Com sua linda princesa em seus braços e a liberdade para continuar beijando-a sem importar quais quer que fossem seus problemas de mais cedo, Ulquiorra sentia-se até mesmo mais leve. De alguma forma, Orihime parecia ter a habilidade de dominar tudo ao seu redor com sua mera presença, e isso incluindo inesperadamente sua força para resistir ou agir de acordo com o que sua razão lhe dizia.

Nesse momento, cada célula de sua existencia lhe dizia para carregá-la dali e fazer dela sua, para todo o sempre. Alguma parte sua, apesar de muito pequenina, se perguntava se isso ainda seria alguma obra de Urahara, mas já não importava a resposta, tudo o que sabia era o que desejava tanto que lhe fazia perder o folego: assegurar-se de que ela fosse sua.

Quando percebeu que ela começava a ansiar por ar, ele resolveu dar uma pequena pausa, mas sem a menor intenção de deixá-la escapar de seu abraço. Agora precisava agir com palavras.

–Sinto muito pelo outro dia.- Ele disse, quando incapaz de admirar seus lindos olhos caramelo, notou o leve avermelhar em seu rosto.

–Pelo o quê... exatamente?- Ah, mas ela era mesmo uma graça! O jeito como falava timidamente e tentava ainda desviar-se de seu olhar, tão linda!

–Por ter te mandado sair daquela forma... - Orihime parecia um pouco confusa, e de alguma forma, ainda mais envergonhada. - A verdade é que, no ritmo em que estávamos...- Ele dizia de forma pausada e num tom que sabia ter efeito sobre ela, enquanto tocava seu sedoso cabelo alaranjado, seu lindo pôr do sol.- Manter o controle seria uma das coisas mais difíceis que já fiz. - Admitiu com sinceridade inesperada até para si mesmo, apesar de que, ele sabia que ela não entenderia o que ele quis dizer. Orihime o olhou como se o fizesse, como se entendesse. Ela direcionou seu olhar nos labios dele e segurou seu rosto com ambas as mãos, e só então o beijou, de forma apaixonada. Dessa vez fora ele quem perdeu o fôlego, mas nem mesmo isso fez com que ele quisesse parar.

Com as mãos que ainda repousavam em suas costas e cintura, ele a pressionou ainda mais contra seu corpo, fazendo com que ela buscasse por ar por entre os beijos. Mas, ainda assim, ela parecia tão faminta por ele, como ele estava por ela. Ela queria ser dele e isso estava cada vez mais claro,ao mesmo tempo em que o estranho, incontrolável sentimento continuava a crescer dentro dele, como se pertencesse, como se estivesse em casa. “Besteira.” Pensou consigo mesmo. Havia tanto tempo desde que estivera em um lugar que pudesse chamar de casa, e esse definitivamente não era nessa cidadezinha. Mas mesmo assim, por que esse sentimento persistia tanto assim? Seria ela? Sua casa, sua devoção por uma simples humana?

Mas ela não era uma simples humana. Toda vez em que via seu sorriso, seu rosto iluminar-se, seu olhar puro, sua voz melódica, seu calor, o cuidado de seu toque, ele tinha certeza de que ela não era mais uma daqueles aos quais ele passara tanto tempo desprezando.

–E então? - Ele perguntou para que só ela ouvisse, e não precisava ser mais alto de qualquer forma, estavam perto um do outro o suficiente para parecer que viviam num mundo só deles. Ela sorriu.

–Apenas...- Ela começou ainda procurando por folego. - Apenas prometa que não vai mais fazer aquilo... - Ela fechou os olhos e encostou a testa na dele.- Não vá me deixar. - Ela pensava o mesmo que ele, então. Se ela soubesse o quanto aquilo era retribuído... Ele tocou seu rosto suavemente, e tocou seus lábios lentamente antes de voltar a falar.

–Eu não o faria.- beijou-a outra vez.- Não é possível. - Ela lhe deu um sorriso brilhante e o abraçou com força, empolgada.

Tudo parecia certo agora. Completo e sem a possibilidade de ser destruído. Como se houvesse uma barreira os protegendo do mundo real. Nada podia destruir aquilo. Nada.

–Só pode tá de brincadeira!- A voz ecoou, levando essa sensação para o inferno.

***

Após mais e mais golpes e ter conseguido se proteger de alguns, a noite estava finalmente caindo e Ichigo perguntava-se se Rukia iria à alguma missão naquela noite, e mais importante, se ela deixaria que ele se juntasse à ela.

É claro que não. Ficava claro enquanto ela tão concentrada arrumava as coisas em sua bolsa.

–Isso é tudo por hoje. - Ela disse carregando a bolsa.- Até amanhã.- Despediu-se e virou-se para ir.

–Hey, espera!- Ele chamou e segurou seu pulso rapidamente, impedindo-a de dar mais um passo.

–O que?- Ela perguntou, virando-se outra vez para ele. Por um instante, enquanto olhava em seus lindos olhos azul-violeta, e a tinha tão perto, Ichigo lembrou-se da sensação que teve naquele sonho. Ah, parecia ter sido há um século. Estava sem jeito agora. Limpou a garganta e rapidamente soltou Rukia.

–Hmn...- Ainda estava um pouco complicado agir normalmente perto dela. Ora, porque teve que lembrar daquilo logo agora?- Eu vou te acompanhar... até sua casa.- Ele disse inseguro.

–Não precisa... eu posso tomar conta de mim mesma.- Ela disse e riu um pouco. Sempre tão independente, tão segura.

–É o minimo que posso fazer. - Ichigo disse um pouco mais confiante. Ele estava certo. Rukia tinha salvado sua vida, e sabe-se lá quantas antes, levá-la em casa não era nada. Ela estava olhando em seus olhos um pouco surpresa. Suspirou, e só então respondeu.

–Tudo bem então. Mas só pra você saber: Não tem a menor chance de eu te levar numa missão. - Mas ele já sabia disso. Não significava que ele obedeceria. Ichigo sorriu ligeiramente e começaram a andar.

Enquanto caminhavam, Ichigo não conseguia deixar de lado o sentimento quente e confortável que se formava em seu peito. Era assim toda vez em que estavam juntos e parecia já ter se tornado um hábito.

Rukia parecia tão distraída, andando ao seu lado. Calma, e naquela noite especialmente iluminada pela lua cheia, tão linda. Ele corou e se obrigou a desviar o olhar. Ah, mas em que estava pensando afinal de contas? E mais ainda na situação em que estavam! Se as coisas já não pareciam muito boas do jeito em que eram, ele não podia piorá-las com esse tipo de pensamento confuso.

Mas ainda assim, não podia mentir para si mesmo. Havia algo novo na forma em que ele pensava sobre Rukia. Novo, excitante e ao mesmo tempo, intimidador. Naquele momento ele sentia que poderia simplesmente colocá-la debaixo do braço e fugir para algum lugar onde ela não estivesse se se colocando em perigo à todo instante... Ou ao menos tomar a frente da luta e ser seu escudo. Não queria fazer isso por pensar que ela não era capaz de se proteger ou lutar por si mesma, até por que, ele já sentira na pele e vira com os proprios olhos, que se havia algo que Rukia Kuchiki não era, seria uma donzela indefesa.

Mesmo assim, vê-la machucar-se, independentemente de quantas vezes voltasse a ficar de pé... Isso sim doía mais do que qualquer golpe que ele pudesse receber de seus novos inimigos.

–Bom, chegamos.- Rukia anunciou, tirando-o de seus devaneios.

Mas ele não queria deixá-la. Sentia seu estomago embrulhar. Queria achar algo para dizer, mas não conseguia.

– Não faça essa cara.- Ela riu um pouco e voltou a uma expressão séria. - Você sabe que não vou te deixar lutar ao meu lado com apenas um dia de treinamento... Se você quer mesmo me ajudar, vá para casa, descanse e fique seguro, ok?- Ele abaixou o olhar. Detestava essa sensação de ser fraco demais para conseguir de fato, ajudá-la. Estava irritado consigo mesmo. Foi quando sentiu o delicado toque em seu braço esquerdo, que o fez olhar outra vez para ela.- Ichigo, preciso que faça isso. Você ainda não pode lutar e eu não conseguiria lutar preocupada com você. - Ichigo ainda se sentia contrariado, mas sabia que ela tinha razão, e no seu lugar, ele faria exatamente a mesma coisa. Suspirou. Não tinha mesmo outro jeito.

Bom, ela tinha se saído muito bem sozinha até agora. Tudo o que ele precisava era acreditar que daria tudo certo dessa vez.

–Ok.- Ele disse finalmente. - Só me prometa que vai ter cuidado.- Ele pediu com franqueza, olhando em seus olhos.

–Sempre tenho. - Ela lhe respondeu confiante.- Boa noite.- Ela despediu-se com um sorriso timido no rosto.

–Boa. - Despediu-se, e se foi somente depois de vê-la entrar na casa.

Ichigo sabia que Rukia estava certa, e que seria loucura lutar da forma em que estava, afinal ele ainda tinha muita coisa que precisava aprender e precisava ficar ainda muito mais forte. E então, enquanto caminhava para casa, seus pensamentos estavam unicamente tomados por planos e idéias de como fazer com que isso acontecesse o mais depressa possível.