Capítulo 5- Votos(quase) eternos

Narração Victoria

Senti todo meu corpo pesar quando a criada apertou mais uma vez meu espartilho.
A cerimônia iria começar ás cinco horas da tarde (Já que era super deselegante a noiva chegar atrasada no mundo vampiro). Entretanto, Karlaheinz achou que seria uma ótima ideia as criadas começarem a me arrumar ás oito horas da manhã.
Toda a parte de preparação do casamento havia me ofendido profundamente. Além de não me deixarem escolher nada... Me obrigam a faltar a aula na faculdade e pular meu café da manhã, e ainda me colocam dentro de um espartilho!
Senti minhas costelas doerem é minha respiração ficar um pouco mais ofegante quando a criada apertou mais uma vez.
—Apertado demais, senhorita?-Ela perguntou com cautela
—Não.- Menti, forçando um sorriso da melhor maneira que pude.
Eu me sentia uma mulher da idade média, tendo os ossos espremidos. Eu sou uma vergonha pra minha geração!
Ela então passou o vestido pelo meu corpo. A parte de cima até me agrada: Branca com algumas transparências. Me pergunto se foi Reijii que quis que fosse assim.
O que é que eu estou pensando? É óbvio que não foi ele! Ele nem se importa comigo!
Assim que meus olhos se baixaram pra saia, todo meu resto de felicidade se esvaziou. Era bufante, brega, com detalhes amarelos e pontos brilhantes.
E então uma das criadas colocou um bolero de pelo branco sob meus ombros, apenas mostrando meus braços. Ao ver isso, soltei um suspiro em pura derrota.
—Com licença, podemos entrar?- A porta se abriu, revelando Sarah com um sorriso delicado no rosto.- Precisamos nos arrumar também.
—Vocês tem seu próprio lugar pra se trocarem. – A criada resmungou, com uma carranca no rosto.- KarlHeinz alugou a parte de trás do salão exatamente pra todos se arrumarem, então...
—Deixe elas entrarem- Respondi, com autoridade. Algo que eu havia aprendido no último mês.- E vá ver se os decoradores precisam de ajuda no salão.
A criada abriu a boca várias vezes, mas nenhum som saiu de lá. Ela então, vermelha de raiva, saiu correndo do pequeno quarto com passos fortes.
Logo a porta se escancarou, e sorri ao ver todas minhas irmãs ao pé da porta com mochilas em mão.
—Deixa eu adivinhar- Sorri ironicamente- Vocês vieram me buscar para uma fuga heroica até o Texas?
—Hoje não, minha irmã- Marie respondeu, fechando a porta atrás de si- Hoje nós viemos cuidar de você.
—Deuses, o que essas criadas fizeram com você?- Sofie perguntou, olhando assustada pra mim- Bolero de pelo, um vestido extremamente brega e... Essa cintura é sua?
Eu dei de ombros, mesmo que sentisse uma breve vontade de chorar. Eu não estava gostando de mim naquele exato momento, nem um pouco.
—Espera, você tá chorando?- Nikki parecia aterrorizada enquanto se aproximava de mim- Essa não é a Victoria que a gente conhece, então isso não tá certo!? Meninas, trouxeram a bagagem extra?
Lua e Sarah puxaram uma pequena mala, escondida atrás da porta.
—Tem certeza que não vamos fugir pro Texas?- Eu perguntei, cruzando os braços- Porque é isso que parece...
—Chega de enrolar!- Lua gritou entre pulinhos-Victoria, tira essa roupa. Nós vamos te dar o que você realmente merece no dia do seu casamento.
Sem querer questionar muito, me virei de volta pro espelho. Com uma pequena ajuda das meninas, consegui me livrar de todas minhas roupas(e finalmente, do maldito espartilho!), ficando finalmente apenas de lingerie na frente das meninas.
—Come isso. -Sarah me estendeu um pacote de Doritos- Você não comeu nada hoje e não queremos que você desmaie no meio dos seus votos!
Eu estava com muita fome pra reclamar, então só peguei o pacote das mãos de Sarah e comecei a comer enquanto me sentava numa cadeira macia.
—Ok, então nós vamos ter que nos dividir- Marie ordenou, subindo em cima do sofá- Sarah, você e eu vamos dar um jeito naquele vestido. Lua, você pega o kit de unhas e arruma aquelas mãos e pés da Victória. Sofie, trata de lavar e hidratar esse cabelo que a gente ama! Nikki, você vai se encontrar com o Jackson na frente do salão e vocês vão juntos arrumar um sapato e acessórios novos pra ela!
Todas as meninas gritaram um “Sim, senhora!”, e com isso cada uma foi pra suas direções correspondentes.
—O que diabos vocês estão fazendo?- Eu perguntei, assim que Sofie soltou meu cabelo é mergulhou-o numa bacia de água aquecida
—Nós dissemos que íamos te ajudar- Sofie deu um sorriso sem mostrar os dentes- Estamos apenas cumprindo a promessa.
Não pude deixar de me sentir completamente relaxada quando senti Lua lixar as minhas unhas do pé.
—Victoria! O que você acha de um vestido estilo sereia?- Ouvi Sarah perguntar do outro lado da sala, é minha primeira reação foi dar um sorriso
—Agora sim você está falando a minha língua- Eu respondi, recebendo uma risada de todas as meninas.
Passado cerca de quinze minutos, com Lua terminando de pintar minhas unhas da mão e Sofie terminando de secar meu cabelo, Jackson e Nikki chegaram correndo e batendo a porta atrás deles.
—Comprar sapatos é complicado- Nikki bufou, colocando a sacola que ela estava segurando no sofá.- Me deve uma depois, Victoria.
Eu apenas fiz um sinal positivo com a mão, enquanto Sofie passava a escova em meu cabelo pela última vez.
—E aí, como a noivinha do dia está agora?- Jackson sorriu de forma brincalhona, se aproximando mais de mim.
—Atualmente?- Perguntei, sorrindo de volta- Apenas feliz porque minhas costelas estão livres e não espremidas por um espartilho
—Vocês chegaram em boa hora, Jackson e Nikki- Marie se levantou, sorrindo com orgulho.- Conseguimos deixar o vestido a cara da dama ali.
Ela e Sarah, com sorrisos de orelha a orelha, nos mostraram o resultado final do vestido.
Ele estava mais justo e definitivamente com mais transparências, além de uma parte da saia ser feita, agora, de um tecido translúcido.
—Eu amei! Amei! Amei!- A primeira coisa que fiz foi correr até elas e abraça-las com toda a força do mundo- Vocês são a melhor família que uma garota podia pedir!
—Vocês sabem o que isso significa?- Lua olhou para nós de forma sapeca.
—Por favor, não...- Sofie resmungou, revirando os olhos.
—Abraço de família!- Sarah deu um gritinho, envolvendo Lua, Jackson, Nikki e Sofie no abraço.
—Eu amo ficar com vocês e tudo isso, gente...- Nikki comentou, já saindo do abraço- Mas precisamos nos arrumar, principalmente a dona noiva.
Revirei os olhos, sorrindo. Eles e aquele maldito apelidinho.
E com isso, Jackson saiu do cômodo, dizendo algo sobre estar aterrorizado com o fato de trocar de roupa no mesmo quarto que os Sakamaki.
Sem muito aviso, as garotas passaram o vestido pelo meu corpo. Senti um sorriso se alastrar pelo meu rosto em amor a primeira vista.
Aquele vestido era simplesmente perfeito.
—Vocês podem se arrumar agora- Eu respondi assim que percebi os olhares de minhas irmãs pousando em mim- Eu consigo fazer meu cabelo e minha maquiagem sozinha.
E, em menos de cinco minutos, todo o cômodo estava uma bagunça. Todas as roupas de minhas irmãs em poucos segundos estavam espalhadas pelo chão, e várias vezes consegui ouvir frases como “Sofie, me ajuda a arrumar meu cabelo?”, “Sarah, meu vestido tá amassado?” ou “Marie, passa delineador em mim?”
Eu só conseguia sorrir enquanto prendia meu cabelo de lado. Realmente, aquela era a melhor família que eu podia pedir.
Passados no mínimo 20 minutos, quando eu terminei de fazer minha maquiagem, me virei pra ver como as garotas estavam indo.
A primeira que eu pousei os olhos foi Nikki.
Seu cabelo azul estava solto, uma única pequena trança presa no lado esquerdo de sua cabeça. Seu vestido era de tirar o fôlego: Vermelho vinho, de decote V, alças caídas e com uma abertura na perna esquerda.
Uau. Ainda bem que eu convenci ela a usar um vestido, e não um jeans e camiseta
Logo ao seu lado estava Sofie, dando os últimos retoques na maquiagem. Seu cabelo castanho estava numa coroa de tranças que descia, caindo em seu ombro direito. Não pude deixar de soltar um “Uau” quando vi que seu vestido batia em seus joelhos, sendo a parte de cima prateada e brilhante e a saia azul escura.
—Eu só quero te lembrar que ainda somos irmãs, ok?- Nikki brincou, percebendo meu olhar demorado nas duas.
—Ei, não me julgue!- Eu fiz beicinho- Eu não tenho culpa se vocês duas estão lindas! Deveriam usar vestidos mais frequentemente!
—Eu acho melhor continuar do jeito que estamos- Sofie suspirou- Esqueci meu jeans em casa, vou ficar a festa inteira com isso.
Aleluia, minhas preces foram ouvidas!
Assim que olhei pro lado, vi que Sarah estava dando alguns ajustes na saia de Lua.
Sarah estava tão fofa que eu não podia deixar de sorrir: Seus longos cabelos castanhos estavam presos em dois pequenos coques em cima da cabeça. Seu vestido era curto, a saia parecia de uma bailarina numa cor pêssego. O corpete de seu vestido era bem detalhado, com pontinhos brancos brilhantes e flores.
Ela estava adorável. Uma mistura de Pucca com bailarina.
Lua, por outro lado estava iluminada. Seu vestido não tinha decote e era curto, brilhante e dourado. Extremamente parecido com ela. Seu cabelo era tão difícil de explicar que eu não fazia ideia de como Sofie havia feito aquilo: Seu cabelo parecia ter um coque em cima que descia num rabo de cavalo, cercado por uma espécie de tirara prateada em forma de pequenas folhas.
—E... Você está pronta!- Sarah disse, se levantando e enfim me olhando- Vic-chan, por que está nos olhando assim?
—É porque nós estamos lindas, Sah!- Lua sorriu, enquanto abraçava Sarah de lado- Você é a Pucca e eu sou o brilho da família!
Bem, aquilo não era mentira. Elas estavam realmente lindas. Todas elas.
—Victoria, como eu estou?- Ouvi a voz de Marie, e me virei para falar com a mesma.
Seu vestido era cinza, longo com uma abertura em sua perna esquerda e decorado com várias pedrinhas. Seu cabelo estava até que simples: Partido de lado, com as pontas cor de rosa onduladas.
—Eu estou com a breve impressão que todas vocês estão mais bonitas do que eu.- Resmunguei, ainda sorrindo.
—Acredita na gente, Vic- Nikki se levantou, ficando de frente pra mim- Isso é fisicamente impossível. Nesse exato momento, você deve ser a menina mais bonita do mundo inteiro.
—Ah, gente, até a Nikki tá emotiva!- Lua abraçou sua irmã, que apenas grunhiu- Viu? Tá todo mundo aqui por você.
Nosso lindo momento de irmãs foi impedido por uma batida forte na porta. Marie bufou e abriu, decidida.
—São as senhoritas Herbert?- Era um homem de cabelos, olhos e terno negro. Ele parecia algo como um segurança- Todos já estão reunidos no salão, já está na hora de vocês entrarem.
E com isso ele foi embora pelo corredor. Olhei com insegurança pra minhas irmãs, mas tudo que elas fizeram foi andar na minha frente.
Eu, segurando a saia do meu vestido, comecei correr atrás das garotas.
—Parece que não tem ninguém no corredor- Sofie sussurrou, e eu não pude deixar de ficar confusa.
Ouvimos alguns passos, e as garotas me puxaram pro lado, todos nos escondendo atrás de uma parede.
Quando o barulho de passos já era longe, todas nós saímos do esconderijo e continuamos nosso caminho normal.
—Por que diabos estamos nos escondendo das pessoas?- Perguntei, olhando de canto para Sarah e Marie.
—Porque ninguém pode te ver antes do casamento- Sarah respondeu como se fosse a coisa mais simples do mundo- Nós não podemos deixar de seguir as tradições só porque estamos em outro mundo, não é?
Todas concordamos com a cabeça, acelerando mais o passo. E a cada passo meu coração acelerava mais um pouco.
Uau. Eu ia casar. Só agora caiu a ficha.
Eu comecei a focar mais em meus pés do que em qualquer coisa. No barulho que meu salto, junto ao das meninas, fazia no chão.
E, como se meu dia não pudesse ficar pior, eu bati minha cabeça num peitoral duro e tombei, porém um par de braços fortes me impediu de cair no chão.
—Da próxima vez, olhe mais pra onde anda- Fiquei assustada quando percebi a voz preguiçosa que estava em minha frente- Espera aí, Victoria?
Quando abri meus olhos, fiquei amedrontada ao ver os olhos azuis de Shu Sakamaki me fitando.
Quando eu consegui dar um passo pra trás, percebi que Subaru e seu irmão mais velho estavam com olhos arregalados, me fitando.
—É... Oi?- Eu respondi, dando um sorriso envergonhado enquanto os dois se entreolharam.
—Cara, parem de olhar pra Victoria assim. Ela daqui a menos de uma hora será uma moça casada.- Lua deu uma risada, fazendo com que os dois finalmente olhassem pras minhas irmãs.
—Quem são vocês e o que fizeram com as Herbert irritantes que eu conheço?- Subaru parecia chocado, e eu juro que vi suas bochechas se avermelharem quando seus olhos encontraram Lua.
—Por incrível que pareça, nós somos as mesmas- Marie riu, e depois deu um empurrãozinho em Sofie e Nikki- A diferença é que essas aqui estão finalmente usando um vestido.
Shu fitou Nikki de cima a baixo, seus olhos se demorando no decote.
Pervertido de quinta categoria.
—Vejo que finalmente resolveu se assumir uma mulher pervertida- Shu sorriu com ironia.
—Argh, cala a boca, Sakamaki!- Nikki resmungou, porém suas bochechas estavam levemente rosadas- De qualquer forma, o que vocês estão fazendo aqui?
—Nós íamos fugir. Não queremos ter que entrar naquele casamento de braços dados com vocês e depois assistir toda a cerimônia- Subaru bufou- Mas, agora que vocês estão aqui, não temos mais desculpa para não irmos pra lá.
—Exatamente.- Sarah sorriu delicadamente- Então vamos, não podemos deixar todo mundo esperando.
Após mais caminhadas silenciosas, com eu andando atrás de todo mundo, finalmente chegamos na frente da porta principal do salão. Ela estava fechada.
—Finalmente vocês chegaram!- Ayato resmungou- Chichinasi, você terá que me pagar por me deixar esperan-
Suas palavras simplesmente se foram quando ele viu Sofie. Ela cruzou os braços e arqueou a sobrancelha com a reação dos garotos.
Ai, o amor é uma coisa linda. Quem diria, os meninos ficando envergonhados e sem o que falar ao verem minhas lindas irmãs.
—Ayato, quantas vezes a Lilith te falou pra você arrumar a droga dessa gravata?- Kanato chegou perto de seu irmão, apontando para o terno do mesmo- Eu não quero mais aquela chata vindo aqui gritar no nosso ouvido.
—Ei, ela só faz isso pelo bem de vocês- Sarah falou, com expressão meio tristonha.
E então Kanato olhou pra Sarah, seus olhos brilhando:
—Sarah-chan, você está parecendo uma boneca. Teddy concorda...
Ela apenas agradeceu fracamente. Enquanto eu me perguntava se aquilo era um elogio ou não.
—Bitch-chan... -Ouvi o sussurro de Laito, e me assustei quando percebi que ele estava do meu lado, abraçando Marie- Você está linda~~Ainda mais que a noiva.
—Uau. Isso que eu chamo de elogio- Marie sorriu de canto- Mas nesse caso eu terei que te corrigir.
—Caramba, você está...-Ouvi uma voz conhecida. E então eu olhei pra trás e vi meu pai, com olhos cheios de água- Uau. Eu não tenho palavras pra te explicar, você parece uma rainha.
Abracei meu pai com força, e senti as lágrimas quase escapando dos meus olhos. Ele retribuiu o abraço com mais força, como se não quisesse me abandonar.
—Ei, não chora. Vai borrar sua maquiagem e você vai ter um treco.- Meu pai se afastou de mim, sorrindo delicadamente enquanto fazia um carinho nas pontas de meu cabelo- Sua mãe estaria muito orgulhosa de te ver aqui, agora.
—Primeiro: Eu já estou tendo um treco- Resmunguei, fazendo meu pai rir quando uma única lágrima se esparramou pelo meu rosto- Segundo: E você? Está orgulhoso de mim?
Ele sorriu tristemente, bagunçando seus cabelos loiros:
—De ter uma filha forte que aguenta tudo o que vem na sua frente... Desde quando não seja uma aranha- O último comentário me fez rir- Mas que nunca esquece que a coisa mais importante do mundo é o amor? Eu não podia estar mais orgulhoso.
Suas mãos limparam com delicadeza meu rosto.
—Já está na hora de ir, gente- Sofie me avisou com um sorriso reconfortante no rosto.
Então eles se posicionaram numa fila, mulheres á esquerda e homens á direita. Meu coração a essa hora já parecia um tambor.
As portas se abriram, e passaram por lá um par de cada vez: Nikki e Shu, Sofie e Ayato, Sarah e Kanato, Marie e Laito, Lua e Subaru... Todos lá por mim. No final do corredor principal do salão, eles se dividiam: Minhas irmãs pra um banco, Sakamaki pro outro.
—Pronta?- Meu pai sussurrou quando chegou nossa vez de irmos.
—Depende do que estamos falando.- Sussurrei de volta- Entrar lá arrasando e todo mundo me olhar? Sim. Me casar com um vampiro? Definitivamente não.
Ele deu uma risada de apertou mais meu braço enquanto me guiava até a frente da porta.
E com um passo mais forte, eu entrei no salão e senti todos os olhos em mim.
Eu via mulheres e homens desconhecidos me olhando de cima a baixo, numa mistura de susto com admiração. Também conseguia identificar Ian, Chronos e Jackson em alguma fileira, sorrindo de forma encorajadora pra mim.
Não pude deixar de sorrir de volta.
Mas assim que olhei pra frente, vendo meu destino final, sorri envergonhada.
Reijii Sakamaki, meu noivo de sacrifício, meu noivo de verdade e logo meu marido, estava parado em cima de uma espécie de altar. Ele parecia chocado, mas eu conseguia ver uma faísca de ternura em seus olhos vermelhos.
No meio do corredor, meu pai parou e me deu um beijo na testa. E então quem segurou minha mão foi KarlHeinz
—Você está ainda mais linda com esse vestido do que com o que seu noivo te separou- O rei sussurrou, e o comentário me deixou levemente chocada- Foram suas irmãs?
Eu não respondi, apenas apressei o passo.
Assim que cheguei perto do dito cujo, Reijii pegou minha mão e me puxou pro seu lado.
—Estamos aqui reunidos- O cerimonialista começou a discursar, enquanto a mão de Reijii brincava com meus dedos- Para celebrar a união de dois seres: O Príncipe Reijii Sakamaki e Victoria Herbert.
Eu dei um sorriso reconfortante para Reijii quando percebi que o mesmo estava me olhando por trás dos óculos.
—Uma união formada por amor, ternura e amizade- O cerimonialista continuou- Dois seres que olham dentro dos olhos um do outro e percebem que se conhecem inteiramente, e se aceitam apesar dos defeitos e diferenças.
Os únicos casamentos que eu tinha ido eram em igrejas, então toda a cerimônia era diferente da que eu conhecia.
Pelo que parecia, era bem mais focada na união e no amor do que em tudo.
Deus, o que eu estava fazendo aqui?
Senti Reijii apertar minha mão, como se quisesse me acalmar.
Não adiantou muito, já que meu coração só acelerou com seu toque.
Vários minutos se passaram. Eu não conseguia me focar em algo que não fosse o toque de Reijii em minha mão, que me causava paz e euforia ao mesmo tempo.
—Peço que o casal vire um para o outro e digam seus votos- A voz do cerimonialista me tirou de meus devaneios.
Sem pensar muito, me virei pra ele, respirando fundo.
Eu havia praticado aqueles votos com minhas irmãs umas duzentas vezes, sendo bem sincera.
Estendi a mão para Reijii, que fez o mesmo. Ele então juntou nossas duas palmas, me fazendo estremecer no contato com sua pele fria.
O cerimonialista passou a primeira faixa do grande tecido vermelho pelos nossos pulsos, apertando mais nossas mãos juntas.
—Eu juro- Nós dois começamos a dizer juntos, enquanto o homem unia mais nossas mãos com o tecido- Estar unido a essa pessoa a minha frente e amá-la até quando me for permitido.
A cada frase nossas mãos iam ficando mais unidas, e eu já sentia minha mão dormente de tanto que o tecido estava apertando meu pulso.
—Pela paz entre as raças -Continuamos, enquanto eu tinha que disfarçar minha voz embargada- Pelo fruto de vida que essa união irá prover. Pelo bom reinado de nosso lar e pelo equilíbrio da eternidade.
Olhei nervosa pras minhas irmãs, já que todas pareciam emocionadas.
—Eu os declaro marido e mulher, finalmente- O cerimonialista disse, me fazendo suspirar de alívio- O senhor pode beijar a noiva.
Tive que fechar os olhos com força enquanto Reijii me dava um beijo simples, sem língua que durou apenas alguns segundos.
Eu só abri meus olhos novamente quando ouvi as comemorações dos convidados. Logo depois disso, eles se retiraram pra outra parte do salão.
—O que eles estão fazendo?-Perguntei, quase que pra mim mesma.
—Indo pra festa do casamento, é claro- O cerimonialista grunhiu, parecendo nervoso- Você, como mulher, deveria saber disso.
—Eu, por ser mulher, deveria saber tudo sobre casamento?- Arqueei uma sobrancelha- Seu comentário foi tão errado que nem sei por onde começar.
—A única função que uma mulher casada deve ter é como esposa e mãe- Ele revirou os olhos, assim que viu Reijii se retirando pra falar com seu pai- É o momento mais importante da sua vida.
—Primeira: Casamento nunca foi minha prioridade. Eu tenho as minhas irmãs, faço faculdade e daqui a uns anos terei um emprego- Eu estava realmente indignada com aquele homem- Segundo: Esse não foi nem de perto o dia mais importante da minha vida, já que eu nem queria que ele acontecesse!
E com isso eu saí correndo para o cômodo da festa.
Quando vi todo aquele lugar elegante, com música clássica e pessoas chiques dançando e tomando drinks, a vontade de chorar foi bem grande.
Aquilo não era o que eu queria pra minha vida. Pelo menos não agora. Nunca foi.
—Victoria! Vem se sentar com a gente- Uma onda de alívio me preencheu quando ouvi a voz de Sarah vindo de uma das maiores mesas.
Sem pensar duas vezes, nem me importei com o resto dos nobres, e me sentei numa cadeira entre Sofie e Nikki.
—Ok, hora das apresentações- Jackson suspirou- Mao Masa e Sol, essa é nossa irmã mais velha Victoria. Victoria, esses são nossos amigos Mao Masa e Sol.
—Masa não é tipo... O nome de um político importante?- Marie perguntou, colocando suas madeixas atrás da orelha.
—Então é daí que eu te conheço!- Sofie disse, parecendo assustada.- Eu sabia que seu sobrenome não me era estranho!
—Vocês estragaram meu segredo!- O tal Mao Masa reclamou dramaticamente- Agora todos sabem quem sou!
—Deixa de ser dramático, cara- Sol resmungou, revirando os olhos dourados- Não é nada demais, estamos entre amigos.
Amigos. Isso era tudo que eu precisava.
—Vic, você tá bem?- Lua parecia preocupada- Está com uma cara horrível.
Todos os olhares da mesa de repente se viraram pra mim.
—Eu só preciso de um momento de descontração- Suspirei, sentindo meu corpo ficar mais tenso- Eu já me sinto horrível sabendo que sou uma Sakamaki.
—É, eu também me sentiria- Nikki concordou, olhando pra mim com carinho- Eles são uns grossos com a gente, não posso fazer nada!
—Pensa pelo lado positivo- Sol começou- Agora todos vão te levar a sério! Você já tinha pose de rainha, e agora você tem até o nome!
—Mas... Eu sei de uma coisa que pode te descontrair bem, Victoria- Marie se levantou, um sorriso no rosto- Ouvi dizer que aqui tem doces ótimos e um fondue divino...
—Ok, isso eu preciso ver- Comentei, me levantando sob as risadas de todos- Quem vêm comigo?
Todos se levantaram e começamos a fazer nosso caminho pra mesa de doces.
—Victoria!- Ouvi uma voz extremamente conhecida e fiquei feliz ao ver Lilith num belo vestido azul escuro- Quanto tempo eu não te vejo! Parabéns por ter aguentado até aqui!
Sorri quando ela me abraçou forte, e eu retornei o abraço.
—Onde estão Yui e Igor?- Sofie perguntou, parecendo confusa.
—Ah, o babaca do meu tio não deixou eles virem- Lilith bufou, parecendo altamente irritada- De acordo com ele, não podemos aceitar humanos ou lobisomens numa festa tão linda que não sejam da família da noiva. Mas não se preocupem, quando eu casar com o Igor nós viraremos esse jogo todo.
Todas nós sorrimos, enquanto Lilith esbanjava a mão, onde enfeitava um anel prata simples.
—Parabéns pelo seu noivado, Lilith- Sarah sorriu delicadamente, dando um abraço na mulher.
—Bem, meus primos e meu tio ainda não sabem do meu relacionamento com Igor- Ela comentou, um sorriso enfeitando seus lábios vermelhos- Mas não é como se eu fosse herdar alguma coisa da família.
—Eu achava que você era a mais velha- Sol comentou de volta, mexendo na saia azul de seu vestido.
—E eu sou- Lilith suspirou, com certa tristeza no olhar- Nasci dois anos antes de Shu. Porém, além de não ser filha de KarlHeinz sou mulher. Por mais injusto que isso seja, eu não herdo nada.
—Os caras que fazem nossas leis são realmente idiotas- Sofie bufou, comendo algo de chocolate que estava na mesa.
Eu e Sarah não demoramos muito pra acompanhá-la.
—Ei, está pronta pra sua noite de núpcias?- Lilith perguntou, me puxando pra um lado com delicadeza.
Espera aí, o que?
—Como assim?-Perguntei, enquanto enfiava mais um chocolate na boca- Pra que eu deveria estar preparada?
Os olhos de Lilith se arregalaram em susto e raiva:
—Eu não acredito que ninguém te falou sobre a noite de núpcias! Garotos idiotas e esquecidos!
Olhei pra ela, confusa.
—Nós, vampiros, seguimos um estilo de vida bem medieval- Ela respondeu, parecendo tentar se acalmar- Na noite de núpcias do casamento... É esperado que o casal “consuma” o casamento, queira a noiva ou não.
Quando percebi o que ela quis dizer, só consegui abrir a boca em puro terror.
Eu teria que fazer sexo com Reijii. E o meu consenso nem importava nessa altura do campeonato.
Após horas de festa, a carruagem deixou eu e Reijii numa espécie de hotel que ficaríamos pela noite.
Parecia chique, mas isso não me distraia do pensamento que me amedrontava a noite inteira.
Fomos escoltados por guardas até nosso quarto. Lindo, enorme, com uma cama gigantesca e eu já podia sentir o cheiro de rosas me invadindo assim que pisei no quarto.
Tudo preparado para o que eu deveria fazer aquela noite.
—Senhor e Senhora Sakamaki- O guarda nos chamou, e eu quase senti as lágrimas esparramando pelo meu rosto quando entendi que esse era meu nome agora- Os deixarei a sós para a consumação do casamento.
E com isso ele fechou a porta, me deixando completamente perdida e devastada no quarto com Reijii.
Olhei para meu agora marido pelo canto do olho. Ele estava lindo, ainda mais do que eu gostaria de admitir que ele estava.
Seu terno o destacava bem, e seus olhos vermelhos estavam sérios e aparentemente cansados. O cabelo preto estava perfeitamente arrumado, nem parecia que tinha saído de uma festa de casamento.
Nossa festa de casamento.
Eu havia tido sentimentos conturbadores sobre essa história desde quando a novidade foi anunciada. Eu achava, realmente, Reijii um cara bonito e até que legal.
Eu conseguia me ver num relacionamento com ele, sem problema nenhum. Mas nada disso estava correndo do jeito que eu queria que acontecesse.
Eu nunca quis me casar. Eu não quero me doar inteiramente pra ele agora. Eu não estava pronta, e eu de alguma forma consigo ver que ele também não está.
Lembro do dia que eu e as meninas ficávamos falando dos Sakamaki na cozinha, altas horas da madrugada. O que Sofie falara naquela hora havia grudado na minha cabeça de forma inexplicável.
“Talvez eles tenham um passado traumatizante” Ou algo desse tipo. E me pergunto o que fez meu agora marido se tornar do jeito que ele é.
Soltei meu cabelo, que estava preso de lado, deixei-o se bagunçar ao redor do meu rosto ao mesmo tempo que algumas lágrimas caiam.
Por favor, não.
Tirei as luvas e os acessórios que estava usando e desci dos meus saltos.
Pela primeira vez na vida, eu me sentia indefesa como ninguém.
Assim que eu estava começando a escorregar as mangas de meu vestido pelos meus braços, uma voz me interrompeu:
—Pare.
Uma palavra tão simples conseguiu me fazer obedece-la na hora. Eu apenas consegui me virar pra Reijii, com os lábios pressionados.
—Fiz algo de errado?- Perguntei, tentando com dificuldade que a minha voz não soasse fraca.
Eu me sentia ainda pior do que meus ossos com o maldito espartilho.
—Não precisa fazer isso. A consumação de casamento- Ele respondeu, e eu me senti surpresa com aquela reação tão... “não ele”- Eu também não quero, então não há motivos pra nós dois fazermos isso.
Apenas concordei com cabeça, meu coração se ardendo de alívio.
Rapidamente troquei de roupa, colocando a minha camisola mais comportada possível em meu corpo. Também retirei a maquiagem, ainda soltando lágrimas de alívio. Dentro do banheiro era muito mais confortável.
—Eu peguei outro quarto pra você aqui perto- Reijii abriu a porta, e eu apenas concordei com a cabeça- Durma naquele quarto.
Sem muita demora, o obedeci e fui direto pro quarto. Eu basicamente me joguei na cama, sentindo todos meus ossos implorarem por descanso.
Assim que me acolhi, aquecida pelas cobertas, olhei para o anel de casamento em meu dedo.
Era dourado, com uma grande joia vermelha no meio dele. Extremamente Sakamaki.
Me virei pra um canto, deixando o sono me consumir com apenas um pensamento em minha cabeça:
Eu não sou apenas uma Sakamaki. Eu sou uma Herbert, em primeiro lugar.
E você nunca mexe com uma Herbert.