Lua estava prestes a se virar pra descer também antes de trombar de cara com Kino. Os dois deram um pulo.

—Ai! Que susto!- Ela brigou.

—O que foi?- Kino questionou.

—Como assim o que foi? Você me assustou!

—Você que me assustou! Você tava pra lá e…- Kino então pausou- Quer saber? Não faz muita diferença mesmo.

—Você veio me buscar?- Lua fingiu emoção.

—Hã… não?- Kino sugeriu.

—Credo. Grosso.- Lua forçou uma expressão de ofendida.

—Você quer que eu minta?

—Você…- Lua então balançou a cabeça- Esquece. Não faz muita diferença mesmo. Eu vou… descer pro baile… e tals.

Kino concordou. Duas vezes, quando Lua permaneceu em silêncio.

—Ah. Era pra eu falar alguma coisa?- Kino pensou alto.

—Esquece.- Lua segurou uma risada.

Lua desceu sozinha, e se encontrou com Priya e Brunna no buffet.

O clima estava até bom. Marie depois chegou, reclamando algo sobre terem falado sobre o ganho de peso dela.

De repente, o clima foi cortado pela expressão de raiva de Priya.

—Ah não. Nananinanão. Que porra é essa?- Priya estreitou os olhos.

—Que foi?- Lua se aproximou.

Priya apontou pra um certo espaço no canto do salão, onde um pequeno homem completamente reconhecível com as roupas escuras bebia e curtia a música.

—É o q…- Brunna se exaltou- Quer dizer que o filho de uma…

—Brunna!- Marie a repreendeu.

—Desculpa! Continuando… esse trenzinho aí… tem a coragem de vir no meu baile depois de tentar me matar e sequestrar a Sofie?

—Fala baixo!- Priya brigou- Já pensou se você-sabe-quem acaba escutando?

—Voldemort?- Ayato brotou atrás de nós. Kanato e Laito logo atrás dele.

Marie pareceu abafar um grito de susto.

—Que isso, Mah-chan? Você viu um fantasma?- Laito provocou a namorada.

—Eh…Eu…Er…Hm…- Marie pareceu perder toda sua dicção.

—Com certeza!- Lua tentou salvar a pátria- Na verdade, eu tô vendo… hã… a Anna precisando de ajuda bem ali.

Os três me olharam confusa.

—Mas ela nem tá…- Kanato falou alto. Laito, entretanto, pareceu ter uma realização:

—Entendido. Vamos ajudar a Anna-chan~.

—Mas eu…- Ayato quis retrucar, mas foi prontamente puxado junto de Kanato pelo irmão mais novo.

—Ok, podemos nos espalhar.- Marie deu a ideia- Vai ser mais díficil dele nos achar se estivermos separadas.

Todos concordaram. Brunna foi se encontrar com Ruki. Marie e Lua desbandaram pra um lado, deixando Priya perdida.

Ela só ficou um pouco mais tranquila quando Daayene correu na sua direção com uma expressão levemente preocupada.

—Você também viu?- Priya a puxou.

—É claro que vi!- Daayene pareceu furiosa- A audácia de algumas pessoas! Falta senso, viu?

—Nem me fale!- Priya cruzou os braços- Ainda vir e fingir que está tudo bem depois de tudo o que fez! Eu fico… argh!

—Isso deveria ser um baile relaxante pra gente que planejou tudo, mas as donas do rolê nem chegaram e eu já tô ESTRESSADA!- Daayene bufou.

—Pelo menos ele é pequeno. Se juntar dois dos meninos, menos os Sakamaki porque a possibilidade de algum assassinato acontecer com eles envolvidos é gigante, conseguimos tirar ele daqui.

—É, com cert…- Daayene então me encarou- Como assim ele? De quem você tá falando?

—Como assim de quem eu tô falando?- Priya franziu o cenho- De quem VOCÊ tá falando?

—Da Neyo! Ela acabou de entrar no baile e já tá no buffet!- Daayene disse como se fosse óbvio.

—Neyo já chegou?!

—É claro que sim, songa! De quem eu poderia estar falando?!

—Do Tyrosh!

—Tyrosh Rosmeary está aqui?- Daayene se assustou.

—Já está enchendo a cara de vinho, nada surpreendentemente.- Priya deu de ombros.

As duas irmãs se encararam.

—Precisamos avisar o pessoal.- Daayene afirmou.

—Eu vou pela esquerda e você pela direita?- Priya questionou.

A mais nova concordou, e as duas se deram as costas e marcharam.

Enquanto isso, ao tom de uma música lenta, Brunna já se sentia culpada.

E ela literalmente havia acabado de chegar. Meia música, apenas.

Brunna apoiou sua cabeça no peito de Ruki, respirando fundo enquanto os dois dançavam lentamente pelo salão.

—Brunna. Você tá prestando atenção no que eu tô falando?- Ruki questionou.

Seu nome fez a menina olhar pra cima, encontrando seu olhar.

—Eu…- Brunna se envergonhou- Desculpa. Não. Viajei aqui.

—Eu tava falando sobre a Anna e o Azusa.- Ruki gesticulou com a cabeça pra um canto, onde minha irmã e seu namorado estavam comendo algo e conversando baixo juntos- Fico feliz pelos dois. Eles combinam muito…

—Desculpa, Ruki.- Brunna se afastou um pouco dele, mas continuaram de mãos dadas- Eu quero ser bem honesta com você. Eu vou acabar me perdendo nesse papo de novo porque eu tô focada na pessoa que decidiu vir e...

—Tyrosh?- Ruki questionou, e Brunna concordou.- Não precisa se sentir mal. Eu prefiro você sendo honesta comigo. Você sabe que eu posso expulsar ele daqui se quiser, né?

—BRUNNA!- Sarah berrou meu nome antes de vir marchando até mim- QUE PORRA É ESSA DE QUE O ROSEMARY VEIO?

—Eu não sei, mas você quer testar ele vindo até a gente com você gritando meu nome assim?- Me virei pra ela.

Sarah colocou a mão na boca:

—Opa, mals. Desculpa Ruki, eu não queria atrapalhar o clima.

—Não se preocupe.- Ruki reafirmou.

Sofie veio meio correndo.

—Sarah, quando eu falei "vamos até Brunna", eu quis dizer discretamente. Não berrando e correndo pelo salão.

—É. Eu notei essa parte agorinha mesmo.- Sarah respirou fundo.- Qual o plano?

—Como assim plano?- Questionei.

—No pior dos casos podemos prender o Rosemary por tentativa de assassinato.- Ruki murmurou- Quanto á Neyo não sei bem o que fazer.

—Gente, eu aprecio toda a devoção de vocês a nos ajudarem, mas se causarmos uma cena bem no baile de debutante da Haruka, quem vai tentar cometer um assassinato aqui é a Cousie.- Sofie brigou.

—Sofie. O bilhete que você recebeu.- Brunna se lembrou- O cervo que sobrou. A gente tinha concluído que era o Tyrosh.

—Eu sei!- Sofie continuou- Mas nós todos estamos quase quase sendo desonrados da patrulha pela Cousie e eu não quero testar minhas chances.

—Então eu não posso chamar a Priya pra meter porrada na Neyo?- Brunna comentou.

—Vou deixar você concluir isso sozinha.- Sarah riu- Mas e se a gente…

Uma marcha foi tocada pelos músicos, ultrapassando a melodia lenta que era tocada antes.

—Que porra é essa?!- Sarah se assustou, levando um pequeno chute de Sofie- Ai!

—É a marcha de entrada da família real.- Ruki explicou- Significa que…

Dois guardas abriram as portas da escadaria, e de lá surgiu, é claro, a família real.

Cousie estava esbelta. Seu vestido vinho se arrastava no chão, com a barra e o corpete bordados de dourado. Uma capa cobria seus ombros e braços, a deixando com uma boa postura. Sua coroa pousava no coque.

Estava com sua mão brevemente pousada por cima da de seu marido Carla.

Eliza e Shin vinham não muito atrás, sorridentes de braços dados.

E mais atrás ainda, é claro, vinha Haruka, completamente séria.

Todos haviam parado totalmente o que estavam fazendo pra observarem os cinco. Haruka bufou com isso.

Cousie puxou Haruka pelo braço, a deixado na frente de todos para admirarem.

—Deixe que venham até você, querida.- Ela murmurou entredentes.

Eliza fez um gesto solidário de sorriso, e Haruka grunhiu antes de forçar o mesmo.

—Com um sorriso lindo desses, acho que você mal vai conquistar o velho Uifre de 90 anos e 10 filhos.- Shin zombou.

—Shin!- Eliza o repreendeu.

—Shin.- Carla também, mas bem mais severamente.

—Por que você não tira uma foto pra ver se dura mais tempo, hein?- Haruka brigou com o cunhado- Só fica me encarando!

—Haruka, eu te proíbo de brigar com o Shin no seu debut!- Cousie rangeu os dentes.

Haruka respirou fundo, derrotada:

—Certo, certo. Eu posso pelo menos ir conversar com as meninas?

—Como assim "conversar"?- Cousie franziu o cenho.

—Perdão. Posso caminhar com as meninas enquanto busco pretendentes?- Haruka se corrigiu.

—Claro, vai.- Cousie massageou as têmporas.

Haruka não precisou que pedissem duas vezes antes de basicamente correr na direção de Nikki, que era a mais próxima.

—Você parece que viu um fantasma.- Nikki opinou.

—Eu vi. O fantasma dos meus erros passados. É esse o troco por tudo que eu fiz da vida?- Haruka parecia apavorada- Eu fiquei sabendo. Do Tyrosh. Cadê ele?

—Como você sabe?- Nikki arregalou os olhos- Acabou de chegar!

—Como você acha?- Haruka bufou- Eu paguei uma criada!

—…Você deu dinheiro ilegal pra uma criada?- Nikki se assustou.

—Ah, qual é. Não é como se eu fosse ser presa por causa disso.- Haruka cruzou os braços.

—Eu trouxe o que você…- Shu chegou- Ah, oi Haruka.

—Ei.- Cumprimentou- Cadê o Tyrosh?

—Brunna, Sarah e Sofie vão tomar conta dele. E da Neyo. Lua e Anna tão com seus namorados. Daayene e Priya estão investigando. Marie está…- Shu se interrompeu- Enfim. Haruka, tenho notícias ruins.

As duas meninas o encararam, confusas.

—Príncipe Marko está aqui.- Shu murmurou.

Haruka arregalou os olhos. Nikki o olhou confusa:

—Quem caralhas é Marko?

—Um príncipe demônio.- Haruka respondeu- Solteiro. Um ano mais velho que eu. Rico. Merda.

—E lindo.- Shu comentou.

Nikki franziu o cenho na direção do noivo.

—Enfim. Podemos distrair ele se você quiser.- Shu nem notou.

—Isso vai me dar a chance de fugir?- Haruka reclamou.

—Talvez não.- Shu pegou a noiva pela mão- Vem. Eu vou te proclamar minha noiva.

—É o quê?- Nikki parecia ainda mais confusa.

—Teoricamente eu sou o herdeiro Sakamaki, então o mínimo é eles se interessarem por quem vai ser minha esposa.- Shu puxou a Herbert- Haruka, não mate ninguém.

—Não prometo nada.- Haruka sorriu.- Eu vou voltar pra minha família antes que eu passe ainda mais vergonha com o Shin me berrando pelo salão.

Em um canto do salão, Marie suspirou pela comoção a cabeça jogada pra lado enquanto via Laito caminhando pelo salão.

Tudo já havia se tornado um caos.

O coitado do menino havia insistido pra ficar do seu lado. Mas ele ainda gostava de bailes, e Marie de verdade não queria que ele acabasse ficando grudado sentado no sofá do salão o tempo todo.

Ela ainda se sentia meio cansada, depois de todos os dias.

E sinceramente, se tivesse que ouvir mais algum comentário indelicado sobre a sua nova "lente de contato" e seu ganho de peso, sentia que não seria mais responsável pelos seus atos.

E tudo conseguiu ser esquecido quando seu monólogo interno foi interrompido por Brunna, Sarah e Sofie correndo na direção dela.

—O que aconteceu?- Marie encarou as três meninas.

—Sarah pirou quando viu a Neyo mas quer matar o Tyrosh.- Brunna explicou.- E Sofie pirou quando viu o Tyrosh mas quer matar a Neyo.

—Não é bem assim que aconteceu.- Sofie franziu o cenho.

—Se cada uma quer matar um, não vejo qual o problema.- Marie riu, meio brincando.

—Não. Incentive. Elas.- Brunna reclamou.

—Estou brincando.- Marie riu- Mas sério, qual o problema?

—Estou pensando num plano.- Brunna falou alto- Mas fica díficil da gente ir confrontar eles, sabe? Por mais que eu queira levar o Tyrosh na porrada…

—Então, você quer que Sofie e Sarah lidem com isso, mas de uma forma que não gatilhe ambas.- Marie sorriu- Eu permaneço com a dúvida: qual o problema delas lidarem de forma invertida? Elas são gêmeas.

Brunna arregalou os olhos.

—Eu não gosto disso.- Sofie hesitou.

—Do que?- Sarah sussurrou de volta.

—Olha a expressão delas.- Sofie apontou pras duas meninas.

—Marie, você é genial.- Brunna pegou as gêmeas pelas mãos- Mas fique aí, eu vou fazer funcionar!

Marie riu das três correndo, nada atentas ao caos que se formava ao redor delas.

—___________________________

Enquanto isso, Priya serviu a maior taça da mesa pra ela, suspirando pesadamente.

Conseguia ver Carla e Cousie passando pelos convidados lentamente, e Eliza se sentando num dos sofás.

Sofie e Sarah saíam lado a lado de braços dados, indo conversar com Ayato e Laito.

Priya ia continuar observando seus arredores até ela trombar de cara com Yuma.

—Ai! Olha pra onde anda!- Priya brigou.

—Eu tava te procurando.- Yuma a encarou.

—E isso sim é novidade.- Priya se serviu mais uma taça de ponche.- Achei que você não quisesse falar comigo.

—Eu nunca disse isso.- Yuma brigou baixo- Você que tem me evitado desde quando a gente…

—Desde quando a gente o que, Yuma?- Priya franziu a testa- Não foi você que disse "ai, não fale nada sobre isso pra ninguém, ok?"?

—Você está distorcendo os fatos.

—Estou?- Priya colocou a mão na cintura- Yuma, talvez isso te choque, mas eu não sou que nem algumas meninas daqui que esperam um príncipe encantado. Eu não preciso de você pra sobreviver. Eu já estou mais do que feliz em ser solteira e livre.

—Engraçado você dizer isso quando parece estar furiosa comigo.- Yuma resmungou.- Ciumenta.

Priya parecia ofendida:

—Eu não…!- Ela então pigarreou- É o seguinte. Tem um de nós dois que não tem vergonha de admitir o que aconteceu aqui. E eu vou te deixar sabendo que não sou eu. Eu só sou respeitosa o suficiente pra respeitar as vontades de vossa senhoria.

Priya cruzou os braços e começou a sair andando, sendo basicamente perseguida por Yuma.

—Eu só não quero que a gente acabe magoando outras pessoas!- Yuma andava rapidamente, ultrapassando a garota Hudison.

—Sinceramente, eu não acho que um baile seja o lugar adequado pra essa conversa.- Priya brigou.- Por que você não pode deixar eu curtir a festa que eu e minha irmã organizamos?

—Eu deixaria, se você me desse a chance de conversar pra você em outras ocasiões!- Yuma retrucou.

—Eu vou começar a fingir que você não está aqui.- Priya pausou e deu a meia-volta.

—Você está sendo infantil!- Yuma falou mais alto.

Priya cumpriu sua palavra e simplesmente o ignorou, colocando um salgadinho na boca.

—Priya, eu gosto de você.- Yuma basicamente a encurralou na mesa- Talvez não da forma que você quer ou espera, mas nós dois temos faísca. E você me entende.

—Que encantador da sua parte.- Priya ironizou- Quer que eu mude meu nome pra Cinderela depois desse lindo discurso de amor no meio de um baile?

—Você é impossível.- Yuma bufou.

—Yuma, qual parte da conversa que ainda não te fez entender que eu não estou interessada nessa conversa?- Priya o encarou com raiva- Eu não quero um marido. Não preciso que você me dê declarações de amor ou um trilhão de elogios.

Ele ficou calado.

—Mas você precisa entender que nós não conseguimos mais ter uma relação amigável. Nós dois não queremos machucar os outros. Então é melhor a gente se afastar, pelo menos por enquanto.

E com isso, Priya deu novamente as costas, seu cabelo preto se balançando.

Daayene a encontrou no meio do caminho, parecendo preocupada com o rosto tenso da irmã mais velha.

Yuma encarou quando a menina foi embora sem nem olhar pra trás.

As gêmeas e Brunna, bem no fim da discussão de Priya e Yuma, chegaram numa esquina escondida.

—Brunna, eu realmente não acho que…- Sofie tentou retrucar.

—Cale-se! Vocês pediram um plano perfeito, e eu trouxe!- Brunna parecia bem orgulhosa de si mesma.

—Operação Cupido não seria a melhor inspiração pra planos, eu diria.- Sarah pensou alto.

Brunna encarou as duas meninas.

—Eu tô tentando ajudar vocês!

—…Eu sei. Desculpa.- Sofie respirou fundo.- É um bom plano, eu só não sei se vou comseguir…

—Por conseguir você quer dizer fingir que sou eu ou conseguir conversar com a Neyo sem espancar ela?- Sarah questionou.

—Ambas, na verdade.- Sofie admitiu- Mas eu acho que se eu por algum acaso cometer a segunda a Cousie vai me expulsar daqui por tirar a atenção da Haruka.

—Não é como se os pretendentes daqui fossem achar atraente duas meninas se batendo.- Brunna então pausou- Ou talvez achem. Caramba, isso explicaria muita coisa!

As gêmeas encararam a loira, que pareceu se lembrar do motivo delas estarem reunidas.

—Sim! Claro! O plano! Bem, eu não sou a Priya pra manjar de atuação, mas eu acho que posso dar meu jeito. Sofie, faz sua melhor atuação de Sarah.

Sofie pensou.

—Ah, olá~- Sofie cantarolou numa voz bem mais aguda, o que lhe rendeu um tapa de Sarah:

—Eu não falo assim!

—Eu não falo assim!- Sofie imitou.

Sarah pareceu frustrada, suas bochechas se inflando e corando.

—O…k. Sarah, sua melhor imitação da Sofie.

—Ah, oi.- Sarah forçou uma pose mais curvada e uma voz mais anasalada- Eu sou a Sofie. E eu sou idiotasexual, por isso eu gosto do Ayato.

—Nossa, eu sou fanha?- Sofie fez uma cara assustada.

—Como que essa pode ser sua única questão com o que ela acabou de imit…- Brunna respirou fundo- Ok, bom o suficiente! Prontas pra acabar com uma mina babaca e um… príncipe idiota?

—Não.- As duas falaram ao mesmo tempo

—Legal! É esse o otimismo que eu gosto de ver!- Brunna comemorou- Agora vão!

Mas quase num passe de mágica, tudo pareceu estático. Ou em câmera lenta. Ou ambos.

Príncipe Marko havia finalmente aparecido.

O rapaz tinha a pele branca e sardenta. Seu cabelo levemente ruivo e bagunçado trazia um ar mais casual pro rapaz, mesmo usando a roupa azul mais cara e chique possível. Seus olhos azuis eram profundos, mas ao mesmo tempo, doces.

Ele marchava com autoridade, os convidados se partindo ao meio para darem espaço pra que ele passasse.

Finalmente, ele chegou no trono de Cousie e Carla, onde Eliza e Shin dividiam um par de cadeiras alcochoadas.

—Príncipe Marko.- Cousie sorriu- Uma honra te ter conosco.

—A honra é toda minha.- Marko fez uma reverência.- Vossa alteza.

Ele fez outra reverência, dessa vez na direção de Carla.

—Esses são e Elizabeth e Shin. Meu irmão e a irmã mais nova de minha esposa.- Carla apresentou, gesticulando pro casal sentado ao lado.

Eliza sentiu raiva do seu nome sendo usado, mas apenas acenou, juntamente de seu namorado.

—Ah sim, ouvi maravilhas sobre a família de vocês.- Marko sorriu- Minha mãe sempre diz que foram de antecendentes honrados.

—Eu gostaria de pensar que sim.- Carla concordou.

—Essa é minha outra irmã, Haruka.- Cousie fez um gesto pra irmã que estava meio longe. Ela grunhiu antes de ir na direção do grupo.

—Vossa alteza.- Haruka reverenciou Marko a contragosto.

—Senhorita Creedley, uma honra finalmente te conhecer.- Marko analisou os traços da Creedley.- Seu cabelo e seus olhos são dessa cor naturalmente, se posso perguntar?

—Eu…- Haruka começou a perguntar.

—Nascemos com bênçãos diferentes.- Cousie interrompeu- Haruka tem poderes de controle da água.

—Ah. Certo. Desculpem minha ignorância.- Marko ficou meio ruborizado.

—Não teria como saber.- Carla sorriu educadamente- Haruka, você não gostaria de mostrar a fortaleza ao Príncipe Marko?

—Eu acho que eu gostaria de ficar.- Haruka respondeu.

—Acho que gostaria de ir.- Cousie sorriu, no meio de uma careta.

—Ah, não se incomodem.- Marko deu um sorriso meio torto- É o baile de debutante dela. Eu odiaria ter que interromper sua diversão para uma visita turística.

—E eu aposto que Príncipe Marko gostaria de ver todas as outras… damas do baile.- Haruka sorriu cinicamente- Ou cavalheiros.

—Haruka!- Cousie disse entredentes.

—Pelo bem da boa convivência, é claro!- Haruka debochou.

Cousie a encarou de forma flamejante.

—A senhorita está certa. Eu não poderia ser mal educado a ponto de me esquecer de conversar com todos os outros convidados.- Marko concordou- Se me permitem a licença.

Marko se afastou, sendo recebido com vários olhares curiosos e pessoas quase desmaiando com a simples visão dele.

—Você pirou?!- Cousie brigou com a irmã.

—Cousie…- Eliza tentou se levantar, mas Shin a segurou.

—Não sei o que eu fiz de errado.- Haruka revirou os olhos.

—Não entende a situação que está?- Cousie brigou- Ele é um dos melhores, se não o melhor, entre seus pretendentes.

—Você nâo saberia disso.- Haruka bufou.

—Você também não. É por isso que estou aqui.- Carla comentou- Quer dar uma volta no salão comigo?

Haruka não conseguiu negar, só revirar os olhos.

Os dois passaram a caminhar.

—Existem pessoas aqui que parecem agradáveis.- Haruka analisou?

—Lewis?- Carla acompanhou o olhar dele- O homem sabe o valor do seu dote, então esqueça. Ele adora caçar fortunas. E aquele é o segundo filho do Lorde Beckingan, você merece mais.

Haruka acenou pra um rapaz que sorriu pra ela.

—Parentesco duvidoso.- Carla respondeu- E nem se atreva a olhar praquelea dois. Não irá se casar com um poeta, nem um excêntrico. Deus nos livre.

Haruka suspirou pesadamente, ainda seguindo Carla por todo o salão.

—Haruka não parece estar nem um pouco feliz.- Eliza se ajeitou na cadeira, tomando cuidado pra que a irmã mais velha não a ouvisse.

—Ela não esteve feliz desde que o baile começou a ser planejado.- Shin se lembrou- Não que isso pareça fazer alguma diferença.

Shin olhou a menina, percebendo sua careta.

—E você, por que não está sorrindo?

—É só que…- Eliza engoliu em seco- Tudo parece tão errado. Primeiro o descaso com os traumas da Sarah, depois os planos malignos contra a Daayene. Agora isso, com nossa própria família.

—O ponto forte da nossa família nunca foi empatia e carisma.- Shin respondeu.- Não se prenda, você pode desabafar comigo sempre que quiser.

—Eu…- Eliza sentiu algo entalar na sua garganta- É mais complicado do que parece.

—Eu aguento.

—Sinto saudades de quando as coisas eram mais simples, sabe?- Eliza soltou o ar pela boca- Quando a minha maior preocupação era te encontrar escondida no jardim, longe de todos os criados e da mera noção de um noivado. Ou filhos.

—Eu, por outro lado, prefiro muito mais não ter que te esconder.- Shin debochou, beijando as mãos dela.

—E quando, sabe. Eu ainda era saudável.- Eliza continuou, meio triste.- Eu nunca fui poderosa na família. Nem em status, nem em personalidade, nem em magia. Mas eu pelo menos tinha algo ao qual me prender.

Shin a encarava intensamente, mesmo com ela parando de falar.

—A alguns anos atrás eu estaria dançando naquela pista.- Eliza deu de ombros- Hoje eu não posso por medo de desmaiar. E o tanto de pessoas que me olha como se eu fosse um monstro…

—Alguém te falou alguma coisa?!

—Não precisam falar, Shin. Eu leio bem as pessoas, diferente do resto da família. Eles não reconhecem mais a… beleza e vivacidade toda que havia em mim.

—Eu acho que você nunca esteve tão linda e viva.

—Você diz isso porque quer me consolar.- Eliza finalmente o olhou.

—Talvez. Mas antes eu do que outro.- Shin deu de ombros também.

Eliza conseguiu sorrir, e seu olhar passou de novo pelo povo.

—_____________

Sofie jurava que estava mantendo a calma, mas certas coisas eram demais pra seu coração.

Especialmente quando envolviam surpresas nada bem vindas sobre alguém que começa com N e termina com O.

—Ah, olha quem chegou!- Neyo cutucou o ombro de Sofie, que paralisou. Não de medo, mas de raiva.- Sofs, vira pra cá pra eu olhar seu vestido.

Sofie colocou seu melhor sorriso falso antes de se virar pra ela, a voz mais fina:

—Sarah, na verdade.

—Ah.- Neyo fez uma expressão confusa- Eu achava que você ia usar uma roupa daquele estilo gótico horroroso que você aderiu.

Sofie preferiu ficar em silêncio em relação a isso.

—Cadê seu namoradinho?- Neyo então parou- Ah, não, esquece. Ele deve ter achado o mapa pro primário. Coitadinho.

Sofie borbulhou de raiva, mas respirou fundo. Antes que ela lidasse com isso do que sua irmã.

—Sah, quando você vai parar de viver essa fantasia?- Neyo a encarou de olhos semicerrados.

—Como?- Sofie teve a coragem de dizer.

—Você sabe que seu lugar não é aqui. Vampiros, lobisomens? O que mais, dragões e batalhas medievais?- Neyo continuou com a mesma expressão- Você sempre amou suas historinhas de contos de fadas, mas eu de verdade não acho que você aguente.

—Eu sobrevivi quatro anos aqui.- Sofie se sentiu intimada- Neyo, se você acha que pode vir aqui e em 3 dias me dizer do que eu sou ou não capaz, está bem enganada.

—Nossa, o tempo aqui deve te ter feito bem, ein?- Neyo riu.- Você ficou uma gata, mas ficou bem atrevida. Não que eu reclame, eu sempre soube que você tinha esse potencial. Eu que te ensinei. Mas fico feliz em te ver se impondo.

Sofie sentiu o colar no seu pescoço começar a queimar sua pele.

—Eu só fico preocupada com a sua saúde, sabe?- Neyo ficou cabisbaixa- Uma cabecinha que nem a sua não pode se preocupar com muita coisa. Você sempre foi que nem a Sofie nisso, gosta de ter todo o controle da situação. Se não, fica meio…

Ela girou o dedo indicador em círculo ao lado da cabeça.

—Eu não sei do que você tá falando.- Sofie tentou colocar algo na boca. Um doce. Um salgado.

Colocou os dois ao mesmo tempo. Péssima decisão. O gosto fora horrível.

—Me fala, como anda a relação de você com a Sofs?- Neyo se apoiou na mesa- Quer dizer, nós terminamos por causa dela então eu realmente espero que tenha valido a pena.

—Estamos bem.- Sofie foi rápida.

—Você não contou pra ela sobre o dia do banheiro, né?- Neyo disse, em tom meio infantil- Porque eu não sei como ela vai lidar com isso.

Sofie se virou de novo pra mesa, tentando pensar numa resposta rápida.

—…Não.- Apesar de ter hesitado, essa era a verdade.

Que dia no banheiro?

Um silêncio se ouviu.

—Você me acha estúpida, Sofie?- Neyo falou em tom mais agressivo- Você acha mesmo que eu não sou capaz de diferenciar você da menina que eu namorei por anos?

—Não anos.- Sofie corrigiu.

—Se você se acha esperta, eu vou te falar uma coisa.- Neyo segurou o braço de Sofie pra virá-la pra ela- Ninguém aqui é seu aliado de verdade. Se você acha que isso tudo é algo a mais do que uma versão piorada do ensino médio, está meramente enganada.

Sofie não respondeu nada.

—Eu não sei como você conseguiu um namorado, mas se nem sua própria irmã conta tudo pra você, eu me preocuparia.- Neyo sorriu ao ver a expressão raivosa de Sofie- Eu peguei no seu ponto fraco? Pois bem.

—Neyo. Você não é bem vinda aqui.- Murmurou.

—Isso não cabe a você decidir.- Neyo pegou uma taça detrás de Sofie- Querida, eu convivo com vocês duas desde que éramos crianças. Se tem alguém que sabe mexer com esses parafusos a menos que você tem aí, sou eu. Não me subestime.

Sofie respirou fundo, sentindo o colar quase flutuar de seu peito.

Neyo deu um passo á frente, mas foi prontamente afastada por uma mão.

—Colega, você se afasta hein?!- Ayato brigou- Se você der mais um passo, eu juro que…

—Relaxa. Relaxa, colega.- Neyo riu de leve- Só conversa de amiga.

—Aham. Com certeza.- Ayato cerrou os olhos, colocando o braço ao redor de Sofie- Vai, vai indo. Beijinhos.

Neyo se afastou, e Ayato olhou preocupado pra namorada:

—Ela te bateu?

—Não.- Sofie respirou fundo- E mesmo se batesse, eu já venci ela no mano mano antes.

—Ah.- Ayato sorriu- Heh! É por isso que eu gosto de você.

Mesmo com um abraço e um beijo na cabeça de Ayato, Sofie não pode escapar dos sentimentos estranhos em seu coração sobre Sarah.

E falando na gêmea mais velha, ela estava bem mais confiante.

Marchou como se não quisesse nada na exata direção de Tyrosh, e fez questão que seus saltos fizessem barulho suficiente pra chamar a atenção do pequeno homem.

—Herbert!- Tyrosh, obviamente, a notou.- Que boa surpresa!

Sarah nem escondeu seu rosto de desprezo. Estava mentindo. Sabia que Sofie estaria lá. Talvez fosse por isso que tivesse ido.

—Eu moro aqui, então eu deveria te falar a mesma coisa.- Sarah retrucou com uma risada cínica pra melhorar o clima.

—Ah, realmente.- Tyrosh coçou a cabeça- Recebeu minha carta? Espero que tudo esteja correndo bem.

—Está tudo maravilhoso.- Sarah disse. Nem forçou um sorriso dessa vez.

—Então não há ressentimentos sobre nosso último encontro, correto?- Tyrosh hesitou- Eu fiz de tudo pra que nem você nem sua amiga fossem feridas, mas você sabe como meu irmão consegue ser teimoso.

—E pra isso ele teve que matar dezenas de inocentes?- Questionou- Além de envenenar minha amiga? É. Faz sentido. Sem ressentimentos.

Felizmente ou não, cinismo e falsidade eram habilidades bem treinadas na família Rosemary também.

—Saiba que hoje eu sou totalmente devoto a sua causa. Especialmente por você. E suas irmãs, também.- Tyrosh demorou pra continuar- Eu preciso honrar pelo menos uma parte da família Herbert. E da Molly.

—Aham.- Sarah já estava querendo ir embora- Planeja ficar muito tempo?

—Se me aceitarem, claro.- Tyrosh concordou- E darei meus conselhos, se for necessário. Especialmente pra você. E suas irmãs, também. Mas você especificamente. Merece mais do que só ficar nas sombras.

—Quem te disse que eu estou nas sombras?- Sarah retrucou. Sua pose ficou mais ereta.

—A última vez que te vi nos holofotes foi fugindo de um assassinato em massa num drakon.

—Exato. Num drakon que eu montei. Sozinha. E que eu mesma fiz nascer, já que eu entrei na fogueira por ele. Rosemary, está ledamente enganado se acha que em algum momento eu estive nas sombras.

Tyrosh ficou meio sem palavras.

—Se me permite, meu namorado Sakamaki me chama.- Sarah fez uma careta antes de ir embora revirando os olhos.

Tyrosh disse algo, mas ela não se deu o trabalho de prestar atenção.

Mas sobre experiências bizarras, com certeza a mais confusa era Anna.

Não só havia sido abordada mais cedo pelos trigêmeos, que inventaram alguma história sobre ela precisar de ajuda. Também presenciara suas irmãs e amigas correndo pela noite toda no salão.

Ela e Azusa estavam pra lá de confusos.

Mas o mais estranho aconteceu naquele instante.

Azusa havia ido buscar uma bebida pra ela. Anna estava alegre, mesmo sozinha no meio do salão.

Até olhar pela grande janela de vidro e a ver.

Os olhos vermelhos de profeta. A mulher que a perseguia a tanto tempo.

Não era Meg, mas sim a que havia causado discórdia entre seu grupo. A promessa de um intruso.

Ela deve ter percebido seu olhar nervoso, pois a profeta saiu correndo.

Anna pensou em correr atrás da profeta. Mas sozinha? Desacompanhada?

—Precisa de ajuda?- Anna levou um susto com a voz de Ruki atrás de si.

Ele achou estranho a menina ficar mais de 5 minutos distante do namorado.

—Na verdade… sim.- Anna admitiu, nervosa.

Ruki pareceu atento.

—Quantas horas que ainda temos de baile?- Anna puxou a manga de Ruki com mais força.

—Duas, três?- Ruki pensou alto- Talvez quatro?

Anna grunhiu de frustração.

—Mas eu posso garantir que já me cansei.- Ruki estendeu o braço pra ela.

Os olhos da Hudison mais nova brilharam:

—Você é meu cunhado favorito! Sabia disso?

—Temo que eu seja seu único cunhado.- Ruki respondeu.- Vamos rápido. Não quero deixar Brunna ou Azusa preocupados.

Anna pegou Ruki pelo braço e os dois saíram pela neve da fortaleza, tentando seguir a profeta.

Priya e Daayene não notaram que Brunna estava sozinha no salão. Muito menos que Anna e Ruki haviam saído do baile juntos.

E menos ainda como Kou foi obrigado a puxar Yuma pra longe de Shu numa discussão que parecia calorosa demais pra ser minimamente amigável.

Isso porque estavam ocupadas no canto do baile, bebendo e tentando ignorar o caos que corria nas mentes delas.

Conversaram bastante, claro. Ainda eram duas Hudison e eram fofoqueiras. Além disso, o álcool não fazia elas ficarem silenciosas. Muito pelo contrário.

—Ai, eu odeio essa vida.- Daayene roubou a bebida de Priya- Eu adoro um baile de vez em quando, mas como alguém consegue fazer isso ser a sua vida inteira?

—Eu consigo ver o charme.- Priya admitiu.

—É claro que consegue, senhorita mão da rainha.- Daayene zombou- Mas sério. Que saco. Não tem nenhum beijo, nenhuma fofoca digna.

—Você queria fofocar sobre o que?- Priya questionou.

—Imagina um casal novo. Ou uma briga.- Daayene se exaltou.- É esse tipo de entreterimento que eu gosto!

—É claro que sim.- Priya riu.

As duas estavam tão entretidas no mundinho delas que mal notaram passos que se aproximavam.



—Senhorita Hudison.- Marko se aproximou das duas, fazendo a mais velha quase engasgar no ponche.- Creio que não nos conhecemos ainda

—Mar…- Priya pigarreou- Vossa Alteza! É uma honra!

—Ouvi pelas palavras da própria Cousie que eu poderia encontrar a mão da rainha aqui.- Marko continuou.- Priya, certo?

—A própria!- Priya surtou internamente- Que surpresa… boa! Quer dizer, você ter vindo nos visitar.

—Se meus planos progredirem, planejo fazer bons tratos com a rainha.- Marko soltou uma risada leve.- Então eu imagino que tenhamos que nos acostumar um com o outro.

—É claro.- Priya se sentiu aliviada. Príncipe nada babaca detectado?- Fique tranquilo, eu não sou tão díficil de agradar que nem ela.

Daayene riu de forma simpática. Os olhos de Marko pousaram nela, e a Hudison mais nova jurou que sentiu um arrepio subir.

—É... díficil não notar a presença das senhoritas mesmo de tão longe.- Ele deu um sorriso delicado. As duas fizeram uma reverência juntas- E a outra senhorita é…

—Daayene. Hudison.- Daayene ajeitou a roupa, sentindo um leve calor- É uma hon…ra te ver.

As duas trocaram um olhar de pânico.

—Hudison?- O príncipe olhou pra de cabelos escuros.

—Minha irmã.- Priya comentou.

—Senhorita Hudison, já te falaram que você tem os olhos mais brilhantes dos quatro reinos?- O príncipe se virou diretamente pra mais nova antes que Priya abrisse a boca.

—Hã… não exatamente.- Daayene engoliu em seco- Não acho que olhos vermelhos sejam considerados a coisa mais atraente do mundo…

Priya se segurou pra não acotovelar a irmã.

—Se me permite, eu gostaria de tirar sua irmã para dançar.- Marko pediu para Priya.

As duas trocaram um olhar completamente chocado.

—Ah… Você…- Priya cerrou o cenho- Acho que pode perguntar diretamente pra ela.

—Você não deveria dançar com a debutante?- Daayene murmurou, Marko por algum motivo não pareceu ter a escutado.

Priya bebericou seu ponche, tentando ignorar o fato de que de repente todos pareciam estar de olho na reverência que Marko fez pra segunda Hudison mais nova:

—Me concede essa dança?

Daayene olhou pra mais velha, levemente corada e de olhos brilhantes.

Priya arqueou as duas sobrancelhas pra irmã, de uma forma que ela esperava que pudesse ser traduzida para "PEGA ELE, AGARRA ELE!"

Daayene respirou fundo, antes de se reverenciar pro príncpe:

—Seria… uma honra?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Nem ela parecia ter certeza do que deveria falar naquele momento.

Marko deu seu braço pra garota, que de forma meio hesitante o segurou.

Do outro lado do salão, Brunna olhava pra cena segurando um berro. Conseguiu que seu olhar se encontrasse com a outra irmã, e as duas sorriram uma pra outra.

Alguns casais deram espaço pros recém-chegados na pista de dança. A música pareceu ficar ainda mais alta.

Marko colocou uma das mãos grandes na cintura de Daayene, a puxando pra um pouco mais perto do seu corpo. A Hudison sentiu seu folêgo se prender na garganta.

A outra mão do príncipe segurou a de Daayene, mal entrelaçando seus dedos. Engolindo de forma nervosa, Daayene posicionou sua mão livre no ombro do príncipe, tocando diretamente no tecido caro de sua roupa.

Em ritmo com o violino e o piano, os dois começaram a andar pelo salão juntos, na mesma sintonia.

O olhar dos dois mal se desconectava, mesmo entre os pequenos giros e passos mais complexos.

Vários olhavam a cena, chocados. Admirados.

—Argh, amor jovem.- Victoria bufou.- Tão delicado e charmoso.

Reijii concordou com a cabeça, apoiado numa mesa.

—Você fala quase como se fosse uma idosa.- Reijii respondeu.

—Eu sou. Na alma.- Victoria apontou pra si mesma, com um tom meio zombeteiro- Faz tanto tempo que eu não danço assim…

—Faz?- Reijii a encarou.

—Por íncrivel que pareça.- Victoria sorriu de forma meio sem graça- Eu só aprendi a dançar com você.

Reijii encarou a garota, meio confuso.

—Se você quiser, podemos.

—Hã.

—Se você quiser, eu posso dançar com você.- Reijii repetiu.- Não é como se fosse um crime dois separados dançarem juntos num baile.

—Não, mas é estranho.- Victoria opinou.- Nada contra. É só que…

—É só uma dança.- Reijii insistiu- Tanto pra mim, quanto pra você.

Victoria hesitou, os olhos bambeando entre o Sakamaki e o salão.

—Você precisa aproveitar mais, Victoria.- Reijii ajeitou as mangas do paletó- Finalmente está bem, curta isso.

Os dois ficaram em silêncio, meramente se observando.

—Eu…- Victoria pigarreou- As pessoas que não sabem ainda sobre nós podem achar estranhos se não dançarmos.

Reijii a analisou por alguns segundos, e deu um sorriso leve:

—Talvez.

Victoria deixou o copo na mesa, engolindo em seco:

—Me concede essa dança, senhor Sakamaki?

Sua mão se estendeu até Reijii, que pegou a ponta dos dedos dela com toda a delicadeza possível.

—Seria uma honra, Herbert.

Reijii a guiou até o centro do salão, e a posição inicial da dança veio naturalmente pra eles.

Cousie analisou o casal dançando do outro lado do salão, já sentindo vontade de descontar seu estresse no vinho:

—Isso é um absurdo.

—Eu concordo.- Shin falou do lado dela- Como ele se atreve a ficar do lado dela...

—Eu tô falando da Hudison, Shin.- Cousie o repreendeu.

—Ah, tá.

—Eu não vejo nenhum mal.- Haruka parecia completamente desinteressada- O homem fez a escolha dele, supera.

—Ele preferiu a Hudison do que você?!- Cousie pareceu indignada- Como…

—Ele parece bem feliz.- Eliza interrompeu- E ela também. Não é esse o ideal, Cousie?

—Haruka não foi pra pista de dança uma vez!- Cousie se sentou- No próprio baile! Marko era nossa maior chance!

—Uma pena, porque eu claramente não sou o tipo dele.- Haruka retrucou- E ele certamente não é o meu.

—Seria uma bela união.- Carla concordou.

—Que tipo de imagem vão ter de você? De nós?! Cheia de pretendentes, mas nenhum certo!- Cousie estava dramática como jamais havia sido.

—Não achei que a gente se importasse com esse tipo de coisa.- Eliza murmurou.

—Disse alguma coisa, Elizabeth?- Cousie se virou bruscamente pra irmã do meio.

Eliza congelou na hora, umedecendo os lábios:

—Nada. Absolutamente nada.

—Uma tragédia.- Carla concordou.

—Com licença.- Kino brotou do lado deles- Bom dia família.

—Tá de noite.- Shin respondeu.

—Eu ouvi a conversa de vocês.- Kino ignorou o Tsukanami- Eu me voluntario como tributo.

Os cinco o olharam de forma confusa.

—Jogos Vorazes? Não? Ninguém? Nossa, vocês são um saco mesmo.- Kino revirou os olhos- Já que ninguém veio dançar com a pobrezinha da Creedley, eu venho me voluntariar pra isso.

—Você?- Carla o olhou de cima a baixo.

—Kino, não me leve a mal, mas pra dançar você não pode só… mover seus pés, sabe?- Eliza tentou explicar, meio ruborizada- A valsa é uma dança mais complicada e íntima que is…

—O que te faz pensar que eu não sei dançar valsa, Lizzie?- Kino sorriu pra Eliza, que pareceu confusa pelo novo apelido.

—Você é só um bastardo.- Cousie o interrompeu- No que adiantaria?

—Olha, Rainha, eu sempre falo que um ruim é melhor que nada, então fica aqui a minha oferta.- Kino explicou- Uma dança com a sua fil...ops, irmã. Aí pelo menos o seu nome fica menos sujo pra todo mundo.

Pequeno silêncio.

—Você seria um péssimo negociador.- Cousie retrucou.- Se você tentar qualquer coisa com ela, eu te assassino.

—COUSIE!- Haruka repreendeu.

—Você não tá numa posição muito digna de reclamação, Ariel.- Kino estendeu seu braço- Vamos?

Haruka olhou pra todos eles, esperando algum tipo de reclamação.

Bem, ela não veio.

—Eu odeio todos vocês.- Ela bufou antes de pegar o braço de Kino.

Foi a Creedley que o puxou até a pista de dança, e foi de contragosto que ela deixou Kino pegar na sua cintura.

Até fez questão de deixar bastante espaço entre os dois.

—Ceeedley, como você espera ser considerada um partidão se você mal olha na cara das pessoas enquanto está dançando com elas?

Haruka revirou os olhos.

—Talvez seja porque eu não quero ser considerada um partião.

—Eu tô fazendo isso porque sou seu amigo.- Kino parou pra pensar enquanto eles começavam a se mover- Ok. Talvez nem tanto um amigo. Mas um colega. Um aliado.

—Dançando comigo?

—Te salvando de uma possível humilhação.- Kino ficou sério- Você acha que eu sou burro? Eu sei como as meninas que não casam depois do debut no mercado casamenteiro são tratadas.

Haruka mordeu a língua.

—Eu não acho que você mereça ser tratada dessa forma.- Kino continuou- Sem ou com pretendente.

—…Ok.- Haruka olhou nos olhos dele por uns dois segundos antes de desviar de novo- Obrigada, se esse é o caso.

—Muito de nada.- Kino sorriu- Isso significa que eu posso te irritar e…

—Nem tente.

—Entendido. Não vou arriscar minhas chances.

Tudo correu bem. A dança estava ótima. O clima até havia ficado mais leve. Até gritos masculinos tomarem conta do lugar.

Isso foi bem rápido de identificar, já que Yuma não fez questão de esconder o jeito que estava segurando Shu pelo colarinho, com uma expressão raivosa.

Shu mal pareceu se importar.

—Ei, ei!- Nikki correu e se meteu no meio dos dois- Dá pra parar com essa palhaçada?!

—Ele que começou.- Shu se justificou.

—Você me provocou!- Yuma parecia furioso.

—Eu pareço que me importo?- Nikki cruzou os braços- Vocês dois tem uma mente super infantil pra vampiros que vivem á séculos.

—Eu não disse nada demais.- Shu limpou a roupa- Além da verdade.

—Você falou merda dela! - Yuma brigou- Assume! Fala o que você falou na frente da sua mulher!

Nikki encarou o noivo:

—…Shu?

—Agora ele ficou com medo!- Yuma rosnou- Falou merda da Daayene e depois quer vir pagar de santo! AQUI NÃO!

Priya e Brunna foram bem rápidas em notar a confusão e o nome da irmã delas entrando em jogo.

—Yuma, você tá causando uma confusão.- Nikki tentou acalmar o Mukami- Talvez possamos ir lá fora falar com calma sobre isso…

—O FILHO DA PUTA FALOU QUE AS HUDISON SÃO…- Yuma mal conseguia falar de tanta raiva.

Ele tentou avançar em Shu, que levou um susto, mas Nikki conseguiu o segurar com dificuldade.

—Epa, lá! Você pode estar magoado e furioso, mas ninguém vai bater em ninguém!

Yuma tentou se libertar dos braços de Nikki. Quase conseguiu, mas as unhas da menina conseguiram agarrar sua blusa de botões, a rasgando.

Todo o salão ficou em silêncio. A música parou.

—Yuma…- Nikki se assustou, totalmente envergonhada e paralisada com o tecido branco em mãos- Eu não queria… me descul…

Ela encarou Shu, quase como se pedisse qualquer tipo de compreensão.

Mas Shu parecia ainda mais assustado que sua noiva. Seus olhos brilhavam numa mistura de emoções: confusão, raiva, mágoa.

Ele encarava Yuma, que parecia bem mais beirando a humilhação.

Mais especificamente, encarava a marca de queimadura no ombro do Mukami.