Like A Suicide

Boas garotas não usam drogas.


(Ariel Pov’s)
Minha mãe estava batendo na porta pela milésima vez.

– VAI EMBORA!

– Ariel,nós precisamos conversar. Eu estou muito preocupada com você.
Minha mãe disse com a voz mais doce que conseguia.

– SAI DAQUI LOGO!
Encolhi-me em um canto. Observei meus braços e minhas pernas,estavam horríveis,vários cortes,alguns pareciam estar abertos e eu os sentia ardendo. Meu cabelo estava uma merda,tinha voltado ao loiro palha,nada de cor. Meu rosto cada vez mais branco,as olheiras cada vez maiores,e meu corpo cada vez mais magro. Eu não conseguia manter nada no estomago,tudo voltava da forma mais nojenta possível. Vomito.
Resolvi tomar um banho,tirei o short curto e a camiseta do Green Day e abri a torneira da banheira. Logo após ela estar cheia,me enfiei em baixo d’água. Alguns dos cortes arderam,mas eu não me importava,aquela dor não era nem perto do que eu já estava sentindo antes. Assim que terminei meu banho,comecei a procurar uma roupa. Jeans,camiseta,e blusa de moletom cinza. Penteei os cabelos sem muita vontade e sai de casa,sem me importar muito com minha mãe que perguntava onde eu estava indo. Nem eu sabia ao certo.
Passei por um bar cheio de estudantes em frente. Até que senti alguém agarrar meu pulso e me puxar. Virei-me e dei de cara com algumas pessoas da minha escola.

– Hey,vejam só quem está aqui. Você estava sumida não é mesmo Silver?
Um garoto com o casaco do time de futebol disse.

– Ahn... E-eu...

– Também,depois da vergonha que ela passou ao descobrir que a mãe é atriz pornô,deve até ter desistido de estudar.
Uma morena nojenta com os peitos maior que o cérebro disse me interrompendo, e soltou uma risada irônica.

– Me deixem em paz.
Me desvencilhe do braço do garoto do casaco do time de futebol e continuei andando. Enfiei-me em um beco qualquer,me encostei á parede e sentei no chão enquanto algumas lagrimas começavam a escorrer. Um cara com uma camisa vermelha e alguns cordões de ouro,se aproximou de mim.

– Hey garota,você está bem?
Ele perguntou,apenas balancei a cabeça negativamente.Ele se agachou ao meu lado.

– Quer uma coisa que vai fazer você se sentir bem?
Fitei o cara de camisa vermelha. Tinha um estilo brega,parecia até um dono de boate de streep tease. Nos lábios,tinha um sorriso malandro,enquanto os olhos brilhavam em maldade.

– O-o que pode faze eu me sentir bem?
Perguntei secando algumas lagrimas. Eu era uma garota tola e ingênua.

– Isso aqui.
Ele disse tirando do bolso da camisa um cigarro de maconha. Peguei o cigarro com dois dedos e o encarei.

– Tem certeza?
Perguntei.

– Tenho sim querida.
Ele acariciou meu rosto e me deu um isqueiro. Acendi o cigarro de maconha e traguei até meus pulmões não aguentarem mais. Soltei a fumaça e senti uma moleza desconhecida enquanto meus ombros relaxavam na parede do beco.

– O que mais tem ai?
Perguntei ao cara.

– Acho melhor você ir com calma e...

– O QUE MAIS TEM AI?
Perguntei. O cara sorriu.

– Tem certeza disso?
Traguei um pouco mais do cigarro de maconha.

– Se eu estou perguntando,é claro que tenho.
O cara balançou a cabeça e pegou um saquinho com um pó branco e um pequeno espelho. Ele fez três carreiras com o pó e enrolou uma nota de um dólar me entregando em seguida. O olhei com duvida e ele fez um sinal positivo com a cabeça. Sem pensar duas vezes,coloquei uma ponta nota de um dólar no começo de uma das carreiras e a outra em meu nariz,puxei a carreira inteira. Fiz um gesto com as mãos e cocei o nariz. Logo em seguida puxei as outras duas carreiras.
Me encostei à parede do beco enquanto coçava o nariz. O cara de levantou e começou a sair andando.

– Hey,espera ai. Eu tenho que te pagar,não tenho?
Perguntei ao cara e logo depois ri igual uma idiota e traguei o cigarro de maconha.

– Não precisa. Foi sua primeira vez,deixa essa por conta da casa. A próxima,você paga. – ele piscou – Alias,meu nome é Fred.
Ele me jogou um cartão escrito à mão e saiu andando. Finalmente comecei a prestar atenção na musica que tocava em um bar perto dali. Ri sozinha e me levantei,começando a pular e rir cada vez mais. Observava o céu estrelado,as luzes coloridas dos vários bares ali em volta. Ria e pulava,dançava,falava coisas desconexas. Comecei a girar,girar,girar,girar,girar como se minha vida dependesse daquilo.


Isso. Isso. Agora sua vida é isso. Faça isso sempre. Isso é maravilhoso. Maravilhoso. Maravilhoso.


A voz gritava e eu ria. Tropecei em alguma coisa e cai. Depois disso. Escuridão.

(...)

Acordei e olhei em volta. Não conhecia aquele lugar miserável onde me encontrava. Era um lugar com pouca iluminação. Estava de dia,pois alguns raios de sol escapavam pela “cortina” improvisada com um lençol. Levantei-me da cama e olhei em volta. O quarto onde eu estava,era certamente de um garoto,considerando as varias meias e as cuecas espalhadas pelo quarto,e os pôsteres de mulheres peladas nas paredes. O quarto não tinha porta,apenas uma cortina de contas que separava o quarto de um pequeno corredor. Sai do quarto. Passei o pequeno corredor chegando a uma sala onde tinha uma TV um tanto quanto antiga,e um videogame. Um garotinho negro,de cabelos encaracolados,estava sentado no sofá. O garoto me olhou e sorriu infantil. Tinha os dentes tortos,que considerando o seu tamanho,havia acabo de nascer.

– Jimmy,sua amiga acordou.
O menininho disse. Senti um arrepio percorrer pela minha espinha ao ouvir o nome.

– Que ami... Ah,essa amiga.
Um garoto magro,com a pele clara e os olhos castanhos disse,saindo de um lugar que eu imaginava ser a cozinha.Afinal o garoto carregava uma jarra de leite e uma caixa de cereal em mãos.

– Leon,seu café da manhã ta pronto.
O tal Jimmy disse. O garotinho se levantou do sofá e correu para a mesa,mas quando viu o cereal em cima da mesa,fez uma careta.

– Cereal outra vez?
O menininho resmungou.

– Ahn... Eu posso fazer algumas panquecas,se vocês quiserem,é claro.
Me ofereci. O menino sorriu infantilmente.

– Eu quero!
Gritou.

– Não sei se...

– Deixa ela cozinhar, Jimmy. Por favor.
Leon implorou.

– Ta.
Bufou Jimmy. Sorri e andei em direção à cozinha que tinha uma aparência de velha,pelos moveis antigos e acabados.

– Onde fica a farinha?
Perguntei a Jimmy enquanto ele entrava na cozinha.

– Nesse armário do lado da geladeira.
Ele disse me encarando. Sorri e peguei a farinha colocando ela em uma tigela,abri a geladeira pegando alguns ovos. Ignorei totalmente o olhar raivoso que Jimmy mantinha sobre mim. Até que,enquanto eu mexia a maça das panquecas ele segurou meu pulso com força.

– Olha aqui,eu não gosto da sua presença aqui. Não gosto que meu irmão fique perto de drogados igual você. Você vai fazer essas malditas panquecas,e vai ir embora daqui. Entendeu-me?
Jimmy sussurrou com certa raiva na voz. Soltei meu pulso de suas mãos.

– Se não gosta de drogados perto do seu irmão,por que me trouxe pra cá?!
Perguntei irritada.

– Eu não consigo negar ajuda a gente necessitada igual você. Não ia te deixar desmaiada naquele beco nojento.

– NESCESSITADA É A PUTA QUE PARIU!
Gritei.

– OLHA COMO FALA GAROTA. VOCÊ TA NA MINHA CASA,E TEM CRIANÇAS POR AQUI SE NÃO PERCEBEU.

– OH ME DESCULPE SENHOR ‘A MORAL É QUE IMPORTA’. E EU NÃO SEI SE VOCÊ PERCEBEU,MAS SOU EU QUE ESTOU FAZENDO UM CAFÉ DA MANHÃ DECENTE PRA ESSA CRIANÇA QUE NÃO AGUENTA MAIS COMER CEREAL COM LEITE!

– EU NÃO TENHO CULPA SE NÃO SEI COZINHAR!

– JÁ QUE QUER CRIAR UMA CRIANÇA,DEVERIA APRENDER!

– NÃO ME DIGA O QUE FAZER!

– EU QUEM DEVIA ESTAR DIZENDO ISSO!
Irritei-me jogando um monte de farinha de trigo na cara de Jimmy. Ele me olhou raivoso,pegou um ovo na caixa e o quebrou na minha cabeça.

– Seu desgraçado!

– Você quem começou!
Ele disse rindo. Joguei um ovo nele,mas ele se abaixou e o ovo pegou na parede.

– Errou.
Ele resmungou ainda com a cara toda branca de farinha.

– As duas crianças,será que podem parar?
Ouvimos Leon gritar lá da sala. Rimos enquanto eu voltava a fazer as panquecas.

– Me desculpe.
Jimmy disse.

– Pelo que?
Perguntei.

– Te chamar de drogada. Não foi... Legal.

– Tudo bem. Você é quem estava certo.
Fiz uma careta.

– Não estava não. Isso é um problema,e não é assim que se lida com ele.

– Eu não tenho esse problema.

– O primeiro sintoma é a negação...
Ele resmungou.

– Não,não é. Foi só uma vez,foi a primeira e única,não vai acontecer de novo.

– Eu espero que não.
Ele disse e saiu para a sala. Terminei as panquecas e coloquei na mesa. Enquanto Leon comia,Jimmy me mostrou o caminho até o banheiro para que eu lavasse meu cabelo. Lavei-o o mais rápido o possível,vesti minhas roupas e decidi ir embora.

– Bom... Eu vou indo.
Disse aparecendo na sala. Leon disse algo de boca cheia.

– Ahn... Eu te levo até a porta.
Jimmy disse se levantando. Ele me levou até a porta da casa,observei a rua. Era uma rua pouco movimentada e com casas muito pobres. No bairro onde eu morava,não se via muito daquilo.

– Obrigado pela ajuda.
Sorri para Jimmy.

– De nada... Tchau.

– Tchau.
Dei alguns passos para longe,mas Jimmy me puxou pelo braço e me abraçou.

– Fica bem ta legal. E vê se não faz nenhuma merda.

– Pode deixar.
Exclamei tentando segurar as lagrimas que se formavam em meus olhos. Jimmy me lembrava de meu pai,não só pelo nome,mas pelo jeito de ser.

– Se precisar,me liga ta.
Jimmy disse me entregando um papel com seu telefone e seu nome escrito.

– Pode deixar.
Sorri e sai andando,antes que eu começasse a chorar. Aquilo havia sido muito estranho,mas ao mesmo tempo,muito bom.