Orihime sentia um misto de confusão, constrangimento e ansiedade. O que estava acontecendo? Ela não podia entender o que possivelmente se passava por sua cabeça naquele momento. Porque Ulquiorra sempre agia daquela forma? Quando as coisas pareciam ir bem, ele simplesmente lhe afastava de uma hora para outra, deixando-a daquela forma.

Porque ele tinha feito aquilo? Será que tinha algo de errado com ela? Talvez ela não beijasse bem... Bom, ela nunca tinha feito nada daquilo antes, como podia saber se estava fazendo certo? Sentiu um frio na barriga e suas bochechas queimarem ao pensar nisso. Não devia ter agido daquela forma, estava tão envergonhada!

Ela já estava em casa, mas ainda podia sentir seu cheiro que parecia ter se impregnado em sua própria pele. Virou-se na cama, de um lado para o outro, não conseguia pensar em outra coisa, e quanto mais pensava, mais sentia-se envergonhada.

Porque tinha feito aquilo? Ela sequer conseguia dizer o que possivelmente podia atraí-la tanto assim a ele. E outra vez voltou a pensar nos olhos verdes-esmeralda, em seus cabelos tão negros... sua pele pálida, sua voz que naquele dia estava especialmente rouca e atraente, seus lábios, seus beijos, seus braços, seu calor... Ah estava pensando nele de novo! Não conseguiria dormir assim... Virou-se agitada, na cama uma outra vez.

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Orihime sentiu os primeiros raios de sol da gloriosa manhã de sábado tocarem sua pele. Conseguira dormir afinal de contas. Coçou os olhos, espreguiçou-se. Era um novo dia, e ela antes mesmo de levantar-se prometeu a si mesma que não voltaria a pensar no que acontecera na noite anterior.

Ela levantou-se, tomou um banho, escovou os dentes, tomou um café da manhã, rezou por seu irmão, assistiu um pouco de TV, saiu para fazer compras e... Porque era tão difícil deixar de pensar nele? Não queria encontrá-lo, se sentiria tão constrangida! Estava caminhando pelas ruas de Karakura, quando se deu conta que a qualquer momento podiam se encontrar em seu caminho. Começou a andar com cautela olhando sempre em sua volta, como uma fugitiva.

–Orihime?- A voz atrás dela chamou, fazendo com que pulasse em susto.

–K-Kuchiki-san! - Exclamou sem jeito. - Olá! - ainda um pouco inquieta, tentou agir normalmente.

–Oi... você tá bem?- A morena perguntou examinando sua expressão.

–S-sim! Tô ótima!

–Ah, é que você parece um pouco exaltada.- Rukia comentou rindo um pouco. - Bom, qualquer coisa, sabe que pode falar comigo! Até mais.- Ela disse despedindo-se. Orihime pensou por um momento. Talvez fosse uma boa idéia, talvez se tivesse a opinião de outra pessoa, ela pudesse resolver o quebra-cabeças que era Ulquiorra.

–Kuchiki-san!- Chamou antes que a outra se afastasse. - Quer ir na cafeteria?

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–E então...- Rukia começava enquanto estavam ambas sentadas e com suas bebidas em mãos, na cafeteria do Urahara. - Tá tudo bem?

–Sim! - A ruiva respondeu afobada.- Quer dizer, não! Ah, eu não sei!

–Aconteceu alguma coisa? - Rukia perguntou preocupada. Orihime sabia que tinha que contar, não conseguia mais se segurar. E sabia também que por mais que quisesse contar à Tatsuki, o resultado seria catastrófico, Rukia era a melhor escolha.

–Bom... - Sentiu-se corar.- Tem esse cara...

–Aquele que a Tatsuki tava falando no outro dia?- Rukia deduziu.

–Sim, esse mesmo! Bom... eu meio que me encontrei com ele depois daquilo.

–Ah, já sei Tatsuki deve ter ficado aborrecida...- Rukia dava palpites, como num jogo de adivinhação.

–É, mas não é a pior parte! - Ela respirou fundo.- Bom, eu encontrei ele, e foi legal e divertido, só que ele agiu como um babaca e eu fiquei brava e fui embora...

–Nossa, então...- Rukia parecia surpresa, e Orihime lhe interrompeu outra vez. Quanto mais falava, mais se peguntava se de fato deveria fazê-lo. Quando ouvia em voz alta, toda história parecia vir de uma novela.

–Mas não é só isso... Depois disso eu encontrei ele de novo! - Rukia parecia prestar bastante atenção enquanto ela contava.- E... bem, eu não pretendia, mas ele não parecia estar bem, ai eu fui ver se ele tava sentindo bem...- Orihime sentia-se cada vez mais envergonhada.- Daí, ele foi um babaca de novo... E eu ia deixá-lo lá, mas... ele realmente estava estranho, sabe? Por isso, eu insisti, e ele deixou que eu o acompanhasse até seu apartamento...- Respirou fundo outra vez.- Depois disso, ele me deu uma roupa, pra eu trocar, eu não queria, mas ele insistiu e...

–Pera, o que?- Dessa vez a morena foi que lhe interrompeu. Rukia estava levemente corada e ainda confusa. - Por que?

–Ah, é que tava chovendo, sabe? Eu estava encharcada! - Explicou e nervosamente tomou um gole do cappuccino que repousava na mesa desde que havia pedido. - Então, eu fui lá e troquei de roupa...- Disse e corou ao lembrar-se.- E, a roupa cheirava como ele... e eu me senti estranha... Não sei como explicar...- Rukia concordou corando, tomando também um gole de sua bebida, esperando ansiosa que continuasse.- Hmn.. bom, então eu voltei, coloquei minhas roupas na secadora, como ele sugeriu e fui para a sala...- Sentiu seu coração palpitar, e o frio na barriga voltar como se estivesse revivendo tudo.- Depois disso... bom, eu já tava super tensa, quer dizer, eu tava na casa dele, usando as roupas dele... Estávamos no sofá, ele tava lendo um livro, eu estava olhando a chuva, tentando me manter distraída... Mas quando eu me voltei pra ele, ele já estava me olhando, então...- Corou imediatamente. Como devia dizer aquilo, era como se estivesse tudo acontecendo de novo. - Então, ele meio que...- Rukia estava tão corada quanto ela, esperando.- Ele me beijou...

–W-wow, isso... - Orihime olhou em seu rosto, esperando algum julgamento, mais ao invés disso, Rukia parecia um pouco impressionada, surpresa e ao mesmo tempo, e ainda mais interessada no que ela tinha a dizer.-Hmn, c-como foi?- Perguntou corando mais ainda.

–Foi... Foi bom! Foi ótimo na verdade...- Orihime respondeu agitada.- Depois disso as coisas ficaram um pouco... intensas...- Disse e sequer quis olhar nos olhos da outra, temerosa. -Pois é, até eu mesma sei, nada disso parece muito comigo... mas, quando eu estou com ele tudo é tão... eu não sei, eu me sinto mais espontanea...livre.- Comentou sem notar o pequeno sorriso que se formava em seu rosto ao lembrar-se de como ele lhe fazia sentir.- Mas ai... de uma hora pra outra, ele afastou-se de mim, desculpou-se e disse que eu devia ir embora...- Disse um pouco inquieta. Voltou a olhar para a morena.- Será que...- Hesitou.- Será que eu fiz algo de errado? - Perguntou sem jeito. - Bom, na verdade eu nem sei se queria que acontecesse alguma coisa, sabe?

–Como assim? Você não gosta dele dessa forma?

–Não é isso... Eu gosto... quer dizer... eu não sei...- Orihime acabara de perceber que sequer havia parado para pensar nisso. Como se sentia em relação a Ulquiorra? - Ah, é tão complicado! É que... Já tem esse outro cara...- Lembrou-se de Ichigo, e ao mesmo tempo sentia que não devia dizer que era dele que estava falando.- Eu gosto dele há muito tempo e... - Orihime de repente sentiu uma culpa terrível, primeiramente porque se era de Ichigo que gostava, como podia pensar em Ulquiorra daquela forma? Depois por estar falando disso com Rukia, a grande amiga de quem ela sentia ciumes mesmo sem querer. - Ah, eu sou a pior.- comentou cabisbaixa.

–Ei...- Rukia começou tocando sua mão que repousava sobre a mesa, antes que o telefone em sua bolsa tocasse. Ela continuou, antes de atender.- Você não é! Apenas precisa esclarecer sua mente e seus sentimentos, tá? Não pense tão mal assim de si mesma!- Ela sorriu de forma gentil. - Bom, de qualquer forma, acho melhor eu ir andando, tenho umas coisas para fazer hoje... - Disse levantando.- Meu conselho é que você antes de qualquer coisa, vá resolver esses sentimentos, e não fique culpando-se desse jeito, ok? -Disse sorrindo outra vez. - Até mais! Qualquer coisa, me liga, certo? - Despediu-se, e Orihime agora sentia-se não só aliviada, como também mais confortável consigo mesma.

Conversar com Rukia era sempre bom para ela. Elas eram amigas há pouco tempo, e mesmo assim, Orihime sentia que podia confia-la seus segredos e lhe pedir conselhos. Essa era uma das razões porque sentia-se tão mau em ter ciúmes dela com Ichigo, e ao pensar nisso percebeu que de fato seus sentimentos precisavam antes de tudo, serem devidamente arrumados.

O único problema era... como faria isso?