Orihime despertou violentamente com seu telefone que tocava incessantemente dentro de sua bolsa em cima da escrivaninha. Ainda desnorteada pelo sono, levantou-se e pegou o telefone. Enquanto coçava os olhos, olhou o visor.

–Tatsuki-chaan...- Atendeu bocejando. - O que houve?- Perguntou ainda confusa pela sonolência.

–Ah, nada, na verdade!- Tatsuki disse distraidamente. - Fala, você tava dormindo até agora?- Ela perguntou rindo um pouco. - Preguiçosa.

–Haha, mais ou menos. - Orihime lhe respondeu no mesmo tom divertido.

–Na verdade eu tava pensando em ir ver um filme, você quer vir? - Tatsuki perguntou ainda em tom despreocupado.

–Sim, vamos! - Sim, era exatamente o que Orihime precisava: um bom momento com sua melhor amiga para se distrair um pouco. Precisava passar algum tempo com Tatsuki. Ter que esconder coisas dela, coisas tão importantes, a faziam sentir como se estivesse, ela mesma delimitando uma distancia crescente entre elas. - Hmn, eu vou só tomar um banho e a gente se encontra no caminho, pode ser?

–Sim, claro. Até mais tarde, então.

–Ok!- Orihime respondeu antes de desligar.

Ah, finalmente um pouco de diversão! E como ela precisava disso! Passara todo o dia com sua mente tomada por pensamentos, fossem sobre Ulquiorra, fossem sobre Ichigo, precisava espairecer, urgentemente. Tomou seu banho e voltou ao seu quarto para escolher roupas. Orihime nunca fora muito vaidosa ou exigente com suas roupas. Mas, por alguma razão, hoje sentia-se com mais vontade de vestir-se de uma forma melhor, decidiu que queria algo meigo e simples, e ainda, que combinasse com a noite e lhe protegesse do frio do final de outono que já abria caminho para o inverno.

Escolheu por fim, uma saia que cobria até metade de suas coxas, e por baixo uma calça de leggins escuro, uma blusa branca de manga comprida e por cima um suéter cor de rosa, rosa bebê era sua cor, definitivamente! E nos pés, para completar, sapatilhas que mais pareciam feitas para uma boneca, eram discretas, pretas e ainda assim, muito bem decoradas de forma fofa com um laço não muito grande na frente. Estava pronta. Sorriu triunfante frente ao espelho, tinha conseguido o resultado que esperava.

Já à caminho do local onde encontraria Tatsuki, por entre o começo frio da noite, Orihime se pagara outra vez distraída pelos pensamentos que tanto queria evitar. Ela tentava pensar em outras coisas, como a paisagem das folhas mortas ao chão, ou como a cidade ficava iluminada com a chegada da noite. Mas não tinha jeito, mesmo em seu intimo, ela queria ver Ulquiorra, mesmo que fosse de longe. Ou que ao menos, ele a visse. Ela queria ver que tipo de expressão ele faria, ela queria saber se ele daria um daqueles sorrisos raros e lhe dizer que a roupa lhe vestia bem, ela queria ouvir sua voz, mesmo que fosse só por um instante.

Ah, o que estava fazendo? Estava pensando nele de novo, estava pensando nele daquela forma, mesmo que seu lado racional lhe dissesse, aos gritos, que ele não a queria. Que era somente ela quem estava se enganando, que o que acontecera na noite anterior, provavelmente não passava de um erro para ele.

Estava triste agora. Tantos pensamentos, em tão pouco tempo lhe deixavam tonta, e os últimos pensamentos em especial, lhe traziam uma dor inquieta em seu peito. Ah, Ulquiorra porque lhe fazia isso? Ela sabia que por mais triste, desanimada e desesperançosa que seus pensamentos pudessem lhe deixar, vê-lo faria com que todos aqueles sentimentos tolos voltassem e lhe tomassem por completo mais uma vez. Sentia-se tão tola, tão tola!

Olhou ansiosamente o relógio em seu pulso, onde estava Tatsuki, afinal? Perguntava-se nervosamente, mesmo sabendo que ainda era cedo, e que não era isso que lhe estava aborrecendo.

Suspirou enquanto encostava-se contra um poste de luz. Tinha sempre tanto a pensar. Podia ter ficado assim por um pouco mais tempo, no entanto, a sensação intimidante de estar sendo observada, lhe fez abrir os olhos imediatamente. Como das outras vezes, não importava o quanto olhasse ao seu redor, não parecia ter ninguém lhe encarando. Ah, outra vez esse sentimento! Sentia-se um pouco assustada quando acontecia, mas encontrar certo olhar de misterioso e profundo esmeralda, parecia sempre lhe fazer espantar o que quer que sentisse antes. Mas não dessa vez. Ele não estava em nenhuma esquina, em nenhum lugar que ela pudesse encontrar com seu olhar curioso.

O que encontrara, na verdade, não foi nada que lhe tranqüilizasse o coração ou o preenchesse com alegria instantanea. Viu duas figuras conhecidas ao longe, distantes mas impossível de confundir. Orihime reconheceria os cabelos alaranjados em qualquer lugar, qualquer multidão. E é claro, ele estava acompanhado de Rukia. A garota que lhe aconselhara a não pensar tão mau de si mesma, que lhe ouvira falar de problemas e coisas tão intimas.

Sentia-se tão amargurada agora. Não devia, mas sentia. Se passava tanto tempo pensando em Ulquiorra, não tinha sequer o direito de olhar para Ichigo daquela forma, muito menos sentir ciúmes ao vê-lo, não com qualquer pessoa, mas com alguém que parecia fazê-lo tão bem. "Egoísta. Porque sou tão egoísta?" Perguntou-se com desprezo. "Por que não posso simplesmente vê-lo feliz?"

–Desculpa a demora! - Tatsuki lhe tirou de seus pensamentos. "Ainda bem." Agradeceu mentalmente, finalmente podia sair de lá. - Vamos?

–Vamos sim!- Respondeu energetica.

–Hmn, okay, então eu vou comprar os ingressos e você compra os snacks? - Tatsuki lhe perguntou, uma vez que chegaram. Orihime assentiu e foi até o balcão de lanches, poucos metros dali.

O que deveria comprar? Além da pipoca, claro! Com bastante manteiga, e queijo, e talvez um pouco de chocolate... Foi quando se bateu nas costas da pessoa a sua frente... Ah, não podia ser, certo? Não podia! Mas, o cheiro, os cabelos negros como o céu noturno e pele pálida não a deixariam se enganar. Ele estava mesmo bem ali, na sua frente, virando-se para vê-la. E antes que pudesse correr, única solução na qual conseguiu pensar, ele já a estava sondando com aqueles olhos verdes nos quais ela acabara de notar, ela já sequer conseguia sustentar o olhar. Ele parecia surpreso, talvez não tanto quanto ela, no entanto.

O silencio agora deveria ter durado quase um minuto inteiro, pensou. Talvez devesse dizer alguma coisa...? Mas o que? Nada que ela pudesse pensar em dizer parecia apropriado, e então, ainda tentando evitar o olhar esmeralda, seus olhos foram instintivamente à seus lábios, os quais ela tivera a chance de provar há apenas uma noite atrás. Corou quando, numa tentativa de deixar de pensar sobre essas coisas, notou que ele fazia o mesmo que ela, e então seus olhos se encontraram, e era como comunicação, sem necessidade de palavras. E ela não recuou quando ele se inclinou para ela e deixou que seus lábios se encontrassem. Orihime sentiu seus joelhos fraquejarem por um instante, enquanto ele a tinha em seus braços, tão entregue. Estar com ele era como entrar num transe repentino e ter seus sentimentos tomando controle sobre ela por completo.

Seu coração, que antes batia tão forte, agora parecia tão tranquilo, e ela tentava lutar contra sua própria mente, os caminhos que seus pensamentos a estavam levando eram os que ela não queria ir, se perguntando o que aquilo significava, em que passo eles estavam. Ela já não mais podia lutar, uma vez que seus lábios se separaram. Ah, ela precisava perguntar, precisava saber...

–Sinto muito sobre o outro dia. - Ele lhe disse, olhando em seus olhos, como sempre fazia. Ele parecia ter lido sua mente. Mas, ela não sabia o que dizer. O que ele quis dizer? Ela respirou fundo, tentando focar-se em algo que não fosse a sensação dos braços dele ainda lhe acolhendo.

–Pelo o que... exatamente? - Ela perguntou um pouco incerta. Ele deu um dos seus raros sorrisos. Havia algo nele... ele parecia mais sedutor, de alguma forma. Orihime corou.

–Ter te mandado sair daquela forma. - Ela agora não tinha certeza se deveria se sentir aliviada ao ouvir isso, afinal podia significar que ele tinha mesmo algum interesse nela... bom, o beijo de antes já lhe dizia isso... mas de qualquer forma, as coisas que ele tinha a lhe dizer podiam ser mais reconfortantes que qualquer especulação que tinha feito até agora. Como também, destruir suas esperanças de uma hora para outra, como ele tinha agido desde que se conheceram. - A verdade é que, no ritmo em que estávamos...- Ele disse distraidamente brincando com a mecha de seus cabelos que derramava-se sobre seu ombro, num tom que a fazia lembrar vividamente do momento o qual ele se referia, e ao mesmo tempo, enquanto seu olhar ia dos olhos esmeralda aos lábios que pareciam convidá-la, podia sentir o desejo de experimentá-lo outra vez aumentar. Engoliu seco, esperando que ele continuasse. - Manter o controle seria uma das coisas mais difíceis que já fiz. - Ele acariciou seu rosto gentilmente e Orihime não podia evitar pensar que talvez ele devesse perder o controle... talvez não fosse tão má idéia. Ela tocou a mão que ele levara ao seu rosto, e decidiu tomar a iniciativa... Não havia nada mais que ela desejaria.

Não importava quantas vezes fizessem aquilo, sempre que seus lábios se encontravam, parecia tão certo, como se fossem feitos para isso, feitos um para o outro, como se fosse mesmo ali que seu corpo pertencesse, em seus braços.

You put your arms around me, and I'm home...”