Like Ghosts In Snow

Discovering New Feelings And Old Ones


Ichigo sentia uma dor terrível na área de seu abdômen, o que havia acontecido? Abriu os olhos com dificuldade, sentia-se tão fraco que até mesmo mover-se era doloroso. Olhou em sua volta, paredes verde-claro refletiam um pouco da luz do sol que conseguia passar pela pequena fenda nas cortinas da janela ao lado da cama. Que lugar era aquele?

Podia ouvir do lado de fora que a tempestade continuava, e antes que pudesse outra vez se perguntar onde estava, a porta do quarto se abriu. Sentiu-se aliviado quando viu Rukia entrar e saber que ela estava bem. Ela vinha com uma xícara de chá em suas mãos e as olheiras em seu rosto denunciavam que não havia dormido ainda.

–Oh, você acordou. - ela sorriu brevemente sentando-se na cadeira ao lado da cama. Colocou seu chá na escrivaninha ao seu lado e voltou-se outra vez para Ichigo.- Como está seu ferimento?- Ela perguntou preocupada. Ichigo voltou a atenção para si mesmo. Estava despido da cintura para cima e já havia um curativo no local do ferimento.

–Um pouco dolorido, mas vou sobreviver.- Sorriu tentando aliviar o olhar de preocupação e culpa no rosto de Rukia. - Bom, eu tenho que perguntar... o que houve? - Ichigo perguntou sério tentando ajeitar-se para encará-la.

–Do que... Do que está falando?- Ela fez-se de desentendida.

–Olha, eu já fui atacado e debilitado, não acha que tá na hora de me contar o que tá acontecendo? Eu te vi com uma espada, isso não pode ter sido uma alucinação... Apenas me diz a verdade. - Pediu olhando em seus olhos. Ela não desviou dessa vez.

–Nunca deveria ter chegado tão longe...- ela comentou brevemente, Ichigo prestava atenção em cada palavra e movimento que ela fazia. - O que você viu noite passada... aquilo é só parte da minha rotina. - Rukia disse abaixando seu olhar. Ichigo esperou que ela continuasse.- Bom, não adianta mais esconder de você, não depois do que houve. - Ela suspirou e voltou a olhar em seus olhos, séria. - Matar aquelas coisas é minha obrigação. É por isso que estou aqui, pra falar a verdade. Manter a ordem, manter as pessoas a salvo, custe o que custar. - Ela respirou fundo como se tentasse encontrar forças para continuar.- E mesmo assim, eu falhei.

–Como assim?- Ichigo estava cada vez mais confuso.

–Falhei com você... - ela tomou folego uma segunda vez e tentou esconder as lágrimas.- Falhei com minha irmã.

–Quer dizer que...

–Ela se feriu por minha causa... Como você! - Ela disse finalmente voltando a olhar para ele.- E talvez, se não fosse o Byakuya-nii-sama, ela estaria morta! - Ichigo via a tristeza e magoa em seus olhos enquanto ela continuava.- Eu fui incompetente o suficiente para deixar que um deles, ou melhor, dois aparentemente, escapassem e me seguissem sem que eu percebesse. E então, ele a atacou. E antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ela já estava tão machucada... eu congelei. Foi quando o Byakuya-nii-sama apareceu e conseguiu pôr um fim naquilo tudo.

–Byakuya?- Ichigo perguntou reflexivo.- Deve ser o cara que eu vi falando com você...- E foi então que lembrou-se exatamente o que havia acontecido na conversa que ele ouviu. - Me diz...- mesmo que relutante, começou.- Você vai embora?- Na verdade, tinha medo da resposta que ouviria, mas agora só podia perguntar.

–Não...- Ela respondeu, e essa pequena palavra o fez sentir como se um enorme peso acabasse de sair de suas costas. - Pelo menos não agora.

–Como assim?- Perguntou enquanto tentava soar o mais normal possível, não sabia se deveria se sentir bem por ela não ir, ou como reagir ao fato de que era apenas uma questão de tempo até que ela o fizesse.

–O Nii-sama levou minha irmã daqui. Foi provado que eu não podia protegê-la, por isso...- Ela não conseguia esconder toda a tristeza ao dizer essas palavras e Ichigo sentiu essa dor como se fosse sua própria. - Mas eu ainda tenho minha missão para terminar. Não posso partir antes disso. - Ela havia baixado seu olhar outra vez, e o ruivo não sabia o que fazer para confortá-la. - Ei, você não deveria se mexer, seus ferimentos vão...- Ela começou enquanto ele se sentava na cama e calou-se quando ele a abraçou. A dor que sentia pelo ferimento não era nada naquele momento. Ele só queria estar ali para ela, enquanto a sentia desabar em lágrimas nos seus braços.

Tinha ainda tantas perguntas para lhe fazer, quem eram “aquelas coisas”, o que queriam, porque era o dever da Rukia acabar com eles... tantas coisas... mas agora, enquanto ele a tinha em seus braços, isso era tudo o que importava.

***

–Hey, você está bem?- Orihime perguntou, um pouco hesitante ao aproximar-se do moreno. Ele levantou seu olhar para ela, mas não parecia reconhecê-la, por um instante. - Ulquiorra-kun?- Ela o chamou olhando em seus olhos, aproximando-se um passo à frente.

–Você...- Ele finalmente disse algo. Sua voz estava um pouco rouca e seus olhos pareciam de alguma forma, diferentes, vazios. - O que quer?- Perguntou com um tom mal humorado e Orihime não conseguia entender o porque. Ela é quem deveria estar aborrecida com ele. Mesmo um pouco ofendida, não estava pronta para deixá-lo de lado, ele claramente não estava bem e ela não podia deixá-lo assim.

–Bom... eu te vi lá do outro lado da rua, você não parecia bem, então eu...

–Eu estou bem.- Ele a cortou friamente.- Você devia se preocupar mais consigo mesma. Vá embora.- Ele disse ainda em tom frio e voltou-se ao portão que antes tentava abrir, desta vez conseguindo abri-lo. - Não deveria arriscar sua própria vida assim. - Ele disse num tom que mais parecia um sussurro, olhando em seus olhos e então lhe dando as costas.

Orihime estava sem palavras. Porque ele estava agindo daquela forma? Porque a estava enxotando tão friamente, tão repentinamente? Sentia-se magoada, mas, ainda não conseguia deixar as coisas daquela forma. Segurou seu pulso.

–Espere.- Ela pediu. Ele não se voltou para ela, mas tudo foi um susto quando ele começou a despencar logo a sua frente. Ela o segurou antes que alcançasse o chão. E enquanto a chuva agora encharcava ambos, e ele estava deitado em seu colo, com sua respiração acelerada, seus olhos se encontraram e conectaram de certa forma. Ela podia sentir, podia sentir em sua alma, que ele não estava bem e que era ela quem podia, quem precisava ajudá-lo.

–Eu estou bem.- Ele disse outra vez, desviou o olhar do dela, enquanto reunia suas forças para levantar.

–Não, você não está!- Ela insistiu. -Só... Só me deixa te ajudar, ok?- Ela pediu.- Eu sei, eu entendi que não me quer por perto, mas eu simplesmente não posso te deixar aqui... Eu só quero te ajudar.-Ele estava outra vez olhando em seus olhos e após um longo suspiro, parecia ter se dado por vencido. - Qual é o seu apartamento?

Já dentro, Ulquiorra parecia não ter mais problemas em andar, apesar de continuar um pouco rouco. Deveria ser apenas um resfriado, ela pensou. Orihime estava sentada no espaçoso sofá preto, na sala de estar. Ela não podia deixar de notar que o lugar era bastante organizado. Ele tinha até mesmo uma mesinha de centro e tapete, mas nenhuma flor ou qualquer coisa que tivesse um toque feminino. Ele claramente vivia sozinho.

–Não tenho nenhuma roupa feminina aqui, você pode usar essas se quiser.- Ulquiorra disse saindo de seu quarto, ele já havia mudado suas roupas e lhe entregava algo para trocar já que suas roupas estavam encharcadas.

–N-não precisa!- Ela respondeu envergonhada. Ele colocou as roupas em suas mãos.

– Você quem sabe, vai se resfriar. - Ele disse simplesmente, enquanto olhava em seus olhos, distraidamente mas ainda, deixando-lhe sem jeito.

–M-mas...- ela começou tão timidamente quanto confusa.- Eu quem vim cuidar de você...

–Bom, eu te disse que estava bem. - Ele respondeu de forma tranqüila enquanto sentava-se no sofá ao seu lado. - Como você se preocupou tanto, acho que devo o mesmo. - Ela corou um pouco com sua proximidade, e por mais que quisesse discordar, estava de fato, começando a sentir cada vez mais frio. Suspirou.

–Ok... onde é o banheiro?

–Final do corredor. - Ele respondeu distraído enquanto abria um livro que repousava sobre mesa de centro.

–Ok. - Orihime então foi até o banheiro para se trocar.

Ulquiorra havia lhe dado uma camisa de botões preta e calças de algodão brancas. As roupas estavam limpas, mas obviamente cheiravam como ele, e ela agora não sabia como se sentia sobre isso. Ela gostava do cheiro. Gostava, mas não entendia. Parecia que tudo nele a atraía e ela não conseguia explicar o porque. Ela não devia se sentir dessa forma por ele, estava apaixonada por Ichigo, sempre esteve! Se sentir daquela forma por outro alguém não parecia certo. Mas como poderia controlar isso? Não era como se de uma hora pra outra tivesse se apaixonado por ele, mas simplesmente não podia negar a atração que existia, ao menos de sua parte.

Respirou fundo, precisava parar de pensar nisso, não fazia sentido e continuar com essas coisas em sua mente não estava necessariamente ajudando em nada. Pegou suas roupas molhadas e depois de um longo suspiro saiu do banheiro. Ulquiorra estava ainda sentado no sofá, lendo calmamente.

–Hmn...- Ela não mais conseguia falar sem que sentisse um leve frio em sua barriga e sentia suas bochechas queimarem. - Onde eu devo colocar as roupas molhadas?- Ele levantou seu olhar para ela, e Orihime não pode evitar senão desviar seus olhos.

–Pode colocá-las na secadora, na área de serviço. - Ele disse apontando na direção da sala logo após sua cozinha. Ela apenas assentiu e fez o que ele disse.

Quando voltou da tarefa, encontrou Ulquiorra na cozinha. Ele preparava café. A olhou por alguns instantes.

–As roupas ficaram bem em você.- Ele comentou brevemente. Orihime corou e sentiu-se um pouco nervosa ao ouvir suas palavras, mas ainda de alguma forma, sentia-se bem. Tomaria aquilo como um elogio. - Você quer café?- Ele perguntou servindo um pouco em sua xícara.

–Ah, não. Café me faz perder o sono. - Ela respondeu timidamente voltando para se sentar no sofá. Ele foi logo em seguida, levando sua xícara. Orihime o observou enquanto ele tão serenamente tomava o primeiro gole do café preto e repousava a xícara na mesa, voltando para sua leitura. Ele olhou em sua direção. Ela rapidamente desviou o olhar. Observou a chuva que persistia em cair o lado de fora da janela. Sentiu-se ligeiramente ansiosa. Havia planejado, partiria tão logo suas roupas estivessem prontas. Mas, mesmo assim, estar em sua presença de forma tão relaxada e casual, usando suas roupas, sentindo seu cheiro. Tudo isso parecia tão bom, tão confortável. E ela, mesmo que secretamente desejava que suas roupas demorassem um pouco mais para estarem prontas, só um pouco.

O som do livro abruptamente se fechando lhe despertou de seus tão profundos pensamentos. Ulquiorra estava outra vez olhando para ela.