Like a Vampire 2: Bloody Marriage

Capítulo 7- A segunda família


Narração Brunna
Assim que me tornei consciente de meus arredores, tentei abrir meus olhos. Foco na palavra tentei, já que minhas pálpebras estavam tão pesadas e minha cabeça tão dolorida que eu mal conseguia fazer a tarefa mais simples do mundo.
Eu sentia meu corpo pesado, quase como se tivesse engordado uns três quilos. E eu sentia uma dor de cabeça tão forte que fazia eu me perguntar se eu havia ficado bêbada na última tarde.
E por falar na última tarde, eu finalmente conseguia lembrar o que havia acontecido. As lembranças passavam suavemente pela minha cabeça: Eu e minhas irmãs sentadas na calçada lá de casa, alternando entre conversas vagas e silêncios nem um pouco constrangedores até que aqueles quatro homens chegaram.
E isso era tudo que vinha antes do preto. Era quase como se eu tivesse ficado muito bêbada sem nenhum gole de álcool.
Assim que abri meus olhos, me deparei com um lugar desconhecido. Eu estava deitada de lado no chão, logo em cima de um tapete. Eu conseguia ouvir respirações no cômodo onde eu estava, é só conseguia ter esperança que as mesmas pertenciam ás minhas irmãs.
Assim que me sentei, com dificuldade, qualquer pensamento que eu podia estar tendo foi interrompido por uma voz:
—Com licença, quem é você?
Dei um pulo enquanto gritava com o susto. Assim que consegui acalmar-me mais, olhei para a dona da voz desconhecida. Não parecia ter mais de dezenove anos, a pele era bem branca e tanto os cabelos quanto os olhos eram castanhos-escuros. Estava sentada num sofá, perto de uma garota de cabelos azuis curtos parecendo adormecida, enquanto estava com as mãos nos bolsos do moletom.
A garota arqueou uma das sobrancelhas, atentando mais o olhar em mim. Só então eu percebi que não havia a respondido ainda.
—Ah...- Tentei conter meu nervosismo, já que eu ainda não sabia onde minhas irmãs estavam nem onde eu mesma estava.- Eu deveria te perguntar a mesma coisa!
—Sofie Herbert- Ela respondeu sem hesitação, e eu instantaneamente me culpei por ter parecido tão idiota e nervosa na frente dela, que parecia nem ligar- E você?
—Brunna.-Tentei sorrir o mais forçadamente possível, ainda escondendo todo o mix de emoções que estava dentro de mim- Sabe onde estamos?
Sofie deu de ombros, tirando a mão do bolso do moletom e começando a brincar com os fios de cabelo da menina ao seu lado.
—Não faço a mínima ideia. Eu acordei aqui, com minhas irmãs e outras quatro meninas desconhecidas dormindo do meu lado- Ela respondeu, e eu consegui entender que ela estava tão confusa quanto eu.- Mas não se preocupe, acho que depois do que enfrentamos ano passado qualquer coisa é pouco.
Logo quando eu ia questionar o que ela queria dizer, quatro meninas apareceram de um corredor, ofegantes.
Uma de cabelos loiros e olhos azuis vinha na frente, parecendo ser a mais velha de todas apenas pela sua pose de líder. Logo ao seu lado uma mais alta de cabelos e olhos castanhos queimados estava parada, seus fios presos num coque mal feito e seu corpo apenas coberto com um vestido curto e leve de seda branca.
Atrás das desconhecidas vinham duas de cabelos castanhos: Uma usava um vestido cor de rosa e seus olhos eram da mesma cor que seus absurdamente longos fios. A outra tinha o cabelo menor, e seus olhos eram de tom verde esmeralda destacados pelos óculos.
Quem diabos são essas meninas?
Bom, nenhuma delas são minhas irmãs, então não tinha esperança procurar elas.
—Tirando essa menina de cabelo azul, eu fui a última a acordar?- Perguntei, me espreguiçando completamente- Não tinham mais algumas meninas quando vocês acordaram?
—Tirando você, a gente só achou mais duas meninas- A loira deu de ombros, se jogando no sofá atrás de mim- Nós nos dividimos pra tentar achar uma saída, já que aparentemente ninguém aqui sabia que lugar era esse.
Mais duas? Quer dizer que faltava mais uma...
—BRUNNA!- Ouvi uma voz extremamente conhecida vir por trás de mim assim que braços me envolveram- Finalmente você acordou, mulher! Fiquei preocupadíssima!
Olhando pra trás, vi que Daayene estava me olhando com um sorriso grande no rosto. Seus cabelos castanhos claro estavam presos num rabo de cavalo curto e mal feito e seus olhos castanhos brilhavam de felicidade.
—Deixa de ser exagerada, Daayene- Suspirei, puxando ela pra um abraço- Bem, eu só posso estar feliz que vocês estão bem.
Apaguei meu sorriso do rosto quando vi que a Herbert e as outras garotas estavam nos encarando com uma leve doçura no olhar, quase como se não quisessem nos atrapalhar.
E foi aí que eu senti algo encolher ao meu lado, e eu não precisei nem olhar pra saber que era Anna.
Seus cabelos e olhos curtos castanhos chamavam atenção em seu rosto infantil, e sua boca se comprimia enquanto ela apertava mais meu braço.
Pobre Anna, sempre nervosa ao lado de desconhecidos...
—Estamos todas aqui?- A garota de cabelos e olhos castanhos perguntou de jeito doce e gentil- Precisamos achar um jeito de fugir. E esperar que Victoria não estrague dessa vez.
—Uau, muito obrigada pelo seu apoio e confiança- A que parecia ser Victoria reclamou com as mãos na cintura, e não demorei pra perceber um anel em sua mão- Eu não tenho culpa nenhuma se aquela casa maldita tem cria de aranhas.
—Ah, parem de falar- A de cabelos azuis resmungou, abrindo os olhos vermelhos- Marie, dá pra você, como irmã mais velha, liderar essa galera?
—Isso foi tudo uma estratégia para não me deixar liderar nada, Nikki?- A de olhos verdes fez biquinho enquanto cruzava os braços, olhando para a provável Nikki pelo canto dos olhos- Pior irmã.
—Reclamar não vai fazer sua irmã ser melhor, Lua- Sofie respondeu, mirando a mais baixa com um olhar sério- Falta alguma da sua família?
Quando percebi que ela se dirigia a mim, só pude arregalar meus olhos em puro choque:
—Como você sabe que somos irmãs?
— E lá vamos nós com a história de “Sofie sendo incrível e dando ótimas primeiras impressões em desconhecidos por conta da sua genialidade”. Mais alguém aqui sentiu um déjà vú?- Nikki se sentou no sofá, olhando de soslaio para a que havia acabo de se levantar.
—É...- Daayene começou, parecendo não saber exatamente o que falar no meio daquela situação- Respondendo sua pergunta, Sofie, ainda falta uma de nós.
—Vocês são todas irmãs?- Marie perguntou, parecendo curiosa- Caramba, qual é a fantasia que homens tem com famílias formadas por mais de duas mulheres?
Não entendi bem a pergunta que ela tinha feito, então decidi apenas ignorar.
—Vocês todas são quantas?- Lua perguntou com um sorriso no rosto, parecendo extremamente feliz em saber da nossa história.
Queria eu ficar tão feliz quanto ela.
—Bem, nós temos a segunda mais velha que é a Brunna- Daayene respondeu, apontando pra mim e logo em seguida pra si mesma e para Anna- Logo depois vem eu, Daayene. E por último temos Anna, a mais novinha. Mas tem a mais velha também, que é a...
Antes de minha irmã conseguir terminar a frase, a porta se abriu. Não foi com muita força, porém com certeza tinha confiança naquilo.
Quase como se sentissem intimidadas, todas as garotas que estavam em pé se sentaram nos espaços vagos do sofá.
Quem entrou na sala foi um rapaz alto e extremamente pálido, de olhos azuis e cabelos negros. Ele me lembrava alguém galanteador mas ao mesmo tempo assustador que eu vi num filme uma vez. Logo ao lado dele, entrava uma pequena garota de cabelos e olhos negros muito bem conhecida por mim, de cabeça baixa.
—Vejo que vocês todas acordaram.- O rapaz disse com tom sério e firme, algo que me fez afundar ainda mais no assento. Percebi que no outro sofá Victoria e Marie se encaravam em pura confusão.- Presumo que já se conhecem, ouvi gritos e uma falação irritante do outro cômodo. Se ainda não, essas são as Irmãs Herbert e essas são as Irmãs Hudison- Ele apontou pra cada um dos sofás respectivamente e depois deu um empurrão que fez com que Priya praticamente caísse nos pés de onde eu estava.
Eu não podia deixar de ficar surpresa. Uau, elas são todas irmãs? Era chocante, já que apenas algumas delas tinham semelhança entre elas.
—Eu exijo que você nos explique o que está acontecendo.- Sofie se levantou, dizendo em tom ainda mais ameaçador e firme do que o rapaz- É nosso direito, já que você fez o direito de nos sequestrar.
—E quem você é pra exigir alguma coisa nessa casa.- O rapaz bufou, olhando com raiva controlada para Sofie, que fraquejou um pouco sua postura.
—Ela está certa- Foi a minha vez de levantar e me posicionar na frente da garota de cabelos castanhos- É injusto que tenhamos só que “lidar com isso” quando vocês foram os que nos sequestraram, no final das contas!
Ele apertou mais sua mão em torno do livro que estava carregando:
—Eu já disse, vocês não tem direito de questionarem nada por aqui, Kachiku.
Rude e grosseiro. Ele me chamando de “Gado”, que babaca.
—Ah~- Uma voz apareceu do nada, fazendo eu e minhas irmãs darmos um pulinho de susto. As Herbert pareciam assustadas, mas agiam como se nada tivesse acontecido-Ruki-kun, não seja tão cruel com as meninas...
Quando olhamos pra cima, vimos que um garoto de olhos verdes e cabelos loiros havia aparecido em cima das escadas, com um grande sorriso no rosto.
—Da onde você saiu?- Daayene perguntou, tirando as palavras da minha boca.
Quando ele apenas sorriu, Lua sussurrou de uma forma que nós ainda pudéssemos ouvir:
—Ok, agora eu estou definitivamente tendo um deja vú.
As Herbert concordaram com a cabeça, parecendo perplexas. De vez em quando elas se olhavam de forma indefesa e às vezes com dúvida. Eu não conseguia entender o que passava na cabeça delas, mesmo sendo uma ótima pessoa para ler os outros.
Percebi que a postura de Sofie havia ficado tensa de repente, e seus olhos se refletiam numa mistura de confusão com horror.
Me pergunto se ela já havia conseguido entender algo.
—Não importa, precisamos ir aos negócios nesse exato momento- Marie se levantou, jogando os cabelos enquanto dava uma olhada rápida para Priya- Brunna está certa, é nosso direito saber o que está acontecendo. Principalmente se vocês tiverem algo... em comum com aqueles Sakamaki.
Quem diabos são Sakamaki?
—Não nos compare com aqueles caras- Uma voz grossa foi ouvida atrás de nós, junto com um barulho de murro na parede.
Ao olhar pra trás, vi um cara ainda mais alto que o primeiro rapaz nos mirando com seus olhos castanhos nervosos. Seus cabelos castanhos estavam presos num pequeno rabo de cavalo.
—Temos mais um TPMista por aqui. É claro que temos- Victoria suspirou enquanto mexia no anel em seu dedo. Apesar do tom brincalhão, eu podia observar que ela estava preocupada e nervosa. Apenas tentando aliviar o clima, imagino.
—Disse alguma coisa, Mesubuta?- Ele se levantou com raiva. Metade de mim sentia certa inveja e raiva do homem, já que nossa família tinha os incríveis genes de sermos baixinhas e ele deveria tem mais de 1,80.
—Eu espero que não esteja falando dela, garoto.- Nikki se levantou, estalando meus ombros- Mas deixa eu esclarecer uma coisa: Você não me assusta. Nenhum de vocês me assustam. Sejam vocês o que nós pensamos que são ou não, a gente sabe como virar o jogo. Qualquer dúvida só perguntar pros Sakamaki.
Eu troquei um olhar com minhas irmãs, todas aparentavam muito confusas e sem entender quem eram os Sakamaki.
—Eu ainda estou esperando nossas respostas- Priya se sentou no braço do sofá, finalmente decidindo falar algo.- Se estiverem planejando algo, nos contem. Vamos amar ajudar vocês.
O olhar de Priya finalmente parou em Marie e Victoria, que a olharam confusa e tiveram como resposta apenas um sorriso reconfortante.
—Ah... Elas parecem tão decididas...- O loiro comentou de novo, seu sorrindo ainda não saindo de seus lábios- Não é a toa que aqueles caras gostaram delas.
O olhar das Herbert rapidamente se tornou raivoso e selvagem enquanto todas elas fuzilaram o loiro com o olhar.
—As...Eve...Acordaram?- Um garoto apareceu(andando, Graças á Deus) ao lado do rapaz loiro. Esse era bem pálido, com cabelo longo e solto puxado pro verde. Seus olhos eram violeta/verde e seu rosto era cheio de cicatrizes, além de seus braços estarem enfaixados- Isso... É bom...
—Você é o cara que sequestrou eu a Marie-chan...- Sarah disse baixo, sua mão apertando com força o pulso de Lua- Vocês...
—Q-quem são v-vocês?- Anna sussurrou baixo, encarando o chão e tremendo. Ainda assim, eu podia ver que ela estava vermelha.
—Ah! Então está na hora das apresentações!- O loiro andou pelas escadas, parecendo animado- Eu sou Kou Mukami, o segundo irmão! Esse é o Ruki, o mais velho- Ele apontou para o primeiro rapaz que havia aparecido, e logo depois para o de cabelos esverdeados- Esse é Asuza, o mais novo! E aquele outro lá é o Yuma.
—O que você quer dizer com “outro lá”, idiota?- Yuma grunhiu, estralando os dedos.
—Chega, vocês dois- Ruki interrompeu a pequena briga de Kou e Yuma, e depois se virou para nós novamente- Vão para seus quartos. Separamos apenas cinco pra vocês usarem, então se dividam.
—Sofie, você pode ficar comigo?- Sarah perguntou para a irmã, que apenas acenou com a cabeça.
—Eu quero que vocês se misturem.- Ruki grunhiu novamente, assustando a todas nós.- Permitirei apenas uma dupla de irmãs aqui, e elas serão as Herbert mais velhas.
Marie é Victoria se entreolharam nervosas, e depois deram de ombros concordando.
E com isso todos os irmãos saíram da sala. Assim que a porta foi fechada, Marie e Priya correram uma até a outra e se abraçaram.
—Eu não acredito que você está aqui!- Marie disse, sua voz sendo abafada pelo tecido da blusa de Priya- Eu sinto muito que você e suas irmãs tenham que passar por isso.
—Eu sou a única que deveria estar me sentindo mal por vocês todas!- Priya respondeu, seus braços se atrelando mais ao pescoço de Marie- Não consigo imaginar como aqueles garotinhos conseguiriam sequestrar seis meninas!
—Ah, eu imagino consigo imaginar direitinho como eles conseguiram nos sequestrar- Sofie respondeu, revirando levemente os olhos- De qualquer forma, da onde vocês se conhecem?
—Eu estava prestes a perguntar a mesma coisa!- Daayene guinchou em sua voz fina de sempre.
—As duas estudam no mesmo curso- Victoria respondeu, dando um passo a frente e ela enfim sorriu pra Priya em sua frente quando a puxou pra um abraço.
Minha irmã mais velha apenas sorriu enquanto mordia seu lábio inferior, as bochechas num tom bem suave de vermelho.
—E nós acabamos virando amigas- Marie explicou, e então se virou pra suas outras irmãs- Lembra que eu falei que queria convidar uma amiga da faculdade minha pra... Festa da Victoria?
As outras Herbert apenas concordaram com a cabeça enquanto Priya e Victoria se separaram.
—De qualquer jeito- Priya mudou rapidamente de assunto, quase como se quisesse disfarçar que sua respiração estava levemente ofegante- É um prazer finamente conhecer as irmãs de vocês. E relaxem, as garotas aqui são extremamente bonzinhos.
Priya conseguiu envolver seus braços pelos ombros de nós três, de alguma forma. Só aquele pequeno ato me fez revirar os olhos.
—Eu tenho certeza absoluta que vamos nos dar bem- Lua sorriu,dando pulinhos- Ah, mal posso esperar!
— De qualquer jeito, quem vai ficar com quem?- Nikki perguntou enquanto cruzava os braços- Sabe, já que só a Victoria e a Marie vão poder ter um “quarto de irmãs”
—Direito das mais velhas, Nikki. Quando você for maior de idade vai entender- Victoria respondeu, dando tapinhas na cabeça da de cabelos azuis- Inclusive, porque você não divide quarto com a Priya?
As duas citadas se entreolham, confusas.
—E... Por que nós faríamos isso, exatamente?- Priya perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
—Ela tá certa!- Marie exclamou, parecendo animado- Vocês duas combinam bastante! As duas são “duronas”, de personalidade forte e que podem meter porrada em qualquer um se quiserem!
—...Isso é uma coisa boa?- Nikki perguntou, e eu não pude deixar de abafar uma risada- De qualquer forma, por mim tanto faz.
Priya deu de ombros, e eu podia ver que aquilo seria uma boa dupla.
—Deixa eu pensar...- Marie começou, coçando o queixo- Anna, você me parece ser meio tímida, né?
As bochechas de Anna ficaram rosadas quando ela concordou.
—Então você deveria ficar com a Sarah- Victoria continuou, sorrindo enquanto puxava Sarah mais pra frente- Ela é a coisa mais fofa do mundo, super mente aberta e cozinha os melhores doces!
—Vocês acabaram de fazer uma propaganda de mim?- Sarah parecia confusa, mas depois olhou para Anna que estava tremendo levemente e olhando pra garota de cabelos longos de forma meio nervosa- Quer dizer... Eu não me incomodaria nem um pouco de dividir quarto com a Anna-chan!
—Você enfrentou o Kanato, colega- Lua deu um tapinha carinhoso no ombro de Sarah- Mesmo se Anna fosse uma psicopata, você aguentaria.
—E-eu não sou uma psicopata!-Anna disse um pouco alto demais, e logo depois seus olhos se arregalaram e ela recuou um pouco- Desculpa... E-eu gritei...
—Não precisa se desculpar, Anna, você não gritou- Priya sorriu carinhosamente para nossa irmã mais nova- Enfim, quais são as últimas duplas, Vic e Marie?
As duas irmãs se entreolharam, e depois Victoria olhou pra nós sorrindo:
—Que tal Daayene com Lua e Brunna com Sofie?
Olhei para Sofie Herbert como primeiro instinto, e vi que ela parecia confusa também.
—Antes que nos perguntem o motivo, melhor eu explicar- Marie começou, um sorriso crescendo em seus lábios- Daayene, tanto pela sua roupa quanto pelo seu jeito vejo que você é bem animada e divertida. Então você vai se dar bem com Lua, já que ela é bem dessas. Quanto á Brunna, Priya me falou que você é mais responsável e madura do que ela. Isso faz com que sua melhor combinação seja Sofie. Já que ela também é bem madura.
—Isso tudo é não querer admitir que eu sou mais madura que vocês duas?- Sofie olhou de forma brincalhona pra Marie, que a fuzilou com o olhar.
—O que foi que isso virou? Tinder? Vocês estão procurando as melhores combinações pra cada uma de nós!-Lua riu, arrumando seus óculos que tinham escorrido pra ponta do nariz.- Daqui a pouco vão gritar “It’s a Match!” pela casa!- Percebi que uma onda de risadas ecoou pela sala.- Mesmo assim, vai ser ótimo dividir quarto com você!
—Digo o mesmo!- Daayene deu um pulinho, sorrindo de orelha a orelha.
Eu e Sofie trocamos um simples sorriso, quase como se dissessemos uma pra outra que aceitávamos dividir um quarto.
Elas pareciam ser legais. Bem legais.

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—Brunna, você quer que eu busque algo pra você comer?- Sofie perguntou para mim pela décima quinta vez, parecendo preocupada- Ou para beber, não sei. Você está pálida!
—Sofie, relaxa.- Eu disse, simplesmente, encostando minhas mãos nos ombros dela- Eu fico pálida assim de vez em quando, nada pra você se preocupar.- Respirei fundo, e então me levantei da cama de casal- Está bem calor aqui, né? Eu acho que vou dar uma volta pela casa pra me refrescar.
Os olhos de Sofie se arregalaram, e ela tremeu suavemente enquanto dizia um “Ok” fraco.
E com isso eu saí corredor afora, querendo clarear minha mente.
Desde quando eu havia parado de beber e fumar, eu de vez em quando tinha essas crises onde de repente me sentia zonza e fraca.
Nunca soube se isso era uma coisa que acontecia com todos que haviam saído daquelas drogas ou uma coisa minha. Existem grandes chances para ambas possibilidades.
Ainda zonza demais pra pensar muito sobre aquele assunto, desci as escadas com cuidado e em puro silêncio para não acordar nenhum dos meninos. Eu não me preocupava muito em relação ás outras garotas, já que se dependesse das minhas irmã nenhuma delas estaria dormindo a essa hora.
Só então que a questão da escola me atingiu. Eu era uma estudante do terceiro ano: Como eu poderia continuar indo pra escola se estou presa aqui?
Deveria pedir um resgate? Não, tenho certeza absoluta que não tenho ninguém que se importe demais comigo e com as minhas irmãs salvo nos meus contatos.
Claro, ainda era plena sexta. Isso significa que eu já tinha perdido um dia de aula.
Maravilha.
De acordo com meu celular, eram plenas onze horas da noite. Eu também não tinha nada pra trocar de roupa. Sequestradores não costumam pensar na praticidade e conforto da vítima, pelo que parece.
Quando finalmente cheguei no corredor do meio, percebi que era o quarto dos Mukami e fui na ponta do pé até a segunda escada.
Ok, um passo de cada vez. Um passo de cada vez. De fininho, sem barulho.
—O que pensa que está fazendo?- Ouvi a voz de Ruki atrás de mim, e o meu susto foi tão grande que caí e rolei até o primeiro degrau da escada.
Isso aí, Brunna. Mais uma tarefa muito bem cumprida.
Ao me levantar de forma desengonçada do chão, percebi que meu lábio inferior estava sangrando.
Maravilha.
Ruki andou até mim, e segurou um dos meus pulsos com sua mão esquerda enquanto a outra limpava o sangue que estava saindo levemente da ferida que havia aberto.
Ok, esse cara até que é bonitinho vendo de perto. Mas meu coração por algum motivo me dizia pra eu tentar sair correndo o mais rápido que eu pudesse.
Como se não fosse nada, ele levou o sangue que estava em sua mão até sua boca.
Argh, nojento.
E, após alguns segundos dele me analisando com seus olhos azuis, ele me puxou com força até o que parecia seu quarto e fechou a porta atrás de mim.
—Estava planejando fugir, Kachiku?- Seu sorriso era sádico, e eu só conseguir recuar quando ele disse meu novo “apelido” com sarcasmo.- Você, suas irmãs e suas amigas não saem daqui até a transformação ocorrer.
Transformação? O quê?
Ele então me prendeu contra a parede, me deixando sem fôlego. E não num sentido sexy ou legal, e sim num sentido apavorante.
Ele escorregou uma das mangas da minha camiseta larga pelo meu ombro, passando a língua suavemente pela área descoberta.
Eu grunhi de puro desconforto com a sensação. Por mais que fosse o sonho de muitas meninas que eu conheço estar contra a parede sendo dominada por um cara bonito que te lambe e morde inteira, isso não era bem a minha praia.
E, sem mais nem menos, ele me mordeu. Porém não foi aquelas mordidinhas de amor que alguns de nós recebemos durante um namoro.
Era uma mordida profunda, e era mais dolorida e agonizante do que talvez tudo que eu tinha experimentado naquela vida. Uma sensação parecida com a de duas agulhas grossas te furando profundamente sem nenhum sinal de piedade.
Mas tudo ficou ainda mais surreal quando eu senti uma sucção naquela mesma área.
A dor havia ficado em segundo plano, já que tudo o que sobrava agora era minha confusão.
Quando ele se afastou, percebi que havia sangue saindo de sua boca.
Meu sangue.
Meu choque foi ainda maior quando ele estava se preparando pra me morder novamente. Ele tinha presas.
Presas. Sangue. Mordidas. Sucções.
Tudo fazia bastante sentido agora. Eu achava que eles existiam apenas nos meus livros, mas aparentemente não era assim que o mundo girava.
Sem pensar duas vezes, o empurrei com força ao mesmo tempo que o chutava entre as pernas. Ele ainda mantia uma segurada forte em mim, mas eu consegui fazer com que isso mudasse.
Corri até a porta e a esmurrei, não ligando se acabei acordando os meninos. Então subi as escadas depressa, de vez em quando tropeçando por pular alguns degraus, mas eu não caí.
O mais rápido que pude, abri a porta do quarto e a tranquei após entrar.
Dei de cara com Sofie, deitada na cama com uma mão sob a testa.
Ela estava suada e tremia levemente.
—Ah, você voltou.- Ela parecia fraca quando se sentou, me olhando diretamente- Por que você parece ainda pior do que quando saiu?
Me aproximei dela, sentando no pé da cama.
—Vampiros.- Eu sussurrei, apontando pra ferida em meu ombro- Os Mukami são vampiros...
Eu ainda estava muito em choque pra conseguir processar a informação que eu mesma tinha acabado de falar.
Sofie não parecia nem um pouco surpresa:
—Ah.
—“Ah”?- Eu olhei pra ela, indignada- Eu acabei de ser mordida por um vampiro e tudo que você tem a dizer é “Ah”?
Sofie suspirou e tirou seu moletom, ficando apenas com uma regata cinza em minha frente.
—Isso- Ela então apontou pra uma marca de mordida em seu pescoço que parecia ainda bem fresca, porém ainda parecia mais velha que a minha- É uma marca da semana passada. E essa outra- Ela dessa vez apontou uma que estava localizada em seu decote, quase cicatrizada- É da segunda semana do mês passado.
Fiquei olhando chocada pras duas marcas que ela havia me apontado, não acreditando no que via.
—Tanto eu quanto minhas irmãs fomos mordidas- Ela estava com respiração ofegante, e seus olhos pareciam molhados- É bastante provável que suas irmãs também sejam, e não há nada a ser feito sobre isso. É uma situação horrível, eu sei. Mas se nós fugirmos é pior: Digo isso como uma menina que é mordida por um ano inteiro.
—Você é alimento de vampiro a um ano?- Eu estava pasma, não acreditando nas palavras que me eram ditas- Como? Por que? Quem?
Eram muitas perguntas pra nenhuma resposta brotando em minha mente.
—Não só eu, mas também minhas irmãs- Ela respondeu, pegando uma garrafa de água que estava na cômoda e molhando as mãos- Fomos entregues a um grupo de irmãos cujo sobrenome é Sakamaki. Eu era... Sou... Sei lá, alimento do terceiro mais velho: Ayato.
—Ele era grotesco com você?- Perguntei, ainda preocupada com a garota que agora estava em minha frente.
—A primeiro vez que ele me mordeu foi pra me “punir” porque um cara estava pedindo meu número.- Ela respondeu novamente, passando as mãos molhadas pela minha ferida como se estivesse limpando-a.- Um cara que eu nunca estive interessada. Então é, você pode dizer que ele era grotesco.
—Eu não sei o que dizer...- Eu sentia meus olhos encherem de lágrima com o simples pensamento das garotas incríveis que eu havia conhecido hoje passando pela dor que eu havia passado- Dói, né?
Eu e minha fabulosa habilidade de saber o que falar.
— Uma das piores dores que senti na minha vida- Sofie comentou, enquanto me cobria com algumas cobertas- Vai dormir, é bom descansar e assim que acordar tomar um café reforçado depois que é mordida. Vou tomar um banho e daqui a pouco venho dormir.
Concordei com a cabeça, me deitando no travesseiro enquanto ouvia Sofie gritar um “Boa noite” e depois bater a porta do banheiro.
Toquei levemente na ferida lavada, sentindo uma dor me preencher. E pensar que minhas irmãs tem grandes chances de passar por isso.
Não, elas precisam saber. Não vou deixar aqueles caras as pegarem de surpresa.
Assim que ouvi Sofie ligar o chuveiro do banheiro, caí em sono profundo.