Like a Vampire 2: Bloody Marriage

Capítulo 11- Exército de título


Narração Sofie

Acordei antes mesmo do relógio despertar. Com cuidado para não acordar uma Brunna ainda adormecida ao meu lado, desci cuidadosamente da cama.

Assim que alcancei o corredor, escorreguei pelo corrimão silenciosamente e dei de cara com minha irmã gêmea.

—Boa noite.- Ela me cumprimentou, erguendo a xícara cheia de chocolate quente em minha direção- Teve bons sonhos?

—Você sabe muito bem que eu só lembro dos meus sonhos quando eles envolvem o incêndio- Respondi entre tossidas, sentindo meus olhos pesarem de novo com a urgência de café- E boa noite pra você também. Pronta pra começar a busca?

Sarah sorriu docemente, concordando com a cabeça antes de gesticular para que eu fosse até a cozinha.

—Quando você deixou aquele bilhete no meu quarto ontem de noite, eu fiquei confusa- Ela admitiu, suas bochechas adquirindo um tom leve de rosado quando ela me mostrava um bloco de notas em cima da mesa- Fiz algumas anotações com minhas suposições do porque estamos aqui e o que isso tem a ver com aquele bagulho de “Eve”.

Peguei o bloco de notas e comecei a folhear, lendo rapidamente:

—Por acaso você acha que os Mukami devem ter alguma informação sobre isso?

—Ah, sei lá, talvez- Sarah deu de ombros, com um olhar tão sério que me deu medo – Mas eles não vão nos responder tão cedo.

—Quem disse que a gente vai perguntar pra eles?- Eu perguntei, arqueando a sobrancelha e mirando um sorriso sapeca para minha irmã.

Ela pareceu chocada, porém seus olhos brilhantes e o sorriso que apareceu em seus lábios me relaxaram:

—A gente vai.... Eu não acredito que de todas nós que vivemos nessa casa, você foi a que deu essa ideia.

Eu me espreguicei enquanto colocava o bloco de notas nos bolsos fundos do meu pijama.

Não demorou muito mais que alguns segundos até ouvirmos passos no corredor. Sem pensar muito, joguei qualquer comida que estava na mesa na minha boca enquanto Sarah tomava mais um gole de seu chocolate quente.

—O que vocês duas estão fazendo acordadas á essa hora?- Quando olhei para trás, quem havia chegado era Ruki. Olhei de relance para Sarah, que deu uma concordada discreta com a cabeça.

—Estávamos com fome. – Respondi calmamente, até que comecei a sentir minha boca arder com a comida dentro dela.

Olhei discretamente para o pote: Biscoitos explosivos de pimenta. Maravilha, eu nem sabia que isso existia.

Eu tentei ignorar o fato que minha boca estava queimando e que lágrimas pela ardência estavam sendo criadas em meus olhos. Olhei para Sarah como quem pede socorro.

—Ah, é?- Ele olhou curiosamente para o pote ao meu lado- Não sabia que a senhorita gostava de pimenta, Sofie.

—Eu adoro- Menti, piscando algumas vezes para esconder meus olhos vermelhos.

Ele olhou de forma suspeita para nós duas, enquanto eu olhei novamente com os olhos cheios de lágrimas na direção de Sarah.

Assim que Ruki deu as costas e foi embora, eu cuspi os biscoitos e joguei no lixo:

—Você quer me matar? Por que colocou biscoitos de pimenta na mesa do café?!- Briguei, e Sarah parecia assustada e envergonhada.

—Azusa gosta de biscoitos de pimenta...- Ela respondeu, se encolhendo.

—Ele gosta de se cortar também, vai dar mais uma faca pra ele?- Respondi rispidamente enquanto jogava água na minha boca levemente dormente.

Ela me olhou curiosa:

—Como você sabe que ele gosta de se cortar?

Dei de ombros, e nós permanecemos em silêncio enquanto ouvíamos gritos e uma falaria alta vindo dos quatro irmãos Mukami. Yuma e Kou brigavam, Azusa sussurrava coisas sem sentido e Ruki tentando fazer com que seus irmãos fossem para o carro.

Assim que a porta se bateu, eu e Sarah soltamos nossa respiração. Porém nossos olhares só se encontraram quando ouvimos o barulho de um carro se afastando da casa pode ser ouvido.

—Vamos acordar aquelas preguiçosas- Respondi, mordendo o lábio inferior fracamente- Temos uma longa pesquisa pra fazer.

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—Qual é a probabilidade de isso dar errado?- Brunna perguntou de novo. Estávamos nós dez lado a lado andando pelo corredor, enquanto a minha colega de quarto nos guiava até o quarto de Ruki.

—Pra falar a verdade, bem alta.- Marie respondeu, coçando os olhos novamente.- Mas se nós não tentarmos, nunca vamos conseguir respostas.

—É esse o quarto dele, irmã?- Priya, que estava na frente juntamente com Victoria, perguntou de repente. Brunna apenas concordou com a cabeça.- Bom. Chegou a hora, estão prontas?

—Só uma pergunta- Lua nos interrompeu quando Victoria ia abrir a porta- Não importa o que estiver naqueles livros, nós ainda vamos lutar juntas, não é?

—É claro que vamos, irmãzinha- Victoria respondeu de forma suave, mas eu podia perceber que a mais velha estava nervosa- Não importa o que acontecer, nós vamos ficar juntas. É pra isso que amigos servem.

E com isso Victoria abriu a porta.

O quarto de Ruki não era nada como eu imaginava. Uma cama de solteiro com cobertores pretos encostada na parede branca e decorada com alguns quadros. De um lado tínhamos um armário e do outro uma escrivaninha. Mais á frente, havia uma grande e lotada prateleira de livros.

—Como a gente pode pesquisar todos esses livros em tipo... quatro horas?!- Daayene parecia eufórica- Palavras demais, e a gente nem sabe se todos eles estão na nossa linguagem!

—Vários desses são livros de ficção, e isso não é o que procuramos- Brunna foi a primeira a dar um passo pra frente, os olhos azuis brilhando enquanto ela praticamente devorava os livros com os olhos.- Existem alguns em japonês, francês, italiano e até alemão, pelo que estou vendo.

—Quantas línguas você sabe falar?- Me peguei perguntando de relance.

—Todas que posso aprender. E nunca é o suficiente por aqui- Ela sorriu enquanto pegava um dos exemplares que estava na prateleira de baixo- Parece que Ruki divide por ordem alfabética dos autores.

Eu fiquei impressionada com o conhecimento de Brunna sobre linguagens e literatura. Mesmo conhecendo ela á quase dois meses, percebi que não conhecia quase nada sobre ela.

—Bem, o que estamos esperando?- Sarah parecia estranhamente animada com a nossa busca- Vamos ao trabalho!

Todas nós pegamos alguns livros da estante. Brunna estava certa, vários deles eram de ficção e a maioria destes eram muito famosos. Isso acabava facilitando nosso processo.

Eu acabei me contentando com um livro grosso chamado “A Enciclópedia Vampiríca”, aparentemente atualizado no ano passado. Procurei no sumário algo sobre Eve, sem sucesso. Porém achei outra coisa que poderia me interessar.

Para minha tristeza, não achei nada que pudesse ser muito claro para o que procurávamos. Existia um capítulo sobre a família regente, que no caso seria a família Sakamaki, mas eu não estava interessada na história deles.

Já havia descoberto coisa demais sobre a vida dos garotos com o diário da Lilith que eu e minhas irmãs lemos durante o ano passado.

Suspirei ao pensar naquilo. Eu não sabia se o ano passado era melhor ou pior do que o que estávamos agora.

Claro, eu tinha minhas irmãs e agora existiam também as Hudison na minha vida. Elas com certeza eram pontos positivos do que eu estava passando desde o ano anterior. Além disso, aqui eu não tinha nenhum Ayato pra me encher o saco ou me morder todo dia. Minhas marcas de mordida estavam quase totalmente cicatrizadas.

Me desviei de meus pensamentos quando ouvi o barulho de uma gaveta se abrindo. Ao olhar pro lado, percebi que Lua estava abrindo uma das gavetas na parte de baixo da prateleira.

—O que você está aprontando aí?- Ouvi Daayene perguntando, seus olhos escuros saindo dos livros e parando na minha irmã mais nova.

—Bem... Eu não achei nada nesse meu livro- Lua respondeu suavemente, suspirando ao perceber a quantidade de pastas e papéis naquela gaveta- Ah, Deuses, por que tanta coisa? Nosso tempo é limitado!

Eu me arrastei para seu lado enquanto fechava meu livro:

—Deixa que eu te ajudo.

—Eu também posso ajudar.- Nikki comentou, já se sentando ao nosso lado.

De alguma forma, eu senti conforto de ter minhas duas irmãs mais novas do meu lado naquela situação.

Em um silêncio levemente revigorante, nós três começamos a abrir pastas e mais pastas e a ler e reler cada texto que estavam por ali.

Muitos dos textos eram anotações, provavelmente feitas por Ruki, algumas delas até mesmo pareciam ser tirados de um diário. Todas as pastas, pretas e lisas, eram recheadas de coisas um tanto quanto cotidianas. Porém nada em relação as Eve.

Abrindo a que parecia ser a quinta pasta, a primeira coisa que percebemos é que ela tinha uma outra pasta menor dentro de si. Porém, esta era vermelha.

Trocando apenas um olhar com minhas irmãs, eu já percebi que estávamos pensando a mesma coisa: Deveríamos abrir a pasta vermelha.

Nikki pegou a pasta com as duas mãos de forma incrivelmente cautelosa, e jogou todo seu conteúdo no espaço vazio entre nós três.

Peguei o primeiro papel da pilha dos que haviam lá, e passei os olhos fervorosamente pelas palavras:

“Senhor Ruki Mukami,

Já está no momento de informar-lhe que já se passaram quase dois meses desde que as Irmãs Herbert e as Irmãs Hudison chegaram em sua moradia. Desde o último mês você não me manda notícias sobre como está o processo de transformação delas. Seus relatos sobre mudanças em seus corpos não foram relevantes, e ainda precisamos decidir através das Herbert se as Hudison seriam ou não peças importantes para o Projeto Eve.

Se alguma das senhoritas falharem em nossos experimentos, você sabe o que fazer. Porém essa regra apenas equivale ás Hudison, já que as Herbert são importantes para minhas alianças e contatos.

As dez são mais fortes do que qualquer um de vocês ou de meus filhos podem pensar, não se enganem pelos seus olhos brilhantes e corpos fracos. Além disso, vale lembrar que a Senhorita Victoria Herbert Sakamaki deve permanecer viva e intacta sob qualquer circunstância, não se atreva a fazer nada que prejudique quaisquer uso futuro de si ou de suas irmãs.

Espero as notícias do experimento,

Rei KarlHeinz Sakamaki”

Ao ver o meu sobrenome na carta, eu já sabia que estava ferrada. Quando eu li a assinatura, eu percebi que eu estava muito ferrada.

—Acharam alguma coisa?- Marie perguntou, e só então que percebi que todas as garotas estavam ajoelhadas perto de nós- Estão com umas caras nada boas.

Nikki e Lua não haviam lido a carta, então eu passei para todas lerem sem hesitação enquanto pegava outra da pilha.

“Senhor Ruki Mukami,

Não entendi claramente sua última carta. Se suas observações significam o que eu imagino significar, parece-me que seus irmãos lhe disseram que o sangue das Hudison não tem nada de diferente. Estranho, todas minhas anotações seguem para o fato de que as quatro irmãs seriam Eve também. Apesar do sangue de Cordelia não estar correndo pelas veias delas como nas das Senhoritas Herbert( não literalmente, claro. Me refiro ao despertar do ano que passou) elas apresentam comportamentos dignos de Eves.

Serão de grande ajuda para você se eu lhes disser alguns dos comportamentos possíveis de serem apresentados pelas Eve.

— Mudança súbita e brusca no sabor ou odor do sangue;

—Modificações aparentemente sem sentidos no corpo

—Mudança estranha ou exótica no comportamento ou jeito de pensar e agir;

—Mudança estranha em hábitos de sono ou sonhos estranhos;

—Desregulamento em seus períodos de ovulação e da abertura de suas flores vermelhas.

Espero que o resultado seja digno,

Rei KarlHeinz”

Quando eu mal percebi, estava com a respiração ofegante só de ter lido aquelas duas cartas. Ainda não sabíamos exatamente o que era o “Projeto Eve”, mas nós sabíamos que ele envolvia todas nós. E que KarlHeinz estava no meio.

Assim que todas terminaram de ler as duas cartas, nos encaramos com medo.

—Eu NÃO ACREDITO que isso tá acontecendo com a gente!- Victoria parecia estar sufocando um berro. Eu não podia julgá-la.- Nossos dias, nossa rotina inteira... Está sendo relatada pelo Ruki e enviada pro KarlHeinz?!

—Esse KarlHeinz...-Anna falou pela primeira vez no dia, mordendo suavemente o lábio- É tipo o rei do Mundo Vampiro?

—Exato. Ele também é pai dos caras que viviam com a gente- Marie respondeu, engolindo em seco tudo o que ela podia estar pensando agora.

—Então vocês viviam com príncipes esse tempo todo e não nos contaram?!- Daayene exclamou, parecendo estranhamente feliz sobre a situação- Por que vocês não pedem pra eles darem acesso aos assuntos do reino, então? Já que algum deles deve ser herdeiro do reino todo, eles devem saber.

O comentário de Daayene fez uma lâmpada acender na minha cabeça.

Pela linhagem de sucessão, Shu seria o primeiro da lista de herdeiros. Porém, pelo um ano e poucos meses que eu conhecia do rapaz, ele não parecia se interessar muito nesse papo de reinado.

Logo em seguida, vinha Reijii. Ele sim eu imaginava querendo ser rei. E junto com ele, estaria sua esposa e rainha...

—Victoria!- A chamei de repente, espantando várias das meninas- Você é a única que pode nos ajudar agora!

—...Espera aí? Eu?- Ela parecia surpresa que todo o comando da situação tenha passado pra logo ela- Por que eu?

—Você é a única daqui que tem poder para fazer algo desse tipo, Vic- Eu a olhei com certa tristeza, e ela escancarou a boca como se soubesse o que eu queria dizer com minhas palavras- Se tem alguém aqui que pode conseguir descobrir o que KarlHeinz planeja conosco é você.

Victoria mordeu a parede da boca, parecendo nervosa:

—Eu... Eu posso tentar! Mas pra isso eu primeiro tenho que voltar pros Sakamaki. Lá eu pelo menos sou respeitada de alguma forma, aqui eu só sou um projetinho mal-acabado de piriguete.

—Nós confiamos em você, Vic!- Priya colocou as mãos na cintura da mulher de cabelos longos castanhos-claros.- Eu não entendi bem que poder é esse que você tem nos Sakamaki, mas eu sei que você consegue qualquer coisa que quiser.

Victoria colocou uma das mãos sob a palma de Priya, sorrindo de forma confiante.

—Estamos todas aqui por você!- Sarah se levantou e deu um abraço forte nas duas garotas- Juntas nós somos mais forte, e isso é uma certeza!

Nós nos encaramos todas por um momento. Nem eu consegui resistir o sorriso que ia surgindo nos rostos de cada uma de nós.

É, juntas nós realmente éramos mais fortes.

Percebi que Nikki amassou os papéis da pasta vermelha e colocou-os discretamente nos bolsos de meu moletom. Depois, ela guardou as pastas que tínhamos tirado do lugar e guardou na gaveta.

Porém um barulho de porta abrindo fez meu coração pular pela garganta.

O tempo havia voado, e os garotos já estavam em casa.

—M Neko-chaaaan~~- Ouvi a voz de Kou nos chamando no andar de baixo- Vocês não vão acreditar no que aconteceu hoje com os namoradinhos de vocês~~

—A gente precisa sair daqui. Agora.- Brunna sussurrou de forma indefesa, desesperada.

—Não vai dar tempo.- Marie respondeu, olhando pra nós com uma confiança misturada com nervosismo- Fiquem tranquilas, ok? Eles não podem fazer nada conosco.

Estávamos silenciosas, prontas pra fingir apenas estarmos procurando livros para a faculdade das garotas. E então tudo que eu ouvi foi um “Ai!” e um “BAM” invadindo o quarto.

Quando olhei pra trás, tudo que eu vi foi uma prateleira vazia e uma Victoria massageando sua cabeça enquanto estava caída no chão ao meio de vários livros.

—Você só pode estar brincando com a minha cara, Victoria- Nikki a repreendeu, parecendo brava- Sério! De todos os momentos pra fazer merda, tinha que ser agora?!

—A culpa não é minha!- Victoria reclamou- Bati a cabeça na prateleira! Eu posso ter um traumatismo craniano, sabia?

—Eu tenho quase certeza que traumatismo craniano é instantâneo, Victoria- Brunna respondeu, e Victoria só soltou uma resposta de tanto faz enquanto tentava se levantar.

—O que vocês estão fazendo aqui?- Ouvimos a voz de Ruki. Ele estava á nossa frente, e seus irmãos atrás de si. Todos pareciam bravos conosco.

—Foi tudo um acidente!- Victoria berrou, se levantando na hora- Eu estava fazendo pesquisa com as meninas, aí bati a cabeça... Ai!

—Que pesquisa vocês estavam fazendo?- Kou perguntou, seus olhos brilhando de suspeita.

—Faculdade.- Priya respondeu rapidamente, bagunçando os cabelos negros.

Foi então que o olho direito de Kou começou a mudar para um tom vermelho, quase que brilhando.

—Ei, qual é a desse seu olho, cara?- Lua perguntou, parecendo desapontada porém curiosa- É a segunda vez que ele dá uma de pisca pisca e resolve ficar vermelho com a gente!

Bem, ele só brilhava vermelho quando estávamos tentando fugir de algum perigo... E com isso a gente mentia...

—Sow, o que vocês estavam fazendo aqui?!- Yuma parecia furioso quando encurralou Nikki com os dois braços.

Nikki não demorou mais que dez segundos para afastar os braços de Yuma de si e fazer uma posição de defesa onde ela prendia Yuma pelo quadril:

—Não é do seu interesse!

—É claro que é do nosso interesse, é o meu quarto.- Ruki respondeu, pegando Nikki pelo quadril e a jogando no chão. Antes da de cabelos azuis atingir o chão, Anna a pegou com certa dificuldade.- Na sua casa antiga eles deixavam vocês mexerem nas coisas pessoais deles?

—Na nossa casa antiga tivemos pela maior parte do tempo quarto dividido com os meninos, pra começar- Sarah respondeu, de forma nem um pouco agressiva- E.. Eu não acho que eles tenham lá tanta informação escrita que nem vocês tem aqui, pra terminar.

—In...for...ma...ção?- Azusa parecia confuso, enquanto Ruki parecia ter entendido tudo.

—Vocês não tinham permissão de mexer nessas coisas- Ruki cuspiu como se fosse ácido- Não tinham permissão de buscar as coisas. Vocês são mais problemáticas do que os Sakamaki dizem, realmente.

—Pare de citar os Sakamaki nas nossas conversas!- Marie brigou, batendo o pé no chão- Nossas vidas não são baseadas no que os Sakamaki fazem ou falam! Nós somos seres humanos, temos nomes e vidas próprias! Não somos dependentes deles ou de vocês!

—Agora vocês são nossas propriedades, não mais deles. Você tem razão nesse ponto.- Ruki respondeu, seus irmãos concordando lentamente.

—Amorzinho, deixa eu te contar uma coisa- Brunna comentou, ironizando bastante o apelido- O meu mundo não gira em torno de você. E nunca vai girar.

—Nós sabemos de mais coisas de vocês do que qualquer um no mundo- Kou riu sadicamente, principalmente quando o rosto de Brunna se contorceu em raiva e mágoa- Sem nós, vocês não são nada. Com os Sakamaki, suas vidas só pioram.

Antes que Marie pudesse plantar sua mão na cara do ídolo, Daayene conseguiu segurar seus braços e a puxar pra trás.

Daayene estava certa, eles não valiam a pena.

—Nós já falamos pra vocês nos tratarem como seres humanos independentes!- Nikki bateu a mão na escrivaninha, rangindo os dentes com puro ódio- Parem de citar aqueles Sakamaki como se eles fossem a única coisa... a única coisa que importa nas nossas vidas!

Ruki ficou em silêncio, e quando seus irmãos tentaram abrir a boca ele os calou com um mero olhar:

—Venham comigo. Me sigam, e não reclamem.

Ele saiu do quarto, e nós nos entreolhamos com certo medo antes de seguirmos o de cabelos pretos.

Após andarmos por alguns corredores, Ruki abriu uma porta e gesticulou para que todas nós entrássemos lá. Quando a última de nós fez o que foi mandado, ele fechou a porta e a trancou.

—EI!- Priya brigou, socando a porta com suas pequenas mãos- O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?

—Vocês só vão sair quando nós acharmos necessários.- Ruki disse calmamente, porém foi o suficiente pra meu estômago revirar cheio de sentimentos. Ódio, nojo, decepção.- São sortudas, eu poderia dar outro tipo de castigo para puni-las pelo mal comportamento de vocês.

—Você nunca poderia nos machucar- Marie se aproximou da porta, seus olhos cerrando- Vocês sabem que não podem.

Fomos respondidas por puro silêncio.

Em questão de segundos estávamos sentadas pelo chão do quarto, que era decorado com apenas alguns colchões. Me acomodei perto de Sarah, que se encolheu em meu ombro enquanto tentava disfarçar um choro.

Nikki chutava e socava a porta, numa tentativa falha de arromba-la.

—Eu te odeio- Marie grunhiu pra sua irmã mais nova, puxando os cabelos loiros.- Se você não tivesse derrubado os livros a gente poderia não estar aqui agora.

—Acredita em mim, eu me odeio mais ainda.- Victoria sussurrou, ela parecia estar querendo vomitar de raiva.

—Maravilha. Estamos presas.- Nikki caiu ao chão, o corpo levemente roxo por ter tentando muito arrombar a porta- Presas numa casa que a gente nem conhece direito. Maravilha.

—Eu odeio todo mundo- Grunhi de dor, analisando meu pulso machucado. Eu tive uma crise ontem.

Sarah apertou minha mão, e eu sabia que meu moletom estava ficando molhado pelas lágrimas da minha gêmea.

Nikki se levantou novamente, suspirando enquanto tirava a camiseta.

—POR QUE DIABOS VOCÊ TÁ TIRANDO A BLUSA?- Marie parecia assustada, e as Hudison rapidamente cobriram os olhos com as bochechas levemente vermelhas- TÁ ACHANDO QUE AQUI É O QUARTO DO SHU?

Nikki elevou a mão em um gesto obsceno para minha irmã mais velha, antes de suspirar e voltar a tentar arrombar a porta.

—Da onde você tirou tantos músculos?- Daayene perguntou, secando sem vergonha nenhuma o corpo da de cabelos azuis- Caraca, o Kou teria vergonha do próprio corpo depois de ver o seu.

Nikki ficou levemente vermelha depois de um outro chute na porta:

—Além de eu treinar na escola militar desde nova, o Rei KarlHeinz me botou pra fazer um teste pra guarda real.

—Espera aí? Guarda Real?- Brunna perguntou, enquanto se ajoelhava do meu lado.- Nos livros que eu li sobre época medieval, apenas homens são aceitos!

—Exatamente!- Victoria revirou os olhos- Aí o reizinho vai lá e resolve colocar a Nikki pra apanhar de uma porrada de homem vampiro. Maldito!

Anna se aproximou de mim, e pegou as anotações de meus bolsos.

—Como você sabia?- Perguntei, arqueando minha sobrancelha.

—E-eu sou observadora... eu-eu acho...- Ela respondeu gaguejando- Enfim! Eu acho que eu sei o que fazer!

Nos aproximamos de Anna, que parecia vermelha e nervosa:

—Então... Vocês disseram que nós precisávamos lutar pra fugir daqui e sobreviver... E... a história da guarda real...

—Podemos formar uma guarda real- Priya sorriu com orgulho para Anna- É uma ideia louca, mas é a melhor que temos.

—Espera aí... Nós? Formar? Uma guarda real?- Lua parecia chocada- Tipo, de espadinha e tudo?

—Sol poderia treinar a todas nós- Nikki respondeu, sorrindo- Ela me ajudou em cavalaria e espada quando eu estava com o braço quebrado. Isso pode nos ajudar a nos defender.

—Isso... é uma ideia extremamente louca e improvável de dar certo... mas é surpreendentemente genial- Sofie estava com um sorriso de canto.- Seremos guerreiras e lutaremos contra o sistema do rei?

Nós todas unimos nossas mãos no centro da mesa. Victoria deu um sorriso digno de uma guerreira:

—Se eles não quisessem que nós fossemos um exército, que não nos dessem o mesmo título.

—Nós vamos nos unir. Não só na amizade, mas também como guerreiras.- Sarah limpou as lágrimas, sorrindo para nós- Finalmente o mundo parece estar ao nosso favor.

Demos um abraço em grupo. E eu não pude deixar de me sentir inteiramente em casa.

Eu tinha o melhor grupo do mundo.

Nós éramos uma família e um exército. O que eu podia pedir de melhor?